No
dia 11 de Dezembro de 2005, estreava nos cinemas, o filme V de Vingança(V
For Vendetta, Reino Unido, EUA, Alemannha,2005).
Um
filme do gênero suspense, dirigido por James McTeigue e produzido por Joel
Silver e também pelas Irmãs Wachowski, também responsáveis por terem escrito o
roteiro do filme, também responsáveis
pela trilogia cibernética de Matrix(1999-2003).
Numa
adaptação do herói de quadrinho homônimo lançado na Inglaterra na década de
1980, de autoria de David Lloyd e Alan Moore, cujo nome desse último não
aparece creditado pelo fato da adaptação de sua obra ter sido feita sem sua
autorização e como todo fã de quadrinho que o conhece bem profundamente o seu
estilo de trabalho sabe que ele é conhecido por ser avesso a ver suas obras
adaptadas por outras mídias, como aqui no caso o cinema. Obra pertencente ao
selo da Vertigo, uma expansão da DC Comics.
A
história do filme gira em torno de um aspecto politicamente critico, ao
idealizar um mundo futurista, onde é regido por um regime autocrático
totalitarista, inspirados nas ideias nazifascistas, o líder é o que tem o poder
absoluto, com controle rígido da vida do cidadão, e com práticas violentas
contra as camadas sociais das quais eles consideram como os subversivos.
A
história do filme começa com um prólogo narrando e reconstituindo sobre o
importante evento histórico ocorrido na Inglaterra no dia 05 de Novembro de
1605, dia em que um soldado chamado Guy Fawkes tentou promover a Conspiração da
Pólvora, uma tentativa de causar uma explosão no prédio do Parlamento.
O
curioso foi ter observado que nessa narrativa, havia momentos em que
a narradora de uma maneira até parcial se pergunta, se
questiona sobre quem seria realmente Guy Fawkes? Como era seu rosto? Como era
sua voz? Em todo o momento onde ocorre a reconstituição sobre o acontecimento
naquela importante data, a narradora chega a descrever que muitas vezes as
pessoas só lembram das ideias sobre criadas por essa pessoa, mas nunca do homem
por trás dela, em um momento da cena em que Guy Fawkes e condenado à forca, a
narradora faz uma comparação entre as ideias, e os homens por trás delas, ela
justifica que ao contrário de uma ideia, que ás vezes pode se tornar infalível,
um homem que a cria pode até fracassar, ao ponto dele ser preso, morto e
esquecido.
No
momento seguinte da narrativa, a narradora explica de forma até
parcial sobre o conceito de uma ideia, que ela sempre, podem-se passar décadas,
séculos, ou mesmo milênios de distância, mas ela sempre vai sobreviver, ao
contrário das pessoas que as criam, ou mesmo as defendem, e nesse momento a
própria relata que chegou a ver pessoalmente muita gente morrendo, perdendo a
vida defendo-as.
No
momento da cena do enforcamento de Guy Fawkes, a narradora termina o prólogo
fazendo o seguinte questionamento a respeito do abstracionismo de uma ideia,
como ela pode não ser concreta dependo da situação: “Mas você não pode
beijar uma ideia. Você não pode toca-la ou abraça-la. Ideias não sangram de
dor, não amam. Não é de uma ideia que eu sinto falta. É de um homem.”
A narradora termina o
prólogo, explicando que foi através desse homem, que foi responsável por
fazê-la lembrar do 5 de Novembro, a importante data desse acontecimento na
história política inglesa, será o elo para no momento da presente realidade
inglesa, regida sob um regime totalitário, e completamente esquecida da data
desse momento acabará se recordando através de um misterioso paladino
mascarado.
Depois
desse prólogo, o filme vai sendo desenvolvido a partir do momento presente,
mostrando uma Londres de um futuro distópico acinzentado sendo regida pelo governo
autocrático do Chanceler Sutler (John
Hurt), é durante uma noite em que toda a população inglesa assisti pela TV, o
discurso de Lewis Prothero(Roger Allan), o homem mais importante do Governo,
também definido como “ A Voz de Londres”, fazendo seu diário discurso de
cunho autoritário, fundamentalista, e se referindo aos EUA como a colônia que
foi arrasada, mostrando os seus ideais de intolerância social, no mesmo momento
é nos apresentado um misterioso homem colocando a máscara de Guy Fawkes,
enquanto isso Evey Hammond(Natalie Portman) em sua casa se prepara para sair. Assim que Evey sai de casa depois de terminar
de assistir ao discurso de Prothero na TV, onde termina o seu discurso com o
lema do partido: “Força através da união, união através da fé”.
Preocupada
quando olha o relógio, ela então sai para passear na noite deserta de Londres,
ficando bastante temerosa, razão da qual ela tinha para esse temor era porque
depois de uma determinada hora da noite, o Governo mandava agentes que eles
denominavam “Homens-Dedos”, ficarem vigiando as ruas, e assim que
observarem o movimento de qualquer pessoa andando pelas ruas a noite depois da
hora estipulada, eles abordavam a pessoa suspeita, e se preciso fosse mandavam
além de revistar, violentavam fisicamente, psicologicamente e moralmente a
pessoa para deixar a pessoa completamente submissa a eles, e isso
inevitavelmente acaba acontecendo com Evey, no momento em que caminhava pelas
ruas da cidade e foi abordada pelos “Homens-Dedos”, quase sendo ameaçada
de ser violentada por eles.
Evey acaba sendo salva pelo homem mascarado
chamado apenas de V(Hugo Weaving), mostrando a que veio fazendo
citações filosóficas, com golpes inacreditáveis, e habilidades com lanças, que
o tornam um espadachim inabalável, depois de acabar com cada um dos
“Homens-Dedos”, V ao apresentar a primeira vez para Evey, deixa o símbolo em
frente ao cartaz com o lema do partido Fogo Nórdico.
Responsável
por levar Sutler ao poder, e ao salvá-la do perigo V, a convida para prestigiar
ele orquestrando em cima de um prédio vizinho ao Old Bailey, uma das famosas
obras-primas do maestro russo Pyotry Ilich Tchaikovsky(1840-1893), denominado
de “Abertura 1812”, a música favorita do herói, que foi responsável por
causar a explosão no prédio do Old Bailey, no dia seguinte, o episódio da
explosão vira manchete nos noticiários televisivos, como a BTN(British
Television Network), por exemplo, emissora onde Evey é funcionária queridinha
do seu patrão Gordon Deitrich(Stephen Fly), que apresenta um programa de humor
nessa emissora.
No
mesmo momento onde ocorre os noticiários na emissora sobre a explosão do Old
Bailey na noite passada. Aparece V, invadindo o prédio da emissora, rende todos
os seguranças e todo corpo de funcionários, e será lá que ele vai tentar
convencer ao transmitir para toda a população londrina
mostrando a que veio, ao mostrar suas ideias filosóficas de livre pensamento, e
fazendo eles se recordarem da data do 5 de Novembro, data que lembra quando Guy
Fawkes tentou explodir o Prédio do Parlamento Britânico, pensando nas suas
filosofias de liberdade, depois de terminado o seu discurso, onde termina
falando assim para o povo: “Se vocês pensam como eu penso, e sentem o que eu
sinto, então vamos todos nos unir pela liberdade”.
Nesse
momento onde ele finaliza seu discurso na Tv, todos os guardas, a polícia
inteira tenta em vão fechar o cerco para tentar prendê-lo, mas ele habilidoso e
esperto consegue se livrar deles com muita facilidade.
Em uma cena onde acontece de V ser rendido por
um policial, mas acaba sendo salvo por Evey, que no entanto ela acaba levando
uma pancada na cabeça, e V acaba dando um fim nele com um soco. O caso desse
tal misterioso herói, faz com que os intrigados detetives Eric Finch(Stephen
Rea) e Dominic (Rupert Graves) quebrem a cabeça para decifrar todo o enigma
dessas ações misteriosas ações praticadas por esse paladino mascarado que
apareceu do nada, antes disso os dois haviam investigado misterioso passado de
Evey, onde o que os chamaram a atenção deles além de terem descoberto que ela
era filha de ativistas políticos, ela também teve passagem por um reformatório
juvenil, depois da prisão dos seus pais, o que gera mais um quebra-cabeça de um
segredo envolvendo um outro personagem importante no filme, que no caso é
coadjuvante Evey Hammond.
Ao acordar na mansão de V, Evey fica
impressionada com o lugar muito espaçoso, e ainda cheio de objetos de arte
raríssimas, e observando o próprio V preparando o seu café da manhã, onde nesse
momento ela fica observando ele sem as suas luvas, com as suas mãos
avermelhadas, dando sinais de que ele teria sofrido alguma queimadura, e ao
ouvir esse comentário de Evey.
V explica para ela de forma enigmática
que isso aconteceu com ele faz muitos anos atrás num incêndio, mas não
esclarece para ela onde ocorreu, de que maneira aconteceu e como foi causado
esse tal incêndio, criando mais um quebra cabeça sobre a provável origem de
quem seria a pessoa por trás daquela máscara, qual seria a verdadeira
identidade de V?
No
decorrer do filme vai se mostrando aos pedaços, quando ele vai atrás de cada
uma das pessoas ligadas ao seu passado, e matando cada uma delas em série,
deixando uma rosa vermelha batizada de Scarlet Carson, como algo personalizado.
Como
quando assassina em seguida o Padre Lilliman(John
Starding) e a Doutora Diana Stanton(Sinéad Cusak).
Ao
mesmo tempo acontece de Evey contar para V sobre sua família, e um pouco tempo sobre
ela também, entre essas revelações está o fato dela quando criança já ter
frequentado um curso de teatro, e que no dia que o irmão dela morreu, os seus
pais resolveram virar ativistas políticos, e terminaram presos, quanto que ela
terminou num centro de detenção juvenil.
A
primeira das pessoas que V resolve eliminar é Lewis Prothero(Roger Alam),
sujeito que discursa toda noite na TV de Londres, e que faz discursos de puro
autoritarismo, fazendo duras críticas quanto a invasão de V na emissora, chega
a denominá-lo de terrorista, no momento em que Prothero estava observando o seu
discurso tomando um banho quente, V entra em sua casa utilizando a identidade
de Evey da BTN, para poder ter livre acesso, no momento que terminou de ver seu
discurso na TV, Prothero se assusta ao observar o próprio V, que se refere a
ele como Comandante.
E
Prothero surpreso pergunta como ele sabia de sua antiga patente militar,
explicando em enigmas, V diz que era
como ele se chamava quando num centro de detenção, num incêndio, e aparece
então em cena de flashback a cena do então Comandante Lewis Prothero no Centro
de Detenção de Larkhill, mandando maltratar de forma covarde, desumana e
selvagem as pessoas consideradas subversivas do novo governo imposto na
Inglaterra, e quando Prothero se dar conta logo lembra de quem era a pessoa por
trás daquela máscara, o único sobrevivente do antigo Centro de Detenção de
Larkhill.
V
por ironia se autodenomina numa clara referência a uma famosa obra literária de
Charles Dickens(1812-1870), “Um Conto de Natal”, de que “Sou o Fantasma
dos Natais Passados”. Depois de Lewis Prothero, foi a vez do Padre Lilliman(John
Starding), uma importante autoridade clerical, que por trás da batina, não
tinha nada de santo, e a prova disso, é quando V utiliza Evey como isca para
seu plano, pedindo para que ela se vestisse de menina, com jeito de boneca,
para atraí-lo em sua armadilha, pelo fato de justamente saber que o Padre Lilliman
era um pedófilo.
Então
de repente aparece V para matá-lo, outra pessoa também ligada ao misterioso
passado de V, também tinha participado do Centro de Detenção de Larkhill, e que
agora estava promovido para Bispo. Enquanto que nesse mesmo momento Evey foge e
vai para casa de seu patrão Gordon Deitrich(Stephen Fry) para não ser
perseguida e presa pelos Homens-Dedos.
Na casa de Deitrich, Evey descobre alguns
segredos revelados pelo próprio Deitrich, como forma de acalmá-la, caso os
Homens-Dedos, forem a casa dele a procura dela, ela seria a coisa menos
importante para eles, isso porque na casa de Deitrich havia escondido uma
versão do alcorão, livro sagrado islâmico do século 14, uma foto do Chanceler
Sutler sendo ridicularizado com o lema “E Deus salve a Rainha” e umas
fotos proibidas de erotismo. Enquanto que os agentes Finch e Dominic tentam
decifrar mais um enigma relacionado ao paladino mascarado V, descobrem que
Lewis Prothero, havia sido um importante empresário acionista de uma empresa
farmacêutica chamada Viadox, e ficam surpreso ao vasculharem a ficha militar de
Prothero e ao descobrirem que no seu currículo havia participações em combate
no Iraque, Curdistão entre outros países, e mais surpresos ainda
ficam ao descobrirem sua participação no comando no Centro de
Detenção de Larkhill, indo mais a fundo na investigação, descobrem que o local
tinha sido desativado há muitos anos depois de um incêndio, e com informações
muito vagas, eles tentam decifrar que ligação tinha Prothero com V a Larkill,
até finalmente acharem no arquivo público o dossiê sobre Larkhill, e lá
descobrem mais duas pessoas, o Padre Lilliman, já morto por V e uma médica
responsável pelas medicações dos detentos de Larkhill, essa tal doutora era
Diana Staton, que eles nem imaginavam estarem o tempo todo perto delas, pois
era a responsável pela autopsia do Padre Lillman, usando uma nova identidade, a
Doutora Della Suridge(Sinéad Cursack), dos quais eles descobrem tarde demais,
no momento que chegavam ela já estava morta no seu quarto pelo V, com a rosa
vermelha Scarlett Carson.
Ao vasculharem a casa dela, Finch e Dominic
descobrem um diário contando os segredos e todo o relatório da rotina dela no
Centro de Detenção de Larkihill, contando como acontecia a vinda de
cada novo individuo, como eram tratados de forma desumana, como recebiam as
dosagens de vacinas aplicadas por eles, para servirem de cobaias para o
desenvolvimento de armas biológicas altamente poderosas, como todos morreram e
foram enterrados, e chegava até a relatar o próprio desprezo que ela mesma
sentia por aqueles indivíduos, vistos como os subversivos pelo então imposto
novo governo do atual Chanceler, pessoas que representavam a camada dos pretos,
dos judeus e dos homossexuais como os lixo da sociedade, e o mais
impressionante nisso tudo é eles descobrirem que a respeito de um paciente de
Larkhill, que tinha adquirido uma força descomunal com a medicação injetada por
ela, esse tal paciente do qual ela se refere apenas como Paciente do Quarto 5,
cujo numeral da cela era identificado como V, numeral do algarismo romano,
sendo daí a origem para seu nome.
Onde relata que foi esse paciente que num
certo dia 5 de Novembro, com sua tremenda força descomunal que chegando ao
ponto de fugir ao controle de todos de Larkhill, provocou a destruição total do
local, causando o incêndio, onde chega até a descrever que chegou a observar os
seus olhares cheios de amargor, e que naquele incêndio deixou todo o
seu corpo queimado.
E
nesse diário Stanton termina com um lamento descrevendo assim: “O que foi que
eu fiz”. É nisso se descobre qual a misteriosa origem do mascarado V e de onde
ele tirou esse codinome. Enquanto que Evey, ainda vivendo abrigada na casa de
seu patrão Deitrich, fica espantada ao ver junto com ele na televisão, o
programa que ele havia produzido ridicularizando o Chanceler Adam Sutler sendo
perseguido pelo mascarado V, em rede nacional, fazendo toda a população
londrina pela primeira vez ter o direito da liberdade de poder debochar do
Chanceler, naquela mesma noite em que o programa foi ao ar, apareceram os Homens-Dedos, comandados por
Peter Creedy(Tim Pigot-Smith) o acabam rendendo e prendendo, e Creedy faz até o
comentário irônico: “E teve graça agora?”.
Já
Evey tenta fugir, escondida, mas acaba sendo pega, e mandada para a detenção,
sendo torturada, fisicamente e psicologicamente para tentar dar informações
para os agentes sobre o que ela sabia de V, teve até a cabeça raspada, e no
meio de toda essa situação ela acaba achando na sua cela, dentro de um
buraquinho onde entrava um ratinho, um pedacinho de papel higiênico onde estava
escrito a mensagem de uma mulher de nome Valerie, uma prisioneira morta no
Centro de Detenção de Larkhill, e que na mensagem ela contava todo o drama que
passou antes de ser mandada para lá.
Na mensagem ela descreve onde nasceu, que foi
em Nottigham no ano de 1985, que do pouco que lembrava de sua infância,
lembrava da fazendo de sua avô e que quando chovia sua avô dizia que “Deus
estava na chuva”, descreve de seu tempo de colégio, relata que quando foi
aprovada para o curso secundário, lá havia conhecido Sarah, a sua primeira
namoradinha, já apresentando sinais de interesse por meninas e não por meninos.
Valerie também relata na mensagem que o namoro
dela por Sarah no colégio, teve de ser interrompido porque o diretor havia dito
que isso era só uma fase e que elas superariam. Foi o primeiro sinal de
preconceito que ela teve de lidar quando descobriu sua opção sexual, mais para
frente ela relata que na adolescência quando chegou para os pais e teve a
coragem de apresentar sua então namorada Christina, a reação deles não podia
esperar por outra coisa a não ser de repulsa, de nojo, com aquele tipo de
situação vendo a queridinha deles que eles carregaram ainda bebê virar uma
mulher amando outra mulher, e com isso os pais a mandaram para fora de casa. O
mais curioso disso tudo foi quando ela relatou que já adulta, ao virar atriz
durante as filmagens de “Sal de Prata”, foi lá que ela conheceu sua
última parceira Ruth.
Na
mensagem, Valerie descreve que Ruth, foi sua grande parceira que passou a
dividir o apartamento e junto com ela colheram flores Scarlett Carson e toda
uma rotina da qual elas passaram a adquirem juntas e felizes, até chegar o
momento em que quando elas acompanharam pela TV, a subida ao poder de Adam
Sutler, as ideias de intolerâncias sociais, propagadas pelo Fogo Nórdico,
passaram a viverem assustadas, e relatou que no dia em que a Ruth estava na
rua, fazendo a feira, e de repente foi pega pelos Homens-Dedos, ela chorou
muito, e pouco tempo depois foi a vez dela dentro de sua casa, e a mensagem de
Valerie termina com relato de sua sofrida rotina no Centro de Detenção de
Larkhill, de onde ela passaria seus últimos momentos de vida, sendo torturada,
violentada, espancada, recebendo altas dosagens de substancias e de quando
achou dentro de uma privada um papel de higiênico de onde decidiu relatar a sua
única autobiografia.
E
então dias depois Evey já exausta de tanto ser torturada acaba se surpreendendo
ao ser liberada, e então a medida que caminha livremente pelos corredores sem
ser abordada pelo Guarda, e quando se aproxima e vê que ela era apenas de
borracha, e ao passar na porta e de repente se deparar na mansão de V, ela
então fica bastante indignada e horrorizada, ao notar que tudo aquilo do qual
ela havia passado era tudo uma farsa, plantada por ele, mas depois se sentindo
grata resolve entregar a tal mensagem de Valerie que ela teria imaginado que
fosse uma coisa inventada por ele, então V decide mostrar uma coisa para provar
que tudo aquilo era verdade, e ela fica convencida no momento em que observa
pendurada na parede da sala, o cartaz do filme “Sal de Prata”.
V
justifica que fez isso fazendo com que ela sentisse um pouco na pele, o que ele
passou em Larkhill, e do que resultou para que ele se transformasse daquele
jeito, citando o princípio básico de que toda ação gera uma reação.
Então
V mostra para Evey a chuva no telhado de sua mansão, e ela então lembra do que
Valerie escreveu: “Deus estava na chuva”. Então aos poucos os quebra-cabeças
vão desenvolvendo todo o desenrolar do filme, principalmente no momento em que
Finch e Dominic vão atrás de um tal de Roockwood, último sobrevivente do Vírus
da Escola de St. Marys, o mesmo onde o irmão de Evey havia morrido em
consequência desse vírus, eles encontram esse tal sujeito no memorial dedicado
às vítimas do incidente, onde de uma forma enigmática da ligação daquele
incidente, com a contaminação da água em Three Waters, uma bomba na estação de
trem de Londres, rebelião no King´s Hospital, e juntando a cura financiada por
Lewis Prothero, que ajudou a levar Adam Sutler a comandar o país, eles nem
imaginam que esse tal de Roocwood era na verdade V, e quando descobrem já era
tarde, muito depois de constatar que o verdadeiro estava morto.
E
nisso Finch acaba chegando a conclusão que tudo isso que ele estava planejando
fazer é com o intuito de gerar o caos. E é justamente isso o que acontece no
momento em que todos recebem em suas casas, a encomenda das máscaras de Guy
Fawkes, usadas pelo V, há até um momento em que um assaltante numa conveniência
chega a falar: “Anarquia no Reino Unido”. E vai ser nessa situação caótica que
V botará em prática o seu plano de dar fim ao regime totalitarista do Chanceler
Adam Sutler, pedindo para que Creedy(Tim Pigot-Smith), mandasse os seus
Homens-Dedos, levar até ele o próprio Chanceler para matá-lo no esgoto,
enquanto o Chanceler discursa na TV em rede nacional, e ninguém, praticamente
ninguém assiste, e nesse momento era levado acabado e ensanguentado, V então dá
os seus últimos golpes, e é o próprio quem dá um fim no Chanceler, depois disso
Creedy manda os seus Homens-Dedos atirarem sem parar em V, ele em nenhum
momento em que recebe os tiros reage, então acontece o inesperado, depois de
ter sido atingido pelos tiros, V ainda utiliza forças para praticar os seus
últimos golpes de artes marciais e enfiando suas facas em cada um dos
Homens-Dedos, até que no final quando só restou Creedy, que tentando
desesperadamente eliminá-lo dando muitos tiros, e chega ao cúmulo de gritar
falando: “Porque você não morre?”
Então
V se aproxima dele e o enfia sua faca em Creedy dando fim então a ele e ao
sistema totalitarista que há anos vinha governando a Inglaterra, e ao mesmo
tempo acabado, ainda utiliza as últimas forças para chegar até o trem cheio de
explosivos de nitrogênio, que seguirá em direção para o Big Ben, ele então pede
para que Evey se incumbisse dessa missão final sua, ao mesmo tempo a população
inteira de Londres, utilizando da fantasia de V, anda em plena noite em direção
ao Big Ben.
O exército chega a ficar de guarda para
ficarem atentos a qualquer sinal de proximidades, mas eles acabam sem terem
como agirem pois não conseguiam terem contato nem com o Chanceler, e muito
menos com Creedy.
E
dessa forma sem ter como reagirem, eles acabam deixando todas as pessoas
passarem tranquilamente sem receberem sequer um tiro, e dessa forma que o
general, responsável pelo comando das tropas, completamente sem acreditar no
que estava vendo fala assim: “Pelo sangue de Jesus Cristo”.
Enquanto
isso, Evey se prepara para ligar o motor do trem, com V deitado sem vida,
acompanhado de muita dinamite, no momento em que pega na alavanca, ela chega a
ser interrompida por Finch(Stephen Rea), aparece tentando rende-la impedido que
ela prosseguisse com o plano de V, mas determinada a cumprir ela então
desobedece às ordens de Finch, e liga a alavanca do trem.
O
trem parte em direção ao Big Ben, tocando a “Abertura 1812”, famosa obra-prima
de Tchaikovsky, que era sua música preferida chegando até o prédio gerando com
todos ali em frente naquela marcante noite de 5 de Novembro, onde para todos
ali será para sempre lembrada como o dia em que eles se libertaram de uma
tirania, foi nessa cena final que Finch pergunta então para Evey sobre quem era
ele, e Evey responde a pergunta de Finch o definindo em diferentes aspectos:
“Ele era Edmound Dantes(personagem principal de “O Conde de Monte Cristo” seu
filme favorito), Era meu pai, minha mãe, meu irmão, era eu, era você(Evey se
referindo a Finch), ele era todos nós”.
E
nesse mesmo momento o filme com Evey fazendo a seguinte narrativa: “Ninguém
jamais esquecerá aquela noite e o seu significado para o pais. Mas eu nunca me
esquecerei do homem e do que ele significou para mim”. E dessa forma acabou
o filme.
V
de Vingança faz uma interessante abordagem a respeito do
que uma pessoa é capaz de fazer quando sofre uma injustiça, ao ser levado pelo
sentimento do ódio, até que ponto podemos justiça com as nossas próprias mãos.
Como é o caso do próprio herói mascarado, se
for fazer uma comparação dele com outros heróis dos quadrinhos, como as
editoras americanas de Marvel e DC, ele tem como diferencial o fato de ser um
sujeito muito cheio de mistérios, ele se encaixa como um anti-herói
representando o exemplo de um ser social, que pela circunstância em
que passou esqueceu-se de suas próprias origens, o mistério sobre suas origens
ocultas, o fato de não saber qual sua verdadeira identidade, de onde nasceu,
que idade aproximada ele teria, quem seriam os seus pais, ou que levou ele para
ser preso no Centro de Detenção de Larkhill, para ser cobaia de um experimento
cientifico, que o fez adquirir uma força e habilidade descomunal, a ponto de se
tornar um importante um paladino mascarado com o objetivo de acabar com o
sistema político autocrático imposto numa Inglaterra do futuro distópico.
A
maneira como o diretor James McTeigue abordou o cenário dessa
Inglaterra futurista distopica e totalitária, cujo enredo satiriza a ideia de
regime autocrático tem uma livre inspiração no romance “1984” de George
Orwell(1903-1950).
V de Vingança carrega em seu
texto muitas referências a obras literárias famosas, como por exemplo cita “MacBeth”,
importante obra teatral de William Shakespeare(1564-1616) ao falar assim: “Faço
tudo que faz um homem. Quem faz mais deixa de sê-lo”.
Ou
mesmo se referindo a” Um conto de Natal “de Charles Dickens(1812-1870), o seu
herói preferido Edmond Dantes de “O Conde de Monte Cristo”, livro do francês
Alexandre Dumas(1802-1870), também há uma citação de “Fausto” de
Goethe(1749-1832) com sua frase em latim com iniciais que estavam escritas
assim: “Viveris Veniversum Vicius Vici”, frase que estava escrita em seu
espelho, que Evey lê no momento em que estava fazendo uma limpeza e o próprio V
traduz assim: “Através da verdade, enquanto vivi, eu conquistei o universo”.
Isso
é um dos fatores que torna o filme bom para se assistir de diferentes maneiras,
sobre diferentes aspectos, sobre diferentes óticas, para assim se poder
analisar e refletir sobre diferentes questões abordadas no filme, e o foco está
na questão política autocrática botada em prática.
V
mostrou como ela pode acontecer de uma maneira muito pior como já aconteceu na
História, como o fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha, do qual esse faz
uma clara alusão, o Chanceler Sutler é praticamente uma sátira a Adolf Hitler(1889-1945),
assim como o seu partido Fogo Nórdico ser uma sátira ao nazismo, implantado na
Alemanha a partir do começo da década 1930, perdurando até o fim da Segunda
Guerra Mundial, em 1945, com a morte de Hitler.
Parafraseando
o filosofo britânico Edmund Burke(1729-1792): "Um povo que não conhece
sua História está fadado a repeti-la".
Em resumo, pode-se dizer que a ideia
transposta pelo filme, utilizando até de muitas licenças poéticas para mostrar
de forma crua e suja, como é justamente possível acontecer ainda em
uma época futura como bem idealiza o filme, a imposição de um sistema político
de autocracia, de que maneira pode surgir, e quais argumentos e quais situações
podem levá-lo a ser colocado na prática.
E
sendo num mundo futurista que remete muito a obra de Orwell que é 1984,
onde o Chanceler Sutler, mas parece fazer uma referência ao Grande Irmão, e a
forma como eles controlam os passos dos cidadãos.
E ainda por cima o filme também traz a
reflexão de como e até onde uma pessoa seria capaz de chegar ao seu objetivo de
querer fazer justiça com as próprias mãos? Até onde você chegaria? O próprio
personagem no filme tem interessantes frases reflexivas como, por exemplo:
“Você
usa tanto uma máscara que acaba esquecendo de quem você é.”
“A
Anarquia ostenta duas faces. A de destruidores e a de Criadores. Os
Destruidores derrubam impérios, e com os destroços, os Criadores erguem mundos
melhores.”
“Não
existe coincidência, apenas a ilusão da coincidência.” “O povo não deve temer
seu Estado. O Estado deve temer seu povo.”
“Por
baixo dessa carne existe um ideal, e as ideias nunca morrem.”
"Um
homem pode morrer, lutar, falhar, até mesmo ser esquecido, mas sua ideia pode
modificar o mundo mesmo tendo passado 400 anos."
"Ainda
que nossa integridade valesse pouco, era tudo o que tínhamos"
"Suas
bombas não matam nossa fome, mas alimentam nossa desgraça." “Igualdade,
justiça e liberdade são mais que palavras; são perspectivas!"
“Os
artistas usam a mentira para revelar a verdade, enquanto os políticos usam a
mentira para esconde-la.”
Além de
contar com uma brilhante direção e com um roteiro magnifico que teve a difícil
missão de adaptar a obra de um quadrinho do genial Alan Moore.
V
de Vingança também contou com uma brilhante direção
de arte, especialmente na fotográfica com tom cinzento criando aquela atmosfera
pesada da Londres do futuro sendo governada de forma autoritária. Destaque para
a bela ópera de Tchaikovsky, que se
encaixa bem ao perfil, a essência e aos ideais que o herói mascarado carrega, e
não é só ele, como também em cada um de nós.
O
filme contou no elenco principal com Hugo Weaving, protagonizando
o V, cujo rosto em nenhum momento aparece, pois está escondido
através de uma máscara de Guy Fawkes(1570-1605), e que pela segunda vez
trabalhou num filme produzido pelas Irmãs Wachowski, o anterior foi
na trilogia de Matrix, onde Hugo Weaving fez o papel do vilão-mor da
trama, o Agente Smith, perseguidor do Neo(Keanu Reeves).
Mesmo sem mostrar o rosto ele ainda assim
conseguiu desempenhar bem o papel trabalhando todas as suas camadas de
interpretação na figura de deste anti-herói com personalidade anárquica,
causador do caos, que mesmo não estando correto, você consegue
entender quais são as suas motivações para a sua ideia de derrubar o governo
totalitário do chanceler com toques sutis bem refinados, bem
caracteristicamente britânicos mostrando inclusive o seu lado mais
culto.
No
elenco de apoio, o destaque vai para Natalie Portman, interpretando
o papel da Evey Hammond, uma funcionária de um canal de televisão, que será uma
coadjuvante que simbolizará uma espécie de paixão platônica do protagonista,
ela consegue desempenhar bem o papel ao trabalhar diversas camadas e nuances da
personagem especialmente em uma subtrama envolvendo o seu arco
dramático e é quem no ato final assume a importante função de dar
prosseguimento ao plano do V de destruir o Palácio do Governo para simbolizar o
fim da ditadura com bonitas frases descrevendo o perfil do V. Ela também faz a
narração em off se tornando a fio condutora da narrativa.
Outro ator que também merece
destaque é John Hurt(1940-2017), na pele do antagonista o Chanceler
Sutler, o ditador da Inglaterra no futuro distópico que age como a
típica figura do Grande Irmão usando de sua fala bem articulada para convencer
a população a seguir as suas ordens.
Ele
mostrou um brilhante desempenho na pele desse sujeito
controlador, manipulador e que usa dos métodos mais improváveis para
impor o autoritarismo como uma forma de governo. Também destacar Roger Alam na
pele do Lewis Prothero, este mostrou um brilhante desempenho na pele do
personagem representante do mais alto escalão do Governo do Chanceler Sutler
aparecendo sempre na TV para imprimir o seu discurso repulsivo, nojento,
fundamentalista de ódio as minorias algo que temos visto ocorrer de uns tempos
para cá com os movimentos de extrema-direita.
Também
faço menção a participação de Sinéad Cusack como a Doutora Stanton, uma médica
que simboliza bem uma referencia de quando a medicina colaborou com o
totalitarismo nazista com os ideais da eugenia, um lado podre da história da
ciência.
Também
não posso deixar de mencionar Stephen Fry na pele do apresentador de
TV Gordon Deitrich, um bom tipo cômico no qual ele desempenha brilhantemente
quando resolve provocar o Chanceler em seu programa, proporcionado um dos
poucos momentos de frescor com um humor bem caracteristicamente
britânico numa história que do início ao fim carrega um tom muito
pesado, especialmente nos momentos mais tensos cheios de muito
suspense.
E
por fim destaco para Stephen Rea na pele do policial Eric
Finch e para Rupert Graves como o seu parceiro Dominic dando uns toques de
Sherlock Holmes com James Bond ao tentarem investigar e montar todo o
quebra-cabeça dos atentados provocados pelo mascarado numa subtrama bem
carregada de um suspense policial, com toques bem característicos de espionagem
britânica.
Em um balanço geral, V de
Vingança trata-se de um excelente filme que aborda de uma forma bastante
filosófica e complexa, mas sem esquecer das
sutilezas, refletindo bastante no momento em que estamos
vivendo neste mundo polarizado e cheio de intolerâncias e do que algumas
pessoas para impor são capazes de nos manipular para nos convencer a usar do
medo para nos controlar. Uma verdadeira lavagem cerebral.
Cuja figura do anti-herói representa
bastante a figura desprezada da camada do regime totalitarista e virou o agente
do caos por consequência da forma desumana como eles o trataram na prisão e se
inspirou no símbolo de um importante revolucionário como Guy Fawkes para criar
sua máscara de ser transgressor, criador do caos e anarquista que acabou se
popularizando a ponto de virar o símbolo do grupo de manifestantes Anonymus.
Além de contar com ótimas
cenas de ação, principalmente as bem coreografadas do protagonista,
utilizando-se apenas de efeitos práticos.
Com o brilhante design de produção
especialmente fotográfica com paletas de cores em tom escuro e cinzento
dando um toque melancólico e cinzento a atmosfera barra pesada da
trama. Recomendo darem uma conferida em V de
Vingança para a gente entender um pouco como que uma ideia de tolerância
pode ocasionar e como funciona o regime totalitarista e como eles fazem para
nos manipular e consequentemente como funciona a figura de um agente do caos, e
recentemente ao revisitar o filme na Amazon Prime Video pude observar como a
obra envelheceu bem.






















