Segunda-Feira,
17 de Maio de 2010, fui passar uma tarde curtindo um cineminha no Cinemark do Shopping
Midway Mall em Natal-RN. Assisti a Robin
Hood, o filme é mais uma produção cinematográfica hollywoodiana contando de uma
forma mais verídica possível, a origem da lendária figura do arqueiro que foi
contratado pelo exército do Rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão, que com
a morte de Ricardo, o reino foi então assumido pelo seu tirânico irmão João,
que passa então a cobrar altos impostos a população e Robin de Loksley, ou
melhor Robin Hood, passa então a lutar pela causa dos pobres, roubando a
riqueza dos ricos para dar aos pobres dentro da floresta de Sherrywood, sendo
então considerado um fora-da-lei.
Verdade
ou não, é difícil saber com precisão se Robin Hood, realmente existiu , ou se
passa apenas de uma lenda representando o ícone de herói mítico da Idade Média, assim
como também é o Rei Arthur, ou mesmo Tristão e Isolda, já que não existem
documentos que comprovem sua existência como a certidão de nascimento.
Mas
uma coisa que de fato não há de negar sobre a lenda de Robin Hood é o fato de
sua lenda, o Robin Hood ícone do ideal de que a população inglesa medieval
tinha de herói, assim como os gregos tinham em Hércules e os nórdicos em Thor,
é a inspiração de fonte de lucro para entretenimento.
E
nessa inspiração toda acabou que a própria lenda do arqueiro se tornasse uma
fonte de renda para diversas produções hollywoodianas e diversas séries de
televisão exaltando e muito a figura mítica do herói Robin Hood, como mostrado
na matéria da edição de capa do mês de Maio de 2010 da revista Aventuras na
História, onde também mostra que a atual cidade de Norttingham investindo um marketing pesado no turismo da lenda do herói,
tendo até uma estátua dele e um aeroporto com o nome de Robin Hood, gerando até
milhares de livros, uns voltados para o público infanto-juvenil com aqueles
toques mais escapistas e bem aventuresco de capa e espada, e serviu até de
inspiração para dois heróis dos quadrinhos da DC Comics, como o Arqueiro Verde
e o Robin, parceiro do Batman.
Mas
uma coisa na qual se deve levar em conta sobre o filme de Robin Hood(2010) é a
respeito de como boa parte do filme mostra situações muito verídicas, do tipo
realmente existiu um rei da Inglaterra chamado Ricardo Coração de Leão, que
lutou nas Cruzadas, como também é verídico a existência de seu irmão invejoso
João, também chamado João Sem Terra, que quando este assumiu o trono com a
morte de Ricardo cobrou altíssimos impostos a toda população, principalmente do
campo da qual o filme dá mais enfoque, outra coisa importante que o filme
mostra de muito verídico é a vida rotineira e cotidiana dessa população,
principalmente as mulheres que viviam dias agoniantes longe de seus maridos que
estavam lutando nas Guerras, e o tal perverso Xerife de Nottingham, que é
sempre visto como uma figura diabólica nas histórias de Robin Hood, também
existiu de fato neste época. De fato, pode-se dizer que por trás dos diversos
relatos das lendas de Robin Hood, também há algo de verídico nisso, o desafio é
procurar saber em quem Robin Hood foi inspirado. A matéria da Aventuras na
História cita os exemplos de figuras reais da época que tenham talvez servido
de inspiração para a lenda do ícone de Robin Hood como Hereward, O Exilado, que
foi um líder anglo-saxão da resistência contra a invasão normanda da
Inglaterra, outro também foi Eustáquio, O Monge, um religioso que trocou a vida
no clero para viver uma vida errante de mercenário e agente duplo, outro também
citado Ful Fitzwarin, um aristocrata que se tornou um fora-da-lei depois de
entrar em atrito com o rei João Sem Terra e por fim William Wallace, herói
nacional escocês que liderou diversas rebeliões contra o trono britânico pela
independência, mas que acabou sendo capturado e morto, a história de William
Wallace serviu de inspiração para o filme "Coração Valente"(1995),
onde foi protagonizado pelo astro Mel Gibson, a matéria da revista também cita
alguns trechos de poemas da época como esses citados:
"Assim
que o gelo começou a cantar
O
dia começou a raiar
O
Xerife encontrou o carcereiro morto
E
mandou tocar o sino da cidade
O
Xerife mandou vasculhar Nottingham
Tanto
as ruas quanto os becos
E
Robin estava na feliz Sherwood
Tão
despreocupada quanto uma folha na árvore"
"Robin
Hood e O Monge"(1450)-Balada Anônima.
Outro
poema citado na matéria:
"Por
volta dessa época de acordo com a opinião popular, um certo fora da lei de nome
Robin Hood, com seus cumplices, infestava Sherwood e outras partes da
Inglaterra com seus frequentes roubos"-Anotação monástica do século 14,
parte da enciclopédia Polychronicum.
E
por fim esse poema:
"Aqui
sob esta lápide/Jaz Robert, Barão de Huntingtun
Nenhum
arqueiro foi tão bom quanto ele/ Chamavam-no Robin Hood
Fora
da lei como ele e seus homens/ A Inglaterra jamais verá outra vez"
Inscrição
na lápide do século 18, mas datada de 1247.
Por
esse motivo e que é muito difícil para um historiador tentar distinguir a importância
de um ícone, e em se tratando de Robin Hood, mais difícil ainda.
Uma
coisa que de fato pode-se dizer sobre Robin Hood, é que foi inspirado nele que
um grande historiador, que é uma unanimidade na opinião de muitos acadêmicos o
maior historiador do século XX, o britânico Eric Hobsbawm(1917-2012) passou a
definir Robin Hood como a figura do bandido social, ou seja, a figura do líder
rebelde em favor dos fracos e oprimidos contra os poderosos.
Foi
nesse esquema de raciocínio de Hobsbawm, que não só caracteriza o lendário
Robin Hood como um exemplo de bandido social, como também o próprio Hobsbawm
caracteriza a também emblemática e contraditória figura de Lampião, o Rei do
Cangaço, como um bandido social, surgindo assim uma nova corrente de estudos
acadêmica chamada de "Banditismo Social".
O
Banditismo Social tinha o objetivo na visão dessas correntes acadêmicas de ser
um movimento em que a figura do bandido social, diferente do bandido comum,
tornava-se um bandido quando declarado um "fora-da-lei", como uma
espécie de resposta as injustiças sociais e opressão e era um porta-voz dos oprimidos,
e nisso a mítica figura de Robin Hood se encaixa muito bem.
Hobsbawm
em um livro publicado em 1956*, intitulado "BANDIDOS", passou a partir
dai então a criar essa nova corrente acadêmica de estudos e pesquisa citado
acima. Além de Robin Hood e Lampião, Hobsbawm também caracteriza outro também ícone
rebelde como bandido social o mexicano Pancho Villa.
Dentre
os três citados por Hobsbawm, a figura de Lampião é quem mais se pode
contestar, se ele foi ou não uma espécie de Robin Hood dos Sertões, e
principalmente se o movimento do cangaço do qual ele herdou alcunha de
"Rei do Cangaço", também pode ser considerado um movimento de
"banditismo social".
As
versões tradicionais da história de Lampião ter entrado no cangaço, era uma espécie
de resposta a vingar pela morte do seu pai por um rico e poderoso coronel e foi
assim que ele se tornou um ícone do movimento. Uma coisa que na atualidade é
bastante contestada, já que Lampião carregava um perfil que estava longe de ser
um herói, e nem muito menos santo, o escritor potiguar Raul Fernandes em seu livro "A MARCHA DE LAMPIÃO”,
onde documenta sobre a invasão do bando de Lampião no município de Mossoró-RN
em Junho de 1927, que foi o único município de todo nordeste brasileiro que
resistiu a invasão de seu bando, que no meu ponto de vista pessoal Mossoró foi
uma espécie de Rússia, ou mesmo um Vietnam para o bando de Lampião, já que ele
subestimou a resistência do inimigo e que poderia derrotá-los, o autor descreve
no livro que Lampião desde criança era uma pessoa com uma característica muito difícil,
tinha o dom de querer dominar, era muito desobediente e repulsivo, também há
outros que defendem esta contestação baseada que Lampião também cometia muitos
saques da população mais pobre e com extrema crueldade e fazia isso a mando de coronéis
, além disso Lampião era a figura de uma
pessoa muito esperta, ficava sempre desconfiado de muita gente ao seu redor,
inclusive até dos coiteiros, e se alguém tentasse conspirar contra ele era
capaz de ameaçar matar.
Quanto
a Pancho Villa, eu não posso contestar muito a respeito, até porque conheço
pouco sobre a história de Pancho Villa, mas posso dizer que para a população
mexicana Pancho Villa é considerado um ícone de herói, assim como Robin Hood
está para a população inglesa e atual , como também mesmo sendo contestado por
diversas correntes acadêmicas, ainda sim Lampião é considerado um herói pela população
nordestina brasileira, nas citações poéticas da literatura de cordel, exaltam
demais as suas proezas heroicas.
De
fato a grande conclusão desse meu raciocínio sobre Robin Hood, é que realmente
ele é mais uma dessas figuras enigmáticas da História, cuja maior dificuldade
para um historiador é tentar descobrir que sentido de verdade há por trás desse
ícone mítico da Idade Média, um período que é visto como o mais complexo de ser
estudado por qualquer historiador, isto porque há aqueles que pelo raciocínio
do historiador, medievalista e memorialista francês Jacques LeGoff, veem a
Idade Média como período negro, por conta da Inquisição, que é erroneamente
caracterizado como a "Idade das Trevas", e já outros historiadores
tem aquela visão de que foi um período rosa, por conta das histórias
fantasiosas das bravuras heroicas dos Cavaleiros Medievais, que inspirou as
novelas de Cavalaria, muitas trovas, poemas e até mesmo o místico mundo fantasioso,
imaginário e escapista dos contos de
fadas.
O
mais correto seria ao se estudar e analisar o que foi a Idade Média, é analisar
o que a Idade Média foi por ela mesma, ou seja, esquecer desses pré-conceitos(conceitos
prévios), de que a Idade Média foi uma época negra e uma época rosa, mas sim o
que foi e que importância no contexto histórico da Idade Média teve para a
época dela. E só. Uma tarefa que dizendo assim em teoria parece ser fácil, mas
na prática eu sei que é muito difícil, porque cada historiador, assim com
qualquer pessoa tem uma opinião diferente, o que os leva a agirem assim como os
próprios jornalistas de forma imparcial. E uma coisa que também se pode
considerar sobre Robin Hood, e isso que
vou dizer é mais minha opinião pessoal, foi provavelmente inspirado nele que
surgiram os ideais de lutas sociais, por um mundo mais justo e igual, os
demagógicos e utópicos políticos populistas, seriam na minha opinião, figuras
que talvez tenham se inspirado em Robin Hood, por realmente defenderem um ideal
de mundo mais justo a ponto, de para conquistar toda a população são capazes de
usar de todos os artifícios possíveis , até mesmo de investir no marketing
pesado de dizerem " EU SOU O HOMEM DO POVÃO, SOU DIFERENTE, VOTE EM
MIM", fazendo os discursos tão imediatistas, ao de fazerem promessas
mirabolantes sabendo que não vai cumprir imediatamente tudo ao ponto de assim
conseguir conquistar o voto da população a enganando, e por ai vai.
Pois
é concluindo tudo isso pode-se dizer que Robin Hood, mesmo sendo uma figura mítica
gerou seguidores.
FONTES:
FERNANDES,Raul,
A MARCHA DE LAMPIÃO, Coleção Mossoroense, Série "C", FUNDAÇÃO JOSÉ
AUGUSTO, SEXTA EDIÇÃO, NATAL/RN, OUTUBRO DE 2005.
REVISTA
AVENTURAS NA HISTÓRIA, EDIÇÃO 82, CAPA, Págs, 28 e 35, Editora Abril, São
Paulo, MAIO DE 2010.
*Na verdade a data publicação original de Bandidos na Inglaterra foi em 1969 e não em 1956 como eu tinha mencionado no texto. Constatei isto após adquirir recentemente uma edição do livro publicada pela Editora Paz & Terra, Rio de Janeiro/São Paulo,2015. Onde pelo texto das orelhas e do prefácio escrito pelo próprio autor Eric Hobsbawm em Junho de 1999 para uma nova edição do livro lançado em 2000. Foi também lendo os textos das orelhas que descobri que a primeira publicação brasileira do livro traduzido para o português só foi lançada em 1973. Ou seja, um atraso de quatro anos.
http://www.culturabrasil.org/rebelioesrep.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_I_de_Inglaterra
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arqueiro_Verde
http://www.relativa.com.br/livros_template.asp?codigo_produto=130918
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pancho_Villa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Robin_(DC_Comics)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Robin_Hood