Na
manhã de sexta-feira, 08 de Março de 2024, fui surpreendido pela notícia do
falecimento de Akira Toriyama, o criador de Dragon Ball.
Na
verdade, ele havia falecido uma semana antes, no dia 01 de Março. Vitimado por
um hematoma subdural aos 68 anos. Isso ocorreu porque no Japão é “fortemente influenciado pelo budismo, xintoísmo, taoísmo
e confucionismo. E, embora muitas dessas tradições sejam amplas e variem entre
cada região, geralmente a forma de lidar com falecimentos costuma ser parecida.
Ela precisa ser feita com a maior discrição possível e com foco na
família e amigos mais próximos. Sem interferência de terceiros ou muitas
distrações. Os ritos funerários são feitos em um ambiente totalmente privado,
pois o corpo precisa estar intacto e só após tudo o público fica sabendo.”(Fonte:
IGN Brasil).
Nascido
em Nagoya, no dia 05 de Abril de 1955, Akira Toriyama sempre foi muito
apaixonado por desenhar.
Antes
de criar Dragon Ball, ele criou Dr. Slump em 1980.
Mas
foi com Dragon Ball que ele publicou primeiro como mangá pela Shonen Jump em 1984 e depois virou
anime em 1986 quem lhe trouxe fama mundial e não é um exagero dizer isso.
Para
exemplificar melhor vou descrever minha vivencia pessoal de Dragon Ball no exterior. No ano passado, mais precisamente em junho, eu viajei durante 15 dias para dois países: França e Tunísia, isso ocorreu por ocasião da celebração do
casamento da minha prima que é médica e residi na França e lá ela conheceu o
seu marido tunisiano que é seu colega
médico.
Durante
a minha estadia de cinco dias em Paris onde fiquei hospedado num apartamento de
modelo Airbnb, onde dividi o local com alguns parentes que fomos para
acompanhar a celebração do casamento dela na Tunísia, terra natal do seu noivo.
Foi
num dia em que eu me sentindo indisposto e não resolvi acompanhar todo mundo
saindo junto para passear pelas ruas
parisienses, que para minha agradável surpresa quando o povo retorna da rua
aparecem me dando de presente um calção
de dormir que eu havia esquecido de trazer em minha bagagem.
Calção
esse personalizado de Dragon Ball com as esferas do dragão e licenciado
pela Toei, ou seja, produto reconhecido
oficialmente.
Já
durante minha estadia por Túnis, capital da Tunísia, onde fomos para acompanhar
a celebração do casamento da minha prima. Ela havia providenciado o serviço de
um ônibus de turismo para promover passeios por lá, onde levou a gente e um
grupo de amigos “gringos” dela que foram prestigiar a cerimônia do seu
casamento.
Foi
num desses dias passeando dentro do
ônibus em Túnis, que me deparei passando em frente a um mural apresentando um desenho gigante do
Goku criança acompanhado do Kuririn, bem uma prova do quanto Dragon Ball
é realmente uma marca de fama mundial.
Uma
das explicações do porquê de Dragon Ball conquistar tamanha popularidade
e atravessa gerações esteja no fato de que o mote de sua história segue bem a
fórmula campbeliana da jornada do herói.
Onde
vemos a história do Goku se assemelhar um pouco a história do Superman. Já
que do mesmo jeito que na história do herói da DC que surgiu em 1938, na
revista Action Comics, criado pela dupla
formada pelo americano Jerry Siegel(1914-1996) e o canadense Joe
Shuster(1914-1992).
Onde
o herói Ka-el é um alienígena natural de
Kripton, que veio para a Terra bebê em estado embrionário depois que seu
planeta explodiu e aqui na Terra foi adotado por um humilde casal de
fazendeiros de Smallville chamados Jonathan e Martha Kent que o batizaram de
Clark Kent e ele sob esse nome fez carreira como jornalista em Metropolis.
Na
história de Dragon Ball, também se assemelha por ser um alienígena com
algumas diferenças.
Na
história de Dragon Ball,
Goku é o único sobrevivente de uma raça guerreira
de sayajins, um povo habitante do Planeta Sadala, cuja principal característica
é eles terem rabos de macacos que foi exterminado por Freeza na época em que
Goku era um bebê. Cujo nome real de batismo por seu pai Bardock é Karkarotto*.
O que dá para entender o porquê do Vegeta o chamar por esse nome.
E
quando foi enviado para a Terra em estado embrionário para fugir de ser extinto
por Freeza, aqui foi adotado por um velho numa montanha chamado Son Gohan que o
batizou de Son Goku.
Essa
origem de Goku é explicado na OVA** Dragon Ball Z: Bardock: O Pai de Goku(Dragon
Ball Z: A Lonesome, Final Battle – The Father of Z Warrior Son Goku, who
Challenged Freeza, Japão, 1990) que está disponível no Amazon Prime Vídeo.
Aqui
na Terra fomos acompanhando Goku crescendo após ficar órfão de Son Gohan e
conhecendo os mais diferentes tipos de amigos: Bulma, Yamcha, Kuririn, Mestre
Kame, Piccolo, Chi-chi com quem se casaria
e se tornaria pai de Gohan em
homenagem ao avô e Gothen, Vegeta,
Kuririn, Dendê, dentre outros em sua
jornada heroica pela procura das seis esferas redondas alaranjadas do dragão para invocar o poderoso dragão
Shen-Long, e em cada uma dessas esferas
contém uma estrela vermelha para lhe conceder um desejo.
Chamadas
de Dragon Ball, o que justifica o título da série em inglês escolhida pelo Toriyama: onde Dragon
significa Dragão e Ball significa Bola.
E
sempre enfrentando uma nova ameaça demoníaca ao Planeta Terra das Tropas Red
Ribbons, Tao-Pai-Pai, Freeza, Cell, Majin Boo dentre outros exemplos.
Goku
refletia bem o exemplo que o fato de ser órfão, ele não mostrava a postura de
coitadismo, sempre procurava lutar por um mundo melhor com muita resiliência.
Para
mostrar o quão humanista ele é.
Mesmo
as vezes agindo meio patético, mas enfim, ele simbolizava sempre a luta diária
de superação que devemos encarar no dia a dia, onde o pior mal está na
realidade cotidiana.
O
meu primeiro contato com Dragon Ball foi bem antes da Fase Z, eu vi a primeira vez com 11 anos, passando no SBT por volta de 1996 nas manhãs de
sábado e chegou bem pegando carona na
época da Era de Ouro dos Animes na Tv
Brasileira durante a década de 1990 que
teve início com a estreia de Cavaleiros do Zodíaco(Saint Seyia, Japão,
1986-1989) na extinta Rede Manchete em 1994.
Nessa
sua primeira passagem no Brasil, Dragon Ball ainda
não chegou a ganhar popularidade como ganharia posteriormente quando chegou a
Fase Dragon Ball Z, com o protagonista Goku adulto, casado com Chi-chi e
pai do Gohan.
Que
estreou no Brasil na Band em 1999 e no canal pago Cartoon Network, pegando carona
na febre de Pokémon.
A
popularidade de Dragon Ball ganhou no Brasil com a Globo sendo exibido
em sua extinta grade matinal de programação infantil chamada Bambuluá***(Brasil,
2000-2001) que exibia outro anime de sucesso para concorrer com Pokémon
que foi Digimon Adventure(Japão, 1999-2000) foi tamanha que ocasionou
numa parcela dos fãs nostálgicos por TV
Globinho criaram até uma memória coletiva falsa, denominada de Efeito Mandela**** de
assimilar com o fatídico 11 de Setembro de 2001.
Para
entender essa questão aqui vai a explicação dessa bizarra teoria: Segundo a opinião desses internautas, eles afirmavam acreditar que lembravam de estarem assistindo
a Dragon Ball Z naquela manhã de
terça-feira, 11 de Setembro, a uma cena de batalha de Goku transformado em
Super Sayajin 3 e no momento em que a Globo interrompeu a transmissão de sua
programação normal para começar a exibir o Plantão Globo com a cobertura
do atentado terrorista das Torres Gêmeas, o que segundo eles levam a afirmar foi o dia mais frustrante da vida deles.
A
questão é que o maior furo que pesa contrário a afirmação dessa teoria conspiratória e segundo pelo que pesquisei no site da Folha
de São Paulo sobre a grade de programação da Globo nesse dia, pesquisei
também lendo numa matéria do site da Folha
de Pernambuco de 11 de Setembro de 2023 e nos canais do Youtube da Kama Sama Explorer
postado em 11 de Setembro de 2020 e numa postagem do usuário Michel Souza de
11/09/23 e que faz a afirmação desse pessoal cair por terra.
Quando
ocorreu no dia, a primeira interrupção do Plantão Globo para fazer a
cobertura do atentado em Nova York, foi no horário das 9h52, quando a Globo
estava dando início a sua programação infantil exibindo Bambuluá,
apresentado por Angélica que exibia os desenhos de Mickey e Donald.
“O primeiro plantão da Globo durou quatro
minutos e a programação da emissora se dedicou totalmente ao tema a partir das
10h30, tendo se estendido até o horário do Jornal Hoje, que começou
naquele dia às 13h. A emissora também derrubou a exibição do jornal local e do Globo
Esporte.
Dragon
Ball Z era uma das atrações do Bambuluá e entrava no ar
por volta das 11h15 — ou seja, naquele dia, a animação seria transmitida apenas
mais de uma hora depois. Bambuluá era exibido das 9h20 às 11h55.”*****
Ou
seja, pode-se concluir que na verdade, no momento que a Globo interrompeu sua
programação matinal infantil naquele momento Dragon Ball Z estava longe
de começar a ser exibido.
A
maneira como Dragon Ball era exibido há vintes anos seria impensável nos dias de hoje, isso
porque depois que foi aprovada uma Resolução 163, aprovada em 2014 que passou a
proibir publicidade infantil, isso tornou inviável produzir programas infantis
matinais.
Mais
ai eu me pergunto: Se tanta gente pseudossábia preocupada com nossas
crianças. Condenavam tanto anime como motivador da violência, satânico,
como seus bodes expiatórios e apontar o dedo como culpados. Será mesmo que
anime causa tudo isso mesmo, pois, pelo que eu tenho reparado desde que essa
Resolução 163 foi aprovada o nível de violência nas escolas só aumentou com
tantos casos de massacres e alguns
consequências de bullying que se tornou criminalizado.
Será
que dessa vez a culpa continua mesmo sendo de anime ou culpa da
irresponsabilidade desses progenitores que não souberam como educar direito os
seus filhos?
E
eles agindo de forma passiva, minimizando a situação, com discursos de
coitadismo para cá, coitadismo para lá. Não.
Definitivamente
só sei que desse tipo de gente de
opinião equivocada ai eu não tenho um
pingo de respeito.
Quanto
ao Akira Toriyama, esse sim merece meu respeito.
Que
para criar o seu universo mitológico próprio de Dragon Ball, colocou
muitos elementos de sua paixão pelos filmes de artes marciais, como os de Kung
Fu estrelados pelo Jackie Chan.
Isso
não é oficial, mas eu não duvido que um dos filmes de kung fu que Toriyama tenha assistido foi: A Câmara
36 de Shaolin(Shao Lin san shi liu fang, Hong Kong,1978) do diretor Lau
Kar-leung(1934-2013), para conceber o
perfil do Kuririn que na história é um monge budista do Templo Shaolin principalmente
por ele aparecer careca e com as seis pontas na testa. E essa obra se ambienta no Templo Shaolin onde os monges
tem essa característica.
Também
se inspirou na lenda chinesa do Rei
Macaco que inspirou a característica calda de primata que o Goku usava quando criança. Outra
inspiração de Toriyama na cultura
chinesa para criar Dragon Ball foi no livro Jornada ao Oeste, romance mitológico
do século 16, publicado anonimamente por
Wu Chengen(1500-1582) por volta do ano de 1570 da Dinastia Ming, onde o Rei
Macaco é o protagonista dessa história.
O
mais curioso é a inspiração para o nome do golpe Kamehameha, que foi inspirado
numa figura real de Kamehameha I(1736-1819) que comandou o Havaí antes desse
lugar virar um território americano.
E
pelo que se comenta, a primeira vez que Akira Toriyama teve um contato com esse
nome foi por meio de sua esposa, que antes de se casar com ele havia viajado para o Havaí e ao mencionar o
nome dessa importante personalidade no Havaí, achou que soaria legal para o
nome do golpe usado pelos seus personagens e que virou a marcada registrada
deles.
E
não duvido nada que Toriyama devia ser fã do gênero ficção cientifica para
ambientar Dragon Ball num ambiente futurista com os carros voadores e as
casas surgindo em cápsulas e revivendo os animais pré-históricos.
Um
cenário como esse fora da realidade e até meio fantasioso, por mais estranho
que possa parecer também teve inspiração na realidade, especificamente na
triste realidade socioeconômica japonesa
naquele período da bolha financeira dos
anos 1980 que estava lidando com a atividade dos especuladores imobiliários.
Que
estavam prejudicando a vida de muitos japoneses, esse tipo de gente danosa que lucram em cima da desgraça dos
outros para fins pessoais, foi a inspiração para a figura do Freeza, um crápula tirano espacial egocêntrico, megalomaníaco que
destrói planetas para depois vender.
É
curioso imaginar como foi através de Dragon
Ball que Toriyama teve contato com o ídolo brasileiro do automobilismo
Ayrton Senna(1960-1994). Isso porque como no Japão do final dos anos 1980 o
automobilismo estava começando a ganhar popularidade por causa do calendário
dos Grandes Prêmios e Toriyama chegou a ser convidado para ajudar a divulgar
mais o esporte entre os japoneses.
E
ele como sempre foi muito fã de automobilismo desde a infância, herdado de seu
pai mecânico que chegou a montar uma oficina em sua casa.
Foi
por causa disso que surgiu o convite
para ele desenhar Goku dirigindo numa
MacLaren e por conta disso teve o privilégio
de cumprimentar Ayrton Senna.
Pode-se
dizer que Senna teve o privilégio que nós brasileiros fãs do anime sonharíamos
de conhecer pessoalmente o Akira Toriyama e querer cumprimenta-lo, isso bem
antes de ocorrer a exibição de Dragon Ball.
Aqui
no Brasil, eu ouso em dizer como Dragon Ball atingiu todas as classes sociais, uma vez
quando veio um jardineiro aqui em casa. Quando esse viu meus mangás de Dragon
Ball ficou tão impressionado que começou a comentar que gostava do anime e
começou a ter uma longa conversa sobre o anime.
Quando
eu costumava ir muito aos eventos de cultura pop aqui de Natal-RN como o SAGA, por
exemplo, eu sempre me deparava com um rapaz chamado Judson. Que vivia fazendo cosplay de Goku, e sempre que era cumprimentado se
identificava como Goku: “Oi eu sou o Goku”, a ponto dele ficar popularmente
conhecido pela população local como Goku Natalense.
Para
concluir, compartilho aqui sobre meu primeiro contato com os mangás de Dragon
Ball, que tenho de admitir que demorei um tempão para me poder gostar
daquele tipo de leitura.
Ainda
mais que na época mesmo que Dragon
Ball estava uma febre aqui no Brasil e lá já se comentava sobre os mangás,
onde inclusive até na minha época de ensino médio, eu tive um colega chamado Uesllei que chegou a
me apresentar aqueles modelos de leitura que a primeira vista eu demorei um
pouco a aderir.
Visto
que eu como boa parte da camada média brasileira, comecei tendo meu primeiro
contato de leituras de HQs lendo Turma da Mônica, que é uma marca
tipicamente brasileira criado pelo Mauricio de Sousa.
E
as referências que eu tinha de HQ eram naquele modelo de leitura de frente para
trás, com desenhos coloridos, onde os quadros das cenas e dos diálogos dos
personagens nos balões eram sequenciados horizontalmente de cima para baixo.
Eu
confesso que estranhei à primeira vista aquele modelo de leitura de trás para
frente como é no estilo inverso de leitura dos japoneses e com traços todo em
preto e branco.
Ao
contrário de hoje já estou mais familiarizado com esse estilo típico de
leitura.
Há
algum tempo comecei a ler um mangá de Sanland,
outra criação de Akira Toriyama que já estreou como anime.
Akira
Toriyama você partiu, mas o legado que
você deixa com Dragon Ball nunca será esquecido.
Que
descanse em paz,
(1955-2024).
**Sigla em inglês para Original Video Animation trata-se de ”um
formato de animação que consiste de um ou mais episódios de anime lançados
diretamente ao mercado de vídeo (VHS ou LD, atualmente DVD e Blu-ray), sem
prévia exibição na televisão ou nos cinemas. OVAs servem tanto para histórias
originais como complementos ou paralelos na história exibida na TV, normalmente
tem duração igual ou um pouco maior que a duração padrão de um episódio de TV
de anime (25 minutos), mas nunca alcança a duração de um longa-metragem.”
(Fonte: Wikipédia).
***O nome desse
antigo matinal infantil da Globo onde DBZ foi exibido é inspirado no título do
conto A Princesa de Bambuluá do historiador potiguar Luís da Cãmara
Cascudo(1898-1986), importante nome e referência no estudo do folclore brasileiro.
****O nome Efeito Mandela para definir o comportamento psicológico
de memória coletiva falsa é uma referência
a Nelson Mandela(1918-2013), importante ativista sul-africano que foi o
principal porta-voz da população negra na África do Sul contra o modelo político
racista do Apartheid que vigorava no país
até os anos 1980. Ele chegou a cumprir prisão por 27 anos, até ser solto em
1990 e ser eleito Presidente da nação em
1994 e ficou no mandato até 1999. A explicação
para ele dar nome a esse comportamento de falsas memórias se deve quando a pesquisadora
paranormal Fiona Broome partiu disso por
meio da experiencia própria de carregar uma memória falsa de pensar que Nelson
Mandela havia morrido na prisão nos anos 1980, a ponto de negligenciar que após
sua soltura ele foi eleito Presidente da África do Sul e que ele viveu até os
95 anos. Ela constatou não ser a única, pois, “muitas outras pessoas também tinham essa
mesma recordação falsa e escreveu um artigo sobre a experiência no seu site.
Dali, o conceito de memórias falsas comuns espalhou-se para outros fóruns e
sites, incluindo as redes sociais.”(Retirado da matéria “O estranho
'Efeito Mandela' que a ciência tenta explicar”, do site da BBC, publicado em 14
de Outubro de 2022).
*****Trecho da matéria do site da Folha de Pernambuco, publicado
em 11 de Setembro de 2023.