EM MEMÓRIA A ZIRALDO(1932-2024)
Neste
último sábado, 06 de Abril de 2024, perdemos o importante nome da arte brasileira.
O desenhista e escritor Ziraldo Alves Pinto, ou apenas Ziraldo(1932-2024) como
costuma assinar.
Em
sua memória, comento aqui sobre a adaptação de sua famosa obra O Menino Maluquinho(Brasil,
1995), que foi minha primeira introdução que estou reescrevendo o que eu já havia
publicado para outro blog em 2019.
Desta
vez com informações novas.
Um
filme infanto-juvenil brasileiro que me lembro vagamente de ter ido assistir, eu
estava com 10 anos acompanhado da minha família no antigo prédio da sala de
cinema do Rio Verde aqui em Natal/RN, localizado em frente à Catedral Nova na
Avenida Floriano Peixoto em Tirol, no centro da cidade, onde hoje é o prédio de
uma Igreja Evangélica. O filme contou com a direção de Helvecio Ratton e
produção de Tarcísio Vidigal com roteiro adaptado pelo próprio criador.
Com
inspiração no famoso personagem literário do desenhista, chargista, cartunista
e escritor Ziraldo que o publicou em 1980. O filme analisando pelos olhos de hoje,
passados mais de vinte anos após seus lançamento, dá para ver e sentir que ele
bem representou uma enorme contribuição para a retomada da produção do cinema
brasileiro naquele momento em que as produções estavam bem tímidas,
especialmente depois que no começo dos anos 1990, o Governo de Fernando Collor
de Mello prejudicou a nossa produção cultural, e bem naquele momento em que
tínhamos recém-lançado a moeda do Real do Governo FHC que nos deu uma
estabilidade e deu fim ao longo ciclo de inflação.
É
que nossa produção cinematográfica foi aos poucos retomando. O filme apesar de
apresentar entre suas falhas técnicas, uma qualidade meio sofrível da imagem
com alguns chuviscos que criam uma sensação de ter envelhecido mal com o tempo,
dando uma sensação de produção amadora por causa da retomada tímida e a
captação do áudio também não estava lá essas coisas.
Mas
que de todo jeito ainda é uma produção que mesmo com recursos bem limitados e
com um orçamento até modesto se formos comparar aos padrões hollywoodianos.
Apresenta
um belo primor no roteiro que foi bem
fielmente adaptado como eu bem pude verificar algum tempo depois de ganhei uma
edição em livro presenteado por meus pais que era uma maravilha todo ilustrado
e com poucos textos. Mas mesmo assim muito empolgante, história incrível.
Onde
lá eu também pude apreciar bem o estilo da estética textual-ilustrativa característica
do Ziraldo que além do Menino Maluquinho também criou a HQ da Turma
do Pereré, que no filme inclusive na cena inicial ambientada na escola tem
o momento passado na banca que rapidamente podemos observar umas edições da Turma
do Pereré e também criou o livro Uma Professora, Muito Maluquinha que
em 2011 foi adaptado para cinema.
Assim como elogiar no filme, o design de
produção impecável, especialmente dos figurinos dos personagens que remetem bem
a atmosfera datada ao final dos anos 1960.
A
panorâmica do bairro onde reside o protagonista, cheio de residências bem
coloridas e com umas paletas cujas tonalidades dão o toque lúdico a obra.
E
a atmosfera bucólica de quando ele vai para a fazenda de seu avô e junta sua
galera, que teve como locações a cidade histórica de Tiradentes/MG da qual tive
o privilégio de conhecer quando fiz uma viagem de férias em 2017 que é
incrivelmente mostrado com ele fugindo de uma gang de meninos.
Outra
boa qualidade que merece ser destacado no filme está no roteiro, soube bem como
trabalhar além do tom divertido, também o tom dramático, especialmente na
sutilidade do personagem lidar com a separação dos pais.
Do
mesmo modo como o elenco que contou com Samuel Costa como o protagonista
mostrou um desempenho brilhante.
E
a seleção das crianças com quem o protagonista interage na escola, como para
João Romeu Filho fazendo o inseparável Bocão.
Fora
também contar com participações de um grande elenco de feras como Roberto
Bomtempo e Patrícia Pillar na pele dos pais do protagonista, Luís Carlos Arutin
na pele do simpático Vovô Passarinho, o avô do protagonista.
Ele
que assim como seu personagem terminou morrendo no filme, Arutin morreria no ano seguinte após o lançamento,
vitimado por uma asfixia em um incêndio ocorrido no seu apartamento em Janeiro
de 1996.
Que
também contou com as participações da Hilda Rebelo(1924-2019) como a Avó do Menino
Maluquinho.
Também
mencionar as participações de Vera Holtz
como a Professora. Tonico Pereira como Seu Domingos, o motorista do ônibus
escolar, a cantora Edyr de Castro(1946-2019) ex-integrante do conjunto musical As
Frenéticas no filme representando a Irene, empregada doméstica do Menino
Maluquinho e Othon Bastos como o Padre que reza no enterro do Vovô Passarinho e
com a produção musical também incrível
do Antônio Pinto, filho do Ziraldo com um repertório de músicas lúdicas
interpretadas por Milton Nascimento e um coral infantil.
Mesmo
que o seu formato à primeira vista possa parecer um tanto datado, já que o protagonista reflete uma característica
um tanto rara de se ver entre as crianças da atualidade que é a das
crianças brincarem na rua, visto o nível
a que chegamos com o clima de insegurança que fazem a gente gastar horrores com
segurança pessoal, e fora que no atual momento onde passamos a morar em
condomínios fechados e o mundo moderno afetou e muito a maneira de nos
relacionarmos com outras pessoas e as nossas crianças tem encontrado mais
refúgio no mundo virtual.
Coisa que na própria época em que o filme foi lançado a própria época do lançamento deste filme isto também já acontecia, já que era a época que nossas crianças estavam mais brincando nos videogames de SuperNitendo e eu fui uma dessas.
Acredito que por essas e outras que o filme do
Menino Maluquinho merece ser revisitado e apresentado para as novas
gerações. Um fato curioso a se observar, mesmo que não seja muito
relevante, entre os créditos aparece
entre uma menção ao nome de muitas as
empresas responsáveis por patrocinar o filme, entre estas aparece o da extinta
TELERJ(Empresa de Telecomunicações do Rio de Janeiro), que deixou de existir
após ser privatizada em 1998, e que a partir de 1999 passou a ser chamada com outras empresas de telefonias de outros
estados como a TELERN aqui do Rio Grande do Norte, por exemplo, de TELEMAR e a partir de 2007 passou a usar a
marca OI.