quarta-feira, 30 de março de 2016

COMICS CODE AUTHORITY-O INIMIGO REAL DE BATMAN E SUPERMAN



Neste histórico ano de 2016, em que vamos testemunhar os cinemas ser dominado por uma enxurrada de blockbusthers de super-heróis como nunca antes. Já começamos com o pé direito com o filme do Deadpool, um herói da Marvel Comics, mas que foi produzido pela Fox. E agora a grande expectativa é pelo filme de Batman Vs Superman: A Origem da Justiça.





















Cartaz do filme "Batman Vs Superman-A Origem da Justiça".




Os dois heróis mais icônicos da DC Comics, que surgiram com uma diferença de 1 ano de idade no final da década de 1930.Superman foi gerado primeiro na edição da Action Comics #1 de Junho de 1938 pela dupla Jerry Siegel(1914-1996) e Joe Shuster(1914-1992). Já Batman teria sua primeira edição lançada no ano seguinte, na revista Dective Comics #27 de Maio de 1939, publicado pela dupla Bob Kane (1915-1998) e Bill Finger(1914-1974).



















Primeira revista publicada do Superman, a Action Comics de Junho de 1938.


 

















Primeira edição com Batman na revista Detective Comics de  Maio de 1939.







Eles não foram bem os pioneiros, porque este mercado já existia desde o final do século XIX, com as tirinhas de jornais, que se intensificou ainda mais quando dois importantes magnatas da mídia da época que foram Joseph Pulitzer(1847-1911) e  William Randolph  Hearst((1863-1951) resolveram expandir ainda mais este tipo de meio que nasceu do “encontro de dois universos editoriais: os comic books* de um lado , descendentes das dime novels**e dos pulps***formas de literatura barata que ganharam terreno no território americano nos  anos 1880-1890.” Era um tipo de literatura que atingia  a classe proletária  principalmente dos imigrantes que não sabiam ler em inglês. 




















Joseph Pulitzer




 







William Randolph Hearst

Os pioneiros do mercado de quadrinhos 






Os primeiros fantasiados antes de Batman e Superman  a existirem foram o Fantasma, Mandrake e Flash Gordon. Também haviam sido publicadas histórias de cowboys, de terror em outras editoras.

Mas foi com a publicação destes que originou o selo da DC Comics, que surgiram pouco após o surgimento da editora criada em 1934 pelo Major Malcom Weeler-Dickson(1890-1968) e tinha originalmente o nome de National Allied Publication, ambos em comum foram criados com o intuito de refletirem sobre o cenário social estadunidense do final da década de 1930. Após a Queda da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, os Estados Unidos viviam um cenário econômico, político e social muito crítico, denominado de Grande Depressão, onde consequentemente veio desemprego, Lei Seca, aumento da criminalidade. Foi nesta  época que cada território americano passou a ser dominado pelos grandes mafiosos, que passaram a ter controle de todo o sistema econômico, eram eles que ditavam suas regras, e com isso passaram a impor a submissão, o terror a quem não se sujeitasse as suas regras impostas. 




















 Fantasma, um dos primeiros heróis fantasiados surgido antes de Batman e Superman.



Recomendo fazer umas leituras de duas interessantes edições de Luke Cage e Homem-Aranha: A Face Oculta, dois encadernados da linha Marvel Noir  que ilustram bem isto que estou descrevendo, pois a ação deles se passa justamente na década de 1930 nas imagens abaixo.












































Foi neste cenário que Superman foi concedido primeiro pela dupla Jerry Siegel(1914-1996) e Joe Shuster(1914-1992) na revista Action Comics em 1938, onde foi criado tendo a essência de uma quase divindade cósmica, vindo de Kripton, um planeta extinto, com ser força sobre-humana, equivalente ao herói da mitologia grega Hércules e sendo como um quase arquétipo de Jesus Cristo. Superman foi com o intuito de ser o herói que trazia a esperança a humanidade, principalmente ao povo de Metropolis. Quanto ao Batman, que surgiu na revista Dectetive Comics em 1939 criado pela dupla Bob Kane(1915-1998) e Bill Finger(1914-1974). Surgiu para ser um contraponto do Superman, porque tipo enquanto este carrega o símbolo da esperança e da bondade e sendo um ser cósmico na Terra chega a ser um tanto distante da realidade, o Batman não, ele representa a figura de um ser mais realista, um combatente noturno do crime, cuja principal motivação estava no drama de testemunhar os pais serem mortos covardemente por um assaltante em um beco de Gotham City. E o morcego simboliza bem esta sua característica. Ao contrário do Superman, mostra-se mais sério,  bastante sombrio. Outra vantagem que Batman carrega que o torna mais próximo da realidade em relação ao Superman é que na sua galeria de vilões encara além de grandes criminosos, sujeitos bastantes insanos como o Coringa, por exemplo, enquanto que o Superman em uma história encara alguns seres cósmicos que vem a Terra para tentar dominar e escravizar a humanidade, é única exceção é Lex Luthor com uma mente muito megalomaníaca.

Eles juntos deram origem a uma nova safra de super-heróis que gerou a importante denominação histórica de “Era de Ouro dos Quadrinhos”. Mas teve um momento na década de 1950, que eles juntos tiveram de encararem um inimigo em comum. Que não era cósmico como os que o Superman encarava, nem muito menos insanos enfrentados pelo Batman. Este tipo de inimigo real, que gerou um baita prejuízo para a Dc Comics, algo da qual ela não gosta muito de lembrar com certa razão, mas, como existe um ditado muito usado pelos historiadores “Quem não conhece a sua história, está condenado a repeti-lo”. E isto aconteceu a partir do momento em que surgiu a figura de um homem, que publicou uma obra onde acusava os quadrinhos de aumentarem o índice da criminalidade juvenil  e disso se tornou o grande responsável pelo rebuliço que originaria no nascimento do temido código de fiscalização e regulação de censura das revistas em quadrinhos chamado de Comics Code Authority.  Sendo este o real inimigo dos Super-Heróis.  Neste período denominado de Era de Prata dos Quadrinhos.



















Fredric Wertham o inimigo real de Batman e Superman que foi responsável pelo grande rebuliço editorial na década de 1950 e responsável pela teoria de suposta homossexualidade do Batman com o Robim.




Tudo isso aconteceu em 1954, quando o psiquiatra  Fredric Wertham(1895-1981), publicou o polêmico livro “Seduction of the Innocent”,  onde lá ele acusava as revistas dos super-heróis estarem muito ligadas ao aumento do índice de criminalidade juvenil. Ele escreveu esta obra baseado nos estudos investigativos que vinham analisando para tentar compreender o por quê do comportamento juvenil da década de 1950. Wertham que era alemão, nascido em Munique e residente nos Estados Unidos desde 1922. Já vinha desconfiado desta ligação das revistas dos super-heróis ao aumento da criminalidade entre os jovens americanos. Bem antes de publicar este polêmico livro que daria origem ao grande prejuízo  mercadológicos das comics  a partir daquele momento, ele já tinha uma postura contrária as publicações das revistas de super-heróis porque bem antes, em 1948 Wertham começou a  escrever  artigos  em numerosas revistas profissionais ou para o grande  público suas acusações aos gibis.

A partir da publicação deste livro, surgiu então a organização da Comics Code Authorithy, que passou então a ser o regulador das Hqs, originando a figura do inimigo real dos super-heróis. 


















Edição de "Seduction of the Innocent", o polêmico livro do psiquiatra  Fredric Wertham responsável pelo surgimento de um código que passou a regular e censurar as publicações dos heróis.






Como nesta época também coincidiu do cenário político americano dos anos 1950 viverem muito turbulento. A Segunda Guerra Mundial tinha acabado ainda recente, e boa parte da geração jovem que participou do conflito tinham voltado para casa mentalmente perturbados, e muitas crianças dessa época eram órfãs de alguns combatentes que voltariam para casa sem vida.  Era também o começo da Guerra Fria, o conflito de interesses político e ideológicos entre os EUA com a URRS.  Dentro do território americano foi adotado a política macarthista de caça aos comunistas. Que ocasionou em um período apavorante para os cidadãos americanos comuns que eram alvos de constantes vigília do governo e eram presos sem justificativa, sofriam abusos e torturas. E nesta época boa parte das famílias procuravam prezar pelo conservadorismo puritano. O mesmo Wertham que escreveu “Seduction of the Innocents", também foi autor da teoria de Batman ter um relacionamento gay com Robin. E Batman por representar a essência de um vigilante urbano noturno que vivia acima do bem e do mal com a simbologia de um animal que vive no escuro, foi um dos fatores que os fiscalizadores da Comics Code Authority ficassem constantemente de olho nas suas publicações. Isso ocasionou na maior dor de cabeça para a DC a ponto de muitos dos seus criadores de super-heróis penarem para conseguir se adequarem aos critérios e regulações desta organização, que só eram liberados com o seu selo.

Não só Batman foi o herói mais famoso foi alvo de constantes críticas de Wertham por ter conotações homossexuais, como também o Superman, ele via com algumas características nazistas, ele também via a figura da Mulher-Maravilha que forma junto a este a trindade dos super-heróis da DC Comics, criada na All Star Comic #8 em dezembro de 1941 por William Moulton Martson(1893-1947) como  uma figura com inclinações lésbicas.

Tudo isso ocasionou num período bem complicado que a DC Comics teve de lidar. 


















Selo do temido código de regulação das publicações das revistas em quadrinhos dos heróis após a grande tempestade causada por Wertham com a publicação de seu livro denunciando a má influencia dos gibis no aumento do índice de delinquência juvenil.





















No exemplo acima temos duas edições das revistas de Batman antes e após o surgimento, na edição 89 acima com o fundo em verde na capa  com o Batman e Robin um velhinha de assaltantes foi a sua úlitma antes de adotar o selo. Mais abaixo temos a edição seguinte, Batman 90 com o fundo rosado e mostrando na capa Batman e Robin perseguindo um cara que foi encurralado na rede saida de um taco de beseibol de um garoto, o selo já adotado. 






Esse código de ética dos quadrinhos estabelecia muitas normas e  imposições rígidas  no  conteúdo das publicações que implicaram  em infinitas revisões  tanto no roteiro  quanto no traço da ilustrações,  dos quais  muitos dos profissionais envolvidos tanto diretamente quanto indiretamente tinham de encarar exaustivamente a duras penas, para  evitarem  de caírem no prejuízo que esta prática de censura  da Comics Code Authority  estabelecia .  Dentre estas regras estabelecidas por este órgão de censura dos quadrinhos estava entre algumas cito:

1)As historias em quadrinhos devem ser um instrumento de educação, formação moral, propaganda dos bons sentimentos e exaltação das virtudes sociais e individuais.

2) Não devendo sobrecarregar a mente das crianças como se fossem um prolongamento do currículo escolar, elas devem, ao contrário, contribuir para a higiene mental e o divertimento dos leitores juvenis e infantis.

3) É necessário o maior cuidado para evitar que as histórias em quadrinhos, descumprindo sua missão, influenciem perniciosamente a juventude ou dêem motivo a exageros da imaginação da infância e da juventude.

4) As histórias em quadrinhos devem exaltar, sempre que possível, o papel dos pais e dos professores, jamais permitindo qualquer apresentação ridícula ou desprimorosa de uns ou de outro.

5)Não é permissível o ataque ou a falta de respeito a qualquer religião ou raça.

6) Os princípios democráticos e as autoridades constituídas devem ser prestigiadas, jamais sendo apresentados de maneira simpática ou lisonjeira os tiranos e inimigos do regime e da liberdade.

7) A família não deve ser exposta a qualquer tratamento desrespeitoso, nem o divórcio apresentado como sendo uma solução para as dificuldades conjugais.

8) Relações sexuais, cenas de amor excessivamente realistas, anormalidades sexuais, sedução e violência carnal não podem ser apresentadas nem sequer sugeridas.

9) São proibidas pragas, obscenidades, pornografias, vulgaridades ou palavras e símbolos que adquiram sentido dúbio e inconfessável.

10) A gíria e as frases de uso popular devem ser usadas com moderação, preferindo-se sempre que possível a boa linguagem.

11) São inaceitáveis as ilustrações provocantes, entendendo-se como tais as que apresentam a nudez, as que exibem indecente ou desnecessariamente as partes íntimas ou as que retratam poses provocantes.

Além de conter mais 7 normas que formam ao todo 18 regras exigidas para que a publicação pudesse  ser liberado a venda com o selo do código que simbolizava que estava tudo ok. 



















A famosa vilã da galeria do Batman, a Mulher-Gato já teve seus piores momentos após  o surgimento da Comics Code Authorithy. Isto porque a característica e libidinosa dela, ainda mais com um arquétipo de um animal felino que despertava o desejo carnal do herói dando assim um tom de femme fatale terminava pegando mal a ponto dos editores terminarem apagando a personagem das publicações.  Ela só retornou as revistas nos anos 1960 graças as interpretações de Julie Newmar, Lee Meriwether e Eartha Kitt(1927-2008) na série de TV "Batman". 

 


















Julie Newmar 






















Lee Meriwether



 











Eartha Kitt





Um dado curioso a respeito da norma que proibia que os gibis tivessem ilustrações provocantes, é que em algumas edições para poderem se adequar  eles tiveram que apagar alguns personagens, e a famosa vilã do Batman, a Mulher-Gato, foi o exemplo disso. Durante a década de 1950 ela precisou ser apagada das edições das revistas, pelo fato de provocar a sensualidade e ainda despertando o desejo sexual do herói também não ajudava muito, o vigilante do crime se apaixonar por uma criminosa. Só depois, na década de 1960, quando a personagem ganhou enorme popularidade ao aparecer na série de TV é que ela pode retornar a páginas das revistas. Foi também a partir desse momento que o código começaria a perder a força quando a recém-nascida Marvel Comics, grande concorrente da DC Comics, resolveu não aderir a estas normas e colocar o selo do órgão nas publicações, isto porque o Governo Americano começava a ver as publicações das revistas dos heróis, como um bom instrumento de campanha para passar mensagens de campanhas por isso mesmo aos pouco foi podendo colocar uma dose, ainda que amenizada de violência. Mas mesmo assim as atividades da Comics Code  Authority ainda perdurariam por décadas. Só muito recentemente, em 2011 é que esta organização  foi completamente extinta depois que a DC Comics se recusou a colocar o selo do código em suas publicações. Foi também muito posteriormente que uma professora universitária chamada Carol L. Tyler publicou um artigo contestando esta teoria de Wertham muitos anos após ele morrer, descobriu ao revisitar os originais quanto esta sua base teórica era bem picareta, porque ele tinha manipulado muitos dos dados  que causaram todo este rebuliço no mercado dos comics. Um bom exemplo de que isto jamais se repita.









FONTE:

" The Seduction of The Innocent "


A Censura nos Quadrinhos (A História do Comics Code Authority)


SARJETA DO TERROR:


Comics Code History: The Seal of Approval


CENSURA: O MAIS PERIGOSO DOS SUPERVILÕES- Matéria da Revista História Viva, Editora Duetto, São Paulo-SP, 2014.

Coleção Mundo Estranho-O Universo  dos Super-Heróis, Editora Abril, São Paulo-SP,2015.

SUPERINTERESSANTE COLEÇÕES-DECIFRANDO OS SUPER-HERÓIS, Editora Abril,  São Paulo-SP, 2012.

COLEÃO MUNDO ESTRANHO-ALMAQUE CURIOSO DOS VILÕES DE HQS E MANGÁS, Editora Abril, São Paulo-SP, 2014.

COLEÇÃO MUNDO ESTRANNHO-GUIA CURIOSO DOS VILÕES DO CINEMA E DA TV, Editora Abril, São Paulo-SP, 2013

*Comics é uma expressão inglesa que pode ser traduzido como cômicos, que remete a algo engraçado. Tinha esta denominação pelo fato de originalmente, os enredos destas publicações eram mais de comedias. Que juntando a palavra book que é livro em inglês  juntando a Comics Books são referentes aos gibis ou histórias em quadrinhos, principalmente no que diz respeito “geralmente pequenas revistas que desde 1975 tiveram seu formato padronizado no tamanho 17 x 26 cm (chamados no Brasil de "formato americano" pois as dimensões das revistas mais populares nesse país eram menores, devido a isso chamadas de "formatinho"). No passado as revistas tinham dimensões maiores. Um comic book equivale a meio tablóide.”




**Palavra inglesa para romances barato “embora tenha um significado específico, também se tornou um termo genérico para vários diferentes (mas relacionadas) formas de século 19 tarde e início do século 20. US ficção popular, incluindo "verdadeiras" romances baratos, papéis de história, cinco e dez cêntimos bibliotecas semanais, "livro grosso" reimpressões, e revistas de celulose às vezes até adiantados. O termo era usado como um título tão tarde quanto 1940, na polpa romances baratos ocidentais de curta duração. romances baratos são, pelo menos em espírito, o antecedente de livros de bolso de hoje do mercado de massas, gibis, e até mesmo programas de televisão e filmes baseados nos centavo novos gêneros. Na idade moderna ", dime romance" tornou-se um termo para descrever qualquer, potboiler escabroso escrito de forma rápida e, como tal, é geralmente usado como um pejorativo para descrever uma peça sensacionalista ainda superficial do trabalho escrito.”



***” Nomes dados, a partir do início da década de 1900, às revistas feitas com papel barato, fabricado a partir de polpa de celulose. Os pulps substituem publicações anteriores como penny dreadfuls, folhetins e dime novels.
Essas revistas geralmente eram dedicadas a histórias noir.  mas também de fantasia e ficção científica. Frequentemente, a expressão "pulp fiction" foi usada para descrever histórias de qualidade menor ou absurdas (é esse sentido da palavra que o diretor Quentin Tarantino usou para nomear seu filme Pulp Fiction - Tempo de Violência). A despeito disso, vários escritores famosos já trabalharam em pulps, como Isaac Asimov, que escreveu para a Astounding Science Fiction, dentre outras. Raymond Chandler e Dashiell Hammett, também escreveram esse tipo de ficção, no início de suas carreiras. Todos são autores estadunidenses pois foi nos Estados Unidos que as revistas pulp tiveram maior expressão. Personagens famosos da cultura pop como Zorro, Tarzan e John Carter surgiram em revistas pulp.”
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pulp




Batman e a Sedução dos Inocentes em matéria do site do Omelete por Mário "Fanatic"Abbade em 10 de Junho de 2005.

http://omelete.uol.com.br/quadrinhos/artigo/batman-e-a-iseducao-do-inocentei/












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