A semana que Natal virou uma Gotham City
A fatídica terça-feira, 14 de março de 2023, dia
em que começaram os ataques terroristas promovidos por facções criminosas nos
presídios na cidade de Natal, famosa cidade do sol, exaltada em versos poéticos
e conhecida por suas exuberantes praias. A cidade foi atingida de várias
formas, incêndios em ônibus, ataques a prédios públicos, bombas em delegacias, dentre
outros incidentes.
E os
ataques duraram o restante da semana, num efeito dominó de medo que afetou diversas
atividades, dentre elas o comércio e o turismo, principalmente com o
cancelamento de reservas em hotéis que esperavam hospedar turistas nesse período.
Inclusive, na sexta-feira, nem fui à academia.
O clima de insegurança afetou a cidade como um todo, e o estado também. Essa
sensação de insegurança me fez pensar que Natal tem vivido nesses dias quase
como uma espécie de Gotham City.
Gotham City, para quem não sabe ao que estou me
referindo, trata-se de uma fictícia metrópole que compõe o universo dos
quadrinhos do Batman surgida no ano que ele teve sua primeira publicação em
revista pela Detective Comics, em 1939, criado pela dupla Bob Kane (1915-1998)
e Bill Finger (1914-1974).
Muitos podem achar que eu estou viajando, que não
tem nada a ver essa comparação, mesmo porque os bandidos que vemos na vida real
em nada lembram os excêntricos bandidos da fictícia Gotham, que não devem ser
levados muito a sério por usarem vestimentas extravagantes e um tanto
carnavalescas, talvez brega para alguns.
No entanto, ainda assim, faço esse comparativo
com o fato de Natal ter virado uma Gotham City nesses dias turbulentos por
causa das facções criminosas, pelo simples fato de que na fictícia Gotham City,
além de haver as ameaças de gente fantasiada, também existe a ameaça da máfia,
que controla o dinheiro e corrompe todos os cidadãos, representados por duas
famílias poderosas que vivem em conflito
de território, que são os Maroni, comandados por Salvatore Maroni, e os
Falcone, comandados por Carmine Falcone.
Inclusive um dos filmes do Batman, que compõe a
trilogia do Christopher Nolan que é Batman – O Cavaleiro das Trevas (The
Dark Knight, EUA, 2008) mostra o Coringa (Heath Ledger) tocando o terror na
cidade como agente do caos e em Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The
Dark Knight Rises, EUA, 2012) o Bane (Tom Hardy) comanda uma quadrilha que
deixa Gotham sitiada.
Quando a dupla Kane e Finger, responsáveis por
conceberem o Batman, criaram essa fictícia cidade dominada pelo crime, era um pouco do reflexo da triste realidade que viviam os EUA no final
dos anos 1930 com o aumento da criminalidade urbana ocasionado pela Grande
Depressão e da Lei Seca onde poderosos gangsters como Al Capone (1899-1947) e
outros bandidos célebres surgidos nessa
época, como o lendário casal criminoso
Bonnie Parker (1910-1934) e Clyde Barrow (1909-1934) tocaram o terror nas metrópoles ou mesmo
nos condados dos EUA. Inclusive, usando de muita
influência com o dinheiro para comandar a cidade e fazer todos ao seu redor se
curvarem diante de um mafioso tão poderoso quanto uma majestade. E havia muitos
conflitos por disputa de pontos, os quais resultavam em tiroteios que não
acabavam, virando cada lugar uma terra sem lei.
E isso inspirou a criação dessa fictícia
metrópole, cujos bandidos célebres como: Coringa, Mulher-Gato, Charada,
Arlequina, Hera Venenosa, Pinguim, Chapeleiro Louco, Espantalho, Duas Caras,
dentre outros, apesar de seus perfis excêntricos e um modo de vestir
irreverente, com planos mirabolantes,
sendo defendidos por um vigilante mascarado, vestindo um collant preto com
cueca em cima da calça e uma capa preta para simbolizar o morcego, um ser acima
do bem e do mal seguindo suas próprias leis. Eles faziam o combate ao crime nas
ruas de Gotham parecer um picadeiro de circo. Refletiam justamente essa
sensação que os EUA vinham passando na década de 1930.
Voltando aos ataques na cidade Natal. Do mesmo
jeito que ocorre na fictícia Gotham, os criminosos de facções em presídios,
quando entram em conflito, começam uma guerra civil que gera um clima de
insegurança na cidade, um assunto que aliás precisa ser levado muito a sério.
Claro que na vida real os bandidos, ao
contrário dos bandidos da escapista Gotham City, não usam umas vestimentas
irreverentes nem temos como contar com um vigilante mascarado como o Batman
para defender os fracos e oprimidos.
Ainda assim, esses criminosos podem se mostrar tão
ameaçadores quanto os excêntricos bandidos da fictícia Gotham. Um tipo de gente
que não teme nem pela própria vida. Uma verdadeira terra sem lei, como nas
histórias de faroeste.
18 de março de 2023.
Nenhum comentário:
Postar um comentário