sábado, 15 de abril de 2023

A semana que Natal virou uma Gotham City

 

A semana que Natal virou uma Gotham City

 

 

A fatídica terça-feira, 14 de março de 2023, dia em que começaram os ataques terroristas promovidos por facções criminosas nos presídios na cidade de Natal, famosa cidade do sol, exaltada em versos poéticos e conhecida por suas exuberantes praias. A cidade foi atingida de várias formas, incêndios em ônibus, ataques a prédios públicos, bombas em delegacias, dentre outros incidentes.



 E os ataques duraram o restante da semana, num efeito dominó de medo que afetou diversas atividades, dentre elas o comércio e o turismo, principalmente com o cancelamento de reservas em hotéis que esperavam hospedar turistas nesse período.

Inclusive, na sexta-feira, nem fui à academia. O clima de insegurança afetou a cidade como um todo, e o estado também. Essa sensação de insegurança me fez pensar que Natal tem vivido nesses dias quase como uma espécie de Gotham City.





Gotham City, para quem não sabe ao que estou me referindo, trata-se de uma fictícia metrópole que compõe o universo dos quadrinhos do Batman surgida no ano que ele teve sua primeira publicação em revista pela Detective Comics, em 1939, criado pela dupla Bob Kane (1915-1998) e Bill Finger (1914-1974).

Muitos podem achar que eu estou viajando, que não tem nada a ver essa comparação, mesmo porque os bandidos que vemos na vida real em nada lembram os excêntricos bandidos da fictícia Gotham, que não devem ser levados muito a sério por usarem vestimentas extravagantes e um tanto carnavalescas, talvez brega para alguns.

No entanto, ainda assim, faço esse comparativo com o fato de Natal ter virado uma Gotham City nesses dias turbulentos por causa das facções criminosas, pelo simples fato de que na fictícia Gotham City, além de haver as ameaças de gente fantasiada, também existe a ameaça da máfia, que controla o dinheiro e corrompe todos os cidadãos, representados por duas famílias poderosas que  vivem em conflito de território, que são os Maroni, comandados por Salvatore Maroni, e os Falcone, comandados por Carmine Falcone.





Inclusive um dos filmes do Batman, que compõe a trilogia do Christopher Nolan que é Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, EUA, 2008) mostra o Coringa (Heath Ledger) tocando o terror na cidade como agente do caos e em Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, EUA, 2012) o Bane (Tom Hardy) comanda uma quadrilha que deixa Gotham sitiada.

Quando a dupla Kane e Finger, responsáveis por conceberem o Batman, criaram essa fictícia cidade dominada pelo crime, era  um pouco do reflexo  da triste realidade que viviam os EUA no final dos anos 1930 com o aumento da criminalidade urbana ocasionado pela Grande Depressão e da Lei Seca onde poderosos  gangsters como Al Capone (1899-1947) e outros  bandidos célebres surgidos nessa época, como o lendário casal criminoso  Bonnie Parker (1910-1934) e Clyde Barrow (1909-1934)  tocaram o terror nas metrópoles ou mesmo nos  condados  dos EUA. Inclusive, usando de muita influência com o dinheiro para comandar a cidade e fazer todos ao seu redor se curvarem diante de um mafioso tão poderoso quanto uma majestade. E havia muitos conflitos por disputa de pontos, os quais resultavam em tiroteios que não acabavam, virando cada lugar uma terra sem lei.





E isso inspirou a criação dessa fictícia metrópole, cujos bandidos célebres como: Coringa, Mulher-Gato, Charada, Arlequina, Hera Venenosa, Pinguim, Chapeleiro Louco, Espantalho, Duas Caras, dentre outros, apesar de seus perfis excêntricos e um modo de vestir irreverente, com planos  mirabolantes, sendo defendidos por um vigilante mascarado, vestindo um collant preto com cueca em cima da calça e uma capa preta para simbolizar o morcego, um ser acima do bem e do mal seguindo suas próprias leis. Eles faziam o combate ao crime nas ruas de Gotham parecer um picadeiro de circo. Refletiam justamente essa sensação que os EUA vinham passando na década de 1930.  

Voltando aos ataques na cidade Natal. Do mesmo jeito que ocorre na fictícia Gotham, os criminosos de facções em presídios, quando entram em conflito, começam uma guerra civil que gera um clima de insegurança na cidade, um assunto que aliás precisa ser levado muito a sério.

Claro que na vida real os bandidos, ao contrário dos bandidos da escapista Gotham City, não usam umas vestimentas irreverentes nem temos como contar com um vigilante mascarado como o Batman para defender os fracos e oprimidos.  

Ainda assim, esses criminosos podem se mostrar tão ameaçadores quanto os excêntricos bandidos da fictícia Gotham. Um tipo de gente que não teme nem pela própria vida. Uma verdadeira terra sem lei, como nas histórias de faroeste.

 

18 de março de 2023.

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