segunda-feira, 30 de outubro de 2023

O ESQUECIDO CHAVES BRASILEIRO

                                  Conheça Miguelito, a cópia  brasileira perdida do Chaves.



     

 

       Um dos assuntos mais comentados da internet brasileira no final de Março de 2023 foi o fato de finalmente terem sido encontrado os cinco dos 22 episódios da série Miguelito(Brasil, 2000) uma versão brasileira  do Chaves que teve uma passagem curta na RedeTV em Julho de 2000 que só durou uma semana no ar, devido à   baixa audiência e as críticas negativas.




Confesso que não  cheguei  a ver na época que a série  passou pela  RedeTv essa tosca versão brasileira do famoso seriado mexicano Chaves, criado e interpretado por Roberto Gómez Bolaños(1929-2014) sucesso no México nos anos 1970 e que aqui no Brasil chegou tardiamente pelo SBT em 1984 e virou um fenômeno.








Eu tenho vagas lembranças dessa produção do Miguelito ao ler umas matérias nas revistas e jornais da época que comentavam sobre essa série  onde mostrava uma foto do ator Eduardo Estrela caracterizado como Miguelito. Depois dessa breve passagem do Miguelito pela RedeTv nunca mais  se falou sobre essa produção que ficou esquecida na história da TV brasileira figurando como uma lost media(mídia perdida).

É tanto que o único registro em vídeo que se tinha até então,  foi a chamada da série que se encontra disponível no Youtube, quanto aos cinco episódios exibidos  ficaram perdidos, provavelmente engavetados nos arquivos da RedeTV.  




Só recentemente tivemos acesso aos  seus cinco episódios exibidos na emissora disponíveis no YouTube, graças a conta do jovem Paulo Dias que tinha encontrado no seu baú de raridades  os cinco episódios que estavam gravadas numas fitas VHS por seu avô, o  ator Luiz Baccelli(1943-2013) que participou do elenco representando o papel do Seu Flodoaldo.  Dando uma olhada por curiosidade nos cinco episódios para melhor me abalizar, confesso que achei bizarro.

Para comentar sobre o enredo, vou precisar fazer uns inevitáveis comparativos com Chaves, principalmente ao avaliar os perfis dos personagens e os desempenhos de seus interpretes ok?





Então vamos lá, a história de Miguelito, girava em torno de uma humilde  comunidade  chamada Vila Generosa,  onde vivia um menino órfão  chamado Miguelito(Eduardo Estrela) morando numa caixa de papelão escrito Made in Brazil, por essa descrição já deixava evidente ser  uma cópia do Chaves interpretado pelo seu criador Bolaños ainda mais quando na série  ele vivia num barril. Nessa vila ele brincava com um trio de crianças formado por Marquinhos(Davi Taiyu), inspirado no Quico(Carlos Villagrán), Lilica(Ana Andreatta) inspirada na Chiquinha(Maria Antonieta de Las Nieves) e Bolão(David Fantazzini) inspirado no Nhonho(Edgar Vivar).





Nessa vila, também vivem Dona Tita(Lara Córdula), uma irascível e desagradável  dondoca que é a dona da pensão da Vila Generosa e mãe do Marquinhos, portanto inspirada na Dona Florinda, representada em Chaves por Florinda Meza.  Seu Picoco(Hélio Cícero) o dono do comércio da Vila, que faz a equivalência ao Professor Girafales(Rubén Aguirre)  no sentido de  despertar o amor da Dona Tita. Seu Flodoaldo(Luiz Baccelli) um aposentado e enrolado no aluguel que é pai da Lilica e é saco de pancada da Dona Tita, bem inspirado no Seu Madruga(Ramón Valdés), Dona Carola(Luah Galvão), mãe do Seu Flodoaldo e avô da Lilica, ou seja, inspirada na Dona Neves(Maria Antonieta de Las Nieves) e outra moradora da Vila onde vive o Miguelito e a Dona Leopoldina, que prefere ser chamada de Dina(Luah Galvão) que é a professora da criançada da vila, meio versão feminina do Professor Girafales(Rubén Aguirre).

E por fim, não posso deixar de mencionar Seu Otávio(Hélio Cícero), o mirabolante e indesejado  cobrador de aluguel da Vila, clara inspiração no Senhor Barriga(Edgar Vivar) em Chaves.





A série deixa evidente ser uma cópia descarada do  Chaves e o texto é muito ruim. É de se questionar quem foi que teve essa ideia de jerico? Por mais estranho que possa parecer essa produção contou com o dedo do saudoso apresentador do SBT,  Gugu Liberato(1959-2019), isso porque foi a sua produtora a GPM(Gugu Produções  Merchandising) responsável pela produção e  que contou como sócio o empresário Beto Carrero(1937-2008) em parceria com a Câmara 5, produtora do Elias Abrão, irmão  da jornalista Sonia Abrão.

Essas produtoras  já haviam trabalhado juntas no humorístico da Escolinha do Barulho(Brasil, 1999-2001) na RecordTv,  uma cópia barata  da Escolinha do Professor Raimundo(Brasil, 1990-1995) da Rede Globo. Uma criação do genial Chico Anysio(1931-2012) contando com boa parte dos personagens que compunham a atração da Globo.





A  produção da série contou com a direção e criação do Milton Neves*, a nível de esclarecimento,  esse aqui  não se trata do famoso apresentador esportivo dos programas da Band, mas sim de  um homônimo e respeitado diretor de televisão, que já carregava um bom currículo em TV,  foi diretor do antigo programa infantil da Eliana no SBT como o Bom Dia & Cia(1993-2022).

No que ele declarou a Folha de São Paulo:

“O programa desenvolve uma linguagem na linha do pastelão, como faziam o infantil ‘Vila Sésamo’ e a comédia ‘Os Três Patetas’.”





O programa   contou entre seus redatores com  Marcus Cardeliquio e  Ecila Pedroso roteirista de Tv que havia escrito para produções do SBT,   também contou com o envolvimento de Homero Salles, diretor que já trabalhava para Gugu em seu famoso programa de auditório do SBT o Domingo Legal, estava na ocasião  dirigindo  a Escolinha do Barulho na Record  e na série do Miguelito assumia o cargo de supervisor da produtora.



Inicialmente a série era para estrear na Record, mas a emissora desistiu de passar, achando custosa demais,  acabou indo parar na recém-inaugurada RedeTV**, que na ocasião quando a série teve sua curta passagem  ainda nem tinha completado um ano de existência.

A escolha para ser exibido na RedeTV teve um pouco do dedo da Sônia Abrão, isso  porque na ocasião ela já era contratada pela emissora, apresentando um programa de variedades chamado  A Casa é Sua(1999-2006).

 E como Miguelito foi uma co-produção da produtora  do seu irmão Elias Abrão com a produtora do Gugu, isso acabou facilitando para as negociações do programa estrear na emissora.

O então superintendente artístico da RedeTV na ocasião que Miguelito foi exibido, Rogério Gallo fez uma declaração pública negativa  que deixou Gugu irritado:

"Assumo que apresentar Miguelito é uma experiência. É um programa que não me agrada, clonado do Chaves. Mas vamos exibir seus 22 capítulos e ver no que dá”.

Essa declaração de Rogério Gallo  repercutiu tão mal que Gugu se revoltou  com a direção da RedeTv por não ter cumprido sua parte no acordo  em exibir Miguelito em dois horários na grade de programação e com a repercussão negativa da crítica especializada e a baixa audiência o que lhe rendeu um baita prejuízo. Já que ele investiu R$ 800 mil reais para a atração e pediu para ser retirado da grade da emissora.

Para se ter uma ideia do quão caro foi a produção, só a construção da  cenografia da fictícia Vila Generosa que  ocorreu dentro de um galpão alugado  de 300m² localizado no bairro  do Cambuci, em São Paulo-SP.

Isso já dá  uma ideia do quanto dinheiro foram gastos para a produção.

O responsável pela cenografia foi  Marcelo Alencar, cuja inspiração para criar   essa  fictícia comunidade para a série foi no modelo  das casas dos populares bairros paulistanos do Brás, Bixiga e Mooca.

Nesse aspecto cenográfico até que a produção mostra ter um ponto positivo em relação a Chaves, pois  carrega um aspecto mais limpo, com as casas  coloridas o tornando  mais lúdico em comparação a suja cenografia mambembe e capenga  de Chaves, até porque o original mexicano foi concebido em outra época, nos anos 1970, onde a produção não carregava tanto essa sofisticação.

Esse porém é o único ponto positivo que a série soube trabalhar bem, porque no resto em todo o seu conjunto a condução da obra se mostra muito problemática, começando pelo texto pífio que é copiado de Chaves descaradamente, é aquele tipo de coisa que no papel se mostra extraordinariamente genial, mas que na execução falha miseravelmente.

Além disso, boa parte dos figurinos dos personagens deixam ainda que de uma forma não tão escancarada evidentes inspirações em Chaves.

Cujas caracterizações beiram tanto ao caricato de tão cafonas que se mostram, onde somado  ao texto ruim e as interpretações desperdiçadas de seu elenco  a nível canastrão  fazendo  a  estética cômica da  série ficar caracterizada como  brega.

O nível da breguice da série  fica ainda mais evidente  com as atuações horríveis e vergonhosas   dos atores selecionados para compor o elenco, boa parte destes rostos desconhecidos da TV na época  que cortam  um dobrado para tentar dar o seu melhor em representar um texto fraco cujas atuações superficiais chegam a soar muito teatralizado.

Começando por Eduardo Estrela na pele do Miguelito, protagonista que dá título à série, ele até  que se mostra o mais  bem empenhado no papel na maneira como consegue entrar na essência do personagem, cuja caracterização remete todinha ao Chaves, a maneira como ele aparece vestido com um chapéu   fazendo caras e bocas e a maneira  como fica posicionado  a alça de sua inseparável bolsa no ombro direito, fica na mesma posição dos suspensórios vermelhos do Chaves.  

Fazendo    remeter a uma representação teatralizada que lembra um boneco mambembe, e falando de um jeito até caricatamente infantiloide com bordões  e na fisicalidade com que incorpora o jeito desajeitado dele no  humor pastelão,    porém, ele sozinho não consegue sustentar a série nas costas. Em 2020***, ano que foi lembrado os  20 anos de sua estreia.   Ele foi procurado para  comentar  numa entrevista para o Estadão.

 Comentou que não conhecia nada de Chaves, e de como produtores  como Homero Salles o instruíram  para explicar nas coletivas de imprensa na época do lançamento para não falar que Miguelito era uma cópia do Chaves e do quanto ele nervoso por aparecer pela primeira vez  numa coletiva de imprensa tinha que negar que Miguelito não foi feito em cima do Chaves, chegava a parecer patético segundo as palavras dele.

 Já que naquele momento do final dos anos 1990 e começo dos anos 2000 já era uma série famosa no Brasil  e que na ocasião já vinha sendo  exibido a exaustão pelo SBT fazia 16 anos. E que  explicasse que a inspiração deles era na Vila Sésamo****(Brasil, 1972-1977) da TV Cultura.

Aqui vai a reprodução do que Estrela descreveu:

“Tinha uma coisa de não assumir que era em cima do ‘Chaves’. Óbvio que era em cima do ‘Chaves’. Os caras pediram: ‘não fala nada, não  fala do Chaves’. Mas como? Lá  fui eu  tentar dar uma entrevista, primeira coletiva de televisão e eu tentando falar que não era o ‘Chaves’. Ai ficou muito patético quando eu falei que nunca tinha visto ‘Chaves’. Mas isso é a mais pura verdade.”

 Estrela comentou nessa mesma entrevista ao Estadão que suas inspirações para compor o Miguelito foram  em Oscarito(1906-1970), o ícone do humor brasileiro, astro   das chanchadas da Atlântida, e outro também comediante no qual ele se inspirou para compor o Miguelito  foi  em Stan Laurel(1890-1965)  que junto com  Oliver Hardy(1892-1957) formaram a dupla humorística que aqui no Brasil é conhecida como O Gordo e o Magro, que reinaram nos cinemas do final dos anos 1920 e 1930, transitando do cinema mudo para o cinema falado.  Já que afirmou que nunca viu o Chaves e justificou o porquê:

““Não gosto desse tipo de produção nem de programas dublados: tenho preconceito”, afirmou.

Esse seu trabalho esquecido na Tv não chegou a prejudicar tanto sua carreira, já que logo depois ele participou de umas novelas da Globo, também fez cinema. Inclusive eu recordo de assistir a  uma curiosa participação dele no documentário Do Luto à Luta(Brasil, 2005) que abordava sobre a realidade das pessoas com Síndrome de Down no Brasil.  Onde o  ator aparece como convidado para representar um pai dramatizando a reação de saber a notícia do médico que o filho tem Síndrome de Down. Foi um trabalho impagável.

Quanto ao resto do elenco que contou no trio  das crianças da vila que brincam com o protagonista, também representados por adultos.

 Começo com  Davi Taiyu como Marquinhos, uma clara cópia do Quico. Apesar dele não se vestir de marinheiro, o que chegou a ser pensado incialmente, ainda assim nota-se clara referência por causa da posição do seu boné mostrar as pontas dos cabelos para cima e numa cena dele tentar chorar da mesma forma caricata como o Quico.

Marquinhos coitado está longe de chegar aos pés do Quico para virar um personagem tão querido pelo público, principalmente no conceito de carisma. Ainda mais se a gente for analisar que em Chaves, o Quico é um personagem que tinha tudo  para o público nutrir  por ele uma forte repulsa pela forma como ele fica provocando o Chaves. Principalmente na hora de ficar  ostentando que tem brinquedos melhores que os dele.

 No entanto, Bolaños foi conseguindo moldar bem o personagem ao trabalhar  sua ótima dinâmica de interação  com o Menino do Barril  e o seu interprete Carlos Villagrán com a maneira com que ele imprimiu no personagem com sua técnica de inflar a bochecha e conseguir falar  com esse jeito caricato ajudou ele  a compor a personalidade tonta que o Quico apresentava.  

O mesmo  não pode ser dito com relação ao Marquinhos em Miguelito, onde o ator Davi Taiyu sofre um bocado  em cena para achar o tom certo  para o papel. Miguelito segundo consta no site do IMDB foi o único trabalho que ele fez para TV, sobre o seu  atual paradeiro após participar dessa esquecida série ele passou a se dedicar mais ao teatro e como  o próprio comentou num vídeo que gravou para um canal do Youtube sobre Chaves chamado Turma CH,  passou a  desenvolver um trabalho voluntário como palhaço para alegrar as crianças com câncer com o projeto dos Doutores da Alegria.  

Já Ana Andreatta como a Lilica, uma versão da Chiquinha, está longe de igualar ao perfil da  menina  espertinha da Vila.

 Que por esse perfil também tendia a despertar a repulsa dos telespectadores por tentar se aproveitar da ingenuidade do Chaves numas situações não muito corretas.

 Porém, Bolaños foi sabendo como moldar a personagem graças a forma como ele soube trabalhar a dinâmica dela com o Chaves, principalmente na forma recalcada como ela nutria uma paixão não correspondida pelo menino e que a atriz Maria Antonieta de Las Nieves soube transmitir bem essa sensação.

Coisa que com relação a Lilica em Miguelito não dá para ser sentida desse mesmo  jeito, fora que eles imprimiram na personagem o item de sua inseparável boneca Catita, onde ela ali traz uma referência a Popis(Florinda Meza) e ao transformar em sua arma para bater nos meninos deixa bem evidente uma clara alusão cartunesca a Mônica da Turma da Mônica famosa personagem dos quadrinhos do Mauricio de Sousa.

 Meio que uma tentativa de tentar abrasileirar uma cópia do mexicano. Sobre a atriz pelo que eu pesquisei, consta no IMBD que após ela participar desse esquecido trabalho na TV ela posteriormente fez outros trabalhos no audiovisual  fez cinema e  séries de TV. Atualmente tem trabalhado mais no teatro.

Para fechar o trio infantil menciono o nome do David Fantazzini como o Bolão, clara alusão ao Nhonho.

 Se por esse nome ele já gera uma representação gordofóbica, fica ainda mais evidente num dos episódios onde ele protagoniza fazendo um regime de uma forma tão  patética, um verdadeiro desserviço.

 David Fantazzini,  o interprete do Bolão, ele  coitado é o que mais se mostra desconfortável no papel.

  Principalmente pela forma  como seu personagem ao contrário do  Nhonho no Chaves que foi representado por Edgar Vivar mostrou ter sido bem  construído dentro do contexto daquele universo de Chaves.

 Para poder explicar melhor:  O fato da gente saber  a informação de que o Nhonho é filho do Senhor Barriga, também representado por Edgar Vivar, que é o dono do  cortiço e recorrentemente aparece por lá para cobrar o aluguel dos seus inquilinos. Isso não gera uma sensação de estranheza  para os telespectadores quanto a sua presença ali ao interagir brincando com o Chaves e as outras crianças dentro daquela comunidade ele não pareça transmitir o perfil de um típico  peixe fora  d´água.

 Ainda mais que quando  Bolaños  teve a ideia de criar o Nhonho surgida pela necessidade que ele viu de ter mais crianças.

 Já que depois do desfalque ocorrido pela saída da Chiquinha no meio da temporada de 1973,  devido a gravidez da atriz Maria Antonieta de Las Nieves e essa foi contratada por outra emissora.

Só a dinâmica  do Chaves com o Quico não seria o suficiente para segurar a série, então ele roteirizou o episódio ambientado na escola chamado de Festival da Burrice, onde lá ele criou diferentes crianças e o Nhonho estava lá e no que o Nhonho foi ganhando personalidade própria ele foi servindo para  tapar o buraco quando em 1979, última temporada de Chaves como programa independente no México e contando com a ausência do Quico  por conta da saída de Carlos Villagrán do elenco.  O Nhonho passa a cumprir as funções equivalentes ao Quico. E assim continuou quando em 1980, Bolanõs voltou a gravar Chaves agora como esquete do seu programa Chespirito, cujas  histórias duraram  até 1992.

Já no caso do Bolão em Miguelito, o mesmo não pode ser dito. Apesar de mostrar uma cena dele saindo de sua casa  provando  que ele residi na vila, ainda assim gera uma sensação de estranheza a ponto dele parecer sim um peixe fora d´água, principalmente pelo fato dos pais dele não mostrarem as caras, ele até faz menção dos seus pais. Mas nesses poucos episódios mostrados na TV não aparece a figura dos seus pais fora e nem dentro de casa. Se os  pais do Bolão existem, provavelmente figuram numa categoria que eu defino como os personagens “invisíveis”, que também são muito recorrentes em Chaves, onde fora os principais que vivem na Vila,  existem outros moradores que são citados pelos personagens mas que nunca  dão as caras. São os personagens que não aparecem em Chaves. E os pais do Bolão ficam bem nesse nível.   Um fato curioso sobre o atual paradeiro desse  ator após fazer esse esquecido trabalho, depois dessa série  ele passou a investir na carreira de cantor. Inclusive em 2002 participou como competidor da segunda edição  do reality musical da Globo Fama, comandado por Angélica e pelo cantor Tony Garrido, então vocalista do Cidade Negra. Onde ele foi o quinto eliminado e    após essa passagem no reality   se estabeleceu no mercado gospel, hoje em dia mais magro ao adotar uma vida  mais saudável e virou pastor.

Quanto ao restante do elenco que representam os moradores da Vila Generosa, começo com Lara Córdula como a Dona Tita, uma clara cópia da Dona Florinda. Principalmente pela forma  como aparece com um penteado cheio de bobs na cabeça e pela forma  como se refere ao seu filho Marquinhos de Fifico do mesmo jeito  que a Dona Florinda se referia ao seu filho Quico como Tesouro. Dá uns tapas na cara do Seu Flodoaldo e nutre uma paixão pelo Seu Picoco. E chama pejorativamente os outros moradores de “povinho”. Ela  é apresentada pelo Miguelito num vídeo de apresentação como a Dona da Vila. Num comparativo a Dona Florinda em Chaves, a personagem que figura entre os fãs como a menos querida por causa do seu temperamento  explosivo e briguenta.   Típico de uma senhora dondoca, viúva de um marinheiro que faz do Seu Madruga seu bode expiatório dando uma série de tapas na cara e o chamando de gentalha e que é chamada pelos personagens de adjetivos negativos de coroca.

 Tudo isso faz com que boa parte dos expectadores nutram de certa forma uma repulsa pela Dona Florinda, no entanto, Bolaños e a sua interprete Florinda Meza souberam bem como  equilibrar a personagem ao dar um ar dócil de ternura sempre que ela  se encontra com o Professor Girafales e mostrando que ela sabe reconhecer o lado bom das pessoas. O que dá até essa amenizada e faz nutrir empatia por ela.

Coisa que em relação a Dona Tita o negócio se mostra complicado você nutrir alguma empatia com o perfil tão explosivo de uma mulher  cuja personalidade lembra a típica figura de uma senhora rabugenta,  desagradável  e escandalosa   e chega a ser constrangedor vê a cena dela mostrando sua paixão pelo Seu Picoco.

 Onde dá para se notar um recalcado cunho erótico, coisa que em Chaves a Dona Florinda não demonstrava isso com o Professor Girafales.

Sobre a atriz Lara Córdula pelo que pude pesquisar no IMDB, ela antes de participar de Miguelito já tinha feito outros trabalhos na TV, e após esse esquecido trabalho de sua carreira fez outros trabalhos em cinema e em série de tv, consta inclusive uma participação num episódio do remake  de A Grande Família(2001-2014) na Rede Globo e atualmente tem se dedicado mais a teatro.

Já Hélio Cicero que na série representa dois papeis, Seu Pipoco e Seu Otávio. No original mexicano isso era bem comum.

É  o caso de Edgar Vivar que além de representar o Senhor Barriga, também fazia o seu filho Nhonho.

Ele como Seu Picoco até que mostra um bom desempenho no papel, principalmente na maneira como demonstra ter uma boa dinâmica de interação com as crianças que vão sempre visitar o seu comércio. No universo de Chaves, ele equivale a um tipo que é bastante citado pelos personagens, mas nunca aparece que é o Dono da Venda da Esquina.

Porém, o  mesmo não pode ser dito com relação a sua representação do Seu Otávio, equivalendo ao Senhor Barriga em Chaves.  A começar pelo fato do personagem de Chaves, representado por Edgar Vivar, também é outro a quem o público tendia a nutrir repulsa pelo fato  dele ser o dono da vila e fica aparecendo constantemente lá para cobrar o aluguel dos seus inquilinos e dentre esses o Seu Madruga é o que mais o tira do sério, por ser o que vive lhe devendo eternos 14 meses de alugueis atrasados.

 O que faz ele ter uma reação irritadiça com o Seu Madruga, ele não só demonstra isso com o Seu Madruga, mas também com o Chaves quando este lhe dá uma pancada no pátio da vila.

Ele por representar essa figura desagradável  e indesejada para a realidade das pessoas que moram de aluguéis, tendia a justamente despertar o sentimento de repulsa dos telespectadores.

Porém, Bolaños foi sabendo como conduzir bem uma forma de tornar o personagem adorável, pela maneira generosa com que ele demonstrava ser com seus inquilinos. Principalmente nas datas dedicadas ao natal, por exemplo.

Algo que com Seu Otávio em Miguelito, a coisa é um  tanto difícil de ser sentido.

A começar pelo fato dele ir cobrar o aluguel, sendo que o próprio Miguelito num vídeo de apresentação estabelece  que quem é o proprietário é a Dona Tita.

 Isso já gera uma inverossimilhança, um quase furo de roteiro. Se a Dona Tita é proprietária da Vila Generosa, ela é quem devia cobrar os aluguéis dos inquilinos. Fora que também é um pouco difícil você nutrir uma empatia pelo Seu Otávio, principalmente pelo perfil vilanesco com que ele foi desenhado beirando ao caricato.  Ainda mais  com uma pena no chapéu que remetia a personagens cartunescos.    Como uma pessoa de caráter vil, egocêntrico, com mania de grandeza  e com um plano  mirabolante de querer se apoderar da Vila  para expulsar os moradores e  transformar o local  em outro empreendimento mais gigante. Ele mais parecia carregar uma inspiração no Dr. Abobrinha(Pascoal da Conceição) do Castelo Rá-Tim-Bum(Brasil, 1994-1997) clássica produção infantil da Tv Cultura. Sobre este ator, consta no currículo dele do IMDB que antes de fazer esse esquecido trabalho na TV, participou da novela Os Imigrantes(Brasil, 1981-1982), da Rede Bandeirantes. Após Miguelito ele participou de algumas novelas do SBT, participou de séries e filmes e mais recentemente fez uma participação na segunda temporada da série O Rei da TV(Brasil, 2021-2022), série biográfica do apresentador Silvio Santos do Star+.

Já a atriz  Luah Galvão que assim como a exemplo de Hélio Cicero também se divide em dois papeis como Dina e Dona Carola.

Como Dina, a professora das crianças da Vila, uma equivalência feminina ao Professor Girafales em Chaves. Ela está longe de chegar ao nível do Girafales de ser o(a) querido(a) professor(a) da ficção  que os telespectadores mirins  gostariam de serem seus alunos, como outro exemplo de docente   a ser citado: a Professora Helena(Gabriela Rivero) da novela mexicana Carrossel*****(Carrussel, México, 1989-1990) que o SBT exibiu no começo dos anos 1990.

 Primeiro que em Chaves, o Girafales vivido por Rubén Aguirre(1934-2016) ele já existia antes de Bolaños criar Chaves, Girafales surgiu no programa Los Supergenios de La Mesa Cuadrada(México,1970-1971).

O Girafales que era apresentado nesse programa,  diferia um pouco do Girafales que conhecíamos em Chaves. Onde ele só foi incluído em Chaves depois que  seu interprete Rubén Aguirre após ter se ausentado por conta do convite irrecusável para outra emissora, retorna ao elenco e volta a representar o Girafales, dessa vez o adequando para dentro do humor de Chaves. Onde ele passou a figurar como o intelectual educador da crianças da Vila e apaixonado por Dona Florinda.

Coisa que com relação a Dina em Miguelito, ela mostra que foi muito jogada dentro da história. A  atriz  coitada se mostra perdidona no texto, sua caracterização um tanto teatral a deixa bastante superficial, lembrando uma caricatura de boneca de pano com uma maquiagem altamente carregada.

E como Dona Carola então, nem digo, a maneira como ela aparece caracterizada incorporando com um jeito todo  estereotipado de idosa, mais lembra a Velha Surda, famoso tipo representado por Roni Rios(1936-2001) na Praça é Nossa(Brasil,1987-atual).

Fora a situação inverossimilhante dela ser equivalente a Dona Neves(Maria Antonieta de Las Nieves) em Chaves com ela interagindo com seu filho Seu Flodoaldo e sua neta Lilica. Se bem que em Chaves, a Dona Neves só interagiu apenas uma vez  com o Seu Madruga, que no caso é seu neto  no episódio do flashback dele olhando o seu álbum de fotografia. E só ficou recorrente quando o Seu Madruga ficou ausente em consequência da  saída do elenco de seu interprete Ramon Valdés.   E para não dar a impressão da sua bisneta Chiquinha parecer uma criança abandonada, ela passou a figurar como presença frequente na história.

Sobre a atriz que representou os dois papeis em Miguelito, consta em seu currículo no IMDB, após esse esquecido trabalho na série ela depois participou de outros trabalhos no audiovisual como na série Sandy & Jr.(Brasil, 1999-2002), participou do filme O Casamento de Romeu e Julieta(Brasil, 2005) dentre outros e atualmente pelo que pesquisei no seu  site pessoal: www.luahgalvao.com.br, consta na aba do seu portfólio  que ela deixou o seu trabalho de atriz de lado e vem se dedicando mais ao trabalho de apresentadora de eventos e também se dedicando ao trabalho intelectual como colunista da Revista Exame.

Já quanto a Luiz Baccelli que deixei por último para comentar como forma de agradecimento porque se não fosse por ele deixar gravado em fitas VHS esses episódios e o seu neto não ter achado para postar no Youtube,  23 anos depois, Miguelito continuaria figurando como uma mídia perdida até agora.

Na série ele representou o Seu Flodoaldo, sujeito equivalente ao Seu Madruga em Chaves.

Num comparativo  ao personagem do original mexicano que foi representado por Ramón Valdés(1924-1988), o Seu Flodoaldo está longe de chegar aos seus pés no nível da  preferência do público.

 Até porque o Seu Madruga se a gente for analisar bem ele era o personagem  mais importante da história pelo fato dele servir de motor para todos os personagens do seriado se movimentarem.

Para o leitor compreender a minha linha de raciocínio: Sempre que  o Seu Madruga aparece a cada episódio no pátio da vila quando a situação envolvia dele retornando da rua para sua casa ou  do contrário, e é recebido com uma vassourada pelo Chaves que o ataca sem querer querendo, porque o seu alvo é o Quico. Consequentemente o Quico  grita por  sua mãe Dona Florinda e    após  receber um beliscão do Seu Madruga depois desse  o provocar. Ela ao aparecer dá um tapa na cara dele e pede para o Quico dá uma série  de  socos dizendo: “Gentalha, Gentalha”.

O Chaves também vai se utilizando desse motor do Seu Madruga quando no momento que fica vendo ele irritando jogando o chapéu no chão  e dando uma pisada.

 O Chaves se aproveita da situação  para tirar sarro do Seu Madruga, principalmente envolvendo  a sua avô.  Já que a Dona Florinda de vez em quando, após os tapas que manda o Quico lhe dar uma gentalha, ela soltava umas ofensas a sua avô.

Então o Seu Madruga, mais irritado do que nunca solta um cascudo no Chaves que faz ele chorar e ir para o barril.

Quando a sua filha  Chiquinha aparecia sabia como nessas situações se  aproveitar para dar movimentava  com o  motor gerado pelo Seu Madruga, quando explorava   da sua boa vontade para aprontar com os meninos da Vila.

 E quando a Bruxa do 71, digo Dona Clotilde(Angelines Fernández) dava as caras no pátio também   se movimentava com esse motor do Seu Madruga, pois ela se assanhava para cima dele.

E até mesmo o Senhor Barriga dependia muito desse motor do Seu Madruga para se movimentar na história, já que como ele era o seu inquilino da vila que mais lhe tirava do sério  por viver atrasando os aluguéis.

 O timming  envolvendo sua reação irritadiça com as desculpas esfarrapadas que o Seu Madruga argumentava para justificar não ter dinheiro mostrava como a dinâmica deles funcionava. Coisa que provavelmente não daria certo com outros personagens.

  E quando o interprete do Seu Madruga Ramón Valdés saiu do seriado no último ano de Chaves como programa independente,  isso acabou ocasionando num enorme vazio.

 Fora que o Seu Madruga também tinha ótimas frases profundas, de teor filosófico como: “A vingança nunca é plena, mata e a envenena” e “As pessoas boas devem amar os seus inimigos”.

Coisa que na versão brasileira do Miguelito, é difícil sentir isso com o Seu Flodoaldo.

Ainda mais pela forma patética como na cena dele levando uma série de tapas da Dona Tita, ele reage de uma maneira muito  boba e um tanto acovardado, coisa que o Seu Madruga mesmo jamais mostraria. 

Baccelli é o único desse  elenco que infelizmente se encontra falecido, ele morreu em 2013, com 69 anos,  vítima de uma parada cardíaca no momento em que estava internado no Hospital São Camilo para tratamento de câncer no rim.

Antes de participar desse esquecido trabalho que foi em Miguelito, Baccelli já havia trabalhado em três novelas do SBT, que foram: As Pupilas do Senhor Reitor(Brasil, 1994-1995), Sangue do meu sangue(Brasil, 1995-1996) e em Pérola Negra(Brasil, 1998-1999).

 Curiosamente na mesma época que Miguelito era exibido na RedeTV, ele estava fazendo a novela do horário das oito da  Rede Globo que se encontrava em cartaz que era  Laços de Família(Brasil, 2000-2001) e depois foi participando de outras novelas em diferentes emissoras.  

Seu último trabalho na TV  antes de morrer foi uma participação numa novela das sete da Globo Aquele Beijo(Brasil, 2011-2012).

Posso concluir que Miguelito, após tantos anos que ficou obscuro na história da tv  brasileira como uma mídia perdida, ao ser finalmente encontrado dá para entender o motivo dele figurar hoje em dia como uma produção trash que se tornou algo cult.

Justamente por causa da sua ousadia em copiar um formato de humor de um programa tão cultuado como  Chaves nos mínimos detalhes.  Porém, havia nuances em Chaves, que só mesmo Bolaños conseguiria trabalhar bem.  

Principalmente o ritmo do timing da piada poder fazer sentido. Algo que aqui em Miguelito, os roteiristas terminaram se preocupando demais em copiar tão descaradamente que se esqueceram de trabalhar algumas adaptações que podiam não funcionar.

Uma das coisas que mais me incomodou na série era quando havia cortes aparecendo o desenho de um relógio marcando a passagem do tempo com aquele ruido incomodo. Tem horas que aquilo se torna uma chatice, poque criava  uma quebra de ritmo de  uma cena para outra.

 Apesar de Chaves ter sido vendido para nós brasileiros  como um programa infantil, muito por causa do esqueleto do seu mote ser  estruturado e centralizado num menino órfão vivendo numa vila pobre e  do toque teatral  e também  circense do seu humor físico, a ponto do SBT encaixá-lo durante  mais de  30 anos na sua  grade matutina e vespertina onde predominava  sua  programação infantil.

Porém,  ele  também trazia alguns sutis  elementos de humor adulto com uns diálogos nas entrelinhas  trazendo umas frases de duplo sentido que não deixavam tão escancaradamente o teor apelativo. Afinal num episódio intitulado Roupa Limpa Suja-se em Casa, nenhuma criança que via esse episódio  sendo exibido  a exaustão pelo SBT ao longo de 36 anos que ela exibiu,  nunca reparou(eu mesmo nunca reparei)  quando  o Quico  maliciosamente tirando  onda com o Seu Madruga com ele mexendo com uma calcinha no varal do pátio da Vila e faz citações de  nomes de mulheres, umas beldades brasileiras adaptadas pela dublagem  com que  ele poderia parecer se usasse fio dental  e dentre essas estava uma menção “A Mulher Pelada do Jô Soares”(1938-2022).  

Uma adaptação brasileira  feita pela dublagem MAGA******, em referência a Cicciolina, uma ex-atriz pornô italiana que fez carreira na política e cuja imagem aparecia na abertura  do programa humorístico que Jô fazia no SBT antes do talk show Jô Soares Onze e Meia(1988-1999), que foi o Veja o Gordo(1988-1989), com ela mostrando os seios em público e  Jô aparecia no cartaz, seguindo a mesma estética da abertura do Viva o Gordo(1981-1987) na Globo.

Se isso já não deixasse evidente que Chaves as vezes  trazia um tom adulto disfarçado, mostrando um menino representado por um adulto fazendo menções de cunho sexual, o que  pode se questionar daquilo ser muito infantil?

Basta a gente lembrar a quantidade de vezes que víamos a Dona Clotilde ao aparecer no pátio da Vila  dá uns pegas no Seu Madruga, como sua reação de assanhamento ao abraçá-lo   deixava transparecer um toque recalcado de fantasia sexual reprimida que ela sentia pelo Seu Madruga.

A explicação se deve ao fato de  quando Chaves  foi exibido originalmente no México nos anos 1970, sua  exibição foi  no horário nobre da tv mexicana, a partir das 20h e sendo num  horário que dificilmente crianças assistiam, o tom de humor da série era bem dosado nesse sentido.

 E como ele inicialmente não foi pensado para ser infantil, foi feito a toque de caixa como costuma se referir os colunistas de TV.

Faz contraste com a programação, daqui do Brasil, que sempre foi encaixado nos horários matutinos e vespertinos  de programação infantil da emissora de Silvio Santos.

Tipo, pela manhã era exibido  após o fim dos programas comandados por Mara Maravilha,  Sérgio Mallandro, por volta do horário do almoço  e na programação da tarde podia ser exibido após a exibição de algum enlatado de séries americanas como da Punk-A Levada da Breca(Punk Brewster, EUA, 1984-1986), ou depois da exibição  de algum bloco de desenhos passando   Pica-Pau e Tom & Jerry ou  antes mesmo da exibição do Disney Club(Brasil, 1997-2001) o que por esse motivo se criou essa conotação infantil a ponto dele ser muito explorado comercialmente no licenciamento e isso ocorre até hoje  dos brinquedos, camisas, álbuns de figurinhas, revistas em quadrinhos, produtos escolares e até mesmo foi gravado um LP com músicas compostas por Mário Lúcio de Freitas e gravados pelo casting da dublagem MAGA entre outros.

Isso prova que Chaves era muito mais do que podíamos imaginar, ainda que sem querer querendo, mesmo não tendo a pretensão,  Bolaños soube como trabalhar em Chaves, a mensagem de crítica social dentro das entrelinhas do texto.

Visto que Chaves foi concebido sem um planejamento prévio, ele foi criado em consequência da saída de Rubén Aguirre do elenco após receber uma proposta irrecusável de outra emissora.

Nessa época, o elenco era muito reduzido  e com ele Bolaños dividia uma esquete do seu programa Chespirito  chamada de Los Chinfladitos  que aqui no Brasil é mais conhecido como Pancada Bonaparte, onde Bolaños fazia dupla com Aguirre que fazia o Lucas Pirado.

A mensagem de crítica social pode ser notada  pelo formato da história usar como cenário uma vila pobre, onde o fio condutor é  um garoto órfão  vivendo  num barril que nos apresenta o cotidiano desse lugar onde os moradores em sua boa parte vivem de aluguel.

Mesmo sendo um programa cômico, a série não tenta romantizar o drama de quem vive nesses lugares como os cortiços, as periferias, as favelas  que lidam com uma série  de  problemas de urbanização, de falta de água, de sujeira, de sanitarização ou mesmo de falta de segurança e lidam com o drama de desemprego a ponto de não terem dinheiro para quitar aluguéis, em alguns episódios  são mostrados esses dramas mas no cunho cômico.

Talvez seja por esse motivo que tenha levado a série a conquistar um sucesso a nível mundial, pois o drama realista  que eles retratam ali de uma vila pobre, não é uma exclusividade do México, pode existir em qualquer lugar tanto aqui no Brasil, nos EUA, na França enfim.

Algo que talvez isso tenha faltado com relação a Miguelito que seguiu uma formula já pronta, achando que funcionária toda copiada. Mas que não deu certo, pelas complexidades das nuances contidas nos textos de Chaves.

Bom é meio difícil imaginar que depois desse achado de Miguelito  na internet e tenha ganhado a popularidade tardia com a exibição dos únicos episódios exibidos na TV. Que ele possa ser exibido por completo com os episódios restantes numa plataforma de streaming.

E o principal fator disso envolve   a questão jurídica do copyright da série, para quê Miguelito possa exibido de maneira oficial,  isso porque não se sabe até o momento qual a situação legal que  se encontra o seu registro de propriedade intelectual para ser distribuído.

      Ainda mais que como o  apresentador Gugu Liberato, que com certeza é detentor da propriedade intelectual de Miguelito.

Como ele   infelizmente faleceu após sofrer de um acidente doméstico  ao cair do teto de  sua residência nos EUA, no dia 21 de Novembro de 2019.

 Desde então vem ocorrendo uma longa batalha nos tribunais envolvendo a partilha da  herança com sua família, cuja novela  está longe de acabar   e como não se sabe com quem ficará responsável por cuidar do  legado de sua antiga produtora. Então a situação por si só é muito incerta.

 Portanto, esperar que Miguelito seja exibido por completo em algum streaming é um sonho um tanto distante de acontecer.  

Ainda bem que em Miguelito  não apareceu outras figuras que equivalessem aos personagens de Chaves, como uma senhora tentando dar uns pegas no Seu Flodoaldo que remetesse a Dona Clotilde, papel vivido pela espanhola Angelines Fernández(1924-1994).

 Um carteiro com sua bicicleta reclamando de fadiga que remetesse ao Jaiminho, papel de Raúl Padilha(1918-1994) e um menino  de boné e camisa amarela aparecendo nas aulas da Dina para atrapalha-la que remetesse ao Godinez, papel de Horácio Gómez Bolaños(1930-1999), irmão do criador do Chaves.

 Numa conclusão geral,  posso colocar sobre Miguelito, ele simboliza bem um fato pitoresco da história da Tv Brasileira de ser um programa de humor copiado do Chaves que já era famoso no Brasil e tentou embarcar nesse sucesso.

 Mas acabou não vingando. Ficou esquecido  e passou anos como um programa perdido da história da Tv Brasileira e só ganhou notoriedade e popularidade graças ao achado de seus episódios anos depois  pela internet.  É assim que eu posso definir sobre Miguelito: O Esquecido Chaves Brasileiro.

 

     *Pelo que pude  colher mais informações  sobre esse diretor,  descobri que  infelizmente  ele faleceu em 2018, aos 49 anos, após sofrer de complicações em seu pâncreas.

          **Quando a  RedeTv havia sido inaugurada em novembro de 1999,  em seus primeiros meses de operação  vivia uma fase experimental  e um tanto alternativa em sua programação mais variada  e era assim na época que Miguelito teve essa curta passagem pela emissora. Antes de se consolidar no estilo popular com sua programação de gosto duvidoso da qual adotou até hoje. Com horários vendidos para informeciais e cultos de pastores midiáticos.

          ***Coincidentemente foi nesse mesmo ano que Chaves saia do ar mundialmente por causa da briga judicial entre a emissora mexicana Televisa com os herdeiros de Bolaños.

           ****Vila Sésamo que a TV Cultura produziu nos anos 1970 foi inspirado no formato americano da Sesame Street, criado por Jim Henson(1936-1990), o mesmo criador da trupe de fantoches dos Muppets.

                        *****Em 2012, o SBT produziu a versão brasileira de Carrossel, inspirado na versão mexicana que a emissora exibiu  entre os anos de 1991 a 1992. Nessa versão BR coube a Rosane Muholland representar a Professora Helena que  na versão mexicana  foi de Gabriela Rivero.

                           ******Provavelmente a dublagem desse episódio feito pela cooperativa MAGA, de propriedade do primeiro dublador do Chaves, Marcelo Gastaldi(1944-1995) deve pertencer ao segundo lote de episódios que o SBT adquiriu em 1988. Mesma data da estreia de Jô Soares no SBT.  O que fazia sentido essa localização. A MAGA foi responsável por dublar o primeiro lote de episódios de Chaves adquiridos em 1984, ano da estreia. Depois dublou o terceiro lote de episódios adquiridos pelo SBT em 1990 e o quarto  e último lote de episódios adquiridos pelo SBT em 1992.  A MAGA foi extinta em 1995, mesma data do falecimento de Marcelo Gastaldi.

                                                                                                      

 


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