sábado, 29 de novembro de 2025

O ESPETÁCULO DE RICHARD PRYOR

 

Nesse ano de 2025, em que vai se completar 20 anos da partida do comediante  Richard Pryor(1940-2005), a melhor maneira de conhecer o seu estilo peculiar de humor  que ele levou para o cinema é assistindo ao filme  Richard Pryor: Live in Concert(EUA, 1979).




Trata-se de  uma produção que acompanha a apresentação  de stand up do comediante mais boca suja que o humor já conheceu.

Nessa obra que conta com 1 hora e 18 minutos de duração e  conta com a direção de Jeff Margolis(1946-2025) e produção de Stephen Blauner(1933-2015) e Hillards Elkins(1929-2010)  ele é caracterizado como uma comédia stan up de concerto um subgênero de  filme que apresenta uma apresentação ao vivo sob a perspectiva de um espectador, cujo tema é uma apresentação ao vivo estendida ou um concerto, seja por um músico   ou um comediante stan up.




 Filmado no Terrace Theater em Long Beach, California,  em 10 de dezembro de 1978. Foi produzido e distribuído de forma independente, sendo o primeiro longa-metragem composto apenas por stand-up comedy.

Na obra, a gente acompanha a apresentação de Pryor contando suas piadas desbocadas e autodepreciativas de cunho erótico, escatológico e racial  só com o microfone mesclando o verborrágico com o humor físico divertindo a plateia com as câmeras centralizadas neles, que mudam de posição a medida que ele vai contando mais piadas, o que torna o tempo de duração não tão cansativo.





É uma boa maneira de conhecer um pouco do estilo de humor que Pryor bastante explorado  nos filmes onde ele  não tinha medo de escancarar e criticar o problema racial na sociedade americana.  

A crítica de cinema americana Pauline Kael(1919-2001) comentou assim sobre o filme:

"Provavelmente o maior de todos os filmes de performance gravada. Pryor fazia personagens e vozes explodirem dele.... Assistindo a esse comediante físico misteriosamente original, você não consegue explicar seu talento e tudo o que ele faz parece ser a primeira vez."

O comediante Eddie Murphy chegou a definir o filme como "a maior performance de stand-up já capturada em filme."

É uma obra que de um artista único que a comédia americana já conheceu.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O DOCUMENTÁRIO SOBRE A RAINHA DA MÚSICA TEJANA

 

Nesse ano de 2025, se completou 30 anos da trágica morte da cantora Selena Quintanilla Perez (1971-1995) que morreu baleada em 31 de Março de 1995 precocemente aos 23 anos. A autora dos disparos que lhe tiraram a vida foi Yolanda Saldivar, a responsável por administrar um fã-clube dela e era funcionária de sua butique. A motivação envolvia uma vingança já que a família de Selena começou a desconfiar dela e investigou que ela estava desviando dinheiro do fã-clube e da butique.




 Após matá-la, Yolanda foi presa e condenada no dia 26 de Outubro de 1995 a  à prisão perpétua   com possibilidade de liberdade condicional   em trinta anos, 30 de março de 2025; esta era a pena máxima de prisão permitida no Texas na época. Em 22 de novembro de 1995, ela chegou à Unidade Gatesville (agora Unidade Christina Melton Crain) em  Gasteville, Texas, para ser processada.




Saldívar pediu ao Tribunal de Recursos Criminais do Texas que aceite uma petição que contesta sua condenação. Ela afirma que a petição foi apresentada em 2000 no 214º Tribunal Distrital, mas nunca foi enviada ao tribunal superior. Seu pedido foi recebido em 31 de março de 2008, 13º aniversário da morte de Selena. Em 27 de março de 2025, quase 30 anos após a morte de Selena, Yolanda Saldívar teve seu pedido de liberdade condicional negado após análise dos juízes, que argumentaram: "Após uma análise completa de todas as informações disponíveis, que incluíram quaisquer entrevistas confidenciais realizadas, o painel de liberdade condicional determinou negar a liberdade condicional a Yolanda Saldivar e agendar sua próxima revisão de liberdade condicional para março de 2030".




Tudo isso é contado no recém-lançado documentário da Netflix Selena y Los Dinos: Legado de Família (2025). Uma produção de alta qualidade, dirigida por Isabel Castro,  onde toda a sua narrativa é construída pelos depoimentos da família, amigos e com muitas imagens de arquivos que exploram bem diversas faces da cantora além dela como ícone da música tejana*,  mostra sua visão empreendedora e também um pouco das suas inseguranças, principalmente em relação ao sucesso e a responsabilidade nas costas  de sustentar o rotulo de Rainha da Música Tejana. Recomendo assistirem.

*Um estilo musical popular, também conhecido como Tex-Mex, que mistura ritmos tradicionais mexicanos com influências americanas, como a polca e a valsa. Artistas como Selena são ícones desse gênero. Ele também pode ser usado para se referir pode se referir a uma pessoa texana de ascendência mexicana ou espanhola, à música popular do Texas que combina influências mexicanas e americanas, ou a um tipo de chapéu de cowboy clássico. A origem da palavra remete ao termo "texano" e se refere tanto a indivíduos quanto a estilos culturais e artísticos do estado do Texas. 


sábado, 22 de novembro de 2025

30 ANOS DO FILME TOY STORY

 

No dia 22 de Novembro de 1995, estreava nos cinemas a revolucionaria animação de Toy Story, a primeira que apresentou ao mundo o selo da então desconhecida Pixar que havia surgido em 1986 e teve entre seus fundadores, o gênio da tecnologia Steve Jobs(1955-2011).




Ela também contou entre seus fundadores com: Edwin Catmull, Alvy Ray Smith, John Lasseter e Alexander Shure(1920-2009).

    A Pixar era a junção de Pixel e Art, fazendo uma junção do conceito de tecnologia com a arte.





    Até aquele momento a animação acompanhou muitas evoluções junto com  o cinema desde seus primórdios quando ainda era mudo.

     A primeira técnica usada foi a Rubber Hose, que numa tradução literal significa membros de mangueira de borracha, que eram como lembravam os formatos  dos braços e das pernas dos personagens e com o corpo retangular lembrava uma mangueira  e  uma cabeça de formato arredondado desproporcional que lembravam  borrachas.  



     Um dos curtas que melhor exemplifica essa fase é O Vapor Willie(Steamboat Willie, EUA, 1928), a primeira a introduzir o Mickey Mouse, o icônico ratinho que virou o símbolo da empresa.

     Ele foi o primeiro ainda na fase em preto em branco a ser incluído o som, mesmo não tendo dialogo.

    A medida que o cinema foi evoluindo ao descobrir   a técnica da colorização com a Technicolor, o setor de animação caminhou junto e foram trazendo produções clássicas das animações.




Isso perdurou até o momento em que um novo cenário mudaria na década de 1950, foi quando a maioria dos lares americanos passou a instalar o aparelho de  televisão e nisso surgiu uma grande ameaça para as exibidoras, visto o comodismo que ter um aparelho de TV em sua residência gerava.

Fora que o Congresso Americano havia aprovado uma lei para acabar com o modelo de ingresso chamado de casadinha onde se assistia a dois filmes ao mesmo tempo.

Foi por volta desse período que os grandes estúdios  foram começando aos poucos a fecharem seus departamentos de animação e demitir seus animadores. E dentre essas empresas estava a MGM, que demitiu William Hanna(1910-2001) e Joseph Barbera(1911-2006) do estúdio e esses se juntaram e formaram uma sociedade, criaram a Hanna-Barbera Productions.





Essa empresa passou a investir mais no novo mercado  da televisão, passando a produzir produções mais barateadas, porque o custo para se produzir uma animação é muito caro.

O barateamento da Hanna-Barbera em produzir séries animadas como: Zé Colmeia,  Dom Pixote, Flintstones, Jetsons dentre outros ganhou o rótulo de animação limitada. Que se trata de uma  técnica que usa movimentos e quadros simplificados e repetidos para reduzir o tempo e o custo de produção de animações, usando um número menor de quadros por segundo, o que resulta em um desenho menos detalhado. 

A principal característica que os personagens que Hanna e Barbera criaram para a televisão era o acessório da gravata que servia como uma forma de orientar os animadores a só movimentarem a cabeça.

Outros também foram seguindo essa tendência até que durante a década de 1980, a animação para a televisão passou a virar uma vitrine para vender brinquedos, isso porque foi nessa época que foram produzidos animações inspiradas em marcas de brinquedo como o He-Man que surgiu como o brinquedo da Mattel ou mesmo Comandos em Ação da Hasbro.  


 




Foram essas produções que ameaçaram o reinado da Hanna-Barbera no ramo da televisão, que entre as décadas de 1960 e 1970 reinou absoluto. Foi a partir daquele momento que a produtora entraria em declínio aos longo dos anos 1990.




Já que foi nessa época que marcou o reinado da Nickelodeon na televisão com suas séries de animações mais conceituais e  experimentais.




Em paralelo, a Disney era a única que mantinha o seu departamento de animação ainda operando, mas enfrentando uma barra difícil, principalmente depois que seu fundador Walt Disney faleceu em 1966, passaram a baratear os custos de produção adotando a técnica de xerografia. O que fez mergulhar no período de era das trevas.  Muitas das que foram lançadas durante essa época figuram entre mais esquecidas da Disney.




Mas,  mudaria quando, ainda na década de 1980 surge a figura de Jeffrey Katzenberg para comandar a empresa e sob seu comando que a empresa a partir do lançamento de A Pequena Sereia(1989) que entrou no ponto de partida para a sua Era da Renascença.




Foi nessa fase da Disney, que a animação de Toy Story surgia como uma produção do então desconhecido selo da Pixar que revolucionou a técnica de animação nos apresentando pela primeira  a computação gráfica em 3D.




Fora que eles souberam bem como trabalhar na estrutura da  história pela ótica de imaginar como agem os  brinquedos quando  não estão perto dos humanos, trabalhando suas personalidades e trazendo mensagens reflexivas que podem ser assistido por todas as idades.




Muitos desses fatores tornaram a Pixar por muito tempo, um selo de referência de qualidade e excelência no setor da animação, algo que tem faltado ultimamente, visto que os últimos lançamentos que ocorreram nesse começo da década de 2020, foram fracassos atrás de fracassos, o que tem levado a empresa a investir em sequências de algumas produções que foram sucesso para dar balançada nas finanças, no ano passado Divertidamente 2(2024), sequencia de Divertidamente (2015) foi o único filme até agora lançado nessa segunda metade da década de 2020 a alcançar um enorme sucesso de bilheterias e Toy Story vai para seu quinto filme.


Muito disso, seja uma consequência depois da demissão que John Lasseter sofreu no final de 2018, em meio as acusações de assédio. Ele que comandou a diretoria criativa e executiva da empresa e sempre era quem prezava pela qualidade das histórias,  aprovava as que tinham potencial e desaprovava as que não tinham e com a sua demissão a empresa ficou um tanto sem rumo e cada dia mais, a Pixar caminha para rumos incertos agora que em 2026, completa seu 40ª Aniversário, o tempo vai dizer quais serão os novos rumos da empresa.

domingo, 16 de novembro de 2025

25 ANOS DA ESTREIA DO FILME O GRINCH



 No dia 17 de novembro de 2000, estreava nos cinemas a produção natalina de O Grinch(How The Grinch Stole Christmans, EUA, 2000).

Baseado no livro  de Theodor Seuss Geisel, que  assinava  com o pseudônimo de   Dr. Seuss(1904-1991) publicado em 1957.  

Conta a história de uma criatura verde chamada de Grinch(Jim Carey) que nutre um imenso ódio pelo Natal, isso porque ele desde a infância sofria muita gozação da população da  Cidade dos Quem   por ser diferente com uma aparência feia de pele verde e peluda, já que foi trazido bebê por uma cegonha que o deixou aos cuidados de duas senhoras atrapalhadas.







Durante sua infância nutriu uma forte paixão por sua colega de classe Martha May Whovier(Christine Baranski), uma das importantes e conceituadas damas do povoado dos Quem, quase uma socialite, onde ela sempre desperta um flerte do Prefeito Augustus May Who(Jeffrey Tambor), uma autoridade  com porte   físico rechonchudo, cuja personalidade era de um   sujeito rude, arrogante, prepotente  e muito vil e desprezível  que conheceu o Grinch na infância quando foram colegas de sala, onde lá ele era tipo um valentão que vivia o provocando principalmente o seu rosto cheio de pelo, em consequência desses bullyings chegou   a ponto dele viver odiando o Natal até chegar a fase adulta, quando cresceu isolado do povoado vivendo como um ermitão numa caverna na companhia de seu cachorro Max, que vive tentando sensibilizá-lo para o natal.

Mas ele se recusa a entregar-se  ao sentimento natalino, deixando seu coração diminuído. Ele se tornou uma figura lendária na região que muita gente do povoado dos Quem passou a ter medo só de ouvir falar no nome dele.

É então que uma menina chamada Cindy Lou(Taylor Momsen), filha do carteiro da Cidade dos Quem Lou(Bill Irwin) resolve se arriscar a ir atrás do Grinch para usar de sua pureza para tentar sensibilizá-lo. Uma ideia que toda a população dos Quem se mostra contra e a confusão já está dada.

O Grinch contou com a direção de Ron Howard, que aqui enfrentou grandes problemas para a execução do seu trabalho  nos bastidores, em especial, com as duas empresas que negociaram a compra do direito de adaptação da obra que foram a Universal Pictures e a Imagine Entertainment, já que eles só começaram a negociar a compra do copyright da obra  depois que Seuss faleceu em 1991, em vida, ele sempre se posicionou contra a ideia de ver suas obras serem adaptadas por Hollywood, com exceção de algumas produções animadas para TV.

Depois da morte do autor, Audrey Geisel(1921-2018)  viúva do autor  foi quem se encarregou de negociar com as duas empresas cinematográficas que estavam interessadas na produção, uma negociação que acabou não sendo nada fácil. Já que além de aceitarem as altas  exigências monetárias dela, como os US$ 5 milhões de dólares em dinheiro, tendo 50% de ganho com o merchandising, 70% de ganhos nas vendas dos livros e 4% da bilheteria. Tanto a Universal, quanto a Imagine ao conseguirem negociar essa compra,  tiveram de ceder com a participação dela  nas decisões criativas a respeito da obra.

Uma delas foi que ela exigia que o ator escolhido para representar O Grinch tivesse uma estatura comparável ao personagem do livro, e ela então listou  quatro nomes de grandes estrelas de sua preferência estavam: Gene Hackman(1930-2025), Dustin Hoffman, Jim Carrey e Robin Williams(1951-2014). Acabou que Jim Carey terminou sendo o escolhido, e foi uma boa escolha mesmo. Carrey na época figurando como grande estrela de sucesso em filmes de comédia, representou bem em cena o papel principal ainda que tenha ficado irreconhecível pela caracterização bastante realista feita pelo maquiador Rick Baker que foi toda desenvolvida usando pelos de iaque e  com uma máscara bem orgânica que mostrava um realismo bastante medonho de ver de tão feio que ficou. Carrey chegou a enfrentar o grande inferno que foram os longos dias intensos de gravação, e que para conseguir superar o transtorno ouvia muito Bee Gees quando tinha folga. No entanto, o resultado acabou sendo compensador visto que o ator imprimiu bem ao papel aqueles seus  típicos maneirismos  característicos de representar explorando muito do humor físico e nas caretas que sempre foram suas especialidades.

Na obra, ele imprimiu muito bem isso no personagem, principalmente na forma excêntrica e irreverente  dele agir afetado, rude, grosseiro, mal-humorado  e bastante espalhafatoso.  Há também de destacar a participação do ator anão Josh Ryan Evans que representou bem no filme o papel do Grinch criança que faleceu precocemente com 20 anos em 2002 em consequência de uma doença cardíaca congênita. 

Do mesmo jeito que o diretor Ron Howard que também como produtor executivo junto com Brian Grazer,  enfrentou um trabalhão pesado com sua equipe para escolher uma boa locação para recriar a cenografia lúdica da Cidade dos Quem, as caracterizações e figurinos bem extravagantes e caricatos  dos outros personagens que habitam o povoado também não foi das tarefas mais fáceis de serem produzidas. Juntando ao trabalho da pós-produção em fazer montagem e editar na parte de fotografia e arrumar umas boas paletas de cores que dessem um tom agradável ao filme, para tornar o filme bastante lúdico, fora também o desafio da adaptação do roteiro cuja função coube a Jeffrey Price e Peter S. Seaman.

Um ponto curioso a se observar é que todos os habitantes da Cidade dos Quem ficaram com os narizes bem pontudos, um ar caricato e até bastante cartunesco. Com exceção da menina Cindy, que na obra  foi bem representada por Taylor Momsen, então na época uma garotinha de apenas 6 anos, que mostrou um bom talento artístico virando cantora depois que cresceu.

Analisando O Grinch, nesse passar de mais de vinte anos  eu lembro de  assistir  a primeira vez quando passou na TV e  tinha gostado e ao dar uma revisitada nessa obra pude constatar que a sua estética envelheceu bem, mesmo não tendo apresentado nada de inovador, de conceitual, de experimental.

Principalmente pelo texto apresentar muito mais do que uma abordagem escapista sobre a data natalina com tom puramente divertido, também apresentou umas sutis críticas a representação do natal como data comercial, que era uma coisa que o Grinch mais detestava, não a sua representação de harmonia e união familiar, mais sim os apreços pelas futilidades materiais  e o Prefeito Augustus mais simbolizava esse tipo de representação, do mesmo modo  que a Martha também simbolizava e a boa da população dos Quem também.

Fora que também o filme abordou, muito antes desse debate se tornar público sobre as consequências que a discriminação que ele sofria na infância dentro da escola por ser diferente, e sofrendo de uma prática abusiva de bullying de um menino valentão que ao virar adulto, se tornou a importante autoridade da Cidade dos Quem, no caso o Prefeito Augustus.  Ainda que sutil, mas já mostrava que quando se renega a prática do bullying  e quando são fechados os olhos as consequências disso para a  vítima na vida adulta  podem serem horríveis e o Grinch representou bem isso.  Ainda mais pelo agravante fato  dele ter crescido como um descompensado sem a presença de país e foi criado por umas senhoras muito desajustadas. O que fez ele crescer insensível e com o coração gelado.  E foi graças ao sentimento pueril da menina Cindy, que fez voltar a sentir novamente o sentimento sensível que ele havia ignorado.

Com os efeitos práticos e com o tom da caracterização que fez Jim Carrey ficar com uma aparência horrorosa e medonha, por essas e outras coloco que o filme envelheceu bem.

Não só Jim Carrey brilha no filme, como também brilham no filme  os atores:  Jeffrey Tambor na pele do Prefeito da Cidade dos Quem Augustus May Who, um sujeito de caráter vil, repugnante, detestável que só de lembrar que ele quando foi coleguinha de escola do Grinch fazia bullying que o deixava traumatizado a sensação de raiva por ele é grande, é difícil nutrir empatia por ele. A representação de Tambor no filme é magnifica.

Também mencionar o ótimo desempenho de Christine Baranski na pele da Martha, que foi o amor de infância do Grinch representa bem no filme o papel de uma senhora com pose de socialite fútil que chega a despertar inveja da Betty, mãe da Cindy Lou, muito bem defendida por Molly Shannon que depois de ver seus presentes de natal furtados pelo Grinch percebe que o significado do natal não era comercial.

E para Bill Irwin que representa bem o papel do simplório carteiro dos Quem Lou, pai da Cindy.  O elenco do filme também conta com a participação do veterano Anthony Hopkins que faz a narração em off.  

No balanço geral, posso concluir que O Grinch é uma obra que passados 25 anos ainda mostra ser muito relevante, mostrando não só o Natal pelo lado lúdico, mas também trazendo a reflexão de que ela não é só uma data meramente comercial.

Em 2018, foi lançado uma nova adaptação cinematográfica de O Grinch, dessa vez em  animação produzida pela Universal e pela Ilumination.


quinta-feira, 13 de novembro de 2025

NUA, de Saul Dias

 

NUA, de Saul Dias *

.

I

Nua

como Eva.

A cabeleira

beija-lhe o rosto oval e flutua;

o corpo

é água de torrente...




.

Eva adolescente,

com reflexos de lua

e tons de aurora...!

.

Roseira que enflora...!

.

Desflorada por tanta gente...




.

II

Teu corpo,

mal o toquei...

.

Só te abracei

de leve...

.

Foi todo neve

o sonho que alonguei...

.

Asas em voo,

quem, um dia, as teve?

.

Os sonhos que eu sonhei!




.

III

Jeito de ave

e criança,

suave

como a dança

do ramo de árvore

que o vento beija e balança!

.

Nave

de sonho

no temporal medonho

silvando agoiro!

.

Quem destrançou os teus cabelos de oiro?





.

IV

Corpo fino,

delicado,

sereno, sem desejos...

.

Tão macio,

tão modelado...

.

Beijos... Beijos... Beijos...

.





V

No meu sono

ela flutua

a cada passo...

.

Nua,

riscando o espaço

numa névoa de outono...

.

Apenas nos cabelos

um azulado laço...

.

E assim enlaço

a imagem sua...

.

in "Sangue"

.

* pseudónimo de Júlio Maria dos Reis Pereira (Vila do Conde, 1 de Novembro de 1902 — 17 de Janeiro de 1983), poeta e artista plástico, irmão de José Régio.

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

O BARRAQUEIRO DA TELEVISÃO AMERICANA

 

Quando você ouve alguma referência a barracos na tv, com certeza lhe deve vir a mente nomes de apresentadores brasileiros que foram bem sinônimos disso, dentre esses, os melhores exemplos a serem citados são: Márcia Goldschmidt e Carlos Massa vulgo Ratinho.




Esses aqui protagonizaram bem esse tipo de programa, principalmente naquela fase  da baixaria da tv brasileira dos anos 1990 no Vale Tudo pela Guerra de Audiência, que foi aquela fase anárquica  virando uma   referência de uma terra sem lei. 

Se bem que esse tipo de formato de programa  não é uma exclusividade  nossa, também já  foi praticado na tv de outros países, como nos Estados Unidos com o apresentador Jerry Springer(1944-2023), cuja história é contada na minissérie documental da Netflix intitulada de Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação(Jerry Springer: Fights, Camera, Action, EUA, 2025).




Dividida em dois episódios, o documentário nos apresenta os depoimentos de alguns profissionais que trabalharam nos bastidores do programa The Jerry Springer Show, relatando como funcionava o esquema deles conseguirem com que pessoas comuns fossem ao programa para expor seus problemas e quando o clima pesava, começava o quebra-pau entre os convidados.

O programa que teve duração de 28 temporadas, durando de 1991 a 2018, mostrando a realidade da vida como ela é dos mais absurdos e bizarros, sobre triângulos amorosos problemáticos, casos de incestos, supremacistas brancos  ou mesmo o mais controverso do homem que trocou a mulher por uma égua literalmente falando.  

Ele começou como um mero talk show comum, liderado por um âncora de notícias bem-educado, mas que, com o tempo, foi levado a uma apresentação cada vez mais sensacionalista.

Foi nesse formato que o programa se tornou um grande sucesso e, no fim dos anos 90, era uma febre nos Estados Unidos, chegando até mesmo a possuir avaliações superiores às de Oprah Winfrey. No entanto, defensores da moralidade protestavam e criticavam abertamente ao programa.”(Aventuras na História de Janeiro de 2025).

Pelo que já descreveu o cineasta britânico Luke Sewell ao jornal Guardian.

Parecia tão cru, visceral e descarado na forma como estava sendo embalado — isso meio que me chocou”, onde acrescenta fazendo um comparativo ao Coliseu Romano: “espécie de Coliseu Romano — choque puro, espetáculo puro, confronto puro. E para ter tanto sucesso claramente abriu as portas para a TV de realidade, e eu acho que algumas das coisas no mundo de hoje”.

Entre os entrevistados do documentário aparece Richard Dominick, um jornalista responsável por escrever histórias absurdas em jornais e foi quem encabeçava ele caçar histórias absurdas para o programa explorar a audiência.

Os entrevistados do documentário, a maioria ex-produtores do programa vão comentando como funcionava o esquema dos bastidores, eles faziam uns certos agradinhos com os convidados, eles pagavam a hospedagem deles em hotel, davam caronas numa limousine da emissora e ao trazerem os convidados para a sede, antes deles entrarem no palco, eles faziam uma preparação de jogo psicológico neles para prepara-los para se tornarem os gladiadores na televisão.

Mostrando bem como ali não era nada natural, tudo ocorria de forma proposital para atrair justamente a audiência e eles estavam poucos se lixando em darem um assistencialismo terapêutico  aos problemas deles, boa parte gente muito pobre coitada que eram ingenuamente  poucos instruídos da vida.

O jornalista Lucas Reichert em seu canal do Youtube  Aprofundo, fez um vídeo explicando como o esquema da espetacularização da falsa realidade desses formatos de programas usando o recente exemplo dos vídeos de debates dos 30 contra 1, onde lá mostrava uma pessoa defendendo uma opinião controversa encarado 30 pessoas que discordam dele, que são editados para cortes rápidos em tik tok.

Como eles manipulam mostrando que as pessoas comuns que fazem os barracos parecerem naturais, na verdade, não passam de atores contratados por agências especializadas para fazer uma representação convincente sem demonstrar que é teatralizado.

É tanto que a gente nem percebe que eles são vistos um dia fazendo pegadinhas no Programa de João Kleber, no Casos de Família dentre outros exemplos.

Provando como o intuito do entretenimento é feito para divertir, não tem nenhum cunho reflexivo sobre isso. Vendem a ilusão da realidade, mas que na verdade só querem apenas transformar numa espetacularização para atrair a audiência, muitas vezes passiva.  

E foi o que o formato do programa de Jerry Springer nos Estados Unidos bem explorou isso até a última gota.

E também foi como pudemos bem observar no formato do programa da Márcia Goldschmidt e  também do  Ratinho como mencionei no começo do texto, exploraram essa espetacularização a nível mundo cão em especial durante a segunda metade dos anos 1990, que ficou marcada pela fase mais anárquica da baixaria da  televisão brasileira em especial no “Vale Tudo pela Guerra de Audiência  que ficou  marcada por programas sensacionalistas e apelativos que competiam por audiência com quadros polêmicos e bizarros.”

Algo que só chegou ao fim quando o apresentador Gugu Liberato(1959-2019) tomou a equivocada decisão de exibir no Domingo Legal do SBT em 7 de Setembro de 2003 com a matéria da falsa entrevista com os “bandidos” do PCC(Primeiro Comando da Capital).  Esse episódio simbolizou a maior mancha da sua carreira, lhe tirando uma credibilidade até a sua trágica morte em 2019 vítima de um acidente doméstico.

Foi justo nessa época que entrou em atividade a campanha do Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania. A campanha nasceu em 2002, é uma iniciativa da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados em parceria com entidades da sociedade civil e busca promover uma televisão mais ética e responsável. 

Posso concluir que essa obra ela é muito relevante por mostrar os bastidores do lado podre da televisão que nos manipula com o falso discurso de vender a realidade. Recomendo.