quinta-feira, 13 de novembro de 2025

NUA, de Saul Dias

 

NUA, de Saul Dias *

.

I

Nua

como Eva.

A cabeleira

beija-lhe o rosto oval e flutua;

o corpo

é água de torrente...




.

Eva adolescente,

com reflexos de lua

e tons de aurora...!

.

Roseira que enflora...!

.

Desflorada por tanta gente...




.

II

Teu corpo,

mal o toquei...

.

Só te abracei

de leve...

.

Foi todo neve

o sonho que alonguei...

.

Asas em voo,

quem, um dia, as teve?

.

Os sonhos que eu sonhei!




.

III

Jeito de ave

e criança,

suave

como a dança

do ramo de árvore

que o vento beija e balança!

.

Nave

de sonho

no temporal medonho

silvando agoiro!

.

Quem destrançou os teus cabelos de oiro?





.

IV

Corpo fino,

delicado,

sereno, sem desejos...

.

Tão macio,

tão modelado...

.

Beijos... Beijos... Beijos...

.





V

No meu sono

ela flutua

a cada passo...

.

Nua,

riscando o espaço

numa névoa de outono...

.

Apenas nos cabelos

um azulado laço...

.

E assim enlaço

a imagem sua...

.

in "Sangue"

.

* pseudónimo de Júlio Maria dos Reis Pereira (Vila do Conde, 1 de Novembro de 1902 — 17 de Janeiro de 1983), poeta e artista plástico, irmão de José Régio.

 

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