domingo, 21 de abril de 2013

FILME SOBRE CUBA: MORANGO E CHOCOLATE(1994)

O episódio da blogueira cubana Yoanni Sanchéz sendo hostilizada em sua visita ao Brasil pelos simpatizantes dos comunistas-castristas que há 50 anos comandam o país. Desde que o militar Fidel Castro junto com o guerrilheiro argentino Ernesto "Che" Guevara(1928-1967) lideraram uma revolução na ilha caribenha e dessa revolução ele passou a tomar o controle político a partir de 1959 onde comandou por 40 anos sem eleições, até que em 2008, com a idade avançada e a saúde já muito frágil teve de renúnciar ao poder e passou para as mãos de seu irmão Raul Castro.

Pois então, ao saber desse episódio eu lembrei do filme "Morango e Chocolate". Filme  que eu havia conferido em uma sessão alternativa aqui em Natal/RN ano passado. No antigo projeto Café com Cinema no antigo auditória da Livraria PotyLivros do Praia Shopping que infelizmente fechou.

O filme "Morango e Chocolate" é uma produção cubana de 1994, dirigido por Tomás Gutierrez Alea(1928-1996) em conjunto com Juan Carlos Tabío. Era a primeira vez que eu conferia um filme da famosa e paradisiaca ilha caribenha. A quem muito utopicamente tenho uma bela visão utópica de como o sistema politico organizado nos bens básicos como a saúde e a educação, tem  também umas características de incoerências  que o filme explora de uma maneira bem consistente  fazendo uma crítica até sútil. Apesar do título, a história não tem nada de doce.































A trama de Morango e Chocolate ambienta-se no ano de 1979, na capital Havana. Gira em torno do jovem universitário David(Vladimir Cruz), ainda não muito conformado com o fim de seu noivado. Conhece um dia, numa sorveteria Diego(Jorge Perrugorría), um artista assumidamente gay e descontente com o regime castrista.

Diego tenta diversas vezes se insinuar para David tentando obter alguma conquista, só que ele se mostra resistente. Será nesse encontro casual, o ponto inicial para o desenvolvimento da trama.

David se sentindo forçado resolve acompanhar Diego até sua casa, lá fica admirado e ao mesmo tempo espantado com a quantidade de livros que ele adquiriu nas prateleiras da sua casa. O impressionante  detalhe explorado nesse momento do filme  é quando o estudante universitário David explica para  Diego que boa parte desses livros ele nunca tinha lido e nem muito menos ouvido falar, porque eram obras proibidas, cenasuradas pelo sistema. Será nessa e em muitas outras cenas mais para frente de David visitando a casa de Diego, que será obseravado uma sútil crítica de como a população cubana lida rotineiramente com a opressão imposta pela ditadura castrista.

E um desses momentos muito frequentes no filme, é quando Diego ao ler um dos livros em voz alta para David, liga um som com toca-fita em um volume altissimo, o motivo era para os vizinhos não ouvirem aquela sua leitura, porque se o ouvissem os denunciariam para o Governo.

Também será no decorrer e desenrolar do filme que irá aparecer uma terceira protagonista Nancy(Mirta Ibarra). Uma mulher cuja profissão não é bem esclarecida, há quem pense que ela se trate de uma protistuta como bem sugere uma cena dela recebendo grana de uma garota de programa. Tudo em torno de Nancy é um enigma. Vai ser a Nancy a responsável por conquistar o coração de David, coisa que Diego não consegue, mas no entanto Diego consegue obter uma conquista muito melhor de David, que é a amizade e o respeito.


A trama do filme de Alea pertence ao gênero de uma comédia dramática, que fez história por ser o primeiro filme a represnetar  Cuba na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro, venceu vários prêmios em festivais. Esse filme foi o penúltimo dirigido pelo Alea, que um ano antes de morrer dirigiu Guantanamera(1995).  Considerado o nome de maior expressividade na ilha caribenha, que além desse também carrega um extenso currículo de outros bons filmes já dirigidos.


IMAGENS:

 




















Em Morango e Chocolate, pude perceber, principalmente depois de ouvir as dicussões promovidas pelo organizador do evento Antonino Cordorelli depois do fim da exibição do filme, alguns interessantes detalhes que moldam e pincelam o retrato incoerentemente mascarado  de um país que há 50 anos é regido por um sistema de governo que teoricamente segue os principios do socialismo criado por Karl Marx(1818-1883), onde defende os principios de uma sociedade igualitária e mais justa, mas que na prática a coisa é completamente diferente. 

Os três protagonistas do filme: David, Diego e Nancy pincelam de maneira sucinta, o retrato mascarado da realidade envolvendo esta ilha caribenha, admiradas por muitos como exemplo no sistema educacional, na saúde e também no incentivo aos esportes. 

Mas que apesar de ser exemplo, também tem lá suas imperfeições que são ignoradas. O universitário David, por exemplo, faz uma sutil crítica a maneira como o sitema educacional no país é ao mesmo tempo exemplar, fazendo com que a ilha caribenha tenha o menor índice de analfabetismo. Também carrega uma característica dúbia em relação quanto ao governo só permitir que as escolas ensinem o que seja favorável para eles, o que não for é proibido. Isso explica o motivo pelo qual David ficou bastante surpreso ao olhar e tomar conhecimento atravês de Diego de livros que ele nem imaginava existirem. Diego pincela um retrato, representando uma camada da população da ilha que poucos conhecem ou nem mesmo imaginam ocorrer nesse lugar que segue há 50 anos um sistema político que teoriza a igualdade.  São as camadas que lidam com o preconceito. Dificil acreditar? Mas, infelizmente o filme aborda atravês de Diego a visão dúbia que até num país como Cuba também ocorre a prática de preconceito. E no caso do Diego, só o fato dele ser homossexual o tornar alvo de discriminação social, o que hoje é  denominado de homofóbia.

E por fim, a Nancy pincela um retrato curioso de uma camada social cubana, descrevi acima que ela é bastante enigmática e a explicação para isso está no fato da personagem pelo que me explicou Antonino, o organizador e também por meio de alguns presentes na sessão que já fizeram visitas a Cuba, onde as circunstãncias envolviam os trabalhos que cada um ia desenvolver por lá. Então, pelo que o organizador do evento me contou, a Nancy representava um retrato de uma agente do Governo infiltrada em determinados bairros para colher informações sobre supostos subversivos, é o Diego era quem ela tinha a missão de ficar observando. A primeira vez que Nancy aparece no filme é na curiosa cena dela sofrer uma queda de pressão na rua e é socorrida pelos dois que a colocam numa ambulãncia e ao chegarem num hospital para onde Nancy é atendida, ocorre uma outra visão crítica e cômica a respeito da incoerência  do país que representa o melhor exemplo de competência na área da saúde, exportando até médicos para outros países, em seu próprio território os hospitais viverem numa carência e escasses tecnológica, como bem é mostrado na cena de Nancy ao ser atendida para receber uma transfusão de sangue, e para Diego e David conseguirem isso descobrem que o grande obstáculo é a falta de aparelhos e seringas necessárias para isso.

Também é curioso ver uma cena onde Nancy faz uma reza para os santos, se benzendo em banho de água benta pedindo para ter David aos seus braços. O que representa uma interessante visão de mesmo o país sendo regido há 50 anos por um regime totalitário ateu, ainda uma boa parte da população ainda mantém preservado a fé e ainda alguns costumes de mantê-la viva, como faz Nancy. E a própria mostrar que nesse país também se pratica a prostituição, apesar de ser exemplar em tudo.


Como bem descrevi acima, tanto o coordenador do evento quanto alguns presentes na sessão já tinham ido visitar Cuba e relataram numa discussão promovida depois do fim da sessão de terem se deparado com situações identicas que sucintamente pincela, a outra face da Cuba castrista.  Face que a blogueira Yoani Sanchèz denuncia constantemente na atualidade. 

Foi bastante curioso ouvir relatos, seja da platéia, ou mesmo, do próprio Antonino Cordorelli, o responsável pelo evento. Alguns detalhes curiosos sobre como a população lida diariamente com a opressão desse governo totalitário, e uma das maneiras como eles procuram driblar como o filme bem mostra na cena de Diego lendo para David em voz alta é ligando o som alto para os vizinhos não ouvirem e o denunciarem. Foi durante a discussão, que ouvi os exemplos das populações driblarem seja em espaço  ou mesmo dentro do lar atravês de códigos. 


"Morango e Chocolate" é um interessante filme que serve para a gente conhecer e entender um pouco da realidade cubana, independente de qual ponto de vista for analisado. Uma coisa é certa: Morango e Chocolate defini Cuba por ela mesma.

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