domingo, 27 de fevereiro de 2022
RÚSSIA X UCRÂNIA E... BRASIL? - EDUARDO BUENO
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022
TERRA PARA TODOS - EDUARDO BUENO
terça-feira, 22 de fevereiro de 2022
O assassinato de Elizabeth Short, a Dália Negra | Nerdologia Criminosos
sábado, 19 de fevereiro de 2022
AS VÁRIAS FACES DE ARNALDO JABOR
Na
última terça-feira, 16 de fevereiro de 2022, o Brasil amanheceu de luto com a
noticia do falecimento de Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e cronista, aos
81 anos, vítima de um AVC.
Para mim que pertenço a geração millenials
que conheceu, acompanhou e teve seu primeiro contato com Arnaldo Jabor(1940-2022), atuando na sua
faceta de jornalista. Isso por volta de meados da década de 1990, apresentando diariamente no Jornal Nacional da Rede Globo, como
comentarista onde lá tecia suas duras
críticas e não tinha papas na língua aos assuntos debatidos no cotidiano em
forma de crônica eletrônica no que era pautado sobre os fatos noticiados a
respeito da política brasileira,
internacional, economia e comportamento social.
Também
foi dessa maneira sendo introduzido a
sua faceta como escritor cronista com
seu livro Amor é Prosa, Sexo é Poesia (2004). Que tive o privilégio de ler quando ganhei
muitos anos atrás de um amigo no meu aniversário. E tem uma estética textual incrível quando ele
descreve momentos marcantes da vida dele, de sua infância, sua juventude com
seu primeiro amor e de fatos curiosos do cotidiano, como por exemplo, no livro
há um texto dedicado a atriz Juliana
Paes em evidência na TV e posando para o ensaio da antiga revista masculina
Playboy na edição de Maio de 2004.
Já quanto ao seu legado para o cinema brasileiro
é uma coisa um tanto quanto complicada de se compreender, ainda mais não só
para minha geração, mas para grande parcela da população brasileira que tomou mais contato com a faceta jornalística
de Arnaldo Jabor. Mas não conhecem sua
formação de cineasta.
De todos os trabalhos da filmografia de
Arnaldo Jabor, o único que eu tive o privilégio de conhecer e conferir foi Toda
Nudez será castigada( Brasil, 1973). Baseada na obra de Nelson
Rodrigues(1912-1980).
Um
filme bastante denso, onde ele ousou abordar a hipocrisia do falso moralismo e do conservadorismo
de uma sociedade puritana de família tradicional brasileira, numa época em que
o Brasil em pleno auge dos Anos de Chumbo da Ditadura,
vivia o temor da censura.
O
filme ganhou reconhecimento internacional ao ganhar o Urso de Prata no Festival
de Cinema de Berlim.
Quando Jabor se enveredou pelo jornalismo a
partir da década de 1990, ele ficou um longo tempo sem produzir filmes, visto o fato de que com o
fechamento da Embrafilmes durante o Governo Collor(1990-1992), ocasionando num prejuízo para a produção do cinema nacional e nem mesmo quando
houve a Retomada por volta de 1995, ele voltou a dirigir um filme.
O seu retorno ao cinema só ocorreu anos depois quando lançou A
Suprema Felicidade(Brasil, 2010).
Jabor
com sua partida, a cultura brasileira se empobreceu.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022
POLÍTICO DA METRALHADORA: O HOMEM DA CAPA PRETA - EDUARDO BUENO
terça-feira, 15 de fevereiro de 2022
A vida de Agatha Christie, a rainha do mistério | Nerdologia
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
A CANÇÃO APOCALÍPTICA DA BANDA EVA
Outro
dia ouvindo aqui em casa um som alto da vizinhança, que devia vir provavelmente
do Garden Recepções ou talvez do Boteco do Zé Sangalo. Estavam
tocando no repertório, músicas marcantes clássicas do ritmo baiano da Axé Music*
da década de 1990. Uma dessas que me chamou bastante atenção foi da Banda Eva
tocando EVA.
Quem
no final dos anos 1990, adorava pular carnaval, principalmente nos blocos de
trios elétricos das micaretas**.
Com certeza deve se recordar dessa
canção EVA, que tocava
muito nas rádios e nos programas de TV, fazia muita gente pular e se divertir.
Dependendo da memória afetiva de cada
pessoa, principalmente se foi nesse ambiente
que ele conheceu sua cara-metade ao som
dessa música, com certeza vai criar uma assimilação dela como a música que
representou o começo da sua história de amor.
O que talvez nenhum ouvinte reparou
ao se contagiar pela atmosfera divertida
e também pelo ar romântico da canção é que por trás dela existe uma mensagem muito melancólica e mórbida
sobre o apocalipse nuclear. Sinto muito
se vou estragar a lembrança que o caro leitor que conheceu sua cara-metade ouvindo
essa canção numa micareta, mas, na real ela é muito deprimente se você for
analisar.
Sobre a canção que a Banda Eva gravou para o álbum ao
vivo de 1997, época que ainda contava com Ivete Sangalo como vocalista, ela
sequer é de autoria de nenhum membro da
banda que fez dedicado ao próprio
conjunto, cujo nome é referente ao importante bloco carnavalesco de
Salvador/BA. E a canção sequer era inédita quando foi gravado na época.
Trata-se do cover*** de outro conjunto musical, Rádio Táxi gravado em 1983, cuja autoria nem é
de um brasileiro, mas dos italianos Umberto Tozzi e Giancarlo
Bigazzi(1940-2012) inspirado na versão original que foi gravado por Umberto Tozzi em 1982.
O nome tipicamente feminino que o
título da canção carrega, faz você pensar que o autor original se inspirou
em alguma Eva de verdade que ele conheceu e foi apaixonado?
Fazendo muita gente erroneamente pensar que ela tenha um tom romântico. Não querendo ser um estraga prazeres,
mas é um mero engano pensar que esta canção
é romântica.
Se fomos analisar parágrafo por
parágrafo, podemos ver que por trás do
ar romântico que a canção sugere. Há uma
triste mensagem sobre o cenário apocalíptico do Planeta Terra. No começo da
primeira estrofe da canção ela pode até
sugerir um ar de declaração de amor como posso exemplificar abaixo:
“Meu amor,
Olha
só, hoje o sol não apareceu”
Aqui
a impressão que fica à primeira vista é de uma declaração de amor em tom
poeticamente lírico nessas duas primeiras frases introdutórias desse parágrafo inicial para sua amada.
Mas
quando as duas últimas frases desse
parágrafo inicial entram com essa mensagem:
“É
o fim
Da
aventura humana na Terra”.
Aqui
já começa a ficar evidente que o teor da canção será sobre o fim da humanidade
na Terra.
Quando
entra no segundo parágrafo, o negócio
desaba de verdade como diz este trecho:
“
Meu planeta Deus
Fugiremos
nós dois na arca de Noé
Mas
olha bem meu amor
O
final da odisseia terrestre
Sou
Adão e você será...”
Neste
trecho, fica evidente que o tom da
mensagem é apocalíptica e usando de referências bíblicas, quando
o autor descreve sua melancólica partida
do Planeta Terra e chama sua companheira
para lhe acompanhar numa astronave para vagar pelo espaço que ele aqui descreve como a Arca
de Noé, em metáfora bíblica e no trecho final temos outra referência metafórica
bíblica onde ele se descreve como Adão e ela será justamente a Eva, a sua musa que dá título para a canção.
Quando
entra no trecho que faz refrão com a repetição do nome EVA cinco vezes, temos
uma respirada em notar novamente o tom mais poeticamente romântico da canção quando ele diz:
“Minha
pequena Eva (Eva)
O
nosso amor na última astronave (Eva)
Além
do infinito eu vou voar
Sozinho
com você
E
voando bem alto (Eva)
Me
abraça pelo espaço de um instante (Eva)
Me
cobre com o teu corpo e me dá
A
força pra viver
E
pelo espaço de um instante
Afinal,
não há nada mais
Que
o céu azul pra gente voar.
Sobre
o Rio, Beirute ou Madagascar”.
Nesse
trecho nota-se como o autor faz uma descrição em uma estética de space opera
dele vagando pelo espaço com sua astronave, acompanhado de sua Eva.
Fazendo
uma descrição do seu voo pelo céu azul, passando pelas localidades do Rio, Beirute
e Madagascar, que não fica claro se ele está se referindo a geografia fluvial
ou ao Rio de Janeiro, estado brasileiro, Beirute, capital libanesa ou
Madagascar o arquipélago africano.
Já
quando entra no penúltimo parágrafo, retornamos a triste mensagem apocalíptica
da canção:
“Toda
a Terra
Reduzida
a nada, nada mais
E
minha vida é um flash
De
controles, botões anti-atômicos
Mas
olha, olha bem, meu amor
O
final da odisseia terrestre.
Sou
Adão e você será....”
Nesse trecho podemos notar nitidamente a real mensagem apocalíptica da canção, quando ele começa descrevendo que toda a Terra foi destruída pela bomba atômica, a humanidade foi toda exterminada, e isto fica evidente no trecho: “E minha vida é um flash. De controles botões anti-atômicos.”
E
ele finaliza se dirigindo e voltando a
mencionar a referência de Adão e Eva e no trecho temos a repetição do refrão:
“Minha Pequena Eva(EVA)”.
A principal razão para o porquê dessa canção
carregar uma pesada mensagem sobre uma atmosfera de apocalipse causada por uma
catástrofe nuclear tem a haver com a
contextualização que envolve o cunho
real que o seu respectivo autor tinha vivenciado ao criá-la, pois tratava-se de uma crítica social a respeito da sensação de pessimismo que o
mundo na década de 1980 estava passando com o medo de haver uma guerra
nuclear, ainda mais que vivíamos no período da Guerra Fria. Que envolveu
a disputa política e industrial entre duas grandes potências: os EUA e a antiga
URSS(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) atual Rússia.
E
o medo constante do uso das armas
nucleares poderiam causar uma destruição em massa da humanidade.
E
esta sensação ficou evidente quando
quatro anos após o autor original dessa música grava-la, houve
o acidente na Usina Nuclear de Chernobyl na Ucrânia no dia 26 de Abril
de 1986.
Como
se isto não fosse o suficiente naquele momento que passávamos pelo que ficou
conhecido de a década perdida**** com este também havia a sensação de pessimismo quanto
ao futuro tecnológico do século 21.
Principalmente em ficarmos escravos de grandes
corporações e esta sensação bem se refletiu em obras do cinema com os filmes de temáticas futuristas dessa
época como Blade Runner-O Caçador de Androides(Blade Runner,EUA,
1982 ), O Exterminador do Futuro(Terminator,
EUA, 1984), Robocop-O Policial do Futuro(Robocop,EUA, 1987),
dentre outros que exemplificam o retrato que pincelava muito bem a
mentalidade de medo e de pânico daquela
época a este respeito.
A
música de certa forma reflete bem aquela sensação dramática que o mundo passava na década de
1980, e isto fica bem evidente quando você percebe que ela em todo o seu escopo
apresenta uma atmosfera de um cenário apocalíptico com referências bíblicas, e
a evidencia disso está no fato da própria musa que dá título à canção fazer a
referência a Eva da bíblia, a primeira mulher criada por Deus pela costela de
Adão.
Se
você leitor que se divertia muito
ouvindo essa canção nas festas e a colocou
como trilha sonora do seu casamento
ficou boquiaberto com essa minha
análise da letra.
Vai
ficar ainda mais ao ler a versão original traduzida literalmente do italiano,
que difere um pouco da versão adaptada com toques de licenças poéticas para o
português por esses dois artistas brasileiros:
“Cedo ou tarde a loucura surgirá na metade da humanidade
Sobre nós rebanhos
de exploradores nucleares
Mas o amor é um
Deus
E estaremos eu e tu
na Arca de Noé
Isto cria o amor e
no final
Desta odisseia
Serei Adão e tu
serás
Uma pequena Eva(Eva)
O nosso amor é a
última astronave Eva(Eva)
Estaremos apertados
mas nos salvará
Como um ovo da
eternidade
Que vai se abrir Eva(Eva)
Abraça-me como um
doce polvo do mar Eva
E respiraremos até
com
As asas de um
arcanjo
No espaço de um
instante
Além dos oceanos
Anfíbios como novo
Marinheiros de Nova
York
Sobre Beirute com
cabeças de mamute
Sobre um mar de
crianças reduzidas a bambu
A minha vida é um
flash
Para os suaves
botões anti-radioativos
Mas o amor cria
E no final desta odisseia
Serei Adão e tu
serás
Uma pequena Eva
O nosso amor é a
última astronave Eva
Estaremos apertados
mas nos salvará
Como um ovo da
eternidade
Que vai se abrir Eva
Abraça-me como um
doce polvo do mar Eva
E respiraremos até
com
As asas de um
arcanjo
No espaço de um
instante
Além dos oceanos
Anfíbios como novos
adão e Eva Eva
O nosso amor é a
última astronave Eva
Estaremos apertados
mas nos salvará
Como um ovo da
eternidade
Oh minha pequena Eva
Eva
Abraça-me como um
doce polvo do mar Eva
Estaremos apertados
mas nos salvará
Como um ovo da
eternidade
Oh minha pequena Eva
Eva
Abraça-me como um
doce polvo do mar Eva
Estaremos apertados
mas nos salvará
Como um ovo da
eternidade.”
O
curioso é que essa canção, também já ganhou versões em outros idiomas além do
nosso português, a tornando bastante popular mundialmente.
*
Gênero musical surgido na Bahia nos anos
1980. Que se caracteriza pela sonoridade com enormes influências africanas, visto que a Bahia é o
estado brasileiro que tem uma enorme
população negra vindos da África por causa da escravidão. Com elementos mais
modernos de um pop rock e com outros ritmos como os caribenhos também. A origem
dessa nomenclatura de Axé Music surgiu depois que o respeitado jornalista e crítico
musical da Bahia Hagamenon Brito publicou
em sua coluna em um respeitado
jornal baiano em 1987 mas de uma forma
pejorativa com o intuito de ridicularizar aquele ritmo que na visão dele era muito genérico e brega. Axé vem de uma
saudação do candomblé que significa energia positiva.
**
Nome dado as festividades do Brasil aos carnavais fora de época. Este nome
deriva da festividade francesa da Mi-Caréme que se popularizaram no século XIX.
***Nomenclatura
usada no meio musical que serve para definir duas situações diferentes. Pode
ser no caso de um artista fazer uma
regravação de uma canção de outro
artista já fez e fazer uma versão diferente ou pode ser também usada definir
artistas que se apresentam imitando e representando bem caracterizados aos seus cantores
preferidos, como se fossem os clones ou mesmo os sósias. O curioso é que na
língua inglesa cover significa literalmente "coberta" ou
"tampa".
****Nomenclatura
criada para definir o cenário econômico dos anos 1980 no Brasil e no Mundo com
a alta da inflação ocasionada pela Crise do Petróleo nos 1970, e quando o
Milagre Econômico aqui no Brasil perdeu
a força e culminou na alta inflação, e no fim da Ditadura Militar.