sábado, 1 de outubro de 2022

10 ANOS SEM ERIC HOBSBAWM

 

Há exatos 10 anos,  no dia 01 de Outubro de 2012, morria no Hospital Royal Free, de Londres, em decorrência de uma pneumonia, o historiador britânico Eric Hobsbawm.






Hobsbawm ao longo de 95 anos de vida acadêmica, publicou diversas obras, de cunho social, político, econômico e cultural.

A morte de Hobsbawm representou uma perda irreparável para nossa área. Muitos o consideram como o maior historiador do século XX. Durante os quatro anos de minha graduação no curso de História, li muito de suas importantes obra-prima, de cunho marxistas. Entre as que posso destacar estão: A Era das Revoluções, A Era do Capital,  A Era dos Impérios, A Era dos Extremos, estas foram as que tive oportunidade de ler durante minha graduação universitária além de entre outras diversas de cunho também social como Trabalhadores, Bandidos e História Social do Jazz. A sua genialidade para descrever os diversos momentos que marcaram bastante a história, o tornando bastante admirado, respeitado e até idolatrado dentro do mundo acadêmico, o tornando como já bem havia descrito como o maior historiador do século XX. Por trás desse seu incrível talento e competência para descrever grandes eventos do passado de uma maneira peculiar, que o tornava uma figura bastante idolatrada pelos meus colegas de graduação e em especial pelo meu Professor Durval Alves da Silva, que se focava demais em trabalhar as obras deles e fazia uma aula brilhante e cativante.




Atributos esses que o tornavam brilhante, em contraste a sua vida pessoal, que assim como reles mortais comuns, estava longe da perfeição.

Nascido em Alexandria, famosa cidade histórica do Egito, sob dominação britânica, no dia 9 de Junho de 1917. Eric John Ernest Hobsbawm era filho de pai britânico, vindo de uma família de artesãos poloneses e russos, e sua mãe vinha de uma família média austríaca. Ambos carregavam descendência judaica. Passou parte de sua infância e juventude vivendo entre a Áustria e Alemanha.




Foi no começo da sua juventude que Hobsbawm vivenciou uma situação trágica da perda dos pais, primeiro perdeu o pai aos 12 anos, morto em 1929, e pouco tempo depois perderia a mãe em 1931, então com 14 anos. Com a morte desses, Hobsbawm passou a ser criado sob a tutela de seu tio paterno Sidney.

 Ao mesmo tempo que resolveu  aderir ao Partido Comunista. Em 1933, no caótico cenário político da Alemanha Hitlerista, Hobsbawm resolve se mudar para a Inglaterra.





 Foi lá que passou por dois diferentes casamentos, primeiro foi com Muriel Seamen em 1943, com quem se divorciou em 1951. Mas foi com Marelene Schwarz sua companheira pelo resto de sua longa vida por quem teve dois filhos Júlia e Andy.

Os seus primeiros passos no mundo acadêmico foi em 1947, quando estudou no King´s College de Cambridge, de onde depois de formado se tornou reitor. Chegando a lecionar em conceituadas universidades americanas, como em Stanford, Massachussetts e Comel. Seu primeiro livro publicado foi Rebeldes Primitivos em 1959.

Em 2011, publicou sua última obra intitulada Como mudar o mundo, e segundo algumas informações de jornais britânicos, vinha se dedicando a trabalhar na revisão de mais um livro programado para ser lançado em 2013.




Reproduzo o texto que postei  para o blog Breno Historiador em 2017, ano  de seu centenário com  uma análise que fiz do seu livro Bandidos, que eu comprei  e fiz uma leitura  na época para aproveitar a data.




Publicado originalmente na Inglaterra em 1969, Bandidos como bem consta no texto do prefácio escrito pelo próprio autor em Junho de 1999, para uma nova publicação inglesa do livro  lançada em 2000  e nesta edição da Editora Paz & Terra, Rio de Janeiro/São Paulo,2015.

Esta obra  apresenta uma forte abordagem de forma sucinta e objetiva para o leitor o enfoque no fenômeno social de seres marginalizados pela alta classe elitista, foras da lei, delinquentes despertarem tanta paixão pelos seus supostos atos de bravura contra a opressão dos poderosos burgueses  que os tornam nem tão malvados, nem tão bonzinhos, ao mesmo tempo sendo temidos pela maneira brutal como saqueavam e matavam pessoas inocentes.

Mas tipos, heróis, ou melhor, dizendo anti-heróis acima do bem e do mal. Uma análise de estudo bem profunda sobre este assunto.    Principalmente quando suas proezas se tornam exaltadas pela arte com os versos poéticos, e as representações artísticas que fazem se tornarem celebridades cultuadas como se fossem artistas de cinema. No livro é mencionado exemplos de diversos nomes de líderes de bandos em diferentes países das mais diferentes épocas que praticavam os delitos contra os ricos em favor do povo oprimido que a partir daí, deu a origem a denominação da corrente acadêmica do banditismo social.

No livro são  exemplificados  desde o famoso e lendário Robin Hood, mítico arqueiro da Inglaterra Medieval, o brasileiro Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião(1898-1938), ilustre figura folclórica do cangaço, um movimento originado no Nordeste muito antes dele nascer, os primeiros registros datam  do século 18, surgidos como bandos armados contra a opressão da miséria em consequência da seca, e da violência do autoritarismo dos coronéis, eles passaram a se denominarem de cangaceiros em referências a canga, “peça de madeira colocada sobre o pescoço dos bois de carga. Assim como o gado, os bandoleiros carregavam os pertences nos ombros.” Um dos precursores deste movimento nesta ocasião foi José Gomes, o malvado Cabeleira, cruel e sanguinário apavorou todas as terras pernambucanas por volta de 1775. Depois deste veio o potiguar Jesuíno Alves de Melo Calado, mais conhecido pelo codinome de Jesuíno Brilhante(1844-1879), este pode-se assim dizer foi o responsável por originar a famosa lenda do cangaço ser um movimento de banditismo social, já que ele distribuía aos pobres os alimentos saqueados dos comboios do governo. Depois deste teve o pernambucano Antônio Silvino(1875-1944), mais conhecido pelo codinome de Rifle de Ouro, o primeiro a ser denominado de Rei do Cangaço, antes de Lampião. Este teve como uma de suas façanhas, arrancar os trilhos, perseguir engenheiros e sequestrar funcionários da Great Western. Empresa inglesa responsável pela construção da ferrovia no interior da Paraíba. Já o Lampião mesmo, melhor dizendo Virgulino Ferreira da Silva seu nome real de batismo só entraria neste movimento a partir de 1920. Sobre como era o modo de vida deste antes de entrar no cangaço, e virar o idolatrado Lampião sabe-se pouco. Além dele, também é mencionado o mexicano Pancho Villa(1878-1923) um general que comandou a Revolução Mexicana. É também mencionado os haiduks, bandoleiros que assaltavam as regiões dos países balcânicos. Louis-Dominique Cartouche(1693-1721) o mais famoso bandoleiro da França no século 18, Johannes Büclker(1778-1803) bandoleiro da Alemanha, Romanetti(1884-1926) da Itália do começo do século 20, o romantizado bandoleiro inglês John Haynes Williams(1836-1908), Wu Sung e Chien Chen da China do século XII, Kamo(1882-1922) da Rússia entre outros exemplos mencionados, como o cowboy fora da lei do Velho Oeste americano Jesse James entre outros exemplos. Bandidos trata-se de um excelente livro com cunho de estudo de importante análise social desse fenômeno de seres marginais inspirarem tanta admiração por seres vistos como revolucionários contra a opressão, que roubavam em nome do social ao mesmo tempo temidos pela crueldade.

 Que fique muito claro, no livro, o autor não teve a intenção de  ao descrever sobre as ações dos bandoleiros, é querer santificá-los como heróis, nem muito menos demonizá-los  mas  sim apenas analisar o contexto em que  cada um surgiu, quais motivações eles tiveram para atuarem no mundo criminoso, o porquê deles serem idolatrados como heróis na cultura popular , o porquê deles inspirarem medos por suas atitudes cruéis entre outros fatores que é preciso ler o livro com a cabeça aberta sem nenhum mal julgamento.

Bandidos trata-se de um excelente  livro de Hobsbawm  para compreendermos o fenômeno social-cultural e antropológico  de como o ser humano dependendo do lar em que convive pode entrar no caminho perigoso da criminalidade. Um ótimo livro  que recomendo para historiadores, sociólogos, antropólogos, psiquiatras, advogados entre outros estudiosos fazerem suas leituras e tirarem suas próprias conclusões.

Para encerrar coloco aqui as seleções  das frases de Hobsbawn:

" A História pode ser de vencedores a curto prazo, mas os ganhos históricos vem dos vencidos."

"Como todas as outras pessoas historiadores são mais perceptivos depois que as coisas acontecem".

“A principal tarefa do historiador não é julgar, mas compreender, mesmo o que temos mais dificuldade para compreender. O que dificulta a compreensão, no entanto, não são apenas nossas convicções apaixonadas, mas também a experiência histórica que as formou.¨ ¨A única generalização cem por cento segura sobre a história é aquela que diz que enquanto houver raça humana haverá história.”

"A doença ocupacional das grandes potências é a megalomania."

"Como todas as outras pessoas, historiadores são mais perceptivos depois que as coisas acontecem."

"Seria muito difícil explicar para um marciano o que foi o século 20, porque ele é incrível até mesmo para os habitantes deste planeta."

Eric Hobsbawm

(1917-2012).

Nenhum comentário:

Postar um comentário