Há exatos 10 anos, no dia 01 de Outubro de 2012, morria no
Hospital Royal Free, de Londres, em decorrência de uma pneumonia, o historiador
britânico Eric Hobsbawm.
Hobsbawm ao longo de 95
anos de vida acadêmica, publicou diversas obras, de cunho social, político,
econômico e cultural.
A morte de Hobsbawm representou uma perda irreparável para nossa área. Muitos o consideram como o
maior historiador do século XX. Durante os quatro anos de minha graduação no
curso de História, li muito de suas importantes obra-prima, de cunho marxistas.
Entre as que posso destacar estão: A Era das Revoluções, A Era do
Capital, A Era dos Impérios, A
Era dos Extremos, estas foram as que tive oportunidade de ler durante minha
graduação universitária além de entre outras diversas de cunho também social
como Trabalhadores, Bandidos e História Social do Jazz. A
sua genialidade para descrever os diversos momentos que marcaram bastante a
história, o tornando bastante admirado, respeitado e até idolatrado dentro do
mundo acadêmico, o tornando como já bem havia descrito como o maior historiador
do século XX. Por trás desse seu incrível talento e competência para descrever
grandes eventos do passado de uma maneira peculiar, que o tornava uma figura
bastante idolatrada pelos meus colegas de graduação e em especial pelo meu
Professor Durval Alves da Silva, que se focava demais em trabalhar as obras
deles e fazia uma aula brilhante e cativante.
Atributos esses que o
tornavam brilhante, em contraste a sua vida pessoal, que assim como reles
mortais comuns, estava longe da perfeição.
Nascido em Alexandria,
famosa cidade histórica do Egito, sob dominação britânica, no dia 9 de Junho de
1917. Eric John Ernest Hobsbawm era filho de pai britânico, vindo de uma
família de artesãos poloneses e russos, e sua mãe vinha de uma família média austríaca.
Ambos carregavam descendência judaica. Passou parte de sua infância e juventude
vivendo entre a Áustria e Alemanha.
Foi no começo da sua
juventude que Hobsbawm vivenciou uma situação trágica da perda dos pais,
primeiro perdeu o pai aos 12 anos, morto em 1929, e pouco tempo depois perderia
a mãe em 1931, então com 14 anos. Com a morte desses, Hobsbawm passou a ser
criado sob a tutela de seu tio paterno Sidney.
Ao mesmo tempo que resolveu aderir ao Partido Comunista. Em 1933, no
caótico cenário político da Alemanha Hitlerista, Hobsbawm resolve se mudar para
a Inglaterra.
Foi lá que passou por dois diferentes
casamentos, primeiro foi com Muriel Seamen em 1943, com quem se divorciou em
1951. Mas foi com Marelene Schwarz sua companheira pelo resto de sua longa vida
por quem teve dois filhos Júlia e Andy.
Os seus primeiros passos
no mundo acadêmico foi em 1947, quando estudou no King´s College de Cambridge,
de onde depois de formado se tornou reitor. Chegando a lecionar em conceituadas
universidades americanas, como em Stanford, Massachussetts e Comel. Seu
primeiro livro publicado foi Rebeldes Primitivos em 1959.
Em 2011, publicou sua
última obra intitulada Como mudar o mundo, e segundo algumas informações
de jornais britânicos, vinha se dedicando a trabalhar na revisão de mais um
livro programado para ser lançado em 2013.
Reproduzo o texto que
postei para o blog Breno Historiador em
2017, ano de seu centenário com uma análise que fiz do seu livro Bandidos,
que eu comprei e fiz uma leitura na época para aproveitar a data.
Publicado originalmente
na Inglaterra em 1969, Bandidos como bem consta no texto do prefácio
escrito pelo próprio autor em Junho de 1999, para uma nova publicação inglesa
do livro lançada em 2000 e nesta edição da Editora Paz & Terra,
Rio de Janeiro/São Paulo,2015.
Esta obra apresenta uma forte abordagem de forma
sucinta e objetiva para o leitor o enfoque no fenômeno social de seres
marginalizados pela alta classe elitista, foras da lei, delinquentes
despertarem tanta paixão pelos seus supostos atos de bravura contra a opressão
dos poderosos burgueses que os tornam
nem tão malvados, nem tão bonzinhos, ao mesmo tempo sendo temidos pela maneira
brutal como saqueavam e matavam pessoas inocentes.
Mas tipos, heróis, ou
melhor, dizendo anti-heróis acima do bem e do mal. Uma análise de estudo bem
profunda sobre este assunto. Principalmente
quando suas proezas se tornam exaltadas pela arte com os versos poéticos, e as
representações artísticas que fazem se tornarem celebridades cultuadas como se
fossem artistas de cinema. No livro é mencionado exemplos de diversos nomes de líderes
de bandos em diferentes países das mais diferentes épocas que praticavam os
delitos contra os ricos em favor do povo oprimido que a partir daí, deu a
origem a denominação da corrente acadêmica do banditismo social.
No livro são exemplificados desde o famoso e lendário Robin Hood, mítico
arqueiro da Inglaterra Medieval, o brasileiro Virgulino Ferreira da Silva,
vulgo Lampião(1898-1938), ilustre figura folclórica do cangaço, um movimento
originado no Nordeste muito antes dele nascer, os primeiros registros
datam do século 18, surgidos como bandos
armados contra a opressão da miséria em consequência da seca, e da violência do
autoritarismo dos coronéis, eles passaram a se denominarem de cangaceiros em referências
a canga, “peça de madeira colocada sobre o pescoço dos bois de carga. Assim
como o gado, os bandoleiros carregavam os pertences nos ombros.” Um dos
precursores deste movimento nesta ocasião foi José Gomes, o malvado Cabeleira,
cruel e sanguinário apavorou todas as terras pernambucanas por volta de 1775.
Depois deste veio o potiguar Jesuíno Alves de Melo Calado, mais conhecido pelo
codinome de Jesuíno Brilhante(1844-1879), este pode-se assim dizer foi o
responsável por originar a famosa lenda do cangaço ser um movimento de
banditismo social, já que ele distribuía aos pobres os alimentos saqueados dos
comboios do governo. Depois deste teve o pernambucano Antônio
Silvino(1875-1944), mais conhecido pelo codinome de Rifle de Ouro, o
primeiro a ser denominado de Rei do Cangaço, antes de Lampião. Este teve como
uma de suas façanhas, arrancar os trilhos, perseguir engenheiros e sequestrar
funcionários da Great Western. Empresa inglesa responsável pela construção da
ferrovia no interior da Paraíba. Já o Lampião mesmo, melhor dizendo Virgulino
Ferreira da Silva seu nome real de batismo só entraria neste movimento a partir
de 1920. Sobre como era o modo de vida deste antes de entrar no cangaço, e
virar o idolatrado Lampião sabe-se pouco. Além dele, também é mencionado o
mexicano Pancho Villa(1878-1923) um general que comandou a Revolução Mexicana.
É também mencionado os haiduks, bandoleiros que assaltavam as regiões dos
países balcânicos. Louis-Dominique Cartouche(1693-1721) o mais famoso
bandoleiro da França no século 18, Johannes Büclker(1778-1803) bandoleiro da Alemanha,
Romanetti(1884-1926) da Itália do começo do século 20, o romantizado bandoleiro
inglês John Haynes Williams(1836-1908), Wu Sung e Chien Chen da China do século
XII, Kamo(1882-1922) da Rússia entre outros exemplos mencionados, como o cowboy
fora da lei do Velho Oeste americano Jesse James entre outros exemplos. Bandidos
trata-se de um excelente livro com cunho de estudo de importante análise social
desse fenômeno de seres marginais inspirarem tanta admiração por seres vistos
como revolucionários contra a opressão, que roubavam em nome do social ao mesmo
tempo temidos pela crueldade.
Que fique muito claro, no livro, o autor não
teve a intenção de ao descrever sobre as
ações dos bandoleiros, é querer santificá-los como heróis, nem muito menos
demonizá-los mas sim apenas analisar o contexto em que cada um surgiu, quais motivações eles tiveram
para atuarem no mundo criminoso, o porquê deles serem idolatrados como heróis
na cultura popular , o porquê deles inspirarem medos por suas atitudes cruéis entre
outros fatores que é preciso ler o livro com a cabeça aberta sem nenhum mal
julgamento.
Bandidos trata-se de um excelente livro de Hobsbawm para compreendermos o fenômeno
social-cultural e antropológico de como
o ser humano dependendo do lar em que convive pode entrar no caminho perigoso
da criminalidade. Um ótimo livro que
recomendo para historiadores, sociólogos, antropólogos, psiquiatras, advogados
entre outros estudiosos fazerem suas leituras e tirarem suas próprias
conclusões.
Para encerrar coloco aqui
as seleções das frases de Hobsbawn:
" A História pode
ser de vencedores a curto prazo, mas os ganhos históricos vem dos
vencidos."
"Como todas as
outras pessoas historiadores são mais perceptivos depois que as coisas
acontecem".
“A principal tarefa do
historiador não é julgar, mas compreender, mesmo o que temos mais dificuldade
para compreender. O que dificulta a compreensão, no entanto, não são apenas
nossas convicções apaixonadas, mas também a experiência histórica que as
formou.¨ ¨A única generalização cem por cento segura sobre a história é aquela
que diz que enquanto houver raça humana haverá história.”
"A doença
ocupacional das grandes potências é a megalomania."
"Como todas as
outras pessoas, historiadores são mais perceptivos depois que as coisas
acontecem."
"Seria muito difícil
explicar para um marciano o que foi o século 20, porque ele é incrível até
mesmo para os habitantes deste planeta."
Eric Hobsbawm
(1917-2012).
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