quinta-feira, 13 de outubro de 2022

60 ANOS DE 007: MOMENTOS POLITICAMENTE INCORRETOS.

 

Momentos politicamente incorretos do elegante espião com licença para matar.

 

Nesse ano de 2022, a franquia de filmes 007, completa seus 60 anos do lançamento do seu primeiro filme 007 Contra o Satânico Dr. No(1962).

Para lembrar seus 60 anos, listo aqui alguns fatores de situações politicamente incorretas que ocorreram ao longo da história da franquia em cada um dos filmes que se pode descrever que ficaram datados a ponto de envelhecerem mal. Não digo  no sentido dos efeitos especiais, mas nas representatividades de grupos sociais.  Vamos lá.




007 MACHISTA





Posso bem começar pelo mais evidente que é a representação machista de quando ele que foi concebido justamente para criar aquela engessada figura do ideal da masculinidade de quem muitos  homens gostam  de se espelhar, principalmente para conquistar a mulherada depois de enfrentar uma longa e dolorosa batalha, e a mulherada o via como figura típica  de macho viril. Como símbolo sexual da elegância e do charme, um verdadeiro galanteador. Pois bem o que não significa que ele sempre foi um homem lá muito sensível com as mulheres, em especial as que ele entrava em confronto com uma mulher que fosse seu alvo e estava do lado do mal,  o sujeito soltava os sopapos sem pudor, como ocorreu com a Pussy Galore no filme 007 Contra Goldfinger(1964), mostrando  um exemplo de sujeito agressivo que ele podia ser, ou mesmo também virava um assediador sexual como ocorreu com a enfermeira Patrícia Fearing(Molly Peters) no filme 007 Contra a Chantagem Atômica(1965) numa cena onde Bond estava internado num spa em Shrubland  se tratando dos ferimentos ao mesmo tempo que estava alguém da SPECTRE também frequentando aquele ambiente e tentando matar Bond. Ela foi responsável por encenar um dos momentos de nudes considerados  mais memoráveis da franquia que foi no momento que ocorreu depois que ela colocou Bond da máquina de tração que ela havia ligado para exercitar o seu corpo e que uma mão misteriosa a havia manipulado que modificado velocidade o colocando entre a vida e a morte. E ela temendo pela sua reputação e da clínica, ela que antes se mostrava durona ao ceder aos assédios de Bond termina cedendo e ele ao  levar em direção ao banho na sauna e a despe, fazendo bem aquele nude de tom erótico mostrando toda a sua silhueta das costas, momento que a fez entrar para o anais da história como a primeira bond girl a tirar a roupa em cena.  Uma cena que também ilustra como esta representação de ideal da masculinidade de James Bond também ficou antiquado, principalmente na maneira em que ele já era bastante agressivo em alguns momentos para seduzir mulheres, aqui o negócio fica mais polêmico se a gente for analisar que aqui ele foi bastante aproveitador da situação para ficar chantageando e assediando sexualmente  a enfermeira no seu local de trabalho é um cúmulo do absurdo, tudo bem que o autor Ian Fleming(1908-1964) quando colocou essa personagem  em sua série de livros ainda era comum a   representação da enfermeira sempre simbolizando  na mentalidade masculina como uma fantasia sexual e aposto como todo  marmanjo deve ter babado por essa cena na época que foi lançado. O que nos tempos de hoje, isso seria completamente inadmissível, o estereotipo sexista da profissão, ainda mais depois desse  momento tão complicado da atualidade  em que o mundo todo viveu o pânico de um inimigo invisível como o Coronavírus  que tem contaminado e tirado muitas vidas, e as profissionais da saúde são as que mais tem se dedicado ao combate direto, então posso descrever esse tipo de representação de 60 anos representou da profissional, mostra um nível do quão antiquado e politicamente incorreto James Bond se tornou para a nossa realidade do século 21 de tão datado que ficou. Isso tirando as silhuetas de corpos femininos com nudes não tão explícitos assim que apareciam nas aberturas.

 

 

 

007 RACISTA






Quando o personagem 007 foi concebido por Ian Fleming em 1953 na literatura. O Reino Unido contava com a recém-falecida Rainha Elizabeth II(1926-2022), assumindo o trono jovem e já casada com o Príncipe  Philipe que faleceu em 2021 aos 99 anos e já como  mãe de quatro filhos pequenos e ainda mantinha apossado   algumas colônias em países africanos, asiáticos e também nas ilhas caribenhas.







O que de certa forma nós podemos notar bem o conceito da mentalidade racista, de superioridade branca europeia na maneira, principalmente como o agente James Bond ao fazer suas operações em alguns países subdesenvolvidos criava aquela imagem preconceituosa em relação a cultura dos povos dos países subdesenvolvidos com algumas representações de estereótipos racistas. Podemos notar isso logo no  primeiro filme da série  007 Contra o Satânico Dr.No (1962) que se passa no arquipélago da  Jamaica, que fazia pouco tempo tinha deixado de ser colonização britânica e a gente ainda sente  uma sensação de servilismo entre a população jamaicana, de  maioria preta de descendência dos escravos africanos.  O racismo pode ser sentido quando somos apresentado ao grande vilão da história que dá título à obra que é o Dr. No, um chinês representado pelo canadense  Joseph Wiserman(1918-2009) um ocidental  branco que representou um asiático usando uma prática de yellow face. Ao longo dos filmes seguintes, tivemos outras práticas racistas como a de Oddjob(Harold Sakata) o capanga de Auric Goldfinger em 007 Contra Goldfinger(1964) numa representação racista do asiático com cara de mal encarado, aqui no caso do coreano, algo parecido também já ocorreu com o Gobinda(Kabir Bedi) o capanga de Kamal Kahn(Louis Jordan) em 007 Contra Octopussy(1983) que criavam os estereótipos racistas do indiano e do afegão   também como  figuras   mal encaradas.  Quando James Bond se faz passar por japonês se disfarçando  em Com 007 Só se vive duas vezes(1967) foi o maior exemplo de yellow face, a banalização  do vodu praticado pela comunidade africana de Nova Orleans em Com 007 Viva e deixe morrer(1973),  quando ele visita o nosso Brasil em 007 Contra o Foguete da Morte(1979), também notamos uma visão racista dele por mostrar só a exaltação alegre do carnaval que é o que chama a atenção dos gringos, assim como foi com os russos na época da Guerra Fria com aqueles toques muitos excêntricos e peculiar de dominar o mundo como podemos perceber  nas figuras do General Orlov(Steven Benkoff) em 007 Contra Octopussy ou mesmo do General Koskov(Jeroen Krabbé) em 007 Marcado para a Morte(1987)  e junte isso ao tanto de mulher de cada lugar que ele visitou em missão que ele deu seus peguinhas que criavam a visão do  racista estereótipo sexualizado como exemplo a Rose Carver(Glória Hendry) em Com 007 Viva e Deixe Morrer representando o estereotipo   racista da preta sensual ou mesmo da Manuela(Emilly Bolton) criando um estereotipo sexual da exótica morena brasileira, da Major Anya Amasova(Barbara Bach) no filme 007-O Espião que me amava(1977), onde a agente russa simboliza aquele estereótipo sexual  das russas usarem do charme e da beleza para atrair seus alvos,  que é também o exemplo da também agente Pola Ivanova(Fiona Fullerton) em 007 Na Mira dos Assassinos(1985). Dentre outros exemplos que simbolizam a mentalidade racista que acompanhamos ao longo dos filme da série 007.

 



007 CAPACITISTA




Capacitista é o nome dado ao método discriminatório dado a toda e qualquer pessoa com deficiência, onde são tratadas como incapazes. A primeira vez que ouvi essa palavra foi no ano passado quando uma atriz anã do Brasil, reclamou publicamente nas redes sociais da representação dessa forma num filme da Netflix onde Leandro Hassum protagonizou uma anão de maneira digital.




 Isso me remeteu a um dos exemplos de representação banal das pessoas com deficiência que foi com o anão Nick Nack, personagem representado pelo francês Hervé Villenchaize(1943-1993) que foi o capanga de Scaramanga(Christopher Lee)  em 007 Contra o homem com a pistola de ouro(1974), também criou outras representações  capacitistas como do gigante Jaws representado por Richard Kiel(1939-2014) com suas dentaduras de aço que eliminava comendo os pescoços das pessoas que dava um aspecto amedrontador além da cara de mal encarado, aparecendo em dois filmes da franquia, sendo  foi o capanga de Stromberg(Curd Jügens) em 007- O espião que me amava e Hugo Drax(Michael Lonsdale) em 007 Contra o foguete da morte, o trio de cegos que na verdade estavam fingindo para cometer assassinatos logo no começo de 007 contra o satânico Dr. No(1962), Te He Johnson(Julius Harris), capanga de Kananga(Yaphet Kotto) em Com 007 Viva e deixe morrer,  um sujeito com braço amputado por um crocodilo, e colocaram braço mecânico com uma garra de aço na ponta, algo sinistro ou mesmo quando Blofeld aparece de cadeira de rodas sem mostrar a cara  nas primeiras cenas de 007 Somente para seus olhos(1981). Uma das razões para essa representação banal das pessoas com deficiências pode estar no fato de que mais ou menos até o começo do século XX, as pessoas com deficiência simbolizavam uma visão de aberração,  de vergonha, uma desonra, um castigo divino e chegaram a transformar as pessoas com deficiências em espetáculo de circo dos horrores e justamente nesse aspecto os filmes antigos da franquia transformaram as pessoas com deficiências  em circo dos horrores.

 

 

 

 

 

007 HOMOFÓBICO




Seria impensável imaginar um 007, idealizado como símbolo sexual feminino beijando outro homem. Até porque quando Ian Fleming concebeu 007 na literatura nos anos 1950, a visão social sobre a comunidade LGBQIAP+  era muito  mais banal do que agora em relação aos movimentos intolerantes que tem surgido em diferentes países  nos ideais conservadores torpes baseados nos valores de  família perfeita como comercial de margarina. No Reino Unido nessa época especialmente, a homoafetividade era considerado um crime e caso de doença e isso a gente pode perceber na figura da dupla assassina Mr. Wint(Bruce Glover) e Mr. Kidd(Putter Smith) no filme 007-Os Diamantes São Eternos(1971), os capangas da SPECTRE na história. Que representam essa visão deturpada  do casal gay  associado a psicopatia como sujeitos cruéis, frios e insensíveis. Ainda que muitos não achem que eles sejam um casal gay, pela forma muito enrustida como agem, diferem da visão caricatamente divertida e de como gostam de coisas femininas. Ainda que o Mr. Wint(Bruce Glover) é o que da dupla  mais deixa transparecer um perfil homoafetivo, principalmente na cena do avião em que estão de olho na bond girl Tifanny Case(Jill St. John),   quando Wint  faz uma cara de desaprovação ao ouvir da boca do Mr. Kidd(Putter Smith) fazendo elogios a beleza da Tifanny, o que bem demonstra o  recalque do sentimento de ciúme.

 

 

007 GORDOFÓBICO




Conseguem  imaginar um 007 fora de forma  encarando  cada manobra arriscada e conseguir sair ileso daria certo? Claro que não. Do jeito que ele foi concebido como um exemplo de herói imbatível, e símbolo de macho alfa para a mulherada,  teria que se mostrar em boa forma física atlética  para encarar todo e qualquer tipo de perigo.




Em compensação ele criou uma representação  gordofóbica, banalizada típica da figura de que a feiura simboliza  o mau caráter tendo como exemplo  em Auric Goldfinger(Gert Fröbe) o grande vilão  de 007 Contra Goldfinger(1964). Que simbolizava bem a figura do sujeito  cujo nível da ambição é tão sem limites para um cara que já era rico, e resolve querer muito mais ao roubar do Banco Fort Knox  cuja segurança é bastante  reforçada e cuja crueldade para quem se atreve  a ser uma pedra no seu sapato, que ele não tem pena de eliminar,  como ocorreu com a Jill Materson(Shirley Eaton) sua capanga  que foi estrangulada por Oddjob(Harold Sakata) que a pintou de ouro, como bem reflete o primeiro trecho da letra da canção-tema do filme interpretado pela Shirley Bassey sobre o Auric Goldfinger: “É o homem, o homem com o toque de Midas”. Uma clara referência ao Rei Midas das lendas da Grécia Antiga, cujas mãos quando  tocava em qualquer transformava tudo em  ouro, que chegou a transformar até mesmo as próximas a ele, o deixando amargurado.

Outra também representação gordofóbica foi com o Sandor(Milton Reid), o capanga de Stromberg(Curd Jügens) em 007- O Espião que me amava(1977), que mesmo aparecendo pouco, mas ainda assim criou uma representação banal das pessoas obesas com aquela cara de mal encarado, de pessoa cruel e insensível.


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