Momentos politicamente incorretos do elegante espião com licença para matar.
Nesse
ano de 2022, a franquia de filmes 007, completa seus 60 anos do lançamento do
seu primeiro filme 007 Contra o Satânico Dr. No(1962).
Para
lembrar seus 60 anos, listo aqui alguns fatores de situações politicamente
incorretas que ocorreram ao longo da história da franquia em cada um dos filmes
que se pode descrever que ficaram datados a ponto de envelhecerem mal. Não
digo no sentido dos efeitos especiais,
mas nas representatividades de grupos sociais.
Vamos lá.
007
MACHISTA
Posso
bem começar pelo mais evidente que é a representação machista de quando ele que
foi concebido justamente para criar aquela engessada figura do ideal da masculinidade
de quem muitos homens gostam de se espelhar, principalmente para conquistar
a mulherada depois de enfrentar uma longa e dolorosa batalha, e a mulherada o
via como figura típica de macho viril. Como
símbolo sexual da elegância e do charme, um verdadeiro galanteador. Pois bem o
que não significa que ele sempre foi um homem lá muito sensível com as
mulheres, em especial as que ele entrava em confronto com uma mulher que fosse
seu alvo e estava do lado do mal, o
sujeito soltava os sopapos sem pudor, como ocorreu com a Pussy Galore no filme 007
Contra Goldfinger(1964), mostrando um exemplo de sujeito agressivo que ele podia
ser, ou mesmo também virava um assediador sexual como ocorreu com a enfermeira Patrícia
Fearing(Molly Peters) no filme 007 Contra a Chantagem Atômica(1965) numa
cena onde Bond estava internado num spa em Shrubland se tratando dos ferimentos ao mesmo tempo que
estava alguém da SPECTRE também frequentando aquele ambiente e tentando matar
Bond. Ela foi responsável por encenar um dos momentos de nudes
considerados mais memoráveis da franquia
que foi no momento que ocorreu depois que ela colocou Bond da máquina de tração
que ela havia ligado para exercitar o seu corpo e que uma mão misteriosa a
havia manipulado que modificado velocidade o colocando entre a vida e a morte.
E ela temendo pela sua reputação e da clínica, ela que antes se mostrava durona
ao ceder aos assédios de Bond termina cedendo e ele ao levar em direção ao banho na sauna e a despe,
fazendo bem aquele nude de tom erótico mostrando toda a sua silhueta das
costas, momento que a fez entrar para o anais da história como a primeira bond
girl a tirar a roupa em cena. Uma cena
que também ilustra como esta representação de ideal da masculinidade de James
Bond também ficou antiquado, principalmente na maneira em que ele já era
bastante agressivo em alguns momentos para seduzir mulheres, aqui o negócio
fica mais polêmico se a gente for analisar que aqui ele foi bastante
aproveitador da situação para ficar chantageando e assediando sexualmente a enfermeira no seu local de trabalho é um
cúmulo do absurdo, tudo bem que o autor Ian Fleming(1908-1964) quando colocou
essa personagem em sua série de livros
ainda era comum a representação da
enfermeira sempre simbolizando na
mentalidade masculina como uma fantasia sexual e aposto como todo marmanjo deve ter babado por essa cena na
época que foi lançado. O que nos tempos de hoje, isso seria completamente
inadmissível, o estereotipo sexista da profissão, ainda mais depois desse momento tão complicado da atualidade em que o mundo todo viveu o pânico de um
inimigo invisível como o Coronavírus que
tem contaminado e tirado muitas vidas, e as profissionais da saúde são as que
mais tem se dedicado ao combate direto, então posso descrever esse tipo de
representação de 60 anos representou da profissional, mostra um nível do quão
antiquado e politicamente incorreto James Bond se tornou para a nossa realidade
do século 21 de tão datado que ficou. Isso tirando as silhuetas de corpos
femininos com nudes não tão explícitos assim que apareciam nas aberturas.
007
RACISTA
Quando
o personagem 007 foi concebido por Ian Fleming em 1953 na literatura. O Reino
Unido contava com a recém-falecida Rainha Elizabeth II(1926-2022), assumindo o
trono jovem e já casada com o Príncipe Philipe que faleceu em 2021 aos 99 anos e já
como mãe de quatro filhos pequenos e ainda
mantinha apossado algumas colônias em
países africanos, asiáticos e também nas ilhas caribenhas.
O
que de certa forma nós podemos notar bem o conceito da mentalidade racista, de
superioridade branca europeia na maneira, principalmente como o agente James
Bond ao fazer suas operações em alguns países subdesenvolvidos criava aquela
imagem preconceituosa em relação a cultura dos povos dos países
subdesenvolvidos com algumas representações de estereótipos racistas. Podemos
notar isso logo no primeiro filme da
série 007 Contra o Satânico Dr.No
(1962) que se passa no arquipélago da Jamaica, que fazia pouco tempo tinha deixado
de ser colonização britânica e a gente ainda sente uma sensação de servilismo entre a população
jamaicana, de maioria preta de
descendência dos escravos africanos. O
racismo pode ser sentido quando somos apresentado ao grande vilão da história
que dá título à obra que é o Dr. No, um chinês representado pelo canadense Joseph Wiserman(1918-2009) um ocidental branco que representou um asiático usando uma
prática de yellow face. Ao longo dos filmes seguintes, tivemos outras práticas
racistas como a de Oddjob(Harold Sakata) o capanga de Auric Goldfinger em 007
Contra Goldfinger(1964) numa representação racista do asiático com cara de
mal encarado, aqui no caso do coreano, algo parecido também já ocorreu com o
Gobinda(Kabir Bedi) o capanga de Kamal Kahn(Louis Jordan) em 007 Contra
Octopussy(1983) que criavam os estereótipos racistas do indiano e do
afegão também como figuras mal
encaradas. Quando James Bond se faz
passar por japonês se disfarçando em Com
007 Só se vive duas vezes(1967) foi o maior exemplo de yellow face, a
banalização do vodu praticado pela
comunidade africana de Nova Orleans em Com 007 Viva e deixe morrer(1973), quando ele visita o nosso Brasil em 007
Contra o Foguete da Morte(1979), também notamos uma visão racista dele por
mostrar só a exaltação alegre do carnaval que é o que chama a atenção dos
gringos, assim como foi com os russos na época da Guerra Fria com aqueles
toques muitos excêntricos e peculiar de dominar o mundo como podemos perceber nas figuras do General Orlov(Steven Benkoff)
em 007 Contra Octopussy ou mesmo do General Koskov(Jeroen Krabbé) em 007
Marcado para a Morte(1987) e junte
isso ao tanto de mulher de cada lugar que ele visitou em missão que ele deu
seus peguinhas que criavam a visão do racista estereótipo sexualizado como exemplo a
Rose Carver(Glória Hendry) em Com 007 Viva e Deixe Morrer representando
o estereotipo racista da preta sensual
ou mesmo da Manuela(Emilly Bolton) criando um estereotipo sexual da exótica morena
brasileira, da Major Anya Amasova(Barbara Bach) no filme 007-O Espião que me
amava(1977), onde a agente russa simboliza aquele estereótipo sexual das russas usarem do charme e da beleza para
atrair seus alvos, que é também o exemplo
da também agente Pola Ivanova(Fiona Fullerton) em 007 Na Mira dos Assassinos(1985).
Dentre outros exemplos que simbolizam a mentalidade racista que acompanhamos ao
longo dos filme da série 007.
007
CAPACITISTA
Capacitista é o nome dado ao método discriminatório dado a toda e qualquer pessoa com deficiência, onde são tratadas como incapazes. A primeira vez que ouvi essa palavra foi no ano passado quando uma atriz anã do Brasil, reclamou publicamente nas redes sociais da representação dessa forma num filme da Netflix onde Leandro Hassum protagonizou uma anão de maneira digital.
Isso me
remeteu a um dos exemplos de representação banal das pessoas com deficiência que
foi com o anão Nick Nack, personagem representado pelo francês Hervé
Villenchaize(1943-1993) que foi o capanga de Scaramanga(Christopher Lee) em 007 Contra o homem com a pistola de
ouro(1974), também criou outras representações capacitistas como do gigante Jaws representado
por Richard Kiel(1939-2014) com suas dentaduras de aço que eliminava comendo os
pescoços das pessoas que dava um aspecto amedrontador além da cara de mal
encarado, aparecendo em dois filmes da franquia, sendo foi o capanga de Stromberg(Curd Jügens) em 007-
O espião que me amava e Hugo Drax(Michael Lonsdale) em 007 Contra o
foguete da morte, o trio de cegos que na verdade estavam fingindo para
cometer assassinatos logo no começo de 007 contra o satânico Dr. No(1962),
Te He Johnson(Julius Harris), capanga de Kananga(Yaphet Kotto) em Com 007
Viva e deixe morrer, um sujeito com
braço amputado por um crocodilo, e colocaram braço mecânico com uma garra de
aço na ponta, algo sinistro ou mesmo quando Blofeld aparece de cadeira de rodas
sem mostrar a cara nas primeiras cenas
de 007 Somente para seus olhos(1981). Uma das razões para essa
representação banal das pessoas com deficiências pode estar no fato de que mais
ou menos até o começo do século XX, as pessoas com deficiência simbolizavam uma
visão de aberração, de vergonha, uma
desonra, um castigo divino e chegaram a transformar as pessoas com deficiências
em espetáculo de circo dos horrores e justamente nesse aspecto os filmes
antigos da franquia transformaram as pessoas com deficiências em circo dos horrores.
007
HOMOFÓBICO
Seria
impensável imaginar um 007, idealizado como símbolo sexual feminino beijando
outro homem. Até porque quando Ian Fleming concebeu 007 na literatura nos anos
1950, a visão social sobre a comunidade LGBQIAP+ era muito mais banal do que agora em relação aos
movimentos intolerantes que tem surgido em diferentes países nos ideais conservadores torpes baseados nos valores
de família perfeita como comercial de
margarina. No Reino Unido nessa época especialmente, a homoafetividade era
considerado um crime e caso de doença e isso a gente pode perceber na figura da
dupla assassina Mr. Wint(Bruce Glover) e Mr. Kidd(Putter Smith) no filme 007-Os
Diamantes São Eternos(1971), os capangas da SPECTRE na história. Que
representam essa visão deturpada do
casal gay associado a psicopatia como
sujeitos cruéis, frios e insensíveis. Ainda que muitos não achem que eles sejam
um casal gay, pela forma muito enrustida como agem, diferem da visão
caricatamente divertida e de como gostam de coisas femininas. Ainda que o Mr.
Wint(Bruce Glover) é o que da dupla mais
deixa transparecer um perfil homoafetivo, principalmente na cena do avião em
que estão de olho na bond girl Tifanny Case(Jill St. John), quando Wint
faz uma cara de desaprovação ao ouvir da boca do Mr. Kidd(Putter Smith)
fazendo elogios a beleza da Tifanny, o que bem demonstra o recalque do sentimento de ciúme.
007
GORDOFÓBICO
Conseguem
imaginar um 007 fora de forma encarando
cada manobra arriscada e conseguir sair ileso daria certo? Claro que não.
Do jeito que ele foi concebido como um exemplo de herói imbatível, e símbolo de
macho alfa para a mulherada, teria que
se mostrar em boa forma física atlética para encarar todo e qualquer tipo de perigo.
Em
compensação ele criou uma representação gordofóbica, banalizada típica da figura de
que a feiura simboliza o mau caráter tendo
como exemplo em Auric Goldfinger(Gert
Fröbe) o grande vilão de 007 Contra
Goldfinger(1964). Que simbolizava bem a figura do sujeito cujo nível da ambição é tão sem limites para
um cara que já era rico, e resolve querer muito mais ao roubar do Banco Fort
Knox cuja segurança é bastante reforçada e cuja crueldade para quem se
atreve a ser uma pedra no seu sapato,
que ele não tem pena de eliminar, como
ocorreu com a Jill Materson(Shirley Eaton) sua capanga que foi estrangulada por Oddjob(Harold Sakata)
que a pintou de ouro, como bem reflete o primeiro trecho da letra da
canção-tema do filme interpretado pela Shirley Bassey sobre o Auric Goldfinger:
“É o homem, o homem com o toque de Midas”. Uma clara referência ao Rei Midas
das lendas da Grécia Antiga, cujas mãos quando
tocava em qualquer transformava tudo em
ouro, que chegou a transformar até mesmo as próximas a ele, o deixando
amargurado.
Outra
também representação gordofóbica foi com o Sandor(Milton Reid), o capanga de
Stromberg(Curd Jügens) em 007- O Espião que me amava(1977), que mesmo
aparecendo pouco, mas ainda assim criou uma representação banal das pessoas
obesas com aquela cara de mal encarado, de pessoa cruel e insensível.
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