No
dia 6 de Setembro de 1980, era lançado nas manhãs do canal americano da CBS, a
série Tom and Jerry Comedy Show(1980-1982).
Essa
foi a quinta vez que a franquia da famosa dupla de gato e rato ganhava uma nova
versão animada. Que foi minha primeira
introdução ao universo Tom & Jerry, ou seja, minha primeira
referência. Digo isso porquê, como eu
nasci em 1985, eu já sou da geração que pegou a fase de Tom & Jerry sendo
exibido na programação infantil do SBT.
Não
fazia muito ideia de que essa marca já
era antiga e existia antes de eu nascer e que teve outras representações.
Para
entender melhor o contexto, dou como ponto de partida no ano de 1940, quando ainda não existia aparelhos de televisão nas
casas dos americanos eles costumavam ter contato primeiramente com animações
nas telas de cinema em episódios curtos.
Foi
nessa data que surgia Tom e Jerry, uma criação da dupla William Hanna(1910-2001)
e Joseph Barbera(1911-2006), que tiveram a ideia de criar essa dupla de gato e
rato, que vivem se perseguindo, mas que não chegam a se serem inimigos inspirados na situação em que quando o estúdio
da MGM sofreu uma infestação de ratos, eles trouxeram uns gatos para caçar
esses ratos e isso deu origem a inspiração para Tom e Jerry.
Um
dos criadores criava um gato que pertencia a uma raça chamada de azul russo que
tinha como característica a pele azul-acinzentada e os olhos verdes brilhantes que inspirou a tonalidade
da pelagem do Tom.
Eles
surgiram bem no período que o setor de animação vivia aquela fase de sua Era de
Ouro com os curtas animados da Disney com as histórias do Mickey Mouse e
companhia e suas produções de longas animados, da Warner com Pernalonga e os
Looney Tunes, da Universal com Pica-Pau, Paramount com Popeye e Betty Boop
dentre outros.
E
Tom & Jerry surgiu bem nesse contexto, o setor de animação já vivia
uma evolução quando acompanhou o surgimento do som no final da década de 1920 e
o surgimento da técnica de colorização
da Technicolor.
A
principal característica dessa primeira fase dourada das animações é o fato deles ao correrem para
ficarem perseguindo como gato e rato e
que eles não costumavam verbalizar em diálogos, usavam o nível pastelão e
pantomímico do humor físico que lembrava
o cinema mudo e a personagem mais frequente era a Mammy* que não mostrava o
rosto.
Essa
primeira leva onde Tom & Jerry surgiram marcou a Era de Ouro da Animação ou
como também como posso denominar de Primeiro
Período Hanna-Barbera(1940-1958), como assim? Explico:
Foi
o longo período em que as produções dos curtas-animados nas telas de cinema
estavam bombando. Que eram exibidos antes das exibições dos grandes longas
metragens e também tinha as produções baixo orçamento, denominados de filmes B,
como os terror, por exemplo. E também era o lugar onde passava os cinejornais, exibindo
curtas documentais.
Isso
perdurou até o momento em que um novo cenário mudaria na década de 1950, foi
quando a maioria dos lares americanos passou a instalar o aparelho televisão e nisso surgiu uma grande ameaça
para as exibidoras.
Fora
que o Congresso Americano havia aprovado uma lei para acabar com o modelo de
ingresso chamado de casadinha onde se assistia a dois filmes ao mesmo tempo.
Foi
por volta desse período que os grandes estúdios
foram começando aos poucos a fecharem seus departamentos de animação e
demitir animadores. E dentre essas empresas estava a MGM, que demitiu Hanna e
Barbera do estúdio. Após serem demitidos, a dupla que criou Tom & Jerry se
juntariam para formar uma sociedade criando o estúdio Hanna-Barbera Productions,
onde eles passaram a investir na animação para TV. Guarde bem esse nome
Hanna-Barbera, que mais para frente eu
vou voltar a menciona-la no tópico especifico voltado a fase em que a marcou o
retorno de Tom & Jerry as mãos de seus criadores ao ser produzida pelo estúdio criado por eles.
No começo dos anos 1960, logo após a demissão de Hanna e Barbera, como a MGM mantinha a propriedade intelectual da marca T&J, a MGM ainda quis investir em novos curtas da dupla ao ver que a Warner ainda fazia sucesso com os curtas dos Looney Tunes, em novas produções, portanto contratou como novo animador Gene Deitch(1924-2020), que contou com a produção de William L. Snyder(1918-1998) que é conhecido na cronologia da marca Tom & Jerry como o Período Gene Deitch(1961-1962).
Esse
período Gene Deitch é um dos controversos da marca T&J porque foi uma fase onde o “Tom era o mascote de um homem que
tinha problemas em controlar seus nervos e ficava facilmente irritado e furioso
quando o Tom causava algum problema (fato bastante visível quando seu rosto
ficava vermelho). O rato Jerry também morava em um buraco da casa, assim como
na época de Hanna Barbera, para o azar de Tom.
Os
desenhos produzidos por William L. Snyder e realizados por Gene
Deitch foram muito criticados de forma negativa por adotar um formato
totalmente diferente da série original, abusando da surrealidade, misturando
vários movimentos dos personagens extremamente exagerados, adição e efeitos
sonoros bizarros e utilização excessiva de reverberação, além de diversas
enfatizações gráficas. Alguns fãs detestaram e detestam esta fase de Tom
and Jerry.
Como
eram produzidos na chamada Cortina de Ferro (em Praga, capital da
então comunista Checoslováquia**) não constava nos créditos no fim dos desenhos
a frase "Made in Hollywood, USA", mas sim "A MGM Cartoon",
numa tentativa de esconder o local da produção.”
(Fonte:
Wikpédia).
Em
seguida veio uma nova produção ainda de curtas animados da MGM com a marca Tom
& Jerry, ainda nos anos 1960 produzidas pelo recém-egresso da Warner Chuck
Jones(1912-2002).
Batizado
na cronologia da marca Tom & Jerry de Período Chuck Jones(1963-1967).
“Jones
fez diversas adaptações dos personagens, mudando as suas personalidades e
fazendo algumas mudanças na aparência de Tom, que teve a sobrancelha mudada e
ganhou um tom de cinza mais claro semelhante ao da série original, e Jerry, que
teve os olhos aumentados, a orelha mais arredondada e uma cabeça mais
expressiva. O leão da MGM na abertura das curtas foi substituído por Tom,
tentando imitar os seus gemidos.”
(Fonte:
Wikipédia).
A
expressividade da dupla no traço de Jones lembrava muito as expressividades dos
personagens dos Looney Tunes que ele animava por muito tempo.
O
Período Chuck Jones da marca Tom e Jerry marcou a última fase dos curtas de animação para cinema.
Eis
que após passados um longo hiato, depois de muitas negociações, a dupla Tom
& Jerry voltaram para as mãos dos seus criadores Hanna e Barbera sendo
produzidos na Hanna-Barbera.
Desta
vez se adequando ao universo televisivo,
depois que Hanna e Barbera foram demitidos da MGM no final dos anos 1950, eles
se juntaram e formaram uma sociedade, criando a empresa Hanna-Barbera
Productions.
Onde
passaram a se concentrar no mercado televisivo. Passando a produzir produções
mais barateadas, porque o custo para se produzir uma animação é muito caro.
O
barateamento da Hanna-Barbera em produzir séries animadas como: Zé
Colmeia, Dom Pixote, Flintstones,
Jetsons dentre outros ganhou o rótulo de animação limitada. Que se trata de
uma técnica que usa movimentos e quadros
simplificados e repetidos para reduzir o tempo e o custo de produção de
animações, usando um número menor de
quadros por segundo, o que resulta em um desenho menos detalhado.
A
principal característica que os personagens que Hanna e Barbera criaram para a
televisão era o acessório da gravata que servia como uma forma de orientar os
animadores a só movimentarem a cabeça.
E
esse item foi adotado pelo Jerry usando uma gravata borboleta nessa fase em que a dupla “retornou” a seus
criadores, que nessa ocasião em que a empresa que eles criaram havia se firmado
no mercado televisivo, eles haviam deixado de lado o oficio criativo e estavam mais
se dedicando ao oficio executivo.
Foi
então que em 1975 estreou Tom & Jerry Show marcando a primeira fase
televisiva da dupla, onde quem passa a assumir o oficio criativo dos roteiros e
dos desenhos foi Iwao
Takamoto(1925-2007).
Que
na cronologia da marca Tom & Jerry é conhecida como o Segundo Período
Hanna-Barbera(1975-1977).
“Ao
contrário das demais séries nesta versão Tom e Jerry são amigos e
frequentemente estão envolvidos em aventuras juntos semelhante a outros
desenhos da época como Zé Colmeia ou Scooby-Doo. A série
não teve êxito, isto devido ao facto de não ter a violência e a rivalidade que
tinham antes e por causa disso foram lançados para à televisão apenas 16
episódios.
O
motivo da série ser mais leve do que as antecessoras era devido ao facto de
nessa época ( décadas de 70 e 80), ter havido um tratado para que não fosse
feita tanta violência e que o politicamente incorreto (drogas e racismo) já
fossem evitados em desenhos animados.”
(Fonte:
Wikipédia).
Eis
que agora chego ao foco desse texto que
é dedicado aos 45 anos da estreia de Tom & Jerry Comedy Show, que
foi uma produção da Filmation, portanto referida na linha cronológica da marca
como Período Filmation(1980-1982).
Marcando
a segunda vez que a dupla ganhava uma nova série animada para a TV, dessa vez pela concorrente da Hanna-Barbera.
A Filmation
foi fundada em 1962, já no período que os grandes estúdios de cinema haviam fechados seus departamentos de animação
e alguns animadores resolveram seguir o exemplo
de Hanna e Barbera em se concentrar no mercado da televisão e fundaram seus próprios estúdios.
Isso ocorreu com Friz Freleng(1906-1995) que já trabalhou para a Disney em seus
primórdios e trabalhou por um bom tempo na Warner, que após fechar o
departamento de animação. Ele se juntou a David Hudson DePartie(1929-2021) para fundar a
DePartie-Freleng Enterprises, responsáveis pela produção das animações de Pantera
Cor-de-Rosa.
Outros
que também seguiram esse segmento foram
Arthur Rankin Junior(1924-2014) que se juntou a Jules Bass(1935-2022) para
fundar a RankinBass e já no caso especifico da Filmation, essa empresa que
surgiu para concorrer com a HB Productions surgiu um pouco como consequência de
uma dissidência da HB.
Digo
isso porque os três fundadores da Filmation eram recém-egressos da HB, formados
por: Lou Scheimer(1928-2013), Norm Prescott(1927-2005), que assinaram a
produção executiva de Tom & Jerry Comedy Show e Hal
Sunderland(1929-2014).
A
Filmation era a grande rival da Hanna-Barbera no mercado de animação para
televisão, depois que os setores de
animação dos grandes estúdios foram fechados. O único a se manter operando foi a Disney, que viveu uma turbulenta fase depois
da morte de seu fundador Walt Disney em 1966, onde para diminuir custos de
produção a Disney produzia suas animações nessa fase com a técnica de
xerografia. Muitas das que foram lançadas durante essa época figuram entre mais
esquecidas da Disney.
Enquanto
que na televisão esse setor estava em alta com produções de baixo orçamento criando
com a técnica de animação limitada, como é o caso da
Filmation que produziu muitas animações que eram adaptadas de outras
propriedades intelectuais, como a versão animada da Liga da Justiça, inspirada nos
heróis da DC Comics, por exemplo. Ou mesmo fazendo uma série animada inspirada
na série Jornada nas Estrelas.
Essa
versão da Filmation de Tom e Jerry que contou com a direção de Don Christensen(1916-2006)
“conseguiu restaurar o formato familiar de perseguição de palhaçada e
reintroduziu não apenas Tyke e Nibbles (aqui chamado
"Tuffy"), mas também algumas das outras estrelas da MGM. Os programas
de meia hora consistiam em dois episódios de Tom e Jerry de sete minutos, além
de um desenho animado Droopy no meio, com outros personagens como
Barney Bear.
Spike de
Tom e Jerry também foi usado em muitos desses episódios de Droopy, substituindo
o outro bulldog "Spike" criado por Tex Avery³(1908-1980) para
os filmes antigos de Droopy****, que não foram usados aqui como personagem
separado. O lobo vilão da série clássica também foi incluído e nomeado
"Slick Wolf". Ainda sob o "Code of Practices for Television
Broadcasters" , a personagem " Red Hot Riding Hood" não
reapareceria até o seguinte feito para a série de TV Tom & Jerry Kids,
em 1990.”
Essa
fase de Tom & Jerry na Filmation também marcou por trazer de volta a
característica dos personagens humanos não mostrarem o rosto como ocorria com a Mammy na fase dos curtas
clássicos. Toda vez que a gente ouvia um
episódio de Tom tentando perseguir Jerry em uma mansão, a gente ouvia a interrupção do grito do(a) dono(a) se
chateando com ele, mas não víamos o rosto, apenas a metade do corpo mostrando
os pés. A razão para isso pode ser explicado pelo simples fato de que era para focar na perspectiva dos animais e
evitar que os espectadores se distraíssem com o rosto humano, o que também
tornava a personagem mais universal e atemporal. É como se os animais mostrassem uma ótica mais infantil na interação com os humanos.
Essa
versão de Tom & Jerry da Filmation também se caracterizou por sua curiosa
abertura que “começa com Tom perseguindo Jerry através de uma tela amarela
em branco. Eles continuam perseguindo, enquanto todas as outras estrelas
constroem um gigante sinal de "Tom & Jerry" (semelhante à segunda
abertura de Tom & Jerry Kids ). O familiar crédito de produtor
executivo rotativo de Lou Scheimer e Norm Prescott corre brevemente enquanto
Tom persegue Jerry passando pela tela, derrubando coisas e atropelando outras ao
longo do caminho. Após a sequência de abertura, os segmentos envolventes, protagonizados
por Droopy, começariam. Ele começaria pintando todo o fundo com uma única
pincelada grande (fazendo uso estilístico da técnica de "animação limitada"
característica da Filmation), e ele e os outros personagens falantes se
envolveriam em breves esboços cômicos (como o poema de abertura de Droopy em um
deles). "Rosas são vermelhas, violetas são azuis, pintar é meu trabalho, é
isso que eu faço; fofa e um pouco molhada").”
Outro
característica marcante dessa fase de Tom e Jerry da Filmation, que costuma
dividir um pouco as opiniões é sua trilha sonora que contou com a assinatura de
Ray Ellis(1923-2008), onde “o show foi caracterizado por uma partitura muito
limitada; todos os episódios, Tom & Jerry e Droopy, usaram o mesmo
material, principalmente criados novos para a série, mas consistindo em apenas
um punhado de canções amplamente sintetizadas, com pequenas variações ou
reproduzidas em diferentes velocidades ou afinações. Isso combinou com as cenas
de perseguição, mas deu aos episódios uma trilha sonora muito monótona, fazendo
com que esses episódios "se destacassem" para muitos telespectadores
de Tom e Jerry quando eles foram ao ar.”
As
mesmas músicas sendo repetidas a cada hora da cena chegavam a gerar uma certa
dor de ouvido.
O
seu roteiro contou com as assinaturas de Jack Hanrahan(1923-2008), Steve Clark,
Mike Joens, Charlie Howell dentre
outros.
Depois
disso viriam outras produções posteriores da marca Tom & Jerry.
Em
1990 foi lançado Tom & Jerry Kids, com os personagens em versões
mirins entrando na tendência de versões kids de outros célebres personagens da
animação.
Em
1992, a dupla retornou a tela do cinema em um longa-metragem onde mostrava eles
se dialogando pela primeira vez, e ao longo dos anos foram surgindo outras
versões da marca para renovar as gerações.
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