sábado, 17 de agosto de 2013
CINE-HISTÓRIA: GUERRA DE CANUDOS.
Em 2008, escrevi um relatório sobre o filme “GUERRA DE CANUDOS”, na época que eu estava na faculdade graduando o Curso de História na UNP, do qual meu professor exibiu em sala de aula. E pedia para a gente escrever e abordar os aspectos sociais, políticos e econômicos, de quando paguei a disciplina de História do Brasil-II no primeiro semestre daquele ano. Fiz umas corrigidas e umas modificadas para poder compartilhar com vocês. Espero que gostem.
O filme “Guerra de Canudos” é uma produção brasileira de
1997. No ano do centenário do acontecimento, dirigido por Sergio Rezende. Retrata de forma didática e um tanto realística quanto fantasiosa os horrores dessa guerra civil ocasionada no sertão da Bahia no final do século XIX. No filme, vê-se através da família de Zé Lucena(Paulo Betti), personagens fictícios da trama mostrando como era difícil o modo de vida rotineiro do sertanejo convivendo com a seca no período de 1893, pouco tempo depois da Proclamação da República, mostrando primeiramente pelo aspecto econômico os altos impostos que eles tinham que pagar para o Governo. De forma até que os soldados tinham que levar as suas vacas, e ousassem contestar as autoridades deles, seriam agredidos fisicamente e eles tinham o costume de serem muito ligados a fé, e isso fica bem evidente numa cena em que o Guarda comenta assim “Se não gostarem então peça uma petição para o Presidente Marechal Floriano Peixoto, ou seja o que Deus quiser”*, então Penha(Marieta Severo), mulher de Zé Lucena diz assim para os Guardas: “Deus nunca tomou o que é meu “*, então Zé Lucena os chama de ladrão, o que acaba não adiantando muita coisa e eles então levam os seus bois, mostrando assim o quanto que foi dura essa forma desumana e autoritária, que costumava agir o Regime Republicano em seus primeiros anos depois de instaurado, é nesse momento de insatisfação do pobre sertanejo com o governo republicano que surgi Antonio Conselheiro um homem conhecido por ser um Messias, um andarilho que prega as mensagens do evangelho, que nasceu no interior do Ceará, tentou entrar na Igreja para assumir um cargo clerical, mas não conseguiu e depois de ter vivido muitos dramas pessoais, a morte da mãe, o maltrato da madrasta e vendo sua mulher lhe trair com um soldado, foi ai então que ele se revoltou de vez e virou algo que o filme retrata muito bem nesse aspecto religioso a imagem das pessoas pobres e analfabetas do Sertão vivendo na esperança de encontrar um Salvador, a pessoa que seria iluminada e divina que iria resolver todos os seus problemas, e esse homem que se tornou o ícone do movimento foi Antonio Conselheiro(José Wilker). Todos da família de Ze Lucena vão fazer parte das andanças de Antonio Conselheiro, menos Luiza, que resolve ir em busca de um outro lugar para morar e encontra um bordel.
Era por meio desse aspecto social que o filme retrata bem, os pobres sertanejos recorrerem ou mesmo a figura de homem divino, superior, que seria a representação de Deus na Terra, o filme também mostra num dialogo entre Zé Lucena e sua mulher Penha já vivendo na comunidade antes chamada de Belo Monte, a Canudos comentando que ali é um ótimo lugar, que teria escolas para os seus filhos estudarem, o que mostra que Antonio Conselheiro chegou sim a investir na educação e foi o orador das escolas, um contraste com a imagem de que ele representava de um homem analfabeto e ignorante. Numa cena em que Conselheiro vai em suas andaças com o povo, antes de criar a comunidade de Canudos, passando aos Guardas dos impostos, o guarda olhando para ele diz: “O Beato bem que poderia pedir aos seus fieis para pagar os impostos em dia”, é então nesse momento que Antonio Conselheiro dá a sua opinião critica sobre a República chamando-a de o Anti-Cristo, criticando a respeito da separação da Igreja do Estado, da União Civil e principalmente a alta taxa de cobranças de impostos, de uma forma bem desafiadora para os Guardas, o que deu exatamente a impressão, uma conotação de que ele fosse um monarquista.
O filme vai se desenvolvendo mostrando também na cena do bordel onde Luiza(Claudia Abreu), filha de Zé Lucena estava vivendo, no dialogo do Barão de Uauá, dono do bordel com alguns de seus clientes a respeito da insatisfação dos latifundiários, um aspecto econômico que o filme também explora, ao estarem perdendo os seus subalternos, os seus capatazes, que foram morar na cidade construída por Antonio Conselheiro, chamada de Belo Monte, que os soldados viriam a denominar de Canudos, devido a uma planta típica da região que tinha um formato de cano, com a insatisfação dos poderosos terem perdido os seus subalternos para irem morar nessa região e mais o fato de que os políticos da capital da República temerem que ali fosse construído uma Monarquia, já que Conselheiro era simpatizante e na cena do filme em que desafia a autoridade dos Guardas da República que estavam cobrando altos impostos num mesmo vilarejo onde ele e a multidão estava passando andarilhando pelo sertão, faz uma referência a Dom Pedro I, e os acusa de ser a Republica a responsável pela abdicação e renúncia do trono divino, mostrando assim sua posição anti-republicano, mostrando o aspecto político do movimento.
Uma parte que o filme não mostra, era a insatisfação da parte também do Clero, estava perdendo um grande número fiéis por conta do fato de que a maioria dos pobres sertanejos acreditavam que poderiam terem uma vida melhor morando num vilarejo liderado pelo homem santo da Terra, o Salvador, esse também um aspecto sócio-religioso. Uma outra coisa interessante que o filme mostra era como a Primeira e a Segunda Expedição do Exercito Republicano foi desastrada pelo fato de que como os soldados não tinham conhecimento do local, eram surpreendidos levando balas dos jagunços que se camuflavam dentro da caatinga, assim sendo um fracasso.
Na Terceira Expedição liderada por Antonio Moreira Cesar(Tonico Pereira), que também foi fracassada já que o Coronel Moreira Cesar, estava com a saúde muito debilitada, e acabou morto por um tiro dos jagunços, mostrando em uma cena que Antonio Conselheiro em frente a uma das igrejas criadas em frente, comenta para toda a população a respeito do que a imprensa tem noticiado que eles estavam recebendo apoio de monarquias estrangeiras para vencerem e ele se refere ao Coronel Moreira Cesar, como o cão, o filho do cão, o pai do cão, por Moreira Cesar ser conhecido como corta-cabeças, o homem mais controverso do Exercito Brasileiro, que já havia participado de uma Expedição Militar a Santa Catarina e lá degolou a cabeça de muitos revoltoso, já foi condenado por cometer crimes de degolas contra um oficial, que o levou a suspensão, e depois de Proclamada a República acabou sendo anistiado, entre outros mistérios por trás da contraditória participação de Moreira Cesar nessa expedição.
Em uma cena do filme em que o Coronel Moreira Cesar fica dentro do seu acampamento conversando com um de seus soldados, que é um dos protagonistas do filme Luis da Gama(Selton Mello), ele desabafa totalmente fora-de-si, o seu desejo de prender Antonio Conselheiro e cortar sua cabeça e mostrar para todo mundo o que é a verdadeira Monarquia “LOUCURA”* e nessa hora depois cai totalmente doente e desnutrido, e no dia seguinte movido pela vaidade e pelo desejo e prender Conselheiro ignorando sua saúde frágil, insisti em se aproximar dos jagunços para poder destrui-los até o momento em que é atingido e acaba sendo morto. Mostrando bem por quais motivos as três primeiras expedições acabaram sendo fracassadas por conta exatamente do fator físico-geográfico, os soldados estavam cansados e desgastados por causa da longa caminhada que faziam até o local da batalha, passavam longos dias sem comer, sem beber, viviam uma precária situação de higiene, alem do que pelo fato de não terem estudado o local, eram sempre surpreendidos com ataques dos jagunços que se camuflavam no meio da Caatinga, essa situação é bem retratada numa cena em que os soldados chegam desesperados na casa de Luiza e Arimatéia(Tuca Andrada), agindo como se fossem ladrões tentando saquear a comida deles, pelo desespero de terem ficado dias caminhando sem comer, nem beber, e em outra cena retratam eles sendo surpreendidos pelo ataque dos jagunços se camuflando na Caatinga.
O filme também contém outros personagens fictícios, como o jornalista Pedro Martins(Roberto Bomtempo), que atua na guerra como correspondente de um jornal carioca, em muitas cenas em que o personagem faz uma narração relatando sobre a difícil sobrevivência dos combatentes, que passavam dias sem comer, que na hora de serem atendidos para curarem seus ferimentos da guerra, também morriam ao contrair epidemias, devido ao péssimo estado de saneamento do local, nessas frases que o personagem Pedro Martins narra são de relatos de Euclides da Cunha, que foi testemunha ocular do acontecimento e relatou em sua obra mais conhecida chamada de OS SERTÕES(1902), e de outro jornalista que foi correspondente do acontecimento, em uma cena em que ele se discuti com o Coronel Artur Oscar(José de Abreu), o jornalista comenta de forma indignada, a respeito dele mandar censurar as suas noticias que ele escreveu onde ele fazia uns comentários muitos críticos sobre a sua competência no comando, sobre a vida difícil do seu exército, e a forma horrorosa como viu a guerra, que na opinião do jornalista eles independentes de serem monarquistas, eles estavam protegendo a sua moradia, já que os soldados republicanos os viam não como pessoas não civilizadas, estes mesmos achavam que a República era liberdade, tinha o ideal de iluminar de todo mundo e nos tornar livres, é a descrição do soldado Luis da Gama do comentar isso na passagem onde se encontra pela primeira vez com Luisa e Arimatéia, onde justifica o porque que foi para lá, que para trazer “luzes da civilização"* e que isso era o ideal da Republica para eles em teoria, mas que na prática a forma de agir deles contradizia totalmente com o momento inicial que a República estava vivendo, mostrando o quanto que eles queriam manipular a opinião publica mostrando eles, os soldados posando de heróis, e os pobres dos jagunços como os vilões, gente selvagem e bárbara.
O filme termina mostrando a expdição do Coronel Artur Oscar dando fim a cidade, tirando-a totalmente do mapa, devido ao pesado armamento utilizado na época que foi o que desencadeou o fim total de Canudos, sobrando apenas quatro pessoas, três homens e uma criança, no final do filme o Coronel Artur Oscar ao voltar de sua vitória mostra a cabeça decepada de Antonio Conselheiro dando a impressão de que eles conseguiram matá-los a tiros de chumbos, para mostrarem a todos que passasse se vangloriando desse feito, que na verdade a morte de Antonio Conselheiro ocorreu de forma natural, porque ele contraiu uma diarréia, e os soldados ao verem já morto e enterrado, o desenterram da sepultura para depois exporem na Faculdade de Medicina de Salvador, para mostrar que a idéia que a “Loucura, a Demência e o Fanatismo estariam estampados nas misturas de raças e nos traços faciais característicos do Monstro dos Sertões”**, e também mostra uma situação muito interessante que entre os que restaram para proteger o local, tem um negro, que comenta que já ter se libertado três vezes, a primeira pela Princesa Isabel, a Segunda por Antonio Conselheiro e a Terceira que seria no paraíso, mostrando bem que entre as pessoas que foram seguidoras de Antonio Conselheiro haviam também ex-escravos. O filme transmite de forma peculiar e didática tanto pela realidade quanto pela fantasia, os horrores de como o conflito e o modo de vida do pobre homem sertanejo pelo aspecto social, político, econômico e incluindo também o religioso com umas doses de licenças poéticas foram os grandes responsáveis por colocarem Canudos do mapa uma região do sertão nordestino e foram também responsáveis por estamparem o seu nome nos livros didáticos escolares.
FONTE:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Canudos_%28filme%29
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-118416/
http://meuartigo.brasilescola.com/historia-do-brasil/resenha-critica-guerra-canudos.htm
* Frases do filme.
** Frases do diretor Sergio Resende narrada no DVD do filme.
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