quarta-feira, 27 de outubro de 2021

COLÔNIA DE SACRAMENTO - EDUARDO BUENO

  

"Colônia de Sacramento é um ponto tão fundamental para a trajetória da América do Sul que deveria ser considerada como a capital histórica do Mercosul. Motivo de quase 150 anos de guerras entre Portugal e Espanha, a Colônia semeou a rivalidade entre Brasil e Argentina e, de quebra, acabou sendo a responsável pela criação do Uruguai (que serviria como uma espécie de Estado-tampão para separar os dois irmãos briguentos). Conheça agora a sinuosa história da Colônia de Sacramento, narrada daquela forma épica que só o Eduardo Bueno consegue: com som e fúria, e significando tudo."

terça-feira, 26 de outubro de 2021

domingo, 24 de outubro de 2021

O INCIDENTE SEMELHANTE OCORREU NO FILME O CORVO(1994)

 

Nesses últimos dias tem se comentado bastante sobre o incidente ocorrido na sexta-feira, 22 de Outubro de 2021, durante as filmagens de Rusty, o faroeste produzido por Alec Baldwin, cujo disparo numa cena atingiu duas pessoas da equipe, o seu diretor e a sua diretora de fotografia, que não sobreviveu.




Esse incidente fez muita gente se lembrar de uma situação semelhante ao que ocorreu nas filmagens de O Corvo(The Crow, EUA,1994). Em que o protagonista Brandon Lee morreu durante a gravação de uma cena de tiro de uma bala de verdade e não de festim,   ocorrida no dia 31 de Março de 1993, com apenas 28 anos.




E coincidentemente  por estarmos  neste clima de Halloween, resolvo aproveitar para entrar no clima comentar um pouco sobre esta obra, bastante sinistra, muito mais lembrada e assimilada pelo trágico acidente que matou seu protagonista do que de fato pelo seu enredo.




Baseado  numa HQ de James O´Baar, cuja obra ele criou após passar por  uma grande fatalidade em sua vida pessoal. Em 1978, sua namorada morreu num fatídico acidente de carro quando estava indo de carona em direção a sua  casa quando este carro que ela estava foi atingido pelo veículo   de um motorista embriagado resultando na morte dela. Este fato trágico o deixou bastante abalado a ponto de durante o período em que estava na Alemanha prestando serviço militar  passou a desenhar isto como uma forma terapêutica de extravasar  os seus sentimentos agoniantes. O que desta forma  originou a HQ publicada em 1981 por um selo independente.




O filme gira em torno da história do roqueiro Eric Draven(Brandon Lee) retornando do mundo dos mortos com a ajuda de um corvo,  para acertar as contas com os seus assassinos pertencentes a uma gang local liderados por Top Dollar(Michael Wincott) que invadiram o seu apartamento numa noite de Halloween. E lá foi bastante espancado, torturado e sofreu muitos tiros, não só mataram  como também sua namorada Shelly(Sofia Shinas).

E é por causa desse corvo que um ano depois ele é ressuscitado, para ir um por um  eliminando os caras que o assassinaram e o seu líder para cumprir a sua vingança, cujo  rastro que ele  vai deixando,  chama a atenção da polícia, principalmente do Sargento Albrecht(Ernie Hudson).




O filme contou  com a direção de Alex Proyas, cujas tomadas de liberdade que ele imprimiu no filme com relação ao material original foi nos excelentes planos panorâmicos noturnos dos prédios urbanos  cheios de sombras que trazem todo um clima atmosférico sombrio, em tomadas que exploram bem a poluição mostrando fumaça em conjunto com o design de produção, principalmente da fotografia que explora muito bem as paletas de cores pretas e brancas e evocando também os elementos mais hardcores, undergorunds, gunges, punks, góticos, mostrando a urbanização suja, podre, corroída pela criminalidade, fora a suavizada que ele procurou colocar na história, principalmente na personalidade do protagonista que nos quadrinhos carregava um perfil vingativo que beirava a loucura a níveis  esquizofrênicos e de porra louquices, aqui no filme ele o amenizou com um perfil heroico  explorando o seu lado integro de sua humanidade, principalmente quando ele interagi com duas figuras importantes  como a menina Sarah(Rochele Davis) e o Policial Albrecht(Ernie Hudson) que os auxiliam bem  na condução da sua jornada vingativa. A Sara inclusive é quem narra a história por sua ótica.  Junto dos figurinos dos personagens evocarem bem esta característica. Bem casado com a trilha sonora que traz no repertorio da trilha sonora músicas de muitas bandas do Heavy Metal e do rock alternativo do cenário mais grunge, como The Cure, Pantera, Stone Temple Pilots dentre outros.  Brandon  Lee faz um desempenho excelente no papel principal incorporando em cena como o Eric as suas diferente camadas, o deixando crível. Pena que sua fatídica morte precoce nos bastidores das filmagens faz com que muita gente o assimile mais a este fatídico acontecimento do que pelo conjunto da obra. E isto pode ser percebido se você  for buscar na internet e pesquisar no Google sobre o filme, vai haver uma infinidade de referências a sites   ou mesmo a canais do Youtube que abordam justamente por esta referência ao filme. Principalmente sobre a atmosfera de estar amaldiçoado. Pois, além de sua morte, o filme também  ficou marcado por outros incidentes na produção, como a morte de um técnico eletrocutado. O fator maldição também ocasionou nas teorias de conspiração pela morte  do  Brandon Lee coincidir com os vinte anos da morte de seu pai Bruce Lee(1940-1973), astro dos filmes de Kung Fu, que morreu vítima de um edema cerebral semanas antes de estrear o seu filme Operação Dragão,  e estava começando a filmar  o seu quinto incompleto Jogo da Morte que só estreou em 1978.  E O Corvo também foi o quinto filme da carreira de Brandon Lee, sendo o primeiro como protagonista para alavancar sua carreira. Como se não fosse o bastante dessas coincidências macabras e sinistras, muitos colocam a ideia conspiratória da perseguição da máfia chinesa envolvida no meio, ainda mais numa história onde seu protagonista foi morto de verdade    durante a filmagem da morte tenha ocorrido justo na cena onde seu personagem Eric reaparece dos mortos com a ajuda de um Corvo que passa a virar os seus olhos e ele o segue em sua jornada toda do filme perseguindo os caras que o assassinaram, e os seus mandantes para um acerto de contas. Enfim, o que posso resumir de tudo isso é que se não fosse esta tragédia da morte de seu protagonista, com certeza, o filme não ficaria estigmatizado para sempre por este episódio. Que é mais levado em conta do que propriamente se for avaliado no quesito técnico por todo o conjunto da obra. Principalmente na sua brilhante estética gótica, com ares grunge e com uma atmosfera pessimista, onde além de contar com a excelente atuação de Brandon Lee no papel principal cuja maquiagem pálida que ele adota com manchas pretas na boca e nos olhos fez bem ele ficar com um toque gótico e assombroso. Também merece destaque a participação do Ernie Hudson, o  eterno Winston de Caça-Fantasmas,  neste filme ele fez o papel do Sargento Albrecth, que mesmo sendo secundário, ainda assim mostrou que tinha uma função bastante relevante e com muito pessoa  para a história. Mais ou menos o equivalente ao Comissário Gordon do Batman, principalmente no tom mais detetivesco. 

Destacar também o desempenho da menina Rochelle Davis, defendeu muito bem o papel da Sara, a menina por quem ele e sua amada Shelly já eram bastante afeiçoados quando estavam vivos, a atriz mostrou uma boa performance madura para a personagem, para a pouca idade que tinha na época, com apenas 12 anos. Ainda mais pelo drama   dela viver num lar bastante disfuncional, principalmente por ser  “órfã” de pai e criada só pela mãe Darla(Anna Thomson), uma mulher que trabalha como garçonete de um bar, mas vive uma vida porra louca se drogando e se envolvendo com gente errada, dentre esses um dos caras que assassinou Eric Draven.

E Michael Wincott na pele do Top Dollar, o grande vilão da trama também se mostrou incrível fez uma entrega excelente ao papel de um sujeito bastante detestável, frio, calculista, ganancioso, um psicopata que não sente o menor remorso a quem ele manda matar.

A quem tiver interesse em conferir esse filme, ele encontra-se disponível completo no Youtube.   

 

terça-feira, 19 de outubro de 2021

O julgamento por combate na Idade Média | Nerdologia

  

"No Nerdologia de hoje, vamos falar sobre os julgamentos por combate, sua origem, sua prática e a sua abolição. "

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

CONHECENDO CUBA POR ELA MESMA COM O FILME MORANGO E CHOCOLATE.


 


 

 

Nestes tempos em que temos visto tanta pregação de ódio aos diferentes com toda esta polarização política com este desgoverno e lidando com o medo da COVID-19. É bem apropriado comentar de um filme que traz este tipo de abordagem de uma forma até sutil como é no caso do cubano Morango e Chocolate (Fresa y Chocolate, Cuba, Méx, Esp, 1994)  dirigido por Tomás Gutierrez Alea(1928-1996) e contou também com a direção de Juan Carlos Tabío(1943-2021).  O enredo de Morango e Chocolate ambienta-se no ano de 1979, na capital Havana. Gira em torno do jovem universitário David(Vladimir Cruz), ainda não muito conformado com o fim de seu noivado. Conhece um dia, numa sorveteria Diego(Jorge Perrugorría), um artista assumidamente gay e descontente com o regime castrista.




 

Diego tenta diversas vezes se insinuar para David tentando obter alguma conquista, só que ele se mostra resistente. Será nesse encontro casual, o ponto inicial para o desenvolvimento da trama.

 


David se sentindo forçado resolve acompanhar Diego até sua casa, lá fica admirado e ao mesmo tempo espantado com a quantidade de livros que ele adquiriu nas prateleiras da sua casa. O impressionante  detalhe explorado nesse momento do filme  é quando o estudante universitário David explica para  Diego que boa parte desses livros ele nunca tinha lido e nem muito menos ouvido falar, porque eram obras proibidas, censuradas pelo sistema. Será nessa e em muitas outras cenas mais para frente de David visitando a casa de Diego, que será observado uma sútil crítica de como a população cubana lida rotineiramente com a opressão imposta pela ditadura castrista.




 

E um desses momentos muito frequentes no filme, é quando Diego ao ler um dos livros em voz alta para David, liga um som com toca-fitas em um volume altíssimo, o motivo era para os vizinhos não ouvirem aquela sua leitura, porque se o ouvissem os denunciariam para o Governo.




 

Também será no decorrer e desenrolar do filme que irá aparecer uma terceira protagonista Nancy(Mirta Ibarra). Uma mulher cuja profissão não é bem esclarecida, há quem pense que ela se trate de uma prostituta como bem sugere uma cena dela recebendo grana de uma garota de programa. Tudo em torno de Nancy é um enigma. Vai ser a Nancy a responsável por conquistar o coração de David, coisa que Diego não consegue, mas no entanto Diego consegue obter uma conquista muito melhor de David, que é a amizade e o respeito. Especialmente quando este resolve defende-lo de uma briga onde ele sofre uma imensa discriminação por sua orientação sexual.

 


 

A trama do filme de Alea pertence ao gênero de uma comédia dramática, que fez história por ser o primeiro filme a representar  Cuba na disputa do Oscar de 1995 a categoria  de melhor filme estrangeiro,  onde perdeu para o russo O Sol Enganador. Venceu vários prêmios em festivais,  entre eles  o Festival de Berlim como o Teddy, Urso de Ouro e o Urso de Prata e o Prêmio do Público e o Kikito de Ouro no Festival de Gramado. Esse filme  foi o penúltimo dirigido pelo Alea, que um ano antes de morrer dirigiu Guantanamera(Cuba, Alemanha, Espanha, 1995).  Considerado o nome de maior expressividade na ilha caribenha, que além desse também carrega um extenso currículo de outros bons filmes já dirigidos.




Em Morango e Chocolate,  dá para perceber, alguns interessantes detalhes que moldam e pincelam o retrato incoerentemente mascarado  de um país que há 50 anos é regido por um sistema de governo que teoricamente segue os princípios do socialismo criado por Karl Marx(1818-1883), onde defende os princípios de uma sociedade igualitária e mais justa, mas que na prática a coisa é completamente diferente.




 

Os três protagonistas do filme: David, Diego e Nancy defendidos brilhantemente pelo elenco enxuto,  pincelam de maneira sucinta, o retrato mascarado da realidade envolvendo esta ilha caribenha, admiradas por muitos como bom  exemplo no sistema educacional, na saúde e também no incentivo aos esportes.




 

Mas que apesar de ser um bom exemplo, também tem lá suas imperfeições que são ignoradas. O universitário David defendido com maestria por Vladimir Cruz , por exemplo, faz uma sutil crítica a maneira como o sistema educacional no país é ao mesmo tempo exemplar, fazendo com que a ilha caribenha tenha o menor índice de analfabetismo. Também carrega uma característica dúbia em relação quanto ao governo só permitir que as escolas ensinem o que seja favorável para eles, o que não for é proibido. Isso explica o motivo pelo qual David ficou bastante surpreso ao olhar e tomar conhecimento através de Diego de livros que ele nem imaginava existirem. Diego, representado brilhantemente por Jorge Prerrugorría pincela um retrato curioso, representando uma camada da população da ilha que poucos conhecem ou nem mesmo imaginam ocorrer nesse lugar que segue há 50 anos um sistema político que teoriza a igualdade.  São as camadas dos gays que lidam com o preconceito. Difícil acreditar? Mas, infelizmente o filme aborda através de Diego a visão dúbia que até num país como Cuba também ocorre a prática de preconceito, em especial o homofóbico.



 

E por fim, a Nancy defendida perfeitamente  por Mirta Ibarra, a viúva do diretor Tomás Gutierrez Alea,  pincela um retrato curioso de uma camada social cubana, como  descrevi acima, ela é bastante enigmática e a explicação para isso está no fato da personagem representar  um retrato de uma agente do Governo Cubano infiltrada em determinados bairros para colher informações sobre supostos subversivos, e o Diego era quem ela tinha a missão de ficar observando. A primeira vez que Nancy aparece no filme é na curiosa cena dela sofrer uma queda de pressão na rua e é socorrida pelos dois que a colocam numa ambulância e ao chegarem num hospital para onde Nancy é atendida, ocorre uma outra visão crítica e cômica a respeito da incoerência  do país que representa o melhor exemplo de competência na área da saúde, exportando até médicos para outros países, em seu próprio território os hospitais viverem numa carência e escassez tecnológica, como bem é mostrado na cena de Nancy ao ser atendida para receber uma transfusão de sangue, e para Diego e David conseguirem isso descobrem que o grande obstáculo é a falta de aparelhos e seringas necessárias para isso.

 

Também é curioso ver uma cena onde Nancy faz uma reza para os santos, se benzendo em banho de água benta pedindo para ter David aos seus braços. O que representa uma interessante visão de mesmo o país sendo regido há 50 anos por um regime totalitário ateu,  ainda existe uma boa parte da população mantém preservado a fé e ainda alguns costumes religioso  de mantê-la viva, como faz Nancy. E a própria mostrar que nesse país também se pratica a prostituição, apesar de ser exemplar em tudo.

 

 

Tenho de admitir que Morango e Chocolate foi o primeiro contanto com um filme cubano. Na primeira vez  que assistir a este filme que foi numa sessão alternativa promovido por Antonino Cordorelli no projeto Café com Cinema no auditório da  antiga livraria PotyLivros ocorrido em 2012. Naquela ocasião, durante os debates ocorrido após o fim da sessão  tanto o coordenador do evento quanto alguns presentes  haviam compartilhados suas experiências de quando foram   visitar Cuba por motivos de trabalho e lá relataram de terem se deparado com situações idênticas que sucintamente pincela, a outra face da Cuba castrista.  Foi bastante curioso ouvir relatos, seja da plateia, ou mesmo, do próprio Antonino Cordorelli, o responsável pelo evento. Alguns detalhes curiosos sobre como a população lida diariamente com a opressão desse governo totalitário, e uma das maneiras como eles procuram driblar como o filme bem mostra em tom de crítica muito sutil  na cena de Diego lendo para David em voz alta é ligando o som alto para os vizinhos não ouvirem e o denunciarem. Foi durante a discussão, que ouvi os exemplos das populações driblarem seja em espaço público   ou mesmo dentro do lar através de códigos.

 

 

Morango e Chocolate trata-se de uma primorosa obra-prima para a gente analisar as coisas que a gente acredita como verdade com outros olhos. E principalmente refletir que o acesso ao conhecimento da maneira que for nos abre a cabeça.   É um interessante filme que serve para a gente conhecer e entender um pouco da realidade cubana, independente de qual ponto de vista for analisado. Uma coisa é certa: Morango e Chocolate defini Cuba por ela mesma.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

GUERRA DA DEGOLA: REVOLUÇÃO FEDERALISTA DE 1893 - EDUARDO BUENO

  

"A degola é "rápida, silenciosa e barata" e foi muito através dela que mais de 10 mil pessoas foram assassinadas durante a Revolução Federalista de 1893. Conhecido popularmente como Guerra da Degola, o conflito tomou toda a região sul de 1893 a 1895, consolidando-se como a maior guerra civil da história do Brasil. Se formos considerar suas consequências e desdobramentos, podemos dizer que foi, também, a mais longa guerra do país. Tire as crianças da sala e vista seu avental de açougueiro para conhecer essa sangrenta história de um jeito que só o canal Buenas Ideias poderia contar. "

terça-feira, 12 de outubro de 2021

História da evolução da TV e seu impacto tecnológico e social | Nerdologia

   

"No Nerdologia de hoje, vamos falar sobre a história da evolução da TV, os primeiros aparelhos e seu impacto tecnológico e social."

domingo, 10 de outubro de 2021

NOS 25 ANOS SEM RENATO RUSSO: RESENHA DO FILME FAROESTE CABOCLO(2013)

 

 

25 ANOS SEM RENATO RUSSO:

CRÍTICA AO FILME FAROESTE CABOCLO INSPIRADO NA SUA CANÇÃO.

 





       No dia 11 de Outubro de 1996, falecia precocemente aos 36 anos, perdendo a batalha para a AIDS,  Renato Russo, o mais célebre ícone da música brasileira com suas poéticas letras transgressoras que o simbolizou do mesmo modo como Cazuza(1958-1990) também simbolizou para a geração jovem dos anos 1980, que não por acaso também faleceu precocemente sendo que Cazuza estava  com 32 anos,  seis anos antes de Renato Russo, também  por causa da AIDS, como os porta-vozes do que a sua geração estava precisando num cenário sociocultural, político e econômico brasileiro  dos mais delicados e caóticos que estava passando, fim da Ditadura Militar, Alta Inflação e o desejo de poder votar eram um dos fatores que marcaram a história do Brasil nesse período. Aproveito essa data para compartilhar o meu  texto de resenha crítica ao filme Faroeste Caboclo  que foi inspirado na canção homônima de Renato Russo. Esse texto eu havia escrito para o meu outro blog de cinema  que postei em 2018 após conferir ao filme quando estava disponível na Netflix. No momento que estávamos  passando no cenário conturbado da eleição presidencial. Agora eu darei aqui  umas atualizadas  com uns incrementos no final. Confiram que vocês vão compreender.



 

 

Sempre que se menciona o nome da  Legião Urbana, a principal referência  que deve vim a cabeça de muita gente  é o fato dessa banda simbolizar um estilo musical de som pesado apresentar  umas letras de tom anárquico e transgressor,  cujo principal objetivo era  protestar com duras críticas pesadas à política brasileira. Especialmente no contexto dos anos 1980, onde estávamos passando por uma transição do fim  da Ditadura Militar para a entrada da  Nova República, este estilo de música com som pesado do rock e com letras provocativas representaram um importante legado para a nossa  cultura e são bem atemporais. Basta você ouvir “Que pais é esse” uma  canção  lançada há mais de  30 anos   e você vai observar  como a letra dela   ainda consegue refletir ao nosso tempo atual ainda mais nessa polarização causada pelo desgoverno do nosso atual presidente então nem se fala, um negacionista que deixou cometer o genocídio com esse coronavírus. E uma dessas canções em especial  que inspirou o filme que será abordado aqui em questão  é Faroeste Caboclo(Brasil, 2013).  




 

Com direção de René Sampaio, produção da Gávea Filmes e roteiro adaptado por Victor Atherino e Marcos Berstein.  O filme conseguiu bem traduzir através das cores e das  imagens o que a música composta pelo vocalista da banda  Renato Manfredini Júnior(1960-1996), mais conhecido artisticamente como Renato Russo, cuja origem do sobrenome artístico ele  escolheu como homenagem  a grandes intelectuais que admirava como o filosofo inglês Bertrand Russel(1872-1970), além desses, também admirava o filósofo suíço Jean Jacques Rosseau(1712-1778) e o pintor francês Henri Rosseau(1844-1910) também inspirações para o seu nome artístico. Carioca, nascido no berço de uma família  de classe média,  que se mudou para Brasília ainda adolescente,   quando seu pai um funcionário do Banco do Brasil foi transferido para lá. E foi na cidade símbolo do poder político, então recém-construída por Oscar Niemayer(1907-2012) ainda no Governo de Juscelino Kubitscheck(1902-1976) em 1960, mesmo ano que o cantor nasceu, para servir como residência e reduto de todos os mandos e desmandos que os nossos engravatados da política determinam como tudo vai funcionar  para nossa população. Também serviu como o reduto e o grande berço artístico para Renato Russo se lançar no meio musical.




A canção Faroeste Caboclo  compõe o terceiro álbum de estúdio da Legião Urbana pelo selo da gravadora EMI intitulado Que Pais é  esse, que foi lançado no final de  1987. Renato havia começado  a compor esta canção em 1979, bem antes de formar a Legião com inspiração numa canção de Bob Dylan, chamada Hurricane dedicado ao boxeador Rubin Carter(1937-2014). A canção tinha como característica o fato de ter uma longa duração, com nove minutos, contendo 159 versos sem intervalos dos refrãos, foi uma das canções contidas no álbum que foram  proibidas pela censura  de tocarem nas rádios brasileiras. A canção descrevia  um enredo que contava  a trajetória  de João de Santo Cristo(Fabricio Bolivera), um pobre coitado retirante da seca do sertão nordestino. Que após a morte do pai por motivo de briga de terras, ele movido pelo sentimento vingativo resolve virar um temido criminoso do sertão  e depois foi mandado para reformatório.  Após sair do lugar foi com a ajuda de um boiadeiro que encontrou na estrada e  disse que estava indo para Brasília, onde ele então resolve ir para ver como oportunidade de recomeçar sua vida. Deslumbrado pela incrível metrópole habitada pelos políticos, especialmente pelas luzes de natal como bem descreve a canção. É nesta cidade que temos contada a jornada dele  para sobreviver, é através de seu primo peruano chamado Pablo(Cesar Trancoso) que ele entra num caminho fácil de se enriquecer e bastante perigoso que é por meio do tráfico de drogas. É neste interim que ele conhece e fica apaixonado por Maria Lúcia(Ísis Valverde), uma jovem de classe média, que desperta também  o interesse de seu rival do tráfico de drogas  Jeremias(Felipe Adid), um playboy de família abastada cujo poder de influência consegue comprar todo mundo, até mesmo os agentes da lei. Tudo isso  vai ser motivo para um último capítulo super trágico.




Toda a essência do mote da canção foi muito bem transportado nas formas e  nas cores através do filme, tirando algumas passagens de trechos que tiveram de serem cortadas para caber no espaço de tempo e não atrapalhar tanto o andamento do ritmo da narrativa e até com algumas liberdades criativas tomadas pela direção para tornar a obra mais palatável ao público em geral poder imergir dentro do contexto daquela história a tornando bem mais verossímil. Não só a direção de René Sampaio conseguiu manter esta característica, como também o texto bem adaptado por sua equipe de roteirista nos proporcionou uma história bastante  impecável com toda uma atmosfera barra pesada do início ao fim, que se mostrou muito bem casado com a direção de arte que criou uma boa reconstrução de época do panorama  da Brasília  dos anos 1980, bem descrita na música, isto pode ser notado nos figurinos, nas arquiteturas e nas presenças dos carros. Com uma excelente fotografia com paletas de cores em tom seco e sujo, especialmente nas cenas que se passam na Ceilândia criando uma sensação de desconforto escaldante.





 Um lugar com aspecto rural dentro da nossa capital federal onde reside o nosso Presidente da República e onde trabalham os nossos deputados. Uma terra sem lei, ignorada pelos nossos políticos. Ou seja, o filme traduziu bem a visão crítica da  canção da Legião descrevendo esta outra faceta da nossa  capital federal que é desconhecida da maior parte dos brasileiros, que apenas conhecemos pelos noticiários da TV mostrando a Brasília que mostra as atuações  dos nossos políticos engravatados não fazendo nada para o bem da  nossa população, ostentando carros de luxo frutos de roubo  e se dirigindo  as gigantescas e suntuosas arquiteturas dos  palácios dos planaltos e dos ministérios.  Eu já tive uma oportunidade de visitar Brasília no final de 2014, quando peguei um voo de escala  retornando de São Paulo. Como o meu voo de retorno a Natal  demoraria, resolvi chamar um amigo que mora há muitos anos lá  em Brasília que  fez a boa vontade de fazer um city tour comigo pela cidade. 






Lembro de ter ficado maravilhado em ver de perto toda as arquiteturas dos ministérios ali ao vivo e as cores, coisas que só costumo ver nos noticiários da TV. Inclusive observei o ritual dos desfiles de mudanças de guardas dos dragões  do ministério, todos os prédios modernos, inclusive visitamos a primeira igreja e a praça se preparando para a cerimônia de posse de Dilma Rousseff para presidente. E me mostrou outras coisas curiosas  da cidade que não são muito mostrado nos noticiários nacionais, como os  bairros residenciais onde vivem as pessoas comuns e mostrou um zoológico. As pessoas comuns que habitam a nossa capital federal estão bem representadas no filme com um elenco estelar formados por famosos astros de novelas da Rede Globo e  bastantes afiados nos respectivos  papeis com personagens não-muito unidimensionais. 





Fabricio Bolivera como o protagonista João de Santo Cristo desempenhou brilhantemente em todas as camadas que envolviam o personagem que seguia um caminho tortuoso e sem volta. Você compreende as motivações dele, mesmo que não sejam as mais politicamente corretas, mas mesmo assim torce por ele depois de tudo o que ele sofreu ao longo do filme, principalmente nas mãos de Jeremias. Ísis Valverde como Maria Lúcia também mostrou um bom desempenho no papel, ao representa-la na figura de uma típica jovem  universitária de classe média vivendo uma vida confortável e com bom caráter, tinha tudo para ter um futuro brilhante, mas,  por causa  da sua vida mundana, ainda mais tendo um pai ausente, omisso e  negligente,  desperdiçou tudo ao se enveredar por um caminho perigoso por causa das farras nas baladas com uns grupos de amigos, se  drogando, especialmente após se apaixonar por João. Um verdadeiro caso de amor bandido. Apesar disso tudo, você também consegue compreender as motivações dela, e se importar com o drama da Maria Lúcia, ainda que este não seja o rumo certo  que ela tomou na vida. 






Também mencionar a participação de Juliana Lohmman que representou muito bem o papel da Cris, a amiga porra louca da Maria Lúcia que a apresentou para o perigoso mundo da drogas, a levando para farrear nas boates, sendo  o pior    exemplo de péssima influência do que ela representou  para Maria Lúcia. 






 Felipe Adib na pele do  antagonista Jeremias mostrou uma atuação brilhante e  impecável ao entregar muitas características e camadas ao personagem,   especialmente na maneira como ele ficou bem representado como um típico playboy perigoso, nascido no berço de ouro de uma família abastada com posse de galã de TV pela sua externa  beleza jovial, mas por dentro contava   com  um caráter podre. Que não media esforços, e nem mesmo conhecia limites para conquistar  os seus objetivos gananciosos com toques de puro sadismo e pura crueldade. Endinheirado com as drogas, um pouco nos moldes de Pablo Escobar(1949-1993), o maior chefão do narcotráfico na Colômbia, este ai é capaz de comprar todo mundo até mesmo o delegado Marco Aurélio(Antônio Calloni). Um tipo bastante  canalha, odiável, desprezível, abominável, deplorável  e haja adjetivos negativos para descrever o Jeremias. Antônio Calloni na pele do Marco Aurélio, o delegado corrupto também desempenhou o papel de uma forma brilhante, ele mostrou uma total entrega ao personagem  que por trás da máscara de agente da lei, também se mostrava  um sujeito de  caráter tão podre e tão  canalha, desprezível,  abominável e cruel  quanto o Jeremias, a ponto de ser um dos mais odiados da história. Além de agir como um pau mandado do Jeremias, Marco Aurélio também  praticava toda a crueldade com agressões e abusos  físicos e verbais de racismo especialmente quando mantém João preso em sua delegacia.  






No momento da grande virada da história, em que João resolve mantê-lo como refém para soltá-lo e depois resolve mata-lo com um tiro, pode se dizer que mesmo que esta não seja a maneira mais correta de resolver fazendo justiça com as próprias mãos, ainda assim  você consegue entender as suas motivações e pode-se dizer que dá para vibrar pelo fim que ele deu ao nojento e  desprezível delegado. Também mencionar a presença gringa do  uruguaio Cesar Troncoso na pele do Pablo, o primo peruano de João também mostrou um excelente  desempenho em todo o arco dele na história ao apresentar o submundo da criminalidade a João como forma de enriquecer mais fácil, mas muito perigoso na venda das drogas que ele planta na região da Ceilândia, um verdadeiro caminho sem volta. Para encerrar a parte do elenco, não podia deixar passar a  menção a participação de Marcos Paulo na pele do Ney, pai da protagonista Maria Lúcia, desempenhando perfeitamente o personagem neste que foi seu trabalho póstumo, ele faleceu em 2012 vítima de uma embolia, em decorrência da sua batalha contra um  câncer de esôfago. Um engravatado deputado, magistrado ou mesmo executivo não fica claro  qual a sua  profissão. Mas que de todo jeito mostrou um boa representação dele como, além de  um pai omisso, negligente  e ausente na vida da Maria Lúcia, mas também um sujeito canalha, desprezível,  preconceituoso  e racista,  isto ele desempenhou  brilhantemente  mostrando uma ótima entrega ao papel na cena quando flagra Maria Lúcia no quarto com João e este ficando completamente enraivecido resolve    expulsar sua própria filha  de casa. Nesta que foi sua última cena no longa. Uma despedida primorosa.

 




Outra coisa legal a se destacar está na magistral trilha musical onde podemos ouvir muitos revivals de canções contagiantes que foram sucesso  nos anos 1980, especialmente nas cenas que se passam nas boates. Uma dessas bem interessantes que mais me chamou a atenção que é tocada entre uma cena e outra é a contagiante  These Boots Are Made for Walkin´, sucesso da Nancy Sinatra nos anos 1960.




 

No balanço geral, Faroeste Caboclo é um bom filme dramático, com toques de romances e suspenses, inspirado numa canção emblemática da Legião Urbana, cujo texto  traz bem um tom  reflexo-critico  muito atemporal sobre a nossa juventude brasileira regrada a uma vida promiscua sem uma convivência afetiva familiar como é o caso dos protagonistas e que tendem a cair facilmente no perigoso mundo mundano e sem volta da criminalidade.  Outro fator importante que o filme também apresenta é que preservou muito a essência da canção é uma curiosa alegoria crítica, que é justamente ao fato do filme representar uma Brasília que não é mostrado a população brasileira  nos noticiários da TV com os jornalistas descrevendo a rotina de trabalho dos nossos políticos, seja do Presidente da República, dos Deputados e Senadores  aprovando emendas, comissões, leis  ou mesmo  montando CPIs (Comissões Parlamentares de Inquéritos), ou mesmo na atuação do judiciário. A Brasília que é descrita na canção é isto que o filme conseguiu preservar muito bem é de um lugar onde reside as pessoas comuns cuja existência é ignorada pelos nossos políticos, a prova disso é a existência da Ceilândia, um lugar pobre, sem saneamento básico que é facilmente  imperado pelo crime organizado  e sendo como nos filmes dos faroestes americanos, uma Terra Sem Lei, onde cada um pode fazer a justiça com as próprias mãos já que até mesmo profissionais que deviam fazer a lei como a polícia também se corrompem, o que justifica o título da canção. Para este momento atual em que vivemos um clima tenso em nossa atual política brasileira com este desgoverno ignorando a atual crise com a saúde pública nesse momento em que ainda vivemos o temor da pandemia de Covid-19,  e a grande polarização que tem sido ocasionada como consequência disso, a abordagem dessa obra  serve bem como uma reflexão bastante atemporal sobre o nosso Brasil.  




Ele também é uma ótima porta de entrada para a geração que como eu, que sou um milenial e  nunca chegou a conhecer uma canção de Renato Russo  ou mesmo  nunca tinha ouvido falar da Legião Urbana.




 Possa compreender a importância que eles tiveram para a história da música brasileira, principalmente para a sua geração jovem dos anos 1980. Em boa parte da minha vida, a referência que eu cresci,  conhecendo  de Renato Russo, foi toda uma espécie de aura de glorificação, de santificação, de endeusamento por parte dos diferentes experts em música faziam a respeito do talento perfeito que ele demonstrava para produzir uma música de qualidade, tanto nas letras, trabalhando as estruturas estéticas dos versos, das rimas, das estrofes, quanto a melodia e a sonoridade. Mas não cheguei a ter o privilégio de acompanhar sua carreira no auge do sucesso, já que tipo quando eu nasci em 1985, ele já estava estourando e bombando  com o  sucesso do álbum de estreia da Legião Urbana homônimo cuja faixa de  maior hit desse álbum  foi a canção Será. E quando ele faleceu, eu era apenas um  garoto de 11 anos. 






Que não carregava muita recordação ou mesmo referência  de ter ouvido música da Legião Urbana, o que eu carregava até então de recordação de minha memória  afetiva eram as músicas tocadas por apresentadoras como Xuxa, ou mesmo de conjuntos musicais formados por crianças como Balão Mágico e  Trem da Alegria, por exemplo. E até aquele momento as outras referências musicais que eu tinha conhecido  e figuravam entre as que mais reinavam no mercado fonográfico brasileiro eram as de apelo popular como Sertanejo, representado por duplas como Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, e quando não era  esse segmento,  era o Pagode na pegada mais romântica de bandas como Raça Negra, Só Pra Contrariar e o divertido e dançante ritmo  baiano da Axé Music, que popularizou as micaretas e as músicas de apelo bastante  sexualizado como a banda É O Tchan, por exemplo.




Ao mesmo tempo que durante a primeira metade da década de 1990, Renato Russo com  a Legião Urbana entrava em declínio, em virtude de justamente o mercado fonográfico brasileiro já não estava mais despertando o interesse de comercializar as suas músicas de tom muito intelectualizado com essas mensagens panfletárias, juntando a isso as brigas internas dele que levaram a banda a se separar de vez a partir de 1994. Na época que Renato faleceu ele estava começando um novo ciclo  na carreira solo.




Diante de tudo o que expliquei, posso concluir que dá para entender o porquê de Renato Russo ser tão endeusado mesmo depois de passados 25 anos de sua morte. Que ele realmente foi um perfeito poeta da música, porta-voz da sua geração, disso não se pode duvidar, ao mesmo tempo que também não se pode negar que ele em sua vida intima estava longe de figurar como um santinho, principalmente no que diz respeito ao estilo de vida louca e desregrada que ele gostava de levar pelas aventuras nas  esbornias e nas orgias da vida, onde adorava curtir umas   bebedeiras, tragava muito cigarro e muita maconha que o levou a contrair Aids. Fora ele também  ter  sido um  sujeito de personalidade e de gênio  difícil de lidar, vivia constantemente brigando nos bastidores  com seus companheiros de banda  formado por ele como vocalista,  pelo guitarrista  Dado Villa-Lobos, o baterista  Marcelo Bonfá e   o baixista Renato Rocha(1961-2015), o último a compor a banda depois da gravação do álbum de estreia e foi o primeiro a deixar a banda em 1989 durante a preparação para a  gravação do álbum As Quatro Estações, devido as constantes brigas internas dentre eles. O que o  levava muitas vezes a viver uma vida solitária e depressiva.




Renato Russo nunca foi casado, mas deixou um único filho Giuliano Manfredini, fruto de um rolo que ele teve com uma mulher  que ele jamais voltou a ter  contato depois. Renato Russo era bissexual. Giuliano  era muito criança quando ele faleceu. Atualmente ele é quem cuida do espólio deixado pelo pai. Que tem resultado em disputas judiciais entre ele com  Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, os ex-companheiros de Renato Russo na Legião Urbana, principalmente no que envolve a questão do copyright  com o  uso do nome Legião Urbana.