quarta-feira, 27 de outubro de 2021
COLÔNIA DE SACRAMENTO - EDUARDO BUENO
terça-feira, 26 de outubro de 2021
O mistério de D. B. Cooper | Nerdologia Criminosos
domingo, 24 de outubro de 2021
O INCIDENTE SEMELHANTE OCORREU NO FILME O CORVO(1994)
Nesses
últimos dias tem se comentado bastante sobre o incidente ocorrido na sexta-feira,
22 de Outubro de 2021, durante as filmagens de Rusty, o faroeste produzido
por Alec Baldwin, cujo disparo numa cena atingiu duas pessoas da equipe, o seu
diretor e a sua diretora de fotografia, que não sobreviveu.
Esse
incidente fez muita gente se lembrar de uma situação semelhante ao que ocorreu
nas filmagens de O Corvo(The Crow, EUA,1994). Em que o
protagonista Brandon Lee morreu durante a gravação de uma cena de tiro de uma
bala de verdade e não de festim, ocorrida no dia 31 de Março de 1993, com
apenas 28 anos.
E
coincidentemente por estarmos neste clima de Halloween, resolvo aproveitar para
entrar no clima comentar um pouco sobre esta obra, bastante sinistra, muito
mais lembrada e assimilada pelo trágico acidente que matou seu protagonista do
que de fato pelo seu enredo.
Baseado numa HQ de James O´Baar, cuja obra ele criou
após passar por uma grande fatalidade em
sua vida pessoal. Em 1978, sua namorada morreu num fatídico acidente de carro
quando estava indo de carona em direção a sua
casa quando este carro que ela estava foi atingido pelo veículo de um motorista embriagado resultando na
morte dela. Este fato trágico o deixou bastante abalado a ponto de durante o
período em que estava na Alemanha prestando serviço militar passou a desenhar isto como uma forma
terapêutica de extravasar os seus
sentimentos agoniantes. O que desta forma
originou a HQ publicada em 1981 por um selo independente.
O
filme gira em torno da história do roqueiro Eric Draven(Brandon Lee) retornando
do mundo dos mortos com a ajuda de um corvo, para acertar as contas com os seus assassinos pertencentes
a uma gang local liderados por Top Dollar(Michael Wincott) que invadiram o seu
apartamento numa noite de Halloween. E lá foi bastante espancado,
torturado e sofreu muitos tiros, não só mataram como também sua namorada Shelly(Sofia Shinas).
E
é por causa desse corvo que um ano depois ele é ressuscitado, para ir um por um
eliminando os caras que o assassinaram e
o seu líder para cumprir a sua vingança, cujo rastro que ele vai deixando, chama a atenção da polícia, principalmente do Sargento
Albrecht(Ernie Hudson).
O
filme contou com a direção de Alex
Proyas, cujas tomadas de liberdade que ele imprimiu no filme com relação ao
material original foi nos excelentes planos panorâmicos noturnos dos prédios
urbanos cheios de sombras que trazem
todo um clima atmosférico sombrio, em tomadas que exploram bem a poluição mostrando
fumaça em conjunto com o design de produção, principalmente da fotografia que
explora muito bem as paletas de cores pretas e brancas e evocando também os
elementos mais hardcores, undergorunds, gunges, punks, góticos, mostrando a
urbanização suja, podre, corroída pela criminalidade, fora a suavizada que ele
procurou colocar na história, principalmente na personalidade do protagonista
que nos quadrinhos carregava um perfil vingativo que beirava a loucura a
níveis esquizofrênicos e de porra
louquices, aqui no filme ele o amenizou com um perfil heroico explorando o seu lado integro de sua
humanidade, principalmente quando ele interagi com duas figuras
importantes como a menina Sarah(Rochele
Davis) e o Policial Albrecht(Ernie Hudson) que os auxiliam bem na condução da sua jornada vingativa. A Sara
inclusive é quem narra a história por sua ótica. Junto dos figurinos dos personagens evocarem
bem esta característica. Bem casado com a trilha sonora que traz no repertorio
da trilha sonora músicas de muitas bandas do Heavy Metal e do rock alternativo
do cenário mais grunge, como The Cure, Pantera, Stone Temple Pilots dentre
outros. Brandon Lee faz um desempenho excelente no papel
principal incorporando em cena como o Eric as suas diferente camadas, o
deixando crível. Pena que sua fatídica morte precoce nos bastidores das
filmagens faz com que muita gente o assimile mais a este fatídico acontecimento
do que pelo conjunto da obra. E isto pode ser percebido se você for buscar na internet e pesquisar no Google
sobre o filme, vai haver uma infinidade de referências a sites ou mesmo a canais do Youtube que abordam
justamente por esta referência ao filme. Principalmente sobre a atmosfera de
estar amaldiçoado. Pois, além de sua morte, o filme também ficou marcado por outros incidentes na
produção, como a morte de um técnico eletrocutado. O fator maldição também
ocasionou nas teorias de conspiração pela morte
do Brandon Lee coincidir com os
vinte anos da morte de seu pai Bruce Lee(1940-1973), astro dos filmes de Kung
Fu, que morreu vítima de um edema cerebral semanas antes de estrear o seu filme
Operação Dragão, e estava
começando a filmar o seu quinto
incompleto Jogo da Morte que só estreou em 1978. E O Corvo também foi o quinto
filme da carreira de Brandon Lee, sendo o primeiro como protagonista para
alavancar sua carreira. Como se não fosse o bastante dessas coincidências
macabras e sinistras, muitos colocam a ideia conspiratória da perseguição da
máfia chinesa envolvida no meio, ainda mais numa história onde seu protagonista
foi morto de verdade durante
a filmagem da morte tenha ocorrido justo na cena onde seu personagem Eric
reaparece dos mortos com a ajuda de um Corvo que passa a virar os seus olhos e
ele o segue em sua jornada toda do filme perseguindo os caras que o
assassinaram, e os seus mandantes para um acerto de contas. Enfim, o que posso
resumir de tudo isso é que se não fosse esta tragédia da morte de seu
protagonista, com certeza, o filme não ficaria estigmatizado para sempre por
este episódio. Que é mais levado em conta do que propriamente se for avaliado
no quesito técnico por todo o conjunto da obra. Principalmente na sua brilhante
estética gótica, com ares grunge e com uma atmosfera pessimista, onde além de
contar com a excelente atuação de Brandon Lee no papel principal cuja maquiagem
pálida que ele adota com manchas pretas na boca e nos olhos fez bem ele ficar
com um toque gótico e assombroso. Também merece destaque a participação do
Ernie Hudson, o eterno Winston de Caça-Fantasmas, neste filme ele fez o papel do Sargento
Albrecth, que mesmo sendo secundário, ainda assim mostrou que tinha uma função
bastante relevante e com muito pessoa
para a história. Mais ou menos o equivalente ao Comissário Gordon do
Batman, principalmente no tom mais detetivesco.
Destacar
também o desempenho da menina Rochelle Davis, defendeu muito bem o papel da
Sara, a menina por quem ele e sua amada Shelly já eram bastante afeiçoados quando
estavam vivos, a atriz mostrou uma boa performance madura para a personagem,
para a pouca idade que tinha na época, com apenas 12 anos. Ainda mais pelo drama
dela
viver num lar bastante disfuncional, principalmente por ser “órfã” de pai e criada só pela mãe Darla(Anna
Thomson), uma mulher que trabalha como garçonete de um bar, mas vive uma vida
porra louca se drogando e se envolvendo com gente errada, dentre esses um dos
caras que assassinou Eric Draven.
E
Michael Wincott na pele do Top Dollar, o grande vilão da trama também se
mostrou incrível fez uma entrega excelente ao papel de um sujeito bastante detestável,
frio, calculista, ganancioso, um psicopata que não sente o menor remorso a quem
ele manda matar.
A
quem tiver interesse em conferir esse filme, ele encontra-se disponível completo
no Youtube.
terça-feira, 19 de outubro de 2021
O julgamento por combate na Idade Média | Nerdologia
sexta-feira, 15 de outubro de 2021
CONHECENDO CUBA POR ELA MESMA COM O FILME MORANGO E CHOCOLATE.
Nestes
tempos em que temos visto tanta pregação de ódio aos diferentes com toda esta
polarização política com este desgoverno e lidando com o medo da COVID-19. É
bem apropriado comentar de um filme que traz este tipo de abordagem de uma
forma até sutil como é no caso do cubano Morango e Chocolate (Fresa y
Chocolate, Cuba, Méx, Esp, 1994)
dirigido por Tomás Gutierrez Alea(1928-1996) e contou também com a
direção de Juan Carlos Tabío(1943-2021). O enredo de Morango e Chocolate
ambienta-se no ano de 1979, na capital Havana. Gira em torno do jovem
universitário David(Vladimir Cruz), ainda não muito conformado com o fim de seu
noivado. Conhece um dia, numa sorveteria Diego(Jorge Perrugorría), um artista
assumidamente gay e descontente com o regime castrista.
Diego
tenta diversas vezes se insinuar para David tentando obter alguma conquista, só
que ele se mostra resistente. Será nesse encontro casual, o ponto inicial para
o desenvolvimento da trama.
David
se sentindo forçado resolve acompanhar Diego até sua casa, lá fica admirado e
ao mesmo tempo espantado com a quantidade de livros que ele adquiriu nas
prateleiras da sua casa. O impressionante
detalhe explorado nesse momento do filme
é quando o estudante universitário David explica para Diego que boa parte desses livros ele nunca
tinha lido e nem muito menos ouvido falar, porque eram obras proibidas, censuradas
pelo sistema. Será nessa e em muitas outras cenas mais para frente de David
visitando a casa de Diego, que será observado uma sútil crítica de como a
população cubana lida rotineiramente com a opressão imposta pela ditadura
castrista.
E
um desses momentos muito frequentes no filme, é quando Diego ao ler um dos
livros em voz alta para David, liga um som com toca-fitas em um volume altíssimo,
o motivo era para os vizinhos não ouvirem aquela sua leitura, porque se o
ouvissem os denunciariam para o Governo.
Também
será no decorrer e desenrolar do filme que irá aparecer uma terceira
protagonista Nancy(Mirta Ibarra). Uma mulher cuja profissão não é bem
esclarecida, há quem pense que ela se trate de uma prostituta como bem sugere
uma cena dela recebendo grana de uma garota de programa. Tudo em torno de Nancy
é um enigma. Vai ser a Nancy a responsável por conquistar o coração de David,
coisa que Diego não consegue, mas no entanto Diego consegue obter uma conquista
muito melhor de David, que é a amizade e o respeito. Especialmente quando este
resolve defende-lo de uma briga onde ele sofre uma imensa discriminação por sua
orientação sexual.
A
trama do filme de Alea pertence ao gênero de uma comédia dramática, que fez
história por ser o primeiro filme a representar Cuba na disputa do Oscar de 1995 a categoria de melhor filme estrangeiro, onde perdeu para o russo O Sol Enganador. Venceu vários prêmios em festivais, entre eles o Festival de Berlim como o Teddy, Urso de
Ouro e o Urso de Prata e o Prêmio do Público e o Kikito de Ouro no Festival de
Gramado. Esse filme foi o penúltimo
dirigido pelo Alea, que um ano antes de morrer dirigiu Guantanamera(Cuba,
Alemanha, Espanha, 1995). Considerado o
nome de maior expressividade na ilha caribenha, que além desse também carrega
um extenso currículo de outros bons filmes já dirigidos.
Em
Morango e Chocolate, dá para perceber, alguns interessantes
detalhes que moldam e pincelam o retrato incoerentemente mascarado de um país que há 50 anos é regido por um
sistema de governo que teoricamente segue os princípios do socialismo criado
por Karl Marx(1818-1883), onde defende os princípios de uma sociedade
igualitária e mais justa, mas que na prática a coisa é completamente diferente.
Os
três protagonistas do filme: David, Diego e Nancy defendidos brilhantemente
pelo elenco enxuto, pincelam de maneira
sucinta, o retrato mascarado da realidade envolvendo esta ilha caribenha,
admiradas por muitos como bom exemplo no
sistema educacional, na saúde e também no incentivo aos esportes.
Mas
que apesar de ser um bom exemplo, também tem lá suas imperfeições que são
ignoradas. O universitário David defendido com maestria por Vladimir Cruz , por
exemplo, faz uma sutil crítica a maneira como o sistema educacional no país é
ao mesmo tempo exemplar, fazendo com que a ilha caribenha tenha o menor índice
de analfabetismo. Também carrega uma característica dúbia em relação quanto ao
governo só permitir que as escolas ensinem o que seja favorável para eles, o
que não for é proibido. Isso explica o motivo pelo qual David ficou bastante
surpreso ao olhar e tomar conhecimento através de Diego de livros que ele nem
imaginava existirem. Diego, representado brilhantemente por Jorge Prerrugorría
pincela um retrato curioso, representando uma camada da população da ilha que
poucos conhecem ou nem mesmo imaginam ocorrer nesse lugar que segue há 50 anos
um sistema político que teoriza a igualdade.
São as camadas dos gays que lidam com o preconceito. Difícil acreditar?
Mas, infelizmente o filme aborda através de Diego a visão dúbia que até num
país como Cuba também ocorre a prática de preconceito, em especial o homofóbico.
E
por fim, a Nancy defendida perfeitamente por Mirta Ibarra, a viúva do diretor Tomás
Gutierrez Alea, pincela um retrato
curioso de uma camada social cubana, como descrevi acima, ela é bastante enigmática e a
explicação para isso está no fato da personagem representar um retrato de uma agente do Governo Cubano infiltrada
em determinados bairros para colher informações sobre supostos subversivos, e o
Diego era quem ela tinha a missão de ficar observando. A primeira vez que Nancy
aparece no filme é na curiosa cena dela sofrer uma queda de pressão na rua e é
socorrida pelos dois que a colocam numa ambulância e ao chegarem num hospital
para onde Nancy é atendida, ocorre uma outra visão crítica e cômica a respeito
da incoerência do país que representa o
melhor exemplo de competência na área da saúde, exportando até médicos para
outros países, em seu próprio território os hospitais viverem numa carência e escassez
tecnológica, como bem é mostrado na cena de Nancy ao ser atendida para receber
uma transfusão de sangue, e para Diego e David conseguirem isso descobrem que o
grande obstáculo é a falta de aparelhos e seringas necessárias para isso.
Também
é curioso ver uma cena onde Nancy faz uma reza para os santos, se benzendo em
banho de água benta pedindo para ter David aos seus braços. O que representa
uma interessante visão de mesmo o país sendo regido há 50 anos por um regime
totalitário ateu, ainda existe uma boa
parte da população mantém preservado a fé e ainda alguns costumes religioso de mantê-la viva, como faz Nancy. E a própria
mostrar que nesse país também se pratica a prostituição, apesar de ser exemplar
em tudo.
Tenho
de admitir que Morango e Chocolate
foi o primeiro contanto com um filme cubano. Na primeira vez que assistir a este filme que foi numa sessão
alternativa promovido por Antonino Cordorelli no projeto Café com Cinema no auditório
da antiga livraria PotyLivros ocorrido
em 2012. Naquela ocasião, durante os debates ocorrido após o fim da sessão tanto o coordenador do evento quanto alguns
presentes haviam compartilhados suas
experiências de quando foram visitar
Cuba por motivos de trabalho e lá relataram de terem se deparado com situações idênticas
que sucintamente pincela, a outra face da Cuba castrista. Foi bastante curioso ouvir relatos, seja da plateia,
ou mesmo, do próprio Antonino Cordorelli, o responsável pelo evento. Alguns
detalhes curiosos sobre como a população lida diariamente com a opressão desse
governo totalitário, e uma das maneiras como eles procuram driblar como o filme
bem mostra em tom de crítica muito sutil na cena de Diego lendo para David em voz alta
é ligando o som alto para os vizinhos não ouvirem e o denunciarem. Foi durante
a discussão, que ouvi os exemplos das populações driblarem seja em espaço
público ou mesmo dentro do lar através
de códigos.
Morango e Chocolate trata-se
de uma primorosa obra-prima para a gente analisar as coisas que a gente acredita
como verdade com outros olhos. E principalmente refletir que o acesso ao
conhecimento da maneira que for nos abre a cabeça. É um interessante filme que serve para a
gente conhecer e entender um pouco da realidade cubana, independente de qual
ponto de vista for analisado. Uma coisa é certa: Morango e Chocolate defini Cuba por ela mesma.
quarta-feira, 13 de outubro de 2021
GUERRA DA DEGOLA: REVOLUÇÃO FEDERALISTA DE 1893 - EDUARDO BUENO
terça-feira, 12 de outubro de 2021
História da evolução da TV e seu impacto tecnológico e social | Nerdologia
domingo, 10 de outubro de 2021
NOS 25 ANOS SEM RENATO RUSSO: RESENHA DO FILME FAROESTE CABOCLO(2013)
25
ANOS SEM RENATO RUSSO:
CRÍTICA
AO FILME FAROESTE CABOCLO INSPIRADO NA SUA CANÇÃO.
No dia 11 de Outubro de 1996, falecia
precocemente aos 36 anos, perdendo a batalha para a AIDS, Renato Russo, o mais célebre ícone da música
brasileira com suas poéticas letras transgressoras que o simbolizou do mesmo
modo como Cazuza(1958-1990) também simbolizou para a geração jovem dos anos
1980, que não por acaso também faleceu precocemente sendo que Cazuza estava com 32 anos,
seis anos antes de Renato Russo, também por causa da AIDS, como os porta-vozes do que
a sua geração estava precisando num cenário sociocultural, político e econômico
brasileiro dos mais delicados e caóticos
que estava passando, fim da Ditadura Militar, Alta Inflação e o desejo de poder
votar eram um dos fatores que marcaram a história do Brasil nesse período. Aproveito
essa data para compartilhar o meu texto
de resenha crítica ao filme Faroeste Caboclo que foi inspirado na canção homônima
de Renato Russo. Esse texto eu havia escrito para o meu outro blog de cinema que postei em 2018 após conferir ao filme
quando estava disponível na Netflix. No momento que estávamos passando no cenário conturbado da eleição
presidencial. Agora eu darei aqui umas
atualizadas com uns incrementos no
final. Confiram que vocês vão compreender.
Sempre
que se menciona o nome da Legião Urbana,
a principal referência que deve vim a
cabeça de muita gente é o fato dessa
banda simbolizar um estilo musical de som pesado apresentar umas letras de tom anárquico e transgressor, cujo principal objetivo era protestar com duras críticas pesadas à
política brasileira. Especialmente no contexto dos anos 1980, onde estávamos
passando por uma transição do fim da
Ditadura Militar para a entrada da Nova
República, este estilo de música com som pesado do rock e com letras
provocativas representaram um importante legado para a nossa cultura e são bem atemporais. Basta você ouvir
“Que pais é esse” uma canção lançada há mais de 30 anos
e você vai observar como a letra
dela ainda consegue refletir ao nosso
tempo atual ainda mais nessa polarização causada pelo desgoverno do nosso atual
presidente então nem se fala, um negacionista que deixou cometer o genocídio
com esse coronavírus. E uma dessas canções em especial que inspirou o filme que será abordado aqui em
questão é Faroeste Caboclo(Brasil,
2013).
Com direção de René Sampaio, produção da Gávea Filmes e roteiro adaptado por Victor Atherino e Marcos Berstein. O filme conseguiu bem traduzir através das cores e das imagens o que a música composta pelo vocalista da banda Renato Manfredini Júnior(1960-1996), mais conhecido artisticamente como Renato Russo, cuja origem do sobrenome artístico ele escolheu como homenagem a grandes intelectuais que admirava como o filosofo inglês Bertrand Russel(1872-1970), além desses, também admirava o filósofo suíço Jean Jacques Rosseau(1712-1778) e o pintor francês Henri Rosseau(1844-1910) também inspirações para o seu nome artístico. Carioca, nascido no berço de uma família de classe média, que se mudou para Brasília ainda adolescente, quando seu pai um funcionário do Banco do Brasil foi transferido para lá. E foi na cidade símbolo do poder político, então recém-construída por Oscar Niemayer(1907-2012) ainda no Governo de Juscelino Kubitscheck(1902-1976) em 1960, mesmo ano que o cantor nasceu, para servir como residência e reduto de todos os mandos e desmandos que os nossos engravatados da política determinam como tudo vai funcionar para nossa população. Também serviu como o reduto e o grande berço artístico para Renato Russo se lançar no meio musical.
A
canção Faroeste Caboclo
compõe o terceiro álbum de estúdio da Legião Urbana pelo selo da
gravadora EMI intitulado Que Pais é esse, que foi lançado no final de 1987. Renato havia começado a compor esta canção em 1979, bem antes de
formar a Legião com inspiração numa canção de Bob Dylan, chamada Hurricane dedicado ao boxeador Rubin
Carter(1937-2014). A canção tinha como característica o fato de ter uma longa
duração, com nove minutos, contendo 159 versos sem intervalos dos refrãos, foi
uma das canções contidas no álbum que foram proibidas pela censura de tocarem nas rádios brasileiras. A canção descrevia
um enredo que contava a trajetória de João de Santo Cristo(Fabricio Bolivera), um
pobre coitado retirante da seca do sertão nordestino. Que após a morte do pai
por motivo de briga de terras, ele movido pelo sentimento vingativo resolve
virar um temido criminoso do sertão e
depois foi mandado para reformatório. Após
sair do lugar foi com a ajuda de um boiadeiro que encontrou na estrada e disse que estava indo para Brasília, onde ele
então resolve ir para ver como oportunidade de recomeçar sua vida. Deslumbrado
pela incrível metrópole habitada pelos políticos, especialmente pelas luzes de
natal como bem descreve a canção. É nesta cidade que temos contada a jornada
dele para sobreviver, é através de seu
primo peruano chamado Pablo(Cesar Trancoso) que ele entra num caminho fácil de
se enriquecer e bastante perigoso que é por meio do tráfico de drogas. É neste
interim que ele conhece e fica apaixonado por Maria Lúcia(Ísis Valverde), uma
jovem de classe média, que desperta também o interesse de seu rival do tráfico de
drogas Jeremias(Felipe Adid), um playboy
de família abastada cujo poder de influência consegue comprar todo mundo, até
mesmo os agentes da lei. Tudo isso vai
ser motivo para um último capítulo super trágico.
Toda a essência do mote da canção foi muito bem transportado nas formas e nas cores através do filme, tirando algumas passagens de trechos que tiveram de serem cortadas para caber no espaço de tempo e não atrapalhar tanto o andamento do ritmo da narrativa e até com algumas liberdades criativas tomadas pela direção para tornar a obra mais palatável ao público em geral poder imergir dentro do contexto daquela história a tornando bem mais verossímil. Não só a direção de René Sampaio conseguiu manter esta característica, como também o texto bem adaptado por sua equipe de roteirista nos proporcionou uma história bastante impecável com toda uma atmosfera barra pesada do início ao fim, que se mostrou muito bem casado com a direção de arte que criou uma boa reconstrução de época do panorama da Brasília dos anos 1980, bem descrita na música, isto pode ser notado nos figurinos, nas arquiteturas e nas presenças dos carros. Com uma excelente fotografia com paletas de cores em tom seco e sujo, especialmente nas cenas que se passam na Ceilândia criando uma sensação de desconforto escaldante.
Um lugar com aspecto rural dentro da nossa capital federal onde reside o nosso Presidente da República e onde trabalham os nossos deputados. Uma terra sem lei, ignorada pelos nossos políticos. Ou seja, o filme traduziu bem a visão crítica da canção da Legião descrevendo esta outra faceta da nossa capital federal que é desconhecida da maior parte dos brasileiros, que apenas conhecemos pelos noticiários da TV mostrando a Brasília que mostra as atuações dos nossos políticos engravatados não fazendo nada para o bem da nossa população, ostentando carros de luxo frutos de roubo e se dirigindo as gigantescas e suntuosas arquiteturas dos palácios dos planaltos e dos ministérios. Eu já tive uma oportunidade de visitar Brasília no final de 2014, quando peguei um voo de escala retornando de São Paulo. Como o meu voo de retorno a Natal demoraria, resolvi chamar um amigo que mora há muitos anos lá em Brasília que fez a boa vontade de fazer um city tour comigo pela cidade.
Lembro de ter ficado maravilhado em ver de perto toda as arquiteturas dos ministérios ali ao vivo e as cores, coisas que só costumo ver nos noticiários da TV. Inclusive observei o ritual dos desfiles de mudanças de guardas dos dragões do ministério, todos os prédios modernos, inclusive visitamos a primeira igreja e a praça se preparando para a cerimônia de posse de Dilma Rousseff para presidente. E me mostrou outras coisas curiosas da cidade que não são muito mostrado nos noticiários nacionais, como os bairros residenciais onde vivem as pessoas comuns e mostrou um zoológico. As pessoas comuns que habitam a nossa capital federal estão bem representadas no filme com um elenco estelar formados por famosos astros de novelas da Rede Globo e bastantes afiados nos respectivos papeis com personagens não-muito unidimensionais.
Fabricio Bolivera como o protagonista João de Santo Cristo desempenhou brilhantemente em todas as camadas que envolviam o personagem que seguia um caminho tortuoso e sem volta. Você compreende as motivações dele, mesmo que não sejam as mais politicamente corretas, mas mesmo assim torce por ele depois de tudo o que ele sofreu ao longo do filme, principalmente nas mãos de Jeremias. Ísis Valverde como Maria Lúcia também mostrou um bom desempenho no papel, ao representa-la na figura de uma típica jovem universitária de classe média vivendo uma vida confortável e com bom caráter, tinha tudo para ter um futuro brilhante, mas, por causa da sua vida mundana, ainda mais tendo um pai ausente, omisso e negligente, desperdiçou tudo ao se enveredar por um caminho perigoso por causa das farras nas baladas com uns grupos de amigos, se drogando, especialmente após se apaixonar por João. Um verdadeiro caso de amor bandido. Apesar disso tudo, você também consegue compreender as motivações dela, e se importar com o drama da Maria Lúcia, ainda que este não seja o rumo certo que ela tomou na vida.
Também mencionar a participação de Juliana Lohmman que representou muito bem o papel da Cris, a amiga porra louca da Maria Lúcia que a apresentou para o perigoso mundo da drogas, a levando para farrear nas boates, sendo o pior exemplo de péssima influência do que ela representou para Maria Lúcia.
Felipe Adib na pele do antagonista Jeremias mostrou uma atuação brilhante e impecável ao entregar muitas características e camadas ao personagem, especialmente na maneira como ele ficou bem representado como um típico playboy perigoso, nascido no berço de ouro de uma família abastada com posse de galã de TV pela sua externa beleza jovial, mas por dentro contava com um caráter podre. Que não media esforços, e nem mesmo conhecia limites para conquistar os seus objetivos gananciosos com toques de puro sadismo e pura crueldade. Endinheirado com as drogas, um pouco nos moldes de Pablo Escobar(1949-1993), o maior chefão do narcotráfico na Colômbia, este ai é capaz de comprar todo mundo até mesmo o delegado Marco Aurélio(Antônio Calloni). Um tipo bastante canalha, odiável, desprezível, abominável, deplorável e haja adjetivos negativos para descrever o Jeremias. Antônio Calloni na pele do Marco Aurélio, o delegado corrupto também desempenhou o papel de uma forma brilhante, ele mostrou uma total entrega ao personagem que por trás da máscara de agente da lei, também se mostrava um sujeito de caráter tão podre e tão canalha, desprezível, abominável e cruel quanto o Jeremias, a ponto de ser um dos mais odiados da história. Além de agir como um pau mandado do Jeremias, Marco Aurélio também praticava toda a crueldade com agressões e abusos físicos e verbais de racismo especialmente quando mantém João preso em sua delegacia.
No momento da grande virada da história, em
que João resolve mantê-lo como refém para soltá-lo e depois resolve mata-lo com
um tiro, pode se dizer que mesmo que esta não seja a maneira mais correta de
resolver fazendo justiça com as próprias mãos, ainda assim você consegue entender as suas motivações e
pode-se dizer que dá para vibrar pelo fim que ele deu ao nojento e desprezível delegado. Também mencionar a
presença gringa do uruguaio Cesar
Troncoso na pele do Pablo, o primo peruano de João também mostrou um excelente desempenho em todo o arco dele na história ao
apresentar o submundo da criminalidade a João como forma de enriquecer mais
fácil, mas muito perigoso na venda das drogas que ele planta na região da
Ceilândia, um verdadeiro caminho sem volta. Para encerrar a parte do elenco,
não podia deixar passar a menção a participação
de Marcos Paulo na pele do Ney, pai da protagonista Maria Lúcia, desempenhando perfeitamente
o personagem neste que foi seu trabalho póstumo, ele faleceu em 2012 vítima de
uma embolia, em decorrência da sua batalha contra um câncer de esôfago. Um engravatado deputado,
magistrado ou mesmo executivo não fica claro qual a sua
profissão. Mas que de todo jeito mostrou um boa representação dele como,
além de um pai omisso, negligente e ausente na vida da Maria Lúcia, mas também
um sujeito canalha, desprezível, preconceituoso
e racista, isto ele desempenhou brilhantemente mostrando uma ótima entrega ao papel na cena
quando flagra Maria Lúcia no quarto com João e este ficando completamente
enraivecido resolve expulsar sua própria filha de casa. Nesta que foi sua última cena no
longa. Uma despedida primorosa.
Outra
coisa legal a se destacar está na magistral trilha musical onde podemos ouvir
muitos revivals de canções contagiantes que foram sucesso nos anos 1980, especialmente nas cenas que se
passam nas boates. Uma dessas bem interessantes que mais me chamou a atenção
que é tocada entre uma cena e outra é a contagiante These
Boots Are Made for Walkin´, sucesso da Nancy Sinatra nos anos 1960.
No
balanço geral, Faroeste Caboclo é um
bom filme dramático, com toques de romances e suspenses, inspirado numa canção emblemática
da Legião Urbana, cujo texto traz bem um
tom reflexo-critico muito atemporal sobre a nossa juventude
brasileira regrada a uma vida promiscua sem uma convivência afetiva familiar
como é o caso dos protagonistas e que tendem a cair facilmente no perigoso mundo
mundano e sem volta da criminalidade.
Outro fator importante que o filme também apresenta é que preservou
muito a essência da canção é uma curiosa alegoria crítica, que é justamente ao
fato do filme representar uma Brasília que não é mostrado a população brasileira
nos noticiários da TV com os jornalistas
descrevendo a rotina de trabalho dos nossos políticos, seja do Presidente da
República, dos Deputados e Senadores aprovando
emendas, comissões, leis ou mesmo montando CPIs (Comissões Parlamentares de
Inquéritos), ou mesmo na atuação do judiciário. A Brasília que é descrita na
canção é isto que o filme conseguiu preservar muito bem é de um lugar onde
reside as pessoas comuns cuja existência é ignorada pelos nossos políticos, a
prova disso é a existência da Ceilândia, um lugar pobre, sem saneamento básico
que é facilmente imperado pelo crime
organizado e sendo como nos filmes dos
faroestes americanos, uma Terra Sem Lei, onde cada um pode fazer a justiça com
as próprias mãos já que até mesmo profissionais que deviam fazer a lei como a
polícia também se corrompem, o que justifica o título da canção. Para este
momento atual em que vivemos um clima tenso em nossa atual política brasileira
com este desgoverno ignorando a atual crise com a saúde pública nesse momento
em que ainda vivemos o temor da pandemia de Covid-19, e a grande polarização que tem sido ocasionada
como consequência disso, a abordagem dessa obra serve bem como uma reflexão bastante atemporal
sobre o nosso Brasil.
Ele também é uma ótima porta de entrada para a geração que como eu, que sou um milenial e nunca chegou a conhecer uma canção de Renato Russo ou mesmo nunca tinha ouvido falar da Legião Urbana.
Possa compreender a importância que eles tiveram para a história da música brasileira, principalmente para a sua geração jovem dos anos 1980. Em boa parte da minha vida, a referência que eu cresci, conhecendo de Renato Russo, foi toda uma espécie de aura de glorificação, de santificação, de endeusamento por parte dos diferentes experts em música faziam a respeito do talento perfeito que ele demonstrava para produzir uma música de qualidade, tanto nas letras, trabalhando as estruturas estéticas dos versos, das rimas, das estrofes, quanto a melodia e a sonoridade. Mas não cheguei a ter o privilégio de acompanhar sua carreira no auge do sucesso, já que tipo quando eu nasci em 1985, ele já estava estourando e bombando com o sucesso do álbum de estreia da Legião Urbana homônimo cuja faixa de maior hit desse álbum foi a canção Será. E quando ele faleceu, eu era apenas um garoto de 11 anos.
Que não carregava muita recordação ou mesmo referência de ter ouvido música da Legião Urbana, o que
eu carregava até então de recordação de minha memória afetiva eram as músicas tocadas por
apresentadoras como Xuxa, ou mesmo de conjuntos musicais formados por crianças
como Balão Mágico e Trem da Alegria, por
exemplo. E até aquele momento as outras referências musicais que eu tinha
conhecido e figuravam entre as que mais
reinavam no mercado fonográfico brasileiro eram as de apelo popular como
Sertanejo, representado por duplas como Chitãozinho & Xororó, Leandro &
Leonardo, e quando não era esse segmento,
era o Pagode na pegada mais romântica de
bandas como Raça Negra, Só Pra Contrariar e o divertido e dançante ritmo baiano da Axé Music, que popularizou as
micaretas e as músicas de apelo bastante sexualizado como a banda É O Tchan, por
exemplo.
Ao
mesmo tempo que durante a primeira metade da década de 1990, Renato Russo
com a Legião Urbana entrava em declínio,
em virtude de justamente o mercado fonográfico brasileiro já não estava mais
despertando o interesse de comercializar as suas músicas de tom muito
intelectualizado com essas mensagens panfletárias, juntando a isso as brigas
internas dele que levaram a banda a se separar de vez a partir de 1994. Na
época que Renato faleceu ele estava começando um novo ciclo na carreira solo.
Diante
de tudo o que expliquei, posso concluir que dá para entender o porquê de Renato
Russo ser tão endeusado mesmo depois de passados 25 anos de sua morte. Que ele
realmente foi um perfeito poeta da música, porta-voz da sua geração, disso não
se pode duvidar, ao mesmo tempo que também não se pode negar que ele em sua
vida intima estava longe de figurar como um santinho, principalmente no que diz
respeito ao estilo de vida louca e desregrada que ele gostava de levar pelas aventuras
nas esbornias e nas orgias da vida, onde
adorava curtir umas bebedeiras, tragava
muito cigarro e muita maconha que o levou a contrair Aids. Fora ele também ter
sido um sujeito de personalidade
e de gênio difícil de lidar, vivia
constantemente brigando nos bastidores com seus companheiros de banda formado por ele como vocalista, pelo guitarrista Dado Villa-Lobos, o baterista Marcelo Bonfá e o baixista Renato Rocha(1961-2015), o último
a compor a banda depois da gravação do álbum de estreia e foi o primeiro a
deixar a banda em 1989 durante a preparação para a gravação do álbum As Quatro Estações, devido
as constantes brigas internas dentre eles. O que o levava muitas vezes a viver uma vida solitária
e depressiva.
Renato
Russo nunca foi casado, mas deixou um único filho Giuliano Manfredini, fruto de
um rolo que ele teve com uma mulher que
ele jamais voltou a ter contato depois.
Renato Russo era bissexual. Giuliano era
muito criança quando ele faleceu. Atualmente ele é quem cuida do espólio
deixado pelo pai. Que tem resultado em disputas judiciais entre ele com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, os
ex-companheiros de Renato Russo na Legião Urbana, principalmente no que envolve
a questão do copyright com o uso do nome Legião Urbana.