Nesses
últimos dias tem se comentado bastante sobre o incidente ocorrido na sexta-feira,
22 de Outubro de 2021, durante as filmagens de Rusty, o faroeste produzido
por Alec Baldwin, cujo disparo numa cena atingiu duas pessoas da equipe, o seu
diretor e a sua diretora de fotografia, que não sobreviveu.
Esse
incidente fez muita gente se lembrar de uma situação semelhante ao que ocorreu
nas filmagens de O Corvo(The Crow, EUA,1994). Em que o
protagonista Brandon Lee morreu durante a gravação de uma cena de tiro de uma
bala de verdade e não de festim, ocorrida no dia 31 de Março de 1993, com
apenas 28 anos.
E
coincidentemente por estarmos neste clima de Halloween, resolvo aproveitar para
entrar no clima comentar um pouco sobre esta obra, bastante sinistra, muito
mais lembrada e assimilada pelo trágico acidente que matou seu protagonista do
que de fato pelo seu enredo.
Baseado numa HQ de James O´Baar, cuja obra ele criou
após passar por uma grande fatalidade em
sua vida pessoal. Em 1978, sua namorada morreu num fatídico acidente de carro
quando estava indo de carona em direção a sua
casa quando este carro que ela estava foi atingido pelo veículo de um motorista embriagado resultando na
morte dela. Este fato trágico o deixou bastante abalado a ponto de durante o
período em que estava na Alemanha prestando serviço militar passou a desenhar isto como uma forma
terapêutica de extravasar os seus
sentimentos agoniantes. O que desta forma
originou a HQ publicada em 1981 por um selo independente.
O
filme gira em torno da história do roqueiro Eric Draven(Brandon Lee) retornando
do mundo dos mortos com a ajuda de um corvo, para acertar as contas com os seus assassinos pertencentes
a uma gang local liderados por Top Dollar(Michael Wincott) que invadiram o seu
apartamento numa noite de Halloween. E lá foi bastante espancado,
torturado e sofreu muitos tiros, não só mataram como também sua namorada Shelly(Sofia Shinas).
E
é por causa desse corvo que um ano depois ele é ressuscitado, para ir um por um
eliminando os caras que o assassinaram e
o seu líder para cumprir a sua vingança, cujo rastro que ele vai deixando, chama a atenção da polícia, principalmente do Sargento
Albrecht(Ernie Hudson).
O
filme contou com a direção de Alex
Proyas, cujas tomadas de liberdade que ele imprimiu no filme com relação ao
material original foi nos excelentes planos panorâmicos noturnos dos prédios
urbanos cheios de sombras que trazem
todo um clima atmosférico sombrio, em tomadas que exploram bem a poluição mostrando
fumaça em conjunto com o design de produção, principalmente da fotografia que
explora muito bem as paletas de cores pretas e brancas e evocando também os
elementos mais hardcores, undergorunds, gunges, punks, góticos, mostrando a
urbanização suja, podre, corroída pela criminalidade, fora a suavizada que ele
procurou colocar na história, principalmente na personalidade do protagonista
que nos quadrinhos carregava um perfil vingativo que beirava a loucura a
níveis esquizofrênicos e de porra
louquices, aqui no filme ele o amenizou com um perfil heroico explorando o seu lado integro de sua
humanidade, principalmente quando ele interagi com duas figuras
importantes como a menina Sarah(Rochele
Davis) e o Policial Albrecht(Ernie Hudson) que os auxiliam bem na condução da sua jornada vingativa. A Sara
inclusive é quem narra a história por sua ótica. Junto dos figurinos dos personagens evocarem
bem esta característica. Bem casado com a trilha sonora que traz no repertorio
da trilha sonora músicas de muitas bandas do Heavy Metal e do rock alternativo
do cenário mais grunge, como The Cure, Pantera, Stone Temple Pilots dentre
outros. Brandon Lee faz um desempenho excelente no papel
principal incorporando em cena como o Eric as suas diferente camadas, o
deixando crível. Pena que sua fatídica morte precoce nos bastidores das
filmagens faz com que muita gente o assimile mais a este fatídico acontecimento
do que pelo conjunto da obra. E isto pode ser percebido se você for buscar na internet e pesquisar no Google
sobre o filme, vai haver uma infinidade de referências a sites ou mesmo a canais do Youtube que abordam
justamente por esta referência ao filme. Principalmente sobre a atmosfera de
estar amaldiçoado. Pois, além de sua morte, o filme também ficou marcado por outros incidentes na
produção, como a morte de um técnico eletrocutado. O fator maldição também
ocasionou nas teorias de conspiração pela morte
do Brandon Lee coincidir com os
vinte anos da morte de seu pai Bruce Lee(1940-1973), astro dos filmes de Kung
Fu, que morreu vítima de um edema cerebral semanas antes de estrear o seu filme
Operação Dragão, e estava
começando a filmar o seu quinto
incompleto Jogo da Morte que só estreou em 1978. E O Corvo também foi o quinto
filme da carreira de Brandon Lee, sendo o primeiro como protagonista para
alavancar sua carreira. Como se não fosse o bastante dessas coincidências
macabras e sinistras, muitos colocam a ideia conspiratória da perseguição da
máfia chinesa envolvida no meio, ainda mais numa história onde seu protagonista
foi morto de verdade durante
a filmagem da morte tenha ocorrido justo na cena onde seu personagem Eric
reaparece dos mortos com a ajuda de um Corvo que passa a virar os seus olhos e
ele o segue em sua jornada toda do filme perseguindo os caras que o
assassinaram, e os seus mandantes para um acerto de contas. Enfim, o que posso
resumir de tudo isso é que se não fosse esta tragédia da morte de seu
protagonista, com certeza, o filme não ficaria estigmatizado para sempre por
este episódio. Que é mais levado em conta do que propriamente se for avaliado
no quesito técnico por todo o conjunto da obra. Principalmente na sua brilhante
estética gótica, com ares grunge e com uma atmosfera pessimista, onde além de
contar com a excelente atuação de Brandon Lee no papel principal cuja maquiagem
pálida que ele adota com manchas pretas na boca e nos olhos fez bem ele ficar
com um toque gótico e assombroso. Também merece destaque a participação do
Ernie Hudson, o eterno Winston de Caça-Fantasmas, neste filme ele fez o papel do Sargento
Albrecth, que mesmo sendo secundário, ainda assim mostrou que tinha uma função
bastante relevante e com muito pessoa
para a história. Mais ou menos o equivalente ao Comissário Gordon do
Batman, principalmente no tom mais detetivesco.
Destacar
também o desempenho da menina Rochelle Davis, defendeu muito bem o papel da
Sara, a menina por quem ele e sua amada Shelly já eram bastante afeiçoados quando
estavam vivos, a atriz mostrou uma boa performance madura para a personagem,
para a pouca idade que tinha na época, com apenas 12 anos. Ainda mais pelo drama
dela
viver num lar bastante disfuncional, principalmente por ser “órfã” de pai e criada só pela mãe Darla(Anna
Thomson), uma mulher que trabalha como garçonete de um bar, mas vive uma vida
porra louca se drogando e se envolvendo com gente errada, dentre esses um dos
caras que assassinou Eric Draven.
E
Michael Wincott na pele do Top Dollar, o grande vilão da trama também se
mostrou incrível fez uma entrega excelente ao papel de um sujeito bastante detestável,
frio, calculista, ganancioso, um psicopata que não sente o menor remorso a quem
ele manda matar.
A
quem tiver interesse em conferir esse filme, ele encontra-se disponível completo
no Youtube.
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