Em
1954 era publicado o polêmico livro do psiquiatra germano-americano Fredric
Wertham(1895-1981) que passou a perseguir a indústria dos quadrinhos.
Nesse
ano de 2024, o livro em questão: Seduction of the Innocent completou 70 anos de sua publicação.
A origem para ele escrever esta controversa obra condenatória aos quadrinhos foi baseado nos seus estudos investigativos que vinham analisando
para tentar compreender o por quê do alto índice de delinquência juvenil entre a população americana da década de 1950.
Wertham
que era alemão, nascido em Munique em 1895 e era residente nos Estados Unidos desde 1922
onde consolidou sua carreira na psquiatria.
Já
vinha desconfiando desta ligação das revistas dos super-heróis ao aumento da
criminalidade entre os jovens americanos.
Bem
antes de publicar este polêmico livro que daria origem ao grande prejuízo mercadológicos das comics a partir daquele momento, ele já tinha uma
postura contrária as publicações das revistas de super-heróis porque, em 1948
Wertham começou a escrever artigos
em numerosas revistas profissionais ou para o grande público suas acusações aos gibis.
A
partir da publicação deste livro, surgiu então a organização da Comics Code
Authorithy, que passou então a ser o regulador das Hqs, originando a figura
do inimigo real dos super-heróis.
Como
nesta época também coincidiu do cenário político americano dos anos 1950
viverem muito turbulento. A Segunda Guerra Mundial tinha acabado ainda recente,
e boa parte da geração jovem que participou do conflito tinham voltado para
casa mentalmente perturbados, e muitas crianças dessa época eram órfãs de
alguns combatentes que voltariam para casa sem vida.
Era
também o começo da Guerra Fria, o conflito de interesses político e ideológicos
entre os Estados Unidos com a União Soviética.
Dentro
do território americano foi adotado a política macarthista de caça aos
comunistas. Que ocasionou em um período apavorante para os cidadãos americanos
comuns que eram alvos de constantes vigília do governo e eram presos sem
justificativa, sofriam abusos e torturas.
E nesta época boa parte das famílias
procuravam prezar pelo conservadorismo puritano. O mesmo Wertham que escreveu Seduction
of the Innocents, também foi autor da teoria de Batman ter um
relacionamento gay com Robin.
E
Batman por representar a essência de um vigilante urbano noturno que vivia
acima do bem e do mal com a simbologia de um animal, que vive no escuro no caso
o morcego, foi um dos fatores que os fiscalizadores da Comics Code Authority
ficassem constantemente de olho nas suas publicações.
Isso
ocasionou na maior dor de cabeça para a DC a ponto de muitos dos seus criadores
de super-heróis penarem para conseguir se adequarem aos critérios e regulações
desta organização, que só eram liberados com o seu selo.
Não
só Batman, criado por Bob Kane(1915-1998) e Bill Finger (1914-1974) na revista Dectetive Comics em 1939 foi alvo de
constantes das críticas de Wertham por ter conotações homossexuais, como também
o Superman, criado por Jerry Siegel(1914-1996) e Joe Shuster(1914-1992) na
revista Action Comics em 1938 ele
via com algumas características nazistas.
Ele também via a figura da Mulher-Maravilha
que forma junto a este a trindade dos super-heróis da DC Comics, criada na All
Star Comic #8 em dezembro de 1941 por William Moulton Martson(1893-1947)
como uma figura com inclinações
lésbicas.
Tudo
isso ocasionou num período bem complicado que a DC Comics teve de lidar.
Esse
código de ética dos quadrinhos estabelecia muitas normas e imposições rígidas no
conteúdo das publicações que implicaram
em infinitas revisões tanto no
roteiro quanto no traço da
ilustrações, dos quais muitos dos profissionais envolvidos tanto
diretamente quanto indiretamente tinham de encarar exaustivamente a duras
penas, para evitarem de caírem no prejuízo que esta prática de
censura da Comics Code Authority estabelecia.
Dentre
estas regras estabelecidas por este órgão de censura dos quadrinhos estava
entre algumas cito:
1)As
histórias em quadrinhos devem ser um instrumento de educação, formação moral,
propaganda dos bons sentimentos e exaltação das virtudes sociais e individuais.
2)
Não devendo sobrecarregar a mente das crianças como se fossem um prolongamento
do currículo escolar, elas devem, ao contrário, contribuir para a higiene
mental e o divertimento dos leitores juvenis e infantis.
3)
É necessário o maior cuidado para evitar que as histórias em quadrinhos,
descumprindo sua missão, influenciem perniciosamente a juventude ou deem motivo
a exageros da imaginação da infância e da juventude.
4)
As histórias em quadrinhos devem exaltar, sempre que possível, o papel dos pais
e dos professores, jamais permitindo qualquer apresentação ridícula ou
desprimorosa de uns ou de outro.
5)Não
é permissível o ataque ou a falta de respeito a qualquer religião ou raça.
6)
Os princípios democráticos e as autoridades constituídas devem ser
prestigiadas, jamais sendo apresentados de maneira simpática ou lisonjeira os
tiranos e inimigos do regime e da liberdade.
7)
A família não deve ser exposta a qualquer tratamento desrespeitoso, nem o
divórcio apresentado como sendo uma solução para as dificuldades conjugais.
8)
Relações sexuais, cenas de amor excessivamente realistas, anormalidades
sexuais, sedução e violência carnal não podem ser apresentadas nem sequer
sugeridas.
9)
São proibidas pragas, obscenidades, pornografias, vulgaridades ou palavras e
símbolos que adquiram sentido dúbio e inconfessável.
10)
A gíria e as frases de uso popular devem ser usadas com moderação,
preferindo-se sempre que possível a boa linguagem.
11)
São inaceitáveis as ilustrações provocantes, entendendo-se como tais as que
apresentam a nudez, as que exibem indecente ou desnecessariamente as partes
íntimas ou as que retratam poses provocantes.
Além
de conter mais 7 normas que formam ao todo 18 regras exigidas para que a
publicação pudesse ser liberado a venda
com o selo do código que simbolizava que estava tudo ok.
Um
dado curioso a respeito da norma que proibia que os gibis tivessem ilustrações
provocantes, é que em algumas edições para poderem se adequar eles tiveram que apagar alguns personagens, e
a famosa vilã do Batman, a Mulher-Gato, foi o exemplo disso.
Durante
a década de 1950 ela precisou ser apagada das edições das revistas, pelo fato
de provocar a sensualidade e ainda despertando o desejo sexual do herói também
não ajudava muito, o vigilante do crime se apaixonar por uma criminosa.
Só depois, na década de 1960, quando a
personagem ganhou enorme popularidade ao aparecer na série de TV é que ela pode
retornar a páginas das revistas.
Foi
também a partir desse momento que o código começaria a perder a força quando a
recém-nascida Marvel Comics, grande concorrente da DC Comics, resolveu não
aderir a estas normas e colocar o selo do órgão nas publicações, isto porque o
Governo Americano começava a ver as publicações das revistas dos heróis, como
um bom instrumento de campanha para passar mensagens de campanhas por isso
mesmo aos pouco foi podendo colocar uma dose, ainda que amenizada de violência.
Mas mesmo assim as atividades da Comics Code
Authority ainda perdurariam por décadas.
Foi
apenas em 2011 é que esta organização
foi completamente extinta depois que a DC Comics se recusou a colocar o
selo do código em suas publicações.
Foi
também muito posteriormente que uma professora universitária chamada Carol L.
Tyler publicou um artigo contestando esta teoria de Wertham muitos anos após
ele morrer, descobriu ao revisitar os originais quanto esta sua base teórica
era bem picareta, porque ele tinha manipulado muitos dos dados que causaram todo este rebuliço no mercado
dos comics. Um bom exemplo de que isto jamais se repita.
Um
dos episódios mais tenebrosos da história da indústria dos quadrinhos.
Em
2021, a editora brasileira Pipoca & Nanquim publicou a HQ biográfica
de Wertham intitulada Fredric, William e a Amazona: Perseguição e Censura
aos Quadrinhos de autoria da dupla francesa Jean-Marc Lainé e Thierry
Olivier que conta um pouco de como foram os bastidores desse momento tão infame
na história da indústria dos quadrinhos.
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