domingo, 25 de agosto de 2024

70 ANOS DO LIVRO SEDUCTION OF THE INNOCENT.


 

Em 1954 era publicado o polêmico livro do psiquiatra germano-americano Fredric Wertham(1895-1981) que passou a perseguir a indústria dos quadrinhos.

Nesse ano de 2024, o livro em questão: Seduction of the Innocent  completou 70 anos de sua publicação.




 A origem para ele  escrever  esta controversa  obra condenatória aos quadrinhos foi  baseado nos seus  estudos investigativos que vinham analisando para tentar compreender o por quê do alto índice de delinquência juvenil  entre a população americana da década de 1950.

Wertham que era alemão, nascido em Munique em 1895  e era residente nos Estados Unidos desde 1922 onde consolidou sua carreira na psquiatria.

Já vinha desconfiando desta ligação das revistas dos super-heróis ao aumento da criminalidade entre os jovens americanos.

Bem antes de publicar este polêmico livro que daria origem ao grande prejuízo  mercadológicos das comics  a partir daquele momento, ele já tinha uma postura contrária as publicações das revistas de super-heróis porque, em 1948 Wertham começou a  escrever  artigos  em numerosas revistas profissionais ou para o grande  público suas acusações aos gibis.




 

A partir da publicação deste livro, surgiu então a organização da Comics Code Authorithy, que passou então a ser o regulador das Hqs, originando a figura do inimigo real dos super-heróis.




Como nesta época também coincidiu do cenário político americano dos anos 1950 viverem muito turbulento. A Segunda Guerra Mundial tinha acabado ainda recente, e boa parte da geração jovem que participou do conflito tinham voltado para casa mentalmente perturbados, e muitas crianças dessa época eram órfãs de alguns combatentes que voltariam para casa sem vida. 




Era também o começo da Guerra Fria, o conflito de interesses político e ideológicos entre os Estados Unidos com a União Soviética. 

Dentro do território americano foi adotado a política macarthista de caça aos comunistas. Que ocasionou em um período apavorante para os cidadãos americanos comuns que eram alvos de constantes vigília do governo e eram presos sem justificativa, sofriam abusos e torturas.




 E nesta época boa parte das famílias procuravam prezar pelo conservadorismo puritano. O mesmo Wertham que escreveu Seduction of the Innocents, também foi autor da teoria de Batman ter um relacionamento gay com Robin.





E Batman por representar a essência de um vigilante urbano noturno que vivia acima do bem e do mal com a simbologia de um animal, que vive no escuro no caso o morcego, foi um dos fatores que os fiscalizadores da Comics Code Authority ficassem constantemente de olho nas suas publicações.

Isso ocasionou na maior dor de cabeça para a DC a ponto de muitos dos seus criadores de super-heróis penarem para conseguir se adequarem aos critérios e regulações desta organização, que só eram liberados com o seu selo.

 

Não só Batman, criado por Bob Kane(1915-1998) e Bill Finger (1914-1974) na revista  Dectetive Comics em 1939 foi alvo de constantes das críticas de Wertham por ter conotações homossexuais, como também o Superman, criado por Jerry Siegel(1914-1996) e Joe Shuster(1914-1992) na revista  Action Comics em 1938 ele via com algumas características nazistas.

 Ele também via a figura da Mulher-Maravilha que forma junto a este a trindade dos super-heróis da DC Comics, criada na All Star Comic #8 em dezembro de 1941 por William Moulton Martson(1893-1947) como  uma figura com inclinações lésbicas.




 

Tudo isso ocasionou num período bem complicado que a DC Comics teve de lidar.

Esse código de ética dos quadrinhos estabelecia muitas normas e  imposições rígidas  no  conteúdo das publicações que implicaram  em infinitas revisões  tanto no roteiro  quanto no traço da ilustrações,  dos quais  muitos dos profissionais envolvidos tanto diretamente quanto indiretamente tinham de encarar exaustivamente a duras penas, para  evitarem  de caírem no prejuízo que esta prática de censura  da Comics Code Authority  estabelecia. 

Dentre estas regras estabelecidas por este órgão de censura dos quadrinhos estava entre algumas cito:

 

1)As histórias em quadrinhos devem ser um instrumento de educação, formação moral, propaganda dos bons sentimentos e exaltação das virtudes sociais e individuais.

 

2) Não devendo sobrecarregar a mente das crianças como se fossem um prolongamento do currículo escolar, elas devem, ao contrário, contribuir para a higiene mental e o divertimento dos leitores juvenis e infantis.

 

3) É necessário o maior cuidado para evitar que as histórias em quadrinhos, descumprindo sua missão, influenciem perniciosamente a juventude ou deem motivo a exageros da imaginação da infância e da juventude.

 

4) As histórias em quadrinhos devem exaltar, sempre que possível, o papel dos pais e dos professores, jamais permitindo qualquer apresentação ridícula ou desprimorosa de uns ou de outro.

 

5)Não é permissível o ataque ou a falta de respeito a qualquer religião ou raça.

 

6) Os princípios democráticos e as autoridades constituídas devem ser prestigiadas, jamais sendo apresentados de maneira simpática ou lisonjeira os tiranos e inimigos do regime e da liberdade.

 

7) A família não deve ser exposta a qualquer tratamento desrespeitoso, nem o divórcio apresentado como sendo uma solução para as dificuldades conjugais.

 

8) Relações sexuais, cenas de amor excessivamente realistas, anormalidades sexuais, sedução e violência carnal não podem ser apresentadas nem sequer sugeridas.

 

9) São proibidas pragas, obscenidades, pornografias, vulgaridades ou palavras e símbolos que adquiram sentido dúbio e inconfessável.

 

10) A gíria e as frases de uso popular devem ser usadas com moderação, preferindo-se sempre que possível a boa linguagem.

 

11) São inaceitáveis as ilustrações provocantes, entendendo-se como tais as que apresentam a nudez, as que exibem indecente ou desnecessariamente as partes íntimas ou as que retratam poses provocantes.

 

Além de conter mais 7 normas que formam ao todo 18 regras exigidas para que a publicação pudesse  ser liberado a venda com o selo do código que simbolizava que estava tudo ok.

Um dado curioso a respeito da norma que proibia que os gibis tivessem ilustrações provocantes, é que em algumas edições para poderem se adequar  eles tiveram que apagar alguns personagens, e a famosa vilã do Batman, a Mulher-Gato, foi o exemplo disso.

Durante a década de 1950 ela precisou ser apagada das edições das revistas, pelo fato de provocar a sensualidade e ainda despertando o desejo sexual do herói também não ajudava muito, o vigilante do crime se apaixonar por uma criminosa.

 Só depois, na década de 1960, quando a personagem ganhou enorme popularidade ao aparecer na série de TV é que ela pode retornar a páginas das revistas.

Foi também a partir desse momento que o código começaria a perder a força quando a recém-nascida Marvel Comics, grande concorrente da DC Comics, resolveu não aderir a estas normas e colocar o selo do órgão nas publicações, isto porque o Governo Americano começava a ver as publicações das revistas dos heróis, como um bom instrumento de campanha para passar mensagens de campanhas por isso mesmo aos pouco foi podendo colocar uma dose, ainda que amenizada de violência. Mas mesmo assim as atividades da Comics Code  Authority ainda perdurariam por décadas.

Foi apenas em 2011 é que esta organização  foi completamente extinta depois que a DC Comics se recusou a colocar o selo do código em suas publicações.

Foi também muito posteriormente que uma professora universitária chamada Carol L. Tyler publicou um artigo contestando esta teoria de Wertham muitos anos após ele morrer, descobriu ao revisitar os originais quanto esta sua base teórica era bem picareta, porque ele tinha manipulado muitos dos dados  que causaram todo este rebuliço no mercado dos comics. Um bom exemplo de que isto jamais se repita.

 

 

Um dos episódios mais tenebrosos da história da indústria dos quadrinhos.




Em 2021, a editora brasileira Pipoca & Nanquim publicou a HQ biográfica de Wertham intitulada Fredric, William e a Amazona: Perseguição e Censura aos Quadrinhos de autoria da dupla francesa Jean-Marc Lainé e Thierry Olivier que conta um pouco de como foram os bastidores desse momento tão infame na história da indústria dos quadrinhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário