segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

25 ANOS DO FIM DO JÔ SOARES ONZE E MEIA

 

No dia 30 de dezembro de 1999,  véspera do último  réveillon do século 20, o   apresentador Jô Soares(1938-2022) encerrava o seu ciclo no SBT, quando apresentava pela última vez o Jô Soares Onze e Meia(1988-1999).



Jô que já era um renomado  artista do humor brasileiro desde os primórdios da televisão com passagens por diferentes emissoras, onde estrelou diferentes humorísticos.

Ele já tinha o desejo de tentar trazer  o formato talk show que é o programa de entrevistas inspirado no que nos Estados Unidos apresentadores como: Steve Allen(1921-2000), Johnny Carson(1925-2005),  Larry King(1933-2021) e David Letterman  faziam e eram  bastante populares e queria trazer isso  para o Brasil na ocasião desde a época  em que ainda estava na Globo estrelando o humorístico Viva o Gordo(1981-1987).




Jô chegou a apresentar essa proposta para José Bonifácio de Oliveira Sobrinho(Boni) o então  poderoso chefão executivo da emissora, mas foi recusada por achar arriscada demais, o que deixou Jô indignado.  

Eis que surge  Silvio Santos(1930-2024) pioneiro da TV Brasileira e naquela ocasião dono  do Sistema Brasileiro de Televisão(SBT) fundado em 1981 ao observar seu desgosto com a Globo por não querer realizar o seu sonho de trazer o talk show para a  tv brasileira  veio com a proposta de justamente trazer isso para  convencê-lo  a ser contratado para compor o seu elenco estelar.

Com essa proposta irrecusável Jô então decidiu aceitar e brigado com a Globo decidiu se transferir para o SBT,  para comandar o Jô Soares Onze e Meia que estreou no dia 17 de Agosto de 1988, cujo titulo bem deixava evidente ser um programa noturno da madrugada que as vezes não começava pontualmente as 11:30 da noite, mas já de meia-noite.

Uma recordação que tenho dessa sua passagem pelo SBT, era que toda  vez quando o locutor Carlos Bem-Te-Vi ao fazer as  chamadas nos intervalos da emissora do seu programa usava  com a seguinte frase:

Não vá pra cama sem ele”.

Jô levou consigo para o SBT para compor a equipe de  redatores do programa, gente que já trabalhava para ele na Globo em humorísticos  que foram Hilton Marques e Max Nunes(1922-2014), que contou também  com a direção executiva  de Willem Van Weerelt e direção e redação de Dilea Frate.

Nos  11 anos que o programa permaneceu no ar, Jô Soares realizou um total de 6.927 entrevistas, num total de 2.309 edições.

Dentre os convidados que Jô Soares entrevistou em seu programa que  foram os mais diferentes tipos de gente, desde famosos e não tão famosos, subcelebridades. Alguns polêmicos que deixaram declarações que repercutem até hoje.

Dentre os entrevistados  que posso citar:

       -A entrevista com o cantor  Raul Seixas(1945-1989) realizada no dia 12 de Julho de 1989, que marcou o último registro público  do Maluco Beleza num canal de tv aberta, já que o cantor veio a óbito no mês seguinte.





          -Em Março de 1991, Jô Soares entrevistou o perigoso criminoso Castor de Andrade(1926-1997), poderoso chefão do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Tentando defender que aquilo não era ilegal na maior cara de pau.  




           -Jô entrevistou em 1993 Dom Bertrand de Orleans e Bragança, um descendente  da antiga família imperial. Tentando puxar a sardinha para o seu lado, ao argumentar  os benefícios da monarquia na ocasião em que estava havendo o Plebiscito para decidir qual novo sistema politico no Brasil: Parlamentarismo, Monarquia ou Presidencialismo, cuja campanha para a monarquia tinha como jingle “Vote no Rei”.  




             -Em 1995, Jô Soares foi responsável por apresentar o excêntrico conjunto musical Mamonas Assassinas, trajados de Chapolin Colorado, uma criação do mexicano Roberto Gómez Bolaños(1929-2014), também criador do Chaves que já era atração fixa na emissora desde 1984. Cuja carreira foi encurtada após o acidente aéreo ocorrido no dia 02 de Março de 1996.




                -Em 1997, Jô Soares entrevistou  o ator mexicano Carlos Villagrán, interprete do Quico do Chaves em sua primeira passagem no Brasil conheceu sua voz, o dublador Nelson Machado.  







                  -E foi também em 1997 que Jô promoveu uma entrevista com o dublê brasileiro do Jaspion que fez muita gente aqui no Brasil equivocadamente acreditarem que o Jaspion fosse brasileiro.        A confusão toda ocorreu quando ele  entrevistou  Tadashi Kamitani, o responsável por representar o Jaspion no Circo Show que foi promovido pela antiga distribuidora brasileira que detinha o registro da série no Brasil,   Everest Vídeo de propriedade do empresário  Toshihiko Egashira entre o final dos anos 1980 e começo dos anos 1990.





            Ele por falar bem português, admitir que era brasileiro e pela cara nipônica criou uma equivocada confusão que se tornou muito difundida a afirmação  na internet brasileira do Jaspion ser brasileiro?

             Acontece que  a grande verdade é que Tadashi Kamitani não é o ator que fazia o Jaspion na série de tv, mas sim apenas no Circo Show, onde ele inclusive se dividia entre Adriel de Almeida que vestia a armadura nas apresentações.

Quem protagonizou o Jaspion na série foi Hikaku Kurosaki, que após o fim da série se afastou do meio artístico e atualmente vive na ilha japonesa de Okinawa trabalhando como instrutor de mergulho para uma empresa que ele administra.   

              A razão que ocasionou ao equivoco dessa histeria coletiva da  falsa memória  denominada de Efeito Mandela  em nós brasileiros se deve ao fato de que a produção do Jô em nenhum momento da entrevista  esclareceu que Kamitani protagonizava o Jaspion apenas no circo, e nem o próprio esclareceu isso ao longo da entrevista.

             Muito disso se deve ao fato de que como na época, segunda metade da década de 1990 ainda não existia Google para fazer uma checagem de informação e provavelmente a escassa informação que a produção do Jô tinha acesso era por meio da antiga assessoria do Circo e os únicos acessos de informação que a camada otaku conseguia era por meio das nichadas revistas Herói.

             E como cereja do bolo, Jô Soares mostrou no telão um trecho do episódio da série, pronto, foi a partir de todos esses equívocos que se criou a lenda do Jaspion Brasileiro que foi difundido na internet que ocasionou nessa falsa memória do povo replicar essa informação que descobriu no Jô Soares que o Jaspion era brasileiro por meio da entrevista do ator do Jaspion, quanto que na verdade não, quem o Jô Soares entrevistou foi o ator  brasileiro que representou o Jaspion apenas no Circo que fazia turnês aqui no Brasil.

              Além dos convidados, também havia a interação de Jô Soares com seus timmings de piada com a plateia, com a banda de apoio do programa Quarteto do Jô, que era formado no início  por quatro componentes: Miltinho, Bira(1934-2019), Rubinho(1935-1999) e Edmundo Villani-Côrtes. Depois foi virando Quinteto do Jô com a entrada de Derico e com a entrada de Osmar Barutti, Chiquinho Oliveira e Tomati é que o grupo virou o Sexteto do Jô que entraram após a saída de Edmundo Villani-Côrtes e após o falecimento de Rubinho em 1999.

            Que o Jô levou quando retornou para a Globo no ano seguinte para comandar o Programa do Jô(2000-2016).

               Onde também levou o garçom Alex que sempre aparecia para lhe servir um chá durante sua entrevista. Que não o acompanhou no início, quem  assumia essa função era o primo de Alex, Felipe quando este veio a óbito em 1991 ele foi quem passou a assumir a função de garçom.

            Nas entrevistas, Jô Soares foi sabendo bem como mostrar um bom traquejo para conduzir uma entrevista sabendo explorar um bom timming da piada, uma forma de procurar extrair o máximo alguma coisa interessante em algum convidado que ele sentia que estava ficando desinteressante.

           Isso pude constatar outro dia  quando observei meu pai assistindo em seu celular uma entrevista dele com Chico Anysio(1931-2012).

             Algo que outros que adotaram o mesmo formato que ele, jamais conseguiriam mostrar  essa mesma habilidade  dele, basta citar  como exemplo,  o Danilo Gentilli que desde 2014, comanda o The Noite no SBT no antigo horário que foi do Jô Soares Onze e Meia.

              Esse ai, por exemplo, explora a palhaçada a todo momento com muita piada por minuto a ponto de você não distinguir quando ele fala sério ou quando está só brincando, principalmente na interação com seus convidados para entrevistar.

             O humor dele chega a soar muito a um nível infantil, coisa que Jô Soares sabia como encontrar um bom equilíbrio.

             A razão para o fim do Jô Soares Onze e Meia se deveu a uma vontade dele e ao fato de que a programação do SBT estava passando por uma mudança.

              Como ele justificou a razão em uma entrevista ao periódico O Globo em Junho de 1999:

"Quando fui para o SBT, a programação tinha Boris Casoy, Lillian Witte Fibe, dramaturgia e investimento em jornalismo. Hoje, isso mudou. Os rumos da programação são outros".

           Jô Soares como você faz falta.

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