No
dia 30 de dezembro de 1999, véspera do
último réveillon do século 20, o apresentador Jô Soares(1938-2022) encerrava o
seu ciclo no SBT, quando apresentava pela última vez o Jô Soares Onze e Meia(1988-1999).
Jô
que já era um renomado artista do humor
brasileiro desde os primórdios da televisão com passagens por diferentes
emissoras, onde estrelou diferentes humorísticos.
Ele
já tinha o desejo de tentar trazer o
formato talk show que é o programa de entrevistas inspirado no que nos Estados
Unidos apresentadores como: Steve Allen(1921-2000), Johnny Carson(1925-2005), Larry King(1933-2021) e David Letterman faziam e eram bastante populares e queria trazer isso para o Brasil na ocasião desde a época em que ainda estava na Globo estrelando o
humorístico Viva o Gordo(1981-1987).
Jô
chegou a apresentar essa proposta para José Bonifácio de Oliveira
Sobrinho(Boni) o então poderoso chefão
executivo da emissora, mas foi recusada por achar arriscada demais, o que
deixou Jô indignado.
Eis
que surge Silvio Santos(1930-2024) pioneiro
da TV Brasileira e naquela ocasião dono
do Sistema Brasileiro de Televisão(SBT) fundado em 1981 ao observar seu
desgosto com a Globo por não querer realizar o seu sonho de trazer o talk show
para a tv brasileira veio com a proposta de justamente trazer isso
para convencê-lo a ser contratado para compor o seu elenco
estelar.
Com
essa proposta irrecusável Jô então decidiu aceitar e brigado com a Globo
decidiu se transferir para o SBT, para
comandar o Jô Soares Onze e Meia que estreou no dia 17 de Agosto de 1988,
cujo titulo bem deixava evidente ser um programa noturno da madrugada que as
vezes não começava pontualmente as 11:30 da noite, mas já de meia-noite.
Uma
recordação que tenho dessa sua passagem pelo SBT, era que toda vez quando o locutor Carlos Bem-Te-Vi ao fazer
as chamadas nos intervalos da emissora
do seu programa usava com a seguinte
frase:
“Não
vá pra cama sem ele”.
Jô
levou consigo para o SBT para compor a equipe de redatores do programa, gente que já trabalhava
para ele na Globo em humorísticos que
foram Hilton Marques e Max Nunes(1922-2014), que contou também com a direção executiva de Willem Van Weerelt e direção e redação de
Dilea Frate.
Nos 11 anos que o programa permaneceu no ar, Jô
Soares realizou um total de 6.927 entrevistas, num total de 2.309 edições.
Dentre
os convidados que Jô Soares entrevistou em seu programa que foram os mais diferentes tipos de gente, desde
famosos e não tão famosos, subcelebridades. Alguns polêmicos que deixaram
declarações que repercutem até hoje.
Dentre
os entrevistados que posso citar:
-A entrevista com o cantor Raul Seixas(1945-1989) realizada no dia 12 de
Julho de 1989, que marcou o último registro público do Maluco Beleza num canal de tv
aberta, já que o cantor veio a óbito no mês seguinte.
-Em Março de 1991, Jô Soares
entrevistou o perigoso criminoso Castor de Andrade(1926-1997), poderoso chefão
do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Tentando defender que aquilo não era ilegal
na maior cara de pau.
-Jô entrevistou em 1993 Dom Bertrand
de Orleans e Bragança, um descendente da
antiga família imperial. Tentando puxar a sardinha para o seu lado, ao argumentar
os benefícios da monarquia na ocasião em
que estava havendo o Plebiscito para decidir qual novo sistema politico no
Brasil: Parlamentarismo, Monarquia ou Presidencialismo, cuja campanha para a
monarquia tinha como jingle “Vote no Rei”.
-Em 1995, Jô Soares foi
responsável por apresentar o excêntrico conjunto musical Mamonas Assassinas,
trajados de Chapolin Colorado, uma criação do mexicano Roberto Gómez Bolaños(1929-2014),
também criador do Chaves que já era atração fixa na emissora desde 1984. Cuja
carreira foi encurtada após o acidente aéreo ocorrido no dia 02 de Março de
1996.
-E foi também em 1997 que Jô promoveu
uma entrevista com o dublê brasileiro do Jaspion que fez muita gente aqui no
Brasil equivocadamente acreditarem que o Jaspion fosse brasileiro. A
confusão toda ocorreu quando ele entrevistou Tadashi Kamitani, o responsável por
representar o Jaspion no Circo Show que foi
promovido pela antiga distribuidora brasileira que detinha o registro da série
no Brasil, a Everest Vídeo de
propriedade do empresário Toshihiko Egashira entre o final dos anos
1980 e começo dos anos 1990.
Ele por falar bem português,
admitir que era brasileiro e pela cara nipônica criou uma equivocada confusão
que se tornou muito difundida a afirmação na internet brasileira
do Jaspion ser brasileiro?
Acontece que a grande verdade é que Tadashi Kamitani não é
o ator que fazia o Jaspion na série de tv, mas sim apenas
no Circo Show, onde ele inclusive se dividia entre Adriel de
Almeida que vestia a armadura nas apresentações.
Quem
protagonizou o Jaspion na série foi Hikaku Kurosaki, que após
o fim da série se afastou do meio artístico e atualmente vive na ilha japonesa
de Okinawa trabalhando como instrutor de mergulho para uma empresa que ele
administra.
A razão que ocasionou ao equivoco
dessa histeria coletiva da falsa memória denominada de Efeito Mandela em nós brasileiros se deve ao fato de que a
produção do Jô em nenhum momento da entrevista esclareceu que
Kamitani protagonizava o Jaspion apenas no circo, e nem o
próprio esclareceu isso ao longo da entrevista.
Muito disso se deve ao fato de que
como na época, segunda metade da década de 1990 ainda não existia Google para
fazer uma checagem de informação e provavelmente a escassa informação que a
produção do Jô tinha acesso era por meio da antiga assessoria do Circo e
os únicos acessos de informação que a camada otaku conseguia era por meio das
nichadas revistas Herói.
E como cereja do bolo, Jô Soares
mostrou no telão um trecho do episódio da série, pronto, foi a partir de todos
esses equívocos que se criou a lenda do Jaspion Brasileiro que
foi difundido na internet que ocasionou nessa falsa memória do povo replicar
essa informação que descobriu no Jô Soares que o Jaspion era
brasileiro por meio da entrevista do ator do Jaspion, quanto que na verdade
não, quem o Jô Soares entrevistou foi o ator brasileiro que
representou o Jaspion apenas no Circo que
fazia turnês aqui no Brasil.
Além dos convidados, também havia
a interação de Jô Soares com seus timmings de piada com a plateia, com a banda
de apoio do programa Quarteto do Jô, que era formado no início por quatro componentes: Miltinho,
Bira(1934-2019), Rubinho(1935-1999) e Edmundo Villani-Côrtes. Depois foi
virando Quinteto do Jô com a entrada de Derico e com a entrada de Osmar
Barutti, Chiquinho Oliveira e Tomati é que o grupo virou o Sexteto do Jô
que entraram após a saída de Edmundo Villani-Côrtes e após o falecimento de
Rubinho em 1999.
Que o Jô levou quando retornou para
a Globo no ano seguinte para comandar o Programa do Jô(2000-2016).
Onde também levou o garçom Alex
que sempre aparecia para lhe servir um chá durante sua entrevista. Que não o
acompanhou no início, quem assumia essa
função era o primo de Alex, Felipe quando este veio a óbito em 1991 ele foi
quem passou a assumir a função de garçom.
Nas entrevistas, Jô Soares foi
sabendo bem como mostrar um bom traquejo para conduzir uma entrevista sabendo
explorar um bom timming da piada, uma forma de procurar extrair o máximo alguma
coisa interessante em algum convidado que ele sentia que estava ficando desinteressante.
Isso pude constatar outro dia quando observei meu pai assistindo em seu
celular uma entrevista dele com Chico Anysio(1931-2012).
Algo que outros que adotaram o
mesmo formato que ele, jamais conseguiriam mostrar essa mesma habilidade dele, basta citar como exemplo, o Danilo Gentilli que desde 2014, comanda o The
Noite no SBT no antigo horário que foi do Jô Soares Onze e Meia.
Esse ai, por exemplo, explora a
palhaçada a todo momento com muita piada por minuto a ponto de você não
distinguir quando ele fala sério ou quando está só brincando, principalmente na
interação com seus convidados para entrevistar.
O humor dele chega a soar muito a
um nível infantil, coisa que Jô Soares sabia como encontrar um bom equilíbrio.
A razão para o fim do Jô Soares
Onze e Meia se deveu a uma vontade dele e ao fato de que a programação do
SBT estava passando por uma mudança.
Como ele justificou a razão em
uma entrevista ao periódico O Globo em Junho de 1999:
"Quando
fui para o SBT, a programação tinha Boris Casoy, Lillian Witte Fibe,
dramaturgia e investimento em jornalismo. Hoje, isso mudou. Os rumos da
programação são outros".
Jô Soares como você faz falta.
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