segunda-feira, 31 de março de 2025

40 ANOS DA AXÉ MUSIC COM O DOCUMENTÁRIO AXÉ: CANTO DO POVO DE UM LUGAR

 

Na  minha segunda-feira de Carnaval de 2025, passei  assistindo na Netflix ao documentário Axé: Canto do povo de um lugar(Brasil, 2016). Uma excelente obra para entender desse movimento artístico que simboliza o Carnaval baiano e que nesse ano de 2025 comemora 40 anos.




O ponto de partida que marcou o surgimento desse gênero musical tipicamente baiano se deu com o lançamento  do álbum Magia de Luiz Caldas, onde das 10 músicas que compõe o repertório desse álbum, foi  a sexta canção Fricote, do polêmico trecho racista da “Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”, fez muito sucesso comercialmente a nível nacional, muito disso graças a figura de Abelardo Barbosa vulgo Chacrinha(1917-1988), importante nome pioneiro da tv brasileira que ao tomar conhecimento dessa empolgante canção, convidou Luiz Caldas para se apresentar em seu programa o Cassino do Chacrinha, e foi uma presença recorrente, assim como aconteceu com Sarajane e o Chiclete com Banana*.




Esse é considerado o ponto de partida que explica o surgimento desse ritmo musical que é muito conectado ao carnaval baiano. Se bem que na verdade, a festividade do carnaval baiano não surgiu a partir desse movimento, e não foi Luiz Caldas o responsável por nomear  isso comercialmente de Axé Music como nós conhecemos.

Para explicar melhor, vou precisar me basear nos antecedentes para que possam serem contextualizados dentro dessa minha explicação para chegar até ao que conhecemos como Axé Music.




Bom, não tem como cravar quando deu início a manifestação do carnaval baiano, mas com base no que a folclorista Hildegardes Vianna(1919-2005) explicou  sobre a introdução da micareta foi ali mais ou menos por volta da década de 1930:

A micareta foi introduzida em Salvador porque o carnaval estava perdendo o brilho na capital. A festa foi organizada pela elite local com os seguintes elementos inovadores: "desfiles nas ruas com os três grandes clubes e uma profusão de cordões  e blocos. O corso, desfile de cordões de foliões fantasiados em carros abertos, era o mesmo do carnaval, havendo animadas batalhas de confetes e serpentinas".




Foi por volta de 1935, que as festividades trazidas de séculos atrás pelos colonizadores portugueses, franceses e espanhóis que era chamado de mi-caréme herdado do idioma francês  para definir a festividade do carnaval fora de época passou a ser denominado de micareta que eram as festividades do corso e das batalhas das flores.

O Jornal A Tarde de Salvador publicado em 05 de Abril de 1935, registrou a pitoresca eleição sobre a mudança de nome:

“Morre, não morre, a Micareme ganhou novo alento com a campanha feita pelos jornais para a mudança de nome (...). Depois de ruidosa votação popular, dez nomes foram selecionados para as semifinais: Refolia, Micareta, Carnavalito Arlequinada, 1ª Festa Outonal, Mascarada, Bicarnaval, Precarême, Brincadeira e Remate. Nas finais, Refolia e Micareta se pegaram (...) – vencera Micareta por três votos.”

Foi por volta de 1950, que uma dupla de músicos formado por Adolfo Antônio “Dodô” Nascimento (1920-1978) e Osmar Álvares Macedo(1923-1997) resolvem se apresentarem dentro de um carro Ford Modelo T fabricado em 1929 e apelidado de Fobica Elétrica.

Elétrica porque eles  adaptaram por meio de amplificadores usando de guitarras, inspiradas na sonoridade  do frevo pernambucano adaptando para algo mais tipicamente baiano, o que ficou chamado de guitarra baiana que eram para serem ouvidas e reproduzidas em todo o lugar.




Foi um precursor do modelo que conhecemos da caminhonete que circula com a multidão entre os camarotes com os cantores em cima se apresentando e puxando o bloco, denominados de puxadores de blocos.

No ano seguinte trocaram de carro por uma  pick-up Chrysler Fargo e adicionaram um triolim (guitarra tenor) tocado pelo amigo Temístocles Aragão formando, assim, o "trio elétrico"; em 1952 mais inovações foram introduzidas formando um total de oito alto-falantes, geradores adicionais, e receberam o apoio da fábrica baiana de refrigerantes Fratelli Vita; em 1953 a invenção foi copiada por outros grupos ("5 Irmãos", "Ipiranga" e "Conjunto Atlas") e o conceito do "Trio Elétrico" se consagrou.” (Fonte: Wikipédia).

O que me faz recordar de vagamente quando eu era moleque eu fui passar férias em Salvador/BA, eu cheguei a visitar um local que não lembro   em qual bairro ficava localizado, devia ser um memorial  que estava exposto o primeiro carro do trio elétrico criado pela dupla Dodó & Osmar.

Mesmo Temístocles tendo permanecido pouco tempo, o termo trio elétrico pegou, principalmente quando por volta dos anos 1970,  o filho de Osmar, o guitarrista Armando da Costa Macedo, o  “Armandinho”, passou a tocar junto no trio que passou a ser referido como trio elétrico Armandinho, Dodô & Osmar. 

Em 1969, o cantor baiano Caetano Veloso, já  renomado no mercado fonográfico brasileiro  que figurava junto de conterrâneos formados por sua irmã Maria Bethânia,  Gilberto Gil e  Gal Costa(1945-2022)  no movimento da vanguarda musical revolucionária brasileira conhecida como Tropicalismo lançou uma canção em referência ao trio elétrico intitulada de Atrás do Trio Elétrico cujo trecho é:

Atrás do trio elétrico
Só não vai quem já morreu
Quem já botou pra rachar
Aprendeu, que é do outro lado
Do lado de lá do lado
Que é lá do lado de lá.

Foi por volta dos anos 1970, que o cantor Moraes Moreira(1947-2020), após sair do conjunto musical dos Novos Baianos** passou a tocar nos trios elétricos do Carnaval Baiano.





Foi o que deu visibilidade nacional para isso, ainda mais quando por volta do final dos anos 1970 e começo dos anos 1980 foram se formando os blocos de ruas, que eram divididos pelas classes sociais.

Haviam os blocos  que atraiam as elites brancas das tradicionais famílias  baianas e os blocos das camadas sociais mais pobres, formada pela população preta, que descende dos escravos vindos da África.

Blocos como Traz os Montes, Camaleão, Crocodilo, Cheiro de Amor, EVA***, que deram origem aos artistas como os conjuntos musicais: Chiclete com Banana, Asa de Águia, Banda EVA, Banda Cheiro de Amor, Banda Beijo, BandaMel e artistas solo como Ricardo Chaves, Netinho dentre outros exemplos.




Esses representavam os blocos das grandes elites baianas  que foram formadas por agremiações estudantis e por outro lado havia os blocos das camadas periféricas marginalizada que tocavam músicas com sonoridade da ancestralidade africana como o Ilê Ayê, Ijexá, Samba de roda, Samba-Reggae,  Pagode Baiano e dentre esses blocos estava o bloco dos Filhos de Gandhi, onde costuma desfilar Gilberto Gil, esse mesmo símbolo da vanguarda do tropicalismo.

Foram desses movimento que deram origem a musicalidade de artistas  do Ollodum, Timbalda, Ara Ketu, É o Tchan, Terra Samba, Harmonia do Samba dentre outros exemplos.




É desse momento que dá origem a musicalidade de Luiz Caldas, um egresso do conjunto musical Acordes Verdes  cujo primeiro disco foi gravado pelo importante Estúdio W.R, se utiliza muito dessas influências para desenvolver seu disco com outras referências musicais externas como a New Wave, por exemplo e que deram origem a canção Fricote.

No que isso foi gerando um forte apelo  comercial  a  nível nacional, graças ao  apresentador Chacrinha que o convidou para se apresentar em seu programa foi daí que surgiu um modelo industrial que ainda não tinha um rótulo especifico.

O responsável por batizar aquilo como Axé Music, foi o jornalista Hagamenon Brito, um crítico musical que cravou essa denominação  especifica como tal ao publicar em 1987  o artigo em sua coluna no importante jornal de grande circulação no estado da Bahia  que é o Correio da Bahia.

Que foi dado com o cunho pejorativo segundo pelo que ele mesmo  explicou recentemente numa entrevista ao site do Jornal Correio da Bahia de 1º de Fevereiro de 2025:

Quando eu criei o termo Axé Music tinha uma ironia, era uma brincadeira. Axé era como a minha geração - roqueira influenciada pelo punk e pós-punk - se referia àquela estética e não àquela música. Hoje em dia falam que se referia à música e aos músicos. Mentira! A gente se referia à estética, que a gente considerava brega. Até hoje eu considero. Quando eu via os vídeos antigos de Luiz Caldas de pés descalços, com as roupas parecendo um hippie e com penas de pavão no brinco, achava brega. Eu achava Sarajane dançando, daquele jeito exótico, brega. Já falei isso pra ela, a gente dá risada.”

O termo que Hagamenom batizou para aquele novo  estilo de música surgida na Bahia nos anos 1980,  vem justamente de origem africana, um termo iorubá,  que significa energia, poder e força.




O que faz sentido para a influência da musicalidade africana herdada do povo escravo.  Principalmente de conjuntos musicais como Ollodum, Timbalada, Ara Ketu,  cujas letras, expressavam aquele tom que exaltavam sem que você percebesse um pouco dessa riqueza cultural, um tanto marginalizada como pode ser exemplificado num trecho da canção  Faraó:

Deus e divindade infinita do universo

Predominante esquema mitológico

A ênfase do espírito original

Formará no Eden o ovo cósmico

A emersão nem Osíris sabe como aconteceu

A emersão nem Osíris sabe como aconteceu

A ordem ou submissão do olho seu

Transformou-se na verdadeira humanidade”.

“Eu falei faraó
Ê,faraó
Ê,faraó
Ê, Faraó”.

Ou mesmo na letra da canção Cartão Postal, que traz uma interessante crítica  social a respeito do  cotidiano dos moradores do  Pelourinho, uma grande atração turística de Salvador que não tem nada dessa romantização  como mostra nesse trecho:

Pelourinho não é mais aquele

Olha a cara dele

Pelourinho não é mais aquele

Olha a cara dele

Você não fica à toa

Tem muita gente boa

Você não fica à toa

Tem muita gente boa

 

Aqui tudo mudou

São 15 anos que brilhou

Aqui tudo mudou

São 15 anos que brilhou

Olodum filhos do Sol

Reluz e seduz o meu amor

 

Negros conscientizados

Cantam e tocam no Pelô.

Pelo tom pejorativo inicial, houve artistas desse segmento que não gostavam inicialmente de se rotularem como de Axé, só depois que viram o forte impacto e apelo comercial que aquilo trazia  para o mercado fonográfico fora da Bahia, foi então que o gênero se consolidou.  Ainda mais quando em 1992 Daniela Mercury estourou com a canção O Canto da Cidade, que estourou nas rádios e serviu como um grande escapismo proporcionando alegria para a população brasileira naquele momento tenso com o Impeachment do então Presidente da República Fernando Collor de Mello.




A  Bahia já era rica musicalmente, principalmente com o talento  de  artistas de outros gêneros como Dorival Caymmi(1914-2008) e João Gilberto(1931-2019), ícones da Bossa Nova. Raul Seixas(1945-1989), ícone da música  transgressora do rock e Waldick Soriano(1933-2008), ícone do brega.




Mas foi o gênero musical da Axé Music, que fez a Bahia figurar como o grande polo da indústria fonográfica brasileira, graças ao incentivo do empresário  Wesley Rangel (1950-2016) ao criar um estúdio no próprio estado o Estúdio WR, onde os artistas gravavam seus discos  lá, ainda que estivesse longe de se equiparar aos recursos  de níveis de produção  das grandes gravadoras do Eixo Rio-São Paulo.

Foi por meio da expansão comercial construído pela Axé Music que o modelo de Micareta foi se espalhando por diferentes estados no Brasil, como por exemplo, aqui em Natal-RN todo o período de dezembro temos o Carnatal, um trocadilho com o nome da capital potiguar assim como outras cidades tem seus trocadilhos.




        Inclusive a prática do Carnatal surgiu quando em 1989, um grupo de empresários potiguares ao viajarem para o município de Feira de Santana/BA, lá tomaram conhecimento com o modelo de micareta que defini o carnaval fora de época e trouxeram para cá e desde 1990 vem ocorrendo o Carnatal durante o período de dezembro.

  Eu tive a oportunidade de prestigiar uma dessas festas de trio elétrico do Carnatal quando eu era  menino, a convite de um parente onde fiquei num camarote com minha família.

 


 

 

Tudo isso que expliquei está bem aprofundado no documentário Axé-Canto do Povo de um Lugar, que recomendo assistirem.  Dirigido por Chico Kertész, a obra  narra a história desse  importante patrimônio cultural da Bahia.

O documentário apresenta um vasto material riquíssimo com entrevistas com os mais variados artistas desse segmento que construíram suas carreiras nesse gênero, desde dos que conquistaram um  sucesso longevo como a Daniela Mercury, Ivete Sangalo,  Claudia Leite  aos que não conseguiram se consolidar artisticamente após lançar uma única canção de sucesso.




Também entrevistam Caetano Veloso e Gilberto Gil, dois importante cantores baianos, que viram o nascer da Axé Music nos anos 1980 quando Luiz Caldas lançou em 1985 a música Fricote.

Outras entrevistas que o documentário apresenta são de músicos, compositores, engenheiros de som, radialistas, produtores culturais, dirigentes dos blocos,  gente que de alguma forma teve envolvida na história desse gênero musical tipicamente baiano.




Dentre esses merece menção o nome do produtor Wesley Rangel, um importante mecenas que ajudou a investir na popularidade da Axé Music em todo o Brasil, ainda mais que ele foi o criador na capital baiana  do Estúdio WR,  responsável pelas  gravações  dos álbuns dos artistas desse gênero e também do engenheiro de som Ferando Gundlach****. O documentário apresentou o  registro do depoimento deles  antes  de ambos virem a falecer.




Fora que o conteúdo também apresenta uma riqueza de imagens de arquivos das matérias raras do Chiclete com Banana, Asa de Águia  sendo entrevistados na popular emissora local  da Tv Aratu.

Das primeiras apresentações desses artistas nos populares programas de TV no final da década de 1980. Como do Chiclete com Banana no Cassino do Chacrinha em 1987. Do Netinho como vocalista da Banda Beijo no Domingão do Faustão  em 1989 e recortes das matérias de jornais e revistas.

Outros depoimentos importantes no documentário  são de Hagamenon Brito, jornalista e crítico musical, o autor do rótulo  Axé Music, inicialmente para designar de forma pejorativa aquele estilo musical popular, alegre, contagiante, carnavalesco, que trazia uma mistura de músicas típicas dos blocos carnavalescos, com as influências africanas, trazidas de grupos periféricos com o intuito de caracterizá-lo como brega, que teve início com Luiz Caldas.

Que facilmente atraia todas as camadas mais populares.

O interessante do documentário é que ele não é chapa branca ao abordar o lado espinhoso da Axé Music em se tratando do seu esquema mercadológico predatório que já gerou um clima desagradável entre muitos artistas com os empresários dos blocos que costumam receberem uma porcentagem maior dos lucros, algo que talvez para nós como público consumidor que tanto os idolatramos sequer paremos para imaginar como isso não é algo tão glamoroso como podemos imaginar.

Para citar dois exemplos específicos:

Quando Bell Marques, que por mais de 30 anos foi o vocalista do Chiclete com Banana, até resolver deixar a banda  em 2014 depois de muitas divergências internas com a banda e a direção executiva da marca  que envolveu até mesmo briga familiar entre ele e seus dois irmãos: o tecladista da banda Wadinho Marques e o técnico de som e empresário da banda Wilson Marques. Que inclusive, ambos aparecem no documentário dando uma breve explicação em como se deu esse rompimento dele com a banda.

Pior mesmo foi o que ocorreu com Carla Visi, ex-vocalista da Banda Cheiro de Amor*****, numa entrevista que  concebeu ao Bagunças Podcast com apoio do Bahia Noticias em 2023, explicou que a razão de sua saída da banda ocorrida  em 2000 envolveu a briga judicial que a vocalista anterior a ela Márcia Freire moveu um processo trabalhista contra o bloco e ganhou o processo e como consequência do acordo, deles aceitarem que ela retornasse ao vocal da banda como uma forma de compensar o valor estipulado da multa que eles teriam de pagar e como consequência disso, acabou na saída abrupta de Carla Visi sem uma explicação oficial e com o retorno de Márcia Freire, e segundo pelo que ela explicou, não podia comentar sobre isso publicamente.

E por conta do rótulo comercial, sendo tudo botado num saco só,  isso termina gerando  a confusão em que por exemplo, o conjunto musical do É o Tchan, tem uma estética musical inspirada no samba-reggae e no pagode baiano, com letras e coreografias de cunho erótico,   mas comercialmente são caracterizados como  axé.

O que posso concluir é que nesse ano de 2025, em que a Axé Music, completou seus 40 anos assistir esse documentário para entender um pouco da importância disso para a cultura do carnaval tipicamente baiano é de suma importância. Vale a pena assistir.

*O nome inicial do Chiclete com Banana era Scorpius, mas para não confundir com o nome da banda de pop/rock alemã Scopions, resolvem mudar para Chiclete com Banana inspirado no título da canção de Jackson do Pandeiro(1919-1982). Em seus  primeiros anos de  formação, o grupo contou com a colaboração de Edmilson de Amorim Ferreira vulgo  Missinho(1960-2024), que dividiu os vocais com Bell Marques e foi o compositor até resolver sair do conjunto em 1986, foi o primeiro desfalque do conjunto. Antes da saída de  Bell,  o Chiclete sofreu outro desfalque  com a saída do guitarrista João Fernandes da Silva Filho vulgo Cacique Johnny(1955-2019), em referência a forma extravagante como gostava de se apresentar com um cocar, um item tipicamente indígena tocando uma guitarra com dois acordeões. O seu afastamento do conjunto se deu por problemas de saúde  quando em 2001 ele descobriu ser portador de ataxia cerebelar, uma inflamação do cerebelo que pode ser causada pelo abuso de álcool ou drogas, severa infecção viral ou anomalia congênita.  Isso afetou completamente sua coordenação motora e  o acompanhou até o seu  falecimento em 2019.

**Esse conjunto inspirou os humoristas Chico Anysio(1931-2012), Arnaud Rodrigues(1942-2010) e Renato Piau a satirizar juntando  a Caetano Veloso, símbolo da vanguarda do tropicalismo nos anos 1970 no conjunto fictício dos Baianos e os Novos Caetanos.

***O Bloco Eva surgiu em 1980, na Bahia, a partir de um grupo de amigos do Colégio Marista que em 1977 formaram um Grêmio Estudantil. O bloco foi criado após um grupo de  amigos passarem no vestibular e decidirem festejar e tocar juntos.  A escolha do nome por mais estranho que possa parecer, não tem relação alguma  com o nome da Eva bíblica, mas ao primeiro  local onde eles desfilaram localizado na Avenida Aliomar Baleeiro também conhecida como Estrada Velha do Aeroporto que formava a sigla EVA formando também um acrônimo. Ao contrário da canção que leva o nome da banda originada desse bloco sendo formada em 1993 que foi gravada no seu  CD Ao Vivo lançado em 1997 quando a banda ainda contava com Ivete Sangalo como vocalista. Uma canção que sequer era inédita, trata-se do  cover de outro  conjunto musical,  Rádio Táxi gravado em 1983, cuja autoria nem é de um brasileiro, mas dos italianos Umberto Tozzi e Giancarlo Bigazzi(1940-2012) inspirado na versão original que foi gravado por  Umberto Tozzi em 1982. Essa sim trazia uma referência da Eva bíblica por trás de sua simplista  estética romântica ao abordar um cenário de ficção cientifica space opera contando a história de forma eu-lírica de  um cara que chama sua amada para lhe acompanhar numa espaçonave para fugir da Terra que está prestes a acontecer um apocalipse nuclear  onde ele metaforicamente remente a bíblia que eles seriam como Adão e Eva vagando no espaço e sua astronave seria a Arca de Noé. Pesado não. A  principal razão para o porquê dessa canção carregar uma pesada mensagem sobre uma atmosfera de apocalipse causada por uma catástrofe  nuclear tem a haver com a contextualização que envolve   o cunho real que o seu respectivo autor tinha vivenciado  ao criá-la, pois   tratava-se de uma crítica social  a respeito da sensação de pessimismo que o mundo na década de 1980 estava passando com o medo de haver uma   guerra  nuclear, ainda mais que vivíamos no período da Guerra Fria. Que envolveu a disputa política e industrial entre duas grandes potências: os EUA e a antiga URSS(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) atual Rússia. E o medo constante do  uso das armas nucleares poderiam causar uma destruição em massa da humanidade. A música de certa forma reflete bem aquela sensação  dramática que o mundo passava na década de 1980, e isto fica bem evidente quando você percebe que ela em todo o seu escopo apresenta uma atmosfera de um cenário apocalíptico com referências bíblicas, e a evidencia disso está no fato da própria musa que dá título à canção fazer a referência a Eva da bíblia, a primeira mulher criada por Deus pela costela de Adão. Dentre os artistas que já passaram pelo bloco antes mesmo de surgir sua própria banda, o primeiro responsável por puxar o bloco foi Juscelino Oliveira Morbeck vulgo Jota Morbeck(1961-2000), também passaram Ricardo Chaves, Durval Lelys, Ivete Sangalo, Saulo Fernandes dentre outros.

****O engenheiro de som Fernando Gundlach, que aparece dando depoimento  no documentário morreu de forma covarde ao ser baleado depois que sofreu um assalto no dia 06 de Outubro de 2015. O documentário só  foi lançado em circuito comercial postumamente, do mesmo jeito que postumamente foi lançado depois que outro entrevistado na obra, o produtor musical Wesley Rangel faleceu em 06 de Janeiro de 2016 após enfrentar uma dura batalha  contra o câncer de próstata com metástase óssea há cinco anos.

*****Surgida inicialmente nos anos 1980, como Bloco com o nome Pimenta de Cheiro, cujo trio elétrico carregava como característica soltar o cheiro  de perfume. Ao longo da história da banda, foram mudando as formações de vocalistas, a primeira vocalista  foi Laurinha Abrantes que marcou o Carnaval Baiano por ser a primeira mulher a puxar um bloco, o que até então de predomínio masculino. Depois foi substituída por Márcia Freire, que assumiu o vocal do conjunto a partir de 1985 e foi responsável por firmar o nome da banda nacionalmente até 1996, quando foi substituída por Carla Visi que ficou no conjunto até o ano 2000. Com a saída de Carla Visi, Márcia Freire ao comando como parte do acordo judicial, após vencer o processo trabalhista contra a direção executiva do bloco. Em 2003, Aline Rosa assumiu a função de vocalista do conjunto e permaneceu até 2014, sendo substituída por Vina Calmon que ficou até 2024, sendo substituída por Raquel Tombesi.

 

 

 

terça-feira, 18 de março de 2025

MINISSÉRIE SENNA(2024) PARA LEMBRAR OS 65 ANOS DE AYRTON SENNA

 

No dia 21 de Março  de 1960, nascia em São Paulo, Ayrton Senna da Silva, em comemoração ao seu aniversário de 65 anos se tivesse vivo em 2025, comento aqui um pouco  sobre  a minissérie biográfica Senna(Brasil,2024) da Netflix que conta de maneira ficcional  a trajetória do maior ídolo do esporte brasileiro.




Nessa minissérie dividida em seis episódios que conta com a direção de Vicente Amorim e Julia Rezende, e contou com o envolvimento de uma grande equipe criativa formada por cinco roteiristas que citando  por ordem alfabética são: Álvaro Campos, Álvaro Mamute,  Gustavo Bragança, Rafael Spínola e Thaís Falcão.




Que enfrentaram um trabalho árduo de conseguir dramatizar a vida de Ayrton Senna nessa minissérie que eles estavam programando para ser lançado em Maio de  2024, data em  que se completou 30 anos de sua morte, tarefa que não foi nada fácil, principalmente para eles entrarem em negociações com a Família Senna que não queria de jeito nenhum que fosse mostrado  o romance de Ayrton com a então modelo  Adriane Galisteu de quem até hoje eles se ressentem e isso quase gerou um cancelamento da série.




O que motivou um tempo menor da presença dela em tela, fora também o fato da tarefa desafiadora que exigiria  como explorar a vida do tão idolatrado herói brasileiro do esporte sem cair nas armadilhas de representa-lo de uma forma a romantizar demais a ponto de não parecer estar sendo tendencioso.




Um aspecto que acontece muito curioso quando se trata de obras audiovisuais sobre biografias de figuras da política, por exemplo. Que é exaltar demais a ponto de criar um caráter messiânico no mito por trás da pessoa em sua jornada heroica.




O que tende  a gerar polêmicas entre a crítica  e justamente quando essa figura pública é envolta das polêmicas, tende-se a ser chapa branca.





Fora outros fatores de produção que ocasionaram por esse motivo  num atraso fazendo com que a minissérie só fosse lançada no serviço de streaming no dia 29 de Novembro de 2024.




Na minissérie, a jornada de Ayrton Senna(Gabriel Leone) começa no primeiro episódio  sendo mostrada pelo fim que é na cena do acidente que ele sofre pista em  Ímola, durante a realização do Grande Prêmio de San Marino* em 1º de Maio de 1994.




É no primeiro episódio que é mostrado  na sequência  corta mostrando   Senna na infância na escola brincando de dirigir e quando é pego por sua mãe Neide Senna da Silva(Suzana Ribeiro) que o chama de Beco, o  leva para a fábrica de automóveis  seu pai Milton da Silva(Marco Ricca) que o presenteia com um carro de Kart.

É a partir disso que a obra vai dando segmento  ao longo dos episódios mostrando a trajetória de  Senna que vamos conhecendo da sua  jornada como piloto do Kart para a Fórmula Ford, antes de se consolidar na Fórmula 1.

Onde vai sendo traçado o perfil do Senna como o mito com a fama mundial que foi ganhando onde viveu seus atritos com o piloto francês Alan Prost(Matt Mella) seu grande rival nas pistas, não só enfrentou atrito com Prost, mas também com Jean-Marie Balestre(Arnaud Viard), o então dirigente esportivo francês  que presidia a FIA(Federação Internacional Automobilística) entre os anos 1986 a 1993, época que Senna atuava na Formula 1.

Assim como também vai traçando o perfil do retrato  da sua vida intima, principalmente ao retratar sua relação de amizade com o locutor Galvão Bueno(Gabriel Louchard) e dos seus relacionamentos amorosos, como do curto casamento que teve com Lilian Vasconcellos(Alice Wengman), isso antes dele virar uma personalidade pública na Fórmula 1. Do romance que teve com a então apresentadora infantil Xuxa Meneghel(Pamela Thomé) que é mostrada em um tempo de tela maior  e o curto tempo do romance dele com Adriane Galisteu(Júlia Foti) que foi a alternativa que a produção escolheu para conseguir a liberação da Família Senna para eles poderem estruturar o roteiro da série.

Fora também como foi mostrado num extra do making off, que a produção enfrentou também a tarefa de recriar no trabalho cenográfico dos antigos autódromos que foram gravadas em locações na Argentina e no Uruguai, que contaram com a reprodução tecnológica do CGI  para reconstituir a cenografia dos anos 1980, os antigos modelos de carros de Fórmula 1, a maneira como foram gravados com o auxílio de dublês experts, a reprodução dos figurinos dos antigos macacões com patrocínios de marcas que já não existem mais.

Ufa, tudo isso contou com o envolvimento multinacional de técnicos em efeitos especiais da Argentina e do Uruguai, assim como também muito bem trabalhada a reprodução cenográfica do programa  Xou da Xuxa(1986-1992), com Senna recebendo muitos beijos de Xuxa, tudo muito bem trabalhado na obra.

Um bom trabalho meticuloso  de reprodução de época que nos fez imergir e retornar aquela época em que Senna divertia os brasileiros com sua vitória aos domingos entre os anos 1980 e 1990 cuja trilha nacional que trazem canções como Ska dos Paralamas do Sucesso e algumas internacionais como The Best da popstar americana Tian Turner(1939-2023).  

Essa produção que contou em seu elenco com feras nacionais e internacionais, como Gabriel Leone protagonizando o Ayrton Senna(1960-1994), apesar dele não se assemelhar a Senna ainda assim ele consegue transmitir o perfil se equilibrando entre o mito que domina as pistas e a pessoa extrovertida  fora das pistas.

Ele consegue transmitir bem as várias faces  do Senna que publicamente nas entrevistas mostrava um perfil calmo, sereno de fala mansa e muito seriamente metódico em sempre vencer e fora das pistas mostrava ser um cara descontraído.

Um Senna que também mostra  estar longe de ser um santinho, apesar da aura do mito heroico que se criou em torno dele, principalmente quando são mostrado as brigas de bastidores que ele teve com seu adversário nas pistas Alan Prost, muito bem defendido pelo francês Matt Mella que ficou bem parecido com o próprio que parece não ter gostado de sua representação na série, com um perfil vilanesco, meio Dick Vigarista do desenho da  Corrida Maluca, mais que ainda assim soube bem como representa-lo em cena, mostrando com também havia relação respeitosa entre eles.

Ou mesmo das cenas de suas brigas com o então dirigente da FIA, Jean-Marie Balestre(1921-2008) que foi representado pelo ator francês Arnaud Viard que bem apresenta os bastidores podres das administrações esportivas.

Outras feras nacionais e internacionais presentes na série são de Marco Ricca que representa bem em cena o papel do Milton da Silva, pai do Ayrton, um homem que soube  investir bem no potencial do filho para o automobilismo, ainda mais que ele por ser dono de uma fábrica de automóveis e o presentear com um kart no começo da série foi incrível. Milton faleceu em 2021, aos 94 anos de causas naturais.

Do núcleo da Família Senna também  menciono as participações de Susana Ribeiro que está brilhante em cena representando a mãe de Ayrton, Neide Senna, uma típica mãe zelosa e sempre muito preocupada com o filho. E Camila Márdila como a Viviane Senna, sua irmã com quem ele confidencia o sonho de criar o Instituto Ayrton Senna.

Do mesmo modo, posso citar as participações de Alice Wengman que apesar de aparecer pouco, mas mostra um bom desempenho no papel da Lillian Vasconcelos, a única mulher a quem Senna foi de fato casado antes de virar  uma grande figura pública.

Ao longo da vida de Senna, ele apesar de ter morrido solteiro aos 34 anos, colecionou um monte de romances com mulheres de belezas  exuberantes, boa parte delas modelos, mas na série eles condensaram na figura que teve o destaque maior, que foi no caso Xuxa sendo representada por Pamela Thomé.

A atriz se mostra muito identicamente caracterizada como a apresentadora infantil  conhecíamos nos anos 1980, principalmente para quem foi da minha geração que nasceu na segunda metade dessa década, que além de alcançarem Ayrton Senna no auge do sucesso de sua carreira na Fórmula 1, também alcançou Xuxa no auge de sua carreira na TV. 

Inclusive na série a produção aproveitou da lenda que se criou que Xuxa e Angélica** eram inimigas devido as semelhanças no só no cabelo, mas ambas também tinham o nicho do público infantil que na cena que mostra Senna a apresentando Xuxa  a família na sua propriedade litorânea, o seu  pai Milton ao se direcionar  a ela pergunta assim:

-Eu te conheço de algum lugar, você não é aquela apresentadora a Angélica?

Xuxa responde assim:

-A Angélica vai de táxi, já eu vou de McLaren.

         Uma curiosa cutucada que a produção aproveitou para também refletir aquele contexto  de que Xuxa não era a única apresentadora infantil, também tinha uma forte uma concorrente e usou uma referência a canção de Angélica do Vou de Táxi*** o comparando de que Senna estava na McLaren.

      Assim como Gabriel Louchard que se destaca bem representando na minissérie o papel do locutor Galvão Bueno, ele está impagável na pele do Galvão, principalmente como quando é mostrado ele narrando as vitórias de Senna, com o “Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil” e podemos ouvir a famosa trilha instrumental do Tema da Vitória, uma composição de Eduardo Souto Neto e de sua relação próxima de amizade com Senna é também fascinante.

          Também mencionar as participações de atores que representam alguns dos importantes pilotos da história da Fórmula 1 e outros nomes importantes do automobilismo como: Hugo Bonemer que representa na minissérie o papel do piloto brasileiro Nelson Piquet, o alemão Johannes Heinrichs que representa o ex-piloto austríaco Nikki Lauda(1949-2019), o britânico Leon Ockeden representou o ex-piloto James Hunt(1947-1993), o nipo-americano Keisuke Hoashi representa na minissérie o engenheiro japonês Osamu Goto, da marca Honda  e Steve Mackintosh  representando Frank Willams(1942-2021), dono da Williams dentre outras participações especiais.

      É necessário esclarecer que nessa obra ficcional houve algumas tomadas de liberdade com pitadas de licenças poéticas para poder a dramatização ficar mais envolvente, uma delas é na cena que mostra Senna curtindo uma festa promovida pela realeza de Mônaco onde estava presentes muitos dos pilotos como convidados pois era para celebrar o Grande Prêmio de Mônaco.

         Nesse momento  é mostrado Senna flertando com uma duquesa de nome Malena, onde mostra ele se aproximando dela e ainda que não mostre, mas deixa implícito uma suposta relação sexual dele com ela. Essa mulher, “no entanto, não existiu, e não há relatos seguros de que ele tenha se envolvido com alguém da realeza, embora algumas aventuras amorosas rápidas sejam descritas em sua biografia.”(Fonte: Site da Veja de 3 de Dezembro de 2024).

       O que serviu mais para exemplificar a representação da Fórmula 1, como uma modalidade elitista, onde só costumam competir membros nascidos em berços de famílias abastadas como é o caso de Senna, ainda mais sendo uma modalidade individual, ao contrário do futebol que é coletivo e atrai as massas populares, o queo torna  o uma paixão nacional.  É uma forma de conectar também ao fato de Mônaco ter sido o lugar onde Senna mais foi campeão e também mostrar o lado glamouroso da Fórmula 1 e também tratar da metáfora do quanto ele foi retratado como uma realeza nas pistas.

       Outro ponto que também é uma licença poética da série é a presença do garoto Marcelo Silva, representado por Anderson Amorim, que é um garoto que acompanha as  suas corridas no bar de seu pai num humilde bairro periférico, onde mostra Senna lendo entre umas cartas de fãs, uma dessas era uma carta dele com um  desenho ilustrado e decide visita-lo de surpresa.

    O menino de fato não existiu, mas ele serviu bem  para personificar a representação da camada popular brasileira, em especial das crianças que viam nele um exemplo de inspiração, ou seja, uma forte conexão dos brasileiros com ele.

      Mostrando também a preocupação que  Senna trazia em representar o Brasil, um país tão desigual que quando ele firmou seu nome internacionalmente na Fórmula 1 na segunda metade dos anos 1980, o Brasil estava passando por uma mudança sócio-política-econômica com o fim da Repressão da Ditadura Militar e passando  por uma transição de governo militar para governo civil herdando uma inflação alta e Senna em toda sua vitória, ao demonstrar um agradecimento a Deus, já que veio de uma família de formação religiosa católica e tremulando a bandeira do Brasil foi uma forma dele demonstrar sua paixão pelo país, mesmo com todos os problemas e foi daí que ele concebeu o Instituto Ayrton Senna, que foi concretizado pouco depois que ele morreu.

      E outro elemento ficcional presente na série é a presença da jornalista inglesa Laura Harrison, representada pela também inglesa Kaya Scodelario, que é com quem Senna sempre aparece interagindo quando dá entrevistas ao competir para Grandes Prêmios ou em outras ocasiões festivas.

      Ela na minissérie serve para exemplificar uma maneira de condensar a representação dos diferentes jornalistas com quem Senna foi interagindo ao longo sua ascendente carreira na Fórmula 1.

        Num balanço geral, a minissérie Senna apresenta muitos saldos positivos a seu favor para mostrar a uma geração de brasileiros  que não alcançaram o seu sucesso, que nasceram após sua morte conhecer a importância dele como exemplo a ser seguido de herói brasileiro.

       O único saldo negativo é o fato de que como a participação da Adriane Galisteu foi reduzida por conta do pedido da Família Senna, isso levou a uma forçação  de barra da produção de estenderem um tempo de tela maior para Xuxa.

        Posso concluir que vale a pena  assistir a minissérie sobre o maior herói esportivo que o Brasil já conheceu.

* San Marino “é um país situado nos Apeninos. É um enclave, completamente envolta pela Itália. Faz fronteira com as províncias italianas da Emília-Romanhas e das Marcas. Sua área é de apenas 61 km² com uma população estimada em 30 000 habitantes, e a sua capital é a Cidade de San Marino. San Marino é um dos  microestados europeus, junto com LiechtensteinVaticanoMônacoAndorra, e Malta, e tem a menor população de todos os membros do Conselho da Europa.

San Marino é considerado o Estado nacional mais antigo do mundo. O país foi fundado em 3 de setembro de 301 pelo diácono Marinho, que era oriundo de uma das ilhas da costa da Dalmácia. Marinus deixou Rab, então uma colónia romana, em 257, quando o futuro imperador, Diocleciano, emitiu um decreto solicitando a reconstrução dos muros da cidade de Rimini, que havia sido destruída por piratas libúrnios.” (Fonte: Wikipédia).

**Toda essa lenda em torno do clima de concorrência entre Xuxa e Angélica como inimigas se deve ao fato de ambas, além de representarem  o mesmo nicho infantil e terem os cabelos loiros que remetem a uma boneca  Barbie   figurando como as babás eletrônicas. Também se deve as semelhanças de como ocorreu o início de suas carreiras. Ambas em comum, mesmo com a diferença de idade de 10 anos, com Xuxa sendo 10 anos mais velha que Angélica com ela tendo quase a idade de ser sua irmã caçula, representavam um retrato da  nova safra  de apresentadores surgidos nos  anos 1980 que pertencem a uma geração de brasileiros que nasceram  e cresceram assistindo a televisão, portanto, podendo se dizer que suas carreiras foram moldadas pela TV. Xuxa nascida Maria da Graça Meneghel havia começado sua carreira como modelo no começo dos anos 1980 com apenas 16 anos, antes de namorar com Ayrton Senna ela já namorou com outro ídolo esportivo brasileiro, o eterno Rei do Futebol Edson Arantes do Nascimento, vulgo Pelé(1940-2022) que era vinte mais velho que ela. Antes de virar apresentadora de programa infantil, Xuxa estrelou o polêmico  filme erótico Amor, Estranho Amor(Brasil, 1982) do diretor Walter Hugo Khoury(1929-2003) e foi a convite do diretor Mauricio Sherman(1931-2019) que se deu início a sua trajetória como apresentadora infantil que a conhecemos para comandar em 1983 com 20 anos  na recém-inaugurada Rede Manchete, fundada pelo ucraniano naturalizado brasileiro Adolpho Bloch(1908-1995) num programa intitulado Clube da Criança. Esse mesmo programa, na mesma emissora e também dirigido por Sherman foi onde revelou Angélica Ksyvickis seu nome de solteira antes de se casar com o apresentador Luciano Huck e passar assinar com o sobrenome dele, como apresentadora em 1987, na época ainda garotinha com 13 anos e que já tinha vindo de uma carreira de modelo infantil, onde com apenas 4 anos participou de um concurso A Criança Mais Bonita, promovida pelo apresentador Chacrinha(1917-1988) quando apresentava na Bandeirante o Buzina do Chacrinha. Quando Angélica se lançou como apresentadora infantil na Manchete, Xuxa já era popularmente famosa entre o público infantil. Talvez por essas coincidências  se explique o fato dessa lenda que surgiu de  ambas serem inimigas.

***A canção Vou de táxi que Angélica gravou em 1988, o primeiro single  a compor o repertório do seu LP de estreia quando ela  tinha apenas 15 anos gravado pelo selo da CBS. Trata-se de uma versão de Joe Le Taxi, canção gravada em 1987 pela então jovem cantora de 14 anos Vanessa Paradis que foi muito sucesso nas paradas das rádios francesas e de países da Europa como os francofanos da Bélgica, por exemplo.  A canção original, diferente da adaptação feita aqui no Brasil onde foi por meio de um produtor dela que ao fazer uma viagem à França ao tomar conhecimento dessa canção tocando nas rádios negociou o direito de adaptação e chamou o cantor Byafra e seu irmão Aloysio Reis para adaptar a letra gravada por Angélica. Na letra original composta por Étienne Roda-Gil(1941-2004) a canção aborda sobre a vida rotineira de um taxista chamado Joe, o Joe Le Taxi do título da canção, passeando pelas ruas de Paris que foi inspirado num taxista real, melhor dizendo numa taxista real que foi uma motorista portuguesa chamada Maria José Leão dos Santos(1955-2019) que era conhecido como Joe, uma popular personalidade LGBTQUIAPN+ da noite parisiense durante os anos 1980. Bem diferente da versão romântica com toques de erotismo nas entrelinhas do texto que Angélica eternizou.