terça-feira, 18 de março de 2025

MINISSÉRIE SENNA(2024) PARA LEMBRAR OS 65 ANOS DE AYRTON SENNA

 

No dia 21 de Março  de 1960, nascia em São Paulo, Ayrton Senna da Silva, em comemoração ao seu aniversário de 65 anos se tivesse vivo em 2025, comento aqui um pouco  sobre  a minissérie biográfica Senna(Brasil,2024) da Netflix que conta de maneira ficcional  a trajetória do maior ídolo do esporte brasileiro.




Nessa minissérie dividida em seis episódios que conta com a direção de Vicente Amorim e Julia Rezende, e contou com o envolvimento de uma grande equipe criativa formada por cinco roteiristas que citando  por ordem alfabética são: Álvaro Campos, Álvaro Mamute,  Gustavo Bragança, Rafael Spínola e Thaís Falcão.




Que enfrentaram um trabalho árduo de conseguir dramatizar a vida de Ayrton Senna nessa minissérie que eles estavam programando para ser lançado em Maio de  2024, data em  que se completou 30 anos de sua morte, tarefa que não foi nada fácil, principalmente para eles entrarem em negociações com a Família Senna que não queria de jeito nenhum que fosse mostrado  o romance de Ayrton com a então modelo  Adriane Galisteu de quem até hoje eles se ressentem e isso quase gerou um cancelamento da série.




O que motivou um tempo menor da presença dela em tela, fora também o fato da tarefa desafiadora que exigiria  como explorar a vida do tão idolatrado herói brasileiro do esporte sem cair nas armadilhas de representa-lo de uma forma a romantizar demais a ponto de não parecer estar sendo tendencioso.




Um aspecto que acontece muito curioso quando se trata de obras audiovisuais sobre biografias de figuras da política, por exemplo. Que é exaltar demais a ponto de criar um caráter messiânico no mito por trás da pessoa em sua jornada heroica.




O que tende  a gerar polêmicas entre a crítica  e justamente quando essa figura pública é envolta das polêmicas, tende-se a ser chapa branca.





Fora outros fatores de produção que ocasionaram por esse motivo  num atraso fazendo com que a minissérie só fosse lançada no serviço de streaming no dia 29 de Novembro de 2024.




Na minissérie, a jornada de Ayrton Senna(Gabriel Leone) começa no primeiro episódio  sendo mostrada pelo fim que é na cena do acidente que ele sofre pista em  Ímola, durante a realização do Grande Prêmio de San Marino* em 1º de Maio de 1994.




É no primeiro episódio que é mostrado  na sequência  corta mostrando   Senna na infância na escola brincando de dirigir e quando é pego por sua mãe Neide Senna da Silva(Suzana Ribeiro) que o chama de Beco, o  leva para a fábrica de automóveis  seu pai Milton da Silva(Marco Ricca) que o presenteia com um carro de Kart.

É a partir disso que a obra vai dando segmento  ao longo dos episódios mostrando a trajetória de  Senna que vamos conhecendo da sua  jornada como piloto do Kart para a Fórmula Ford, antes de se consolidar na Fórmula 1.

Onde vai sendo traçado o perfil do Senna como o mito com a fama mundial que foi ganhando onde viveu seus atritos com o piloto francês Alan Prost(Matt Mella) seu grande rival nas pistas, não só enfrentou atrito com Prost, mas também com Jean-Marie Balestre(Arnaud Viard), o então dirigente esportivo francês  que presidia a FIA(Federação Internacional Automobilística) entre os anos 1986 a 1993, época que Senna atuava na Formula 1.

Assim como também vai traçando o perfil do retrato  da sua vida intima, principalmente ao retratar sua relação de amizade com o locutor Galvão Bueno(Gabriel Louchard) e dos seus relacionamentos amorosos, como do curto casamento que teve com Lilian Vasconcellos(Alice Wengman), isso antes dele virar uma personalidade pública na Fórmula 1. Do romance que teve com a então apresentadora infantil Xuxa Meneghel(Pamela Thomé) que é mostrada em um tempo de tela maior  e o curto tempo do romance dele com Adriane Galisteu(Júlia Foti) que foi a alternativa que a produção escolheu para conseguir a liberação da Família Senna para eles poderem estruturar o roteiro da série.

Fora também como foi mostrado num extra do making off, que a produção enfrentou também a tarefa de recriar no trabalho cenográfico dos antigos autódromos que foram gravadas em locações na Argentina e no Uruguai, que contaram com a reprodução tecnológica do CGI  para reconstituir a cenografia dos anos 1980, os antigos modelos de carros de Fórmula 1, a maneira como foram gravados com o auxílio de dublês experts, a reprodução dos figurinos dos antigos macacões com patrocínios de marcas que já não existem mais.

Ufa, tudo isso contou com o envolvimento multinacional de técnicos em efeitos especiais da Argentina e do Uruguai, assim como também muito bem trabalhada a reprodução cenográfica do programa  Xou da Xuxa(1986-1992), com Senna recebendo muitos beijos de Xuxa, tudo muito bem trabalhado na obra.

Um bom trabalho meticuloso  de reprodução de época que nos fez imergir e retornar aquela época em que Senna divertia os brasileiros com sua vitória aos domingos entre os anos 1980 e 1990 cuja trilha nacional que trazem canções como Ska dos Paralamas do Sucesso e algumas internacionais como The Best da popstar americana Tian Turner(1939-2023).  

Essa produção que contou em seu elenco com feras nacionais e internacionais, como Gabriel Leone protagonizando o Ayrton Senna(1960-1994), apesar dele não se assemelhar a Senna ainda assim ele consegue transmitir o perfil se equilibrando entre o mito que domina as pistas e a pessoa extrovertida  fora das pistas.

Ele consegue transmitir bem as várias faces  do Senna que publicamente nas entrevistas mostrava um perfil calmo, sereno de fala mansa e muito seriamente metódico em sempre vencer e fora das pistas mostrava ser um cara descontraído.

Um Senna que também mostra  estar longe de ser um santinho, apesar da aura do mito heroico que se criou em torno dele, principalmente quando são mostrado as brigas de bastidores que ele teve com seu adversário nas pistas Alan Prost, muito bem defendido pelo francês Matt Mella que ficou bem parecido com o próprio que parece não ter gostado de sua representação na série, com um perfil vilanesco, meio Dick Vigarista do desenho da  Corrida Maluca, mais que ainda assim soube bem como representa-lo em cena, mostrando com também havia relação respeitosa entre eles.

Ou mesmo das cenas de suas brigas com o então dirigente da FIA, Jean-Marie Balestre(1921-2008) que foi representado pelo ator francês Arnaud Viard que bem apresenta os bastidores podres das administrações esportivas.

Outras feras nacionais e internacionais presentes na série são de Marco Ricca que representa bem em cena o papel do Milton da Silva, pai do Ayrton, um homem que soube  investir bem no potencial do filho para o automobilismo, ainda mais que ele por ser dono de uma fábrica de automóveis e o presentear com um kart no começo da série foi incrível. Milton faleceu em 2021, aos 94 anos de causas naturais.

Do núcleo da Família Senna também  menciono as participações de Susana Ribeiro que está brilhante em cena representando a mãe de Ayrton, Neide Senna, uma típica mãe zelosa e sempre muito preocupada com o filho. E Camila Márdila como a Viviane Senna, sua irmã com quem ele confidencia o sonho de criar o Instituto Ayrton Senna.

Do mesmo modo, posso citar as participações de Alice Wengman que apesar de aparecer pouco, mas mostra um bom desempenho no papel da Lillian Vasconcelos, a única mulher a quem Senna foi de fato casado antes de virar  uma grande figura pública.

Ao longo da vida de Senna, ele apesar de ter morrido solteiro aos 34 anos, colecionou um monte de romances com mulheres de belezas  exuberantes, boa parte delas modelos, mas na série eles condensaram na figura que teve o destaque maior, que foi no caso Xuxa sendo representada por Pamela Thomé.

A atriz se mostra muito identicamente caracterizada como a apresentadora infantil  conhecíamos nos anos 1980, principalmente para quem foi da minha geração que nasceu na segunda metade dessa década, que além de alcançarem Ayrton Senna no auge do sucesso de sua carreira na Fórmula 1, também alcançou Xuxa no auge de sua carreira na TV. 

Inclusive na série a produção aproveitou da lenda que se criou que Xuxa e Angélica** eram inimigas devido as semelhanças no só no cabelo, mas ambas também tinham o nicho do público infantil que na cena que mostra Senna a apresentando Xuxa  a família na sua propriedade litorânea, o seu  pai Milton ao se direcionar  a ela pergunta assim:

-Eu te conheço de algum lugar, você não é aquela apresentadora a Angélica?

Xuxa responde assim:

-A Angélica vai de táxi, já eu vou de McLaren.

         Uma curiosa cutucada que a produção aproveitou para também refletir aquele contexto  de que Xuxa não era a única apresentadora infantil, também tinha uma forte uma concorrente e usou uma referência a canção de Angélica do Vou de Táxi*** o comparando de que Senna estava na McLaren.

      Assim como Gabriel Louchard que se destaca bem representando na minissérie o papel do locutor Galvão Bueno, ele está impagável na pele do Galvão, principalmente como quando é mostrado ele narrando as vitórias de Senna, com o “Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil” e podemos ouvir a famosa trilha instrumental do Tema da Vitória, uma composição de Eduardo Souto Neto e de sua relação próxima de amizade com Senna é também fascinante.

          Também mencionar as participações de atores que representam alguns dos importantes pilotos da história da Fórmula 1 e outros nomes importantes do automobilismo como: Hugo Bonemer que representa na minissérie o papel do piloto brasileiro Nelson Piquet, o alemão Johannes Heinrichs que representa o ex-piloto austríaco Nikki Lauda(1949-2019), o britânico Leon Ockeden representou o ex-piloto James Hunt(1947-1993), o nipo-americano Keisuke Hoashi representa na minissérie o engenheiro japonês Osamu Goto, da marca Honda  e Steve Mackintosh  representando Frank Willams(1942-2021), dono da Williams dentre outras participações especiais.

      É necessário esclarecer que nessa obra ficcional houve algumas tomadas de liberdade com pitadas de licenças poéticas para poder a dramatização ficar mais envolvente, uma delas é na cena que mostra Senna curtindo uma festa promovida pela realeza de Mônaco onde estava presentes muitos dos pilotos como convidados pois era para celebrar o Grande Prêmio de Mônaco.

         Nesse momento  é mostrado Senna flertando com uma duquesa de nome Malena, onde mostra ele se aproximando dela e ainda que não mostre, mas deixa implícito uma suposta relação sexual dele com ela. Essa mulher, “no entanto, não existiu, e não há relatos seguros de que ele tenha se envolvido com alguém da realeza, embora algumas aventuras amorosas rápidas sejam descritas em sua biografia.”(Fonte: Site da Veja de 3 de Dezembro de 2024).

       O que serviu mais para exemplificar a representação da Fórmula 1, como uma modalidade elitista, onde só costumam competir membros nascidos em berços de famílias abastadas como é o caso de Senna, ainda mais sendo uma modalidade individual, ao contrário do futebol que é coletivo e atrai as massas populares, o queo torna  o uma paixão nacional.  É uma forma de conectar também ao fato de Mônaco ter sido o lugar onde Senna mais foi campeão e também mostrar o lado glamouroso da Fórmula 1 e também tratar da metáfora do quanto ele foi retratado como uma realeza nas pistas.

       Outro ponto que também é uma licença poética da série é a presença do garoto Marcelo Silva, representado por Anderson Amorim, que é um garoto que acompanha as  suas corridas no bar de seu pai num humilde bairro periférico, onde mostra Senna lendo entre umas cartas de fãs, uma dessas era uma carta dele com um  desenho ilustrado e decide visita-lo de surpresa.

    O menino de fato não existiu, mas ele serviu bem  para personificar a representação da camada popular brasileira, em especial das crianças que viam nele um exemplo de inspiração, ou seja, uma forte conexão dos brasileiros com ele.

      Mostrando também a preocupação que  Senna trazia em representar o Brasil, um país tão desigual que quando ele firmou seu nome internacionalmente na Fórmula 1 na segunda metade dos anos 1980, o Brasil estava passando por uma mudança sócio-política-econômica com o fim da Repressão da Ditadura Militar e passando  por uma transição de governo militar para governo civil herdando uma inflação alta e Senna em toda sua vitória, ao demonstrar um agradecimento a Deus, já que veio de uma família de formação religiosa católica e tremulando a bandeira do Brasil foi uma forma dele demonstrar sua paixão pelo país, mesmo com todos os problemas e foi daí que ele concebeu o Instituto Ayrton Senna, que foi concretizado pouco depois que ele morreu.

      E outro elemento ficcional presente na série é a presença da jornalista inglesa Laura Harrison, representada pela também inglesa Kaya Scodelario, que é com quem Senna sempre aparece interagindo quando dá entrevistas ao competir para Grandes Prêmios ou em outras ocasiões festivas.

      Ela na minissérie serve para exemplificar uma maneira de condensar a representação dos diferentes jornalistas com quem Senna foi interagindo ao longo sua ascendente carreira na Fórmula 1.

        Num balanço geral, a minissérie Senna apresenta muitos saldos positivos a seu favor para mostrar a uma geração de brasileiros  que não alcançaram o seu sucesso, que nasceram após sua morte conhecer a importância dele como exemplo a ser seguido de herói brasileiro.

       O único saldo negativo é o fato de que como a participação da Adriane Galisteu foi reduzida por conta do pedido da Família Senna, isso levou a uma forçação  de barra da produção de estenderem um tempo de tela maior para Xuxa.

        Posso concluir que vale a pena  assistir a minissérie sobre o maior herói esportivo que o Brasil já conheceu.

* San Marino “é um país situado nos Apeninos. É um enclave, completamente envolta pela Itália. Faz fronteira com as províncias italianas da Emília-Romanhas e das Marcas. Sua área é de apenas 61 km² com uma população estimada em 30 000 habitantes, e a sua capital é a Cidade de San Marino. San Marino é um dos  microestados europeus, junto com LiechtensteinVaticanoMônacoAndorra, e Malta, e tem a menor população de todos os membros do Conselho da Europa.

San Marino é considerado o Estado nacional mais antigo do mundo. O país foi fundado em 3 de setembro de 301 pelo diácono Marinho, que era oriundo de uma das ilhas da costa da Dalmácia. Marinus deixou Rab, então uma colónia romana, em 257, quando o futuro imperador, Diocleciano, emitiu um decreto solicitando a reconstrução dos muros da cidade de Rimini, que havia sido destruída por piratas libúrnios.” (Fonte: Wikipédia).

**Toda essa lenda em torno do clima de concorrência entre Xuxa e Angélica como inimigas se deve ao fato de ambas, além de representarem  o mesmo nicho infantil e terem os cabelos loiros que remetem a uma boneca  Barbie   figurando como as babás eletrônicas. Também se deve as semelhanças de como ocorreu o início de suas carreiras. Ambas em comum, mesmo com a diferença de idade de 10 anos, com Xuxa sendo 10 anos mais velha que Angélica com ela tendo quase a idade de ser sua irmã caçula, representavam um retrato da  nova safra  de apresentadores surgidos nos  anos 1980 que pertencem a uma geração de brasileiros que nasceram  e cresceram assistindo a televisão, portanto, podendo se dizer que suas carreiras foram moldadas pela TV. Xuxa nascida Maria da Graça Meneghel havia começado sua carreira como modelo no começo dos anos 1980 com apenas 16 anos, antes de namorar com Ayrton Senna ela já namorou com outro ídolo esportivo brasileiro, o eterno Rei do Futebol Edson Arantes do Nascimento, vulgo Pelé(1940-2022) que era vinte mais velho que ela. Antes de virar apresentadora de programa infantil, Xuxa estrelou o polêmico  filme erótico Amor, Estranho Amor(Brasil, 1982) do diretor Walter Hugo Khoury(1929-2003) e foi a convite do diretor Mauricio Sherman(1931-2019) que se deu início a sua trajetória como apresentadora infantil que a conhecemos para comandar em 1983 com 20 anos  na recém-inaugurada Rede Manchete, fundada pelo ucraniano naturalizado brasileiro Adolpho Bloch(1908-1995) num programa intitulado Clube da Criança. Esse mesmo programa, na mesma emissora e também dirigido por Sherman foi onde revelou Angélica Ksyvickis seu nome de solteira antes de se casar com o apresentador Luciano Huck e passar assinar com o sobrenome dele, como apresentadora em 1987, na época ainda garotinha com 13 anos e que já tinha vindo de uma carreira de modelo infantil, onde com apenas 4 anos participou de um concurso A Criança Mais Bonita, promovida pelo apresentador Chacrinha(1917-1988) quando apresentava na Bandeirante o Buzina do Chacrinha. Quando Angélica se lançou como apresentadora infantil na Manchete, Xuxa já era popularmente famosa entre o público infantil. Talvez por essas coincidências  se explique o fato dessa lenda que surgiu de  ambas serem inimigas.

***A canção Vou de táxi que Angélica gravou em 1988, o primeiro single  a compor o repertório do seu LP de estreia quando ela  tinha apenas 15 anos gravado pelo selo da CBS. Trata-se de uma versão de Joe Le Taxi, canção gravada em 1987 pela então jovem cantora de 14 anos Vanessa Paradis que foi muito sucesso nas paradas das rádios francesas e de países da Europa como os francofanos da Bélgica, por exemplo.  A canção original, diferente da adaptação feita aqui no Brasil onde foi por meio de um produtor dela que ao fazer uma viagem à França ao tomar conhecimento dessa canção tocando nas rádios negociou o direito de adaptação e chamou o cantor Byafra e seu irmão Aloysio Reis para adaptar a letra gravada por Angélica. Na letra original composta por Étienne Roda-Gil(1941-2004) a canção aborda sobre a vida rotineira de um taxista chamado Joe, o Joe Le Taxi do título da canção, passeando pelas ruas de Paris que foi inspirado num taxista real, melhor dizendo numa taxista real que foi uma motorista portuguesa chamada Maria José Leão dos Santos(1955-2019) que era conhecido como Joe, uma popular personalidade LGBTQUIAPN+ da noite parisiense durante os anos 1980. Bem diferente da versão romântica com toques de erotismo nas entrelinhas do texto que Angélica eternizou.  

 


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