segunda-feira, 31 de março de 2025

40 ANOS DA AXÉ MUSIC COM O DOCUMENTÁRIO AXÉ: CANTO DO POVO DE UM LUGAR

 

Na  minha segunda-feira de Carnaval de 2025, passei  assistindo na Netflix ao documentário Axé: Canto do povo de um lugar(Brasil, 2016). Uma excelente obra para entender desse movimento artístico que simboliza o Carnaval baiano e que nesse ano de 2025 comemora 40 anos.




O ponto de partida que marcou o surgimento desse gênero musical tipicamente baiano se deu com o lançamento  do álbum Magia de Luiz Caldas, onde das 10 músicas que compõe o repertório desse álbum, foi  a sexta canção Fricote, do polêmico trecho racista da “Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”, fez muito sucesso comercialmente a nível nacional, muito disso graças a figura de Abelardo Barbosa vulgo Chacrinha(1917-1988), importante nome pioneiro da tv brasileira que ao tomar conhecimento dessa empolgante canção, convidou Luiz Caldas para se apresentar em seu programa o Cassino do Chacrinha, e foi uma presença recorrente, assim como aconteceu com Sarajane e o Chiclete com Banana*.




Esse é considerado o ponto de partida que explica o surgimento desse ritmo musical que é muito conectado ao carnaval baiano. Se bem que na verdade, a festividade do carnaval baiano não surgiu a partir desse movimento, e não foi Luiz Caldas o responsável por nomear  isso comercialmente de Axé Music como nós conhecemos.

Para explicar melhor, vou precisar me basear nos antecedentes para que possam serem contextualizados dentro dessa minha explicação para chegar até ao que conhecemos como Axé Music.




Bom, não tem como cravar quando deu início a manifestação do carnaval baiano, mas com base no que a folclorista Hildegardes Vianna(1919-2005) explicou  sobre a introdução da micareta foi ali mais ou menos por volta da década de 1930:

A micareta foi introduzida em Salvador porque o carnaval estava perdendo o brilho na capital. A festa foi organizada pela elite local com os seguintes elementos inovadores: "desfiles nas ruas com os três grandes clubes e uma profusão de cordões  e blocos. O corso, desfile de cordões de foliões fantasiados em carros abertos, era o mesmo do carnaval, havendo animadas batalhas de confetes e serpentinas".




Foi por volta de 1935, que as festividades trazidas de séculos atrás pelos colonizadores portugueses, franceses e espanhóis que era chamado de mi-caréme herdado do idioma francês  para definir a festividade do carnaval fora de época passou a ser denominado de micareta que eram as festividades do corso e das batalhas das flores.

O Jornal A Tarde de Salvador publicado em 05 de Abril de 1935, registrou a pitoresca eleição sobre a mudança de nome:

“Morre, não morre, a Micareme ganhou novo alento com a campanha feita pelos jornais para a mudança de nome (...). Depois de ruidosa votação popular, dez nomes foram selecionados para as semifinais: Refolia, Micareta, Carnavalito Arlequinada, 1ª Festa Outonal, Mascarada, Bicarnaval, Precarême, Brincadeira e Remate. Nas finais, Refolia e Micareta se pegaram (...) – vencera Micareta por três votos.”

Foi por volta de 1950, que uma dupla de músicos formado por Adolfo Antônio “Dodô” Nascimento (1920-1978) e Osmar Álvares Macedo(1923-1997) resolvem se apresentarem dentro de um carro Ford Modelo T fabricado em 1929 e apelidado de Fobica Elétrica.

Elétrica porque eles  adaptaram por meio de amplificadores usando de guitarras, inspiradas na sonoridade  do frevo pernambucano adaptando para algo mais tipicamente baiano, o que ficou chamado de guitarra baiana que eram para serem ouvidas e reproduzidas em todo o lugar.




Foi um precursor do modelo que conhecemos da caminhonete que circula com a multidão entre os camarotes com os cantores em cima se apresentando e puxando o bloco, denominados de puxadores de blocos.

No ano seguinte trocaram de carro por uma  pick-up Chrysler Fargo e adicionaram um triolim (guitarra tenor) tocado pelo amigo Temístocles Aragão formando, assim, o "trio elétrico"; em 1952 mais inovações foram introduzidas formando um total de oito alto-falantes, geradores adicionais, e receberam o apoio da fábrica baiana de refrigerantes Fratelli Vita; em 1953 a invenção foi copiada por outros grupos ("5 Irmãos", "Ipiranga" e "Conjunto Atlas") e o conceito do "Trio Elétrico" se consagrou.” (Fonte: Wikipédia).

O que me faz recordar de vagamente quando eu era moleque eu fui passar férias em Salvador/BA, eu cheguei a visitar um local que não lembro   em qual bairro ficava localizado, devia ser um memorial  que estava exposto o primeiro carro do trio elétrico criado pela dupla Dodó & Osmar.

Mesmo Temístocles tendo permanecido pouco tempo, o termo trio elétrico pegou, principalmente quando por volta dos anos 1970,  o filho de Osmar, o guitarrista Armando da Costa Macedo, o  “Armandinho”, passou a tocar junto no trio que passou a ser referido como trio elétrico Armandinho, Dodô & Osmar. 

Em 1969, o cantor baiano Caetano Veloso, já  renomado no mercado fonográfico brasileiro  que figurava junto de conterrâneos formados por sua irmã Maria Bethânia,  Gilberto Gil e  Gal Costa(1945-2022)  no movimento da vanguarda musical revolucionária brasileira conhecida como Tropicalismo lançou uma canção em referência ao trio elétrico intitulada de Atrás do Trio Elétrico cujo trecho é:

Atrás do trio elétrico
Só não vai quem já morreu
Quem já botou pra rachar
Aprendeu, que é do outro lado
Do lado de lá do lado
Que é lá do lado de lá.

Foi por volta dos anos 1970, que o cantor Moraes Moreira(1947-2020), após sair do conjunto musical dos Novos Baianos** passou a tocar nos trios elétricos do Carnaval Baiano.





Foi o que deu visibilidade nacional para isso, ainda mais quando por volta do final dos anos 1970 e começo dos anos 1980 foram se formando os blocos de ruas, que eram divididos pelas classes sociais.

Haviam os blocos  que atraiam as elites brancas das tradicionais famílias  baianas e os blocos das camadas sociais mais pobres, formada pela população preta, que descende dos escravos vindos da África.

Blocos como Traz os Montes, Camaleão, Crocodilo, Cheiro de Amor, EVA***, que deram origem aos artistas como os conjuntos musicais: Chiclete com Banana, Asa de Águia, Banda EVA, Banda Cheiro de Amor, Banda Beijo, BandaMel e artistas solo como Ricardo Chaves, Netinho dentre outros exemplos.




Esses representavam os blocos das grandes elites baianas  que foram formadas por agremiações estudantis e por outro lado havia os blocos das camadas periféricas marginalizada que tocavam músicas com sonoridade da ancestralidade africana como o Ilê Ayê, Ijexá, Samba de roda, Samba-Reggae,  Pagode Baiano e dentre esses blocos estava o bloco dos Filhos de Gandhi, onde costuma desfilar Gilberto Gil, esse mesmo símbolo da vanguarda do tropicalismo.

Foram desses movimento que deram origem a musicalidade de artistas  do Ollodum, Timbalda, Ara Ketu, É o Tchan, Terra Samba, Harmonia do Samba dentre outros exemplos.




É desse momento que dá origem a musicalidade de Luiz Caldas, um egresso do conjunto musical Acordes Verdes  cujo primeiro disco foi gravado pelo importante Estúdio W.R, se utiliza muito dessas influências para desenvolver seu disco com outras referências musicais externas como a New Wave, por exemplo e que deram origem a canção Fricote.

No que isso foi gerando um forte apelo  comercial  a  nível nacional, graças ao  apresentador Chacrinha que o convidou para se apresentar em seu programa foi daí que surgiu um modelo industrial que ainda não tinha um rótulo especifico.

O responsável por batizar aquilo como Axé Music, foi o jornalista Hagamenon Brito, um crítico musical que cravou essa denominação  especifica como tal ao publicar em 1987  o artigo em sua coluna no importante jornal de grande circulação no estado da Bahia  que é o Correio da Bahia.

Que foi dado com o cunho pejorativo segundo pelo que ele mesmo  explicou recentemente numa entrevista ao site do Jornal Correio da Bahia de 1º de Fevereiro de 2025:

Quando eu criei o termo Axé Music tinha uma ironia, era uma brincadeira. Axé era como a minha geração - roqueira influenciada pelo punk e pós-punk - se referia àquela estética e não àquela música. Hoje em dia falam que se referia à música e aos músicos. Mentira! A gente se referia à estética, que a gente considerava brega. Até hoje eu considero. Quando eu via os vídeos antigos de Luiz Caldas de pés descalços, com as roupas parecendo um hippie e com penas de pavão no brinco, achava brega. Eu achava Sarajane dançando, daquele jeito exótico, brega. Já falei isso pra ela, a gente dá risada.”

O termo que Hagamenom batizou para aquele novo  estilo de música surgida na Bahia nos anos 1980,  vem justamente de origem africana, um termo iorubá,  que significa energia, poder e força.




O que faz sentido para a influência da musicalidade africana herdada do povo escravo.  Principalmente de conjuntos musicais como Ollodum, Timbalada, Ara Ketu,  cujas letras, expressavam aquele tom que exaltavam sem que você percebesse um pouco dessa riqueza cultural, um tanto marginalizada como pode ser exemplificado num trecho da canção  Faraó:

Deus e divindade infinita do universo

Predominante esquema mitológico

A ênfase do espírito original

Formará no Eden o ovo cósmico

A emersão nem Osíris sabe como aconteceu

A emersão nem Osíris sabe como aconteceu

A ordem ou submissão do olho seu

Transformou-se na verdadeira humanidade”.

“Eu falei faraó
Ê,faraó
Ê,faraó
Ê, Faraó”.

Ou mesmo na letra da canção Cartão Postal, que traz uma interessante crítica  social a respeito do  cotidiano dos moradores do  Pelourinho, uma grande atração turística de Salvador que não tem nada dessa romantização  como mostra nesse trecho:

Pelourinho não é mais aquele

Olha a cara dele

Pelourinho não é mais aquele

Olha a cara dele

Você não fica à toa

Tem muita gente boa

Você não fica à toa

Tem muita gente boa

 

Aqui tudo mudou

São 15 anos que brilhou

Aqui tudo mudou

São 15 anos que brilhou

Olodum filhos do Sol

Reluz e seduz o meu amor

 

Negros conscientizados

Cantam e tocam no Pelô.

Pelo tom pejorativo inicial, houve artistas desse segmento que não gostavam inicialmente de se rotularem como de Axé, só depois que viram o forte impacto e apelo comercial que aquilo trazia  para o mercado fonográfico fora da Bahia, foi então que o gênero se consolidou.  Ainda mais quando em 1992 Daniela Mercury estourou com a canção O Canto da Cidade, que estourou nas rádios e serviu como um grande escapismo proporcionando alegria para a população brasileira naquele momento tenso com o Impeachment do então Presidente da República Fernando Collor de Mello.




A  Bahia já era rica musicalmente, principalmente com o talento  de  artistas de outros gêneros como Dorival Caymmi(1914-2008) e João Gilberto(1931-2019), ícones da Bossa Nova. Raul Seixas(1945-1989), ícone da música  transgressora do rock e Waldick Soriano(1933-2008), ícone do brega.




Mas foi o gênero musical da Axé Music, que fez a Bahia figurar como o grande polo da indústria fonográfica brasileira, graças ao incentivo do empresário  Wesley Rangel (1950-2016) ao criar um estúdio no próprio estado o Estúdio WR, onde os artistas gravavam seus discos  lá, ainda que estivesse longe de se equiparar aos recursos  de níveis de produção  das grandes gravadoras do Eixo Rio-São Paulo.

Foi por meio da expansão comercial construído pela Axé Music que o modelo de Micareta foi se espalhando por diferentes estados no Brasil, como por exemplo, aqui em Natal-RN todo o período de dezembro temos o Carnatal, um trocadilho com o nome da capital potiguar assim como outras cidades tem seus trocadilhos.




        Inclusive a prática do Carnatal surgiu quando em 1989, um grupo de empresários potiguares ao viajarem para o município de Feira de Santana/BA, lá tomaram conhecimento com o modelo de micareta que defini o carnaval fora de época e trouxeram para cá e desde 1990 vem ocorrendo o Carnatal durante o período de dezembro.

  Eu tive a oportunidade de prestigiar uma dessas festas de trio elétrico do Carnatal quando eu era  menino, a convite de um parente onde fiquei num camarote com minha família.

 


 

 

Tudo isso que expliquei está bem aprofundado no documentário Axé-Canto do Povo de um Lugar, que recomendo assistirem.  Dirigido por Chico Kertész, a obra  narra a história desse  importante patrimônio cultural da Bahia.

O documentário apresenta um vasto material riquíssimo com entrevistas com os mais variados artistas desse segmento que construíram suas carreiras nesse gênero, desde dos que conquistaram um  sucesso longevo como a Daniela Mercury, Ivete Sangalo,  Claudia Leite  aos que não conseguiram se consolidar artisticamente após lançar uma única canção de sucesso.




Também entrevistam Caetano Veloso e Gilberto Gil, dois importante cantores baianos, que viram o nascer da Axé Music nos anos 1980 quando Luiz Caldas lançou em 1985 a música Fricote.

Outras entrevistas que o documentário apresenta são de músicos, compositores, engenheiros de som, radialistas, produtores culturais, dirigentes dos blocos,  gente que de alguma forma teve envolvida na história desse gênero musical tipicamente baiano.




Dentre esses merece menção o nome do produtor Wesley Rangel, um importante mecenas que ajudou a investir na popularidade da Axé Music em todo o Brasil, ainda mais que ele foi o criador na capital baiana  do Estúdio WR,  responsável pelas  gravações  dos álbuns dos artistas desse gênero e também do engenheiro de som Ferando Gundlach****. O documentário apresentou o  registro do depoimento deles  antes  de ambos virem a falecer.




Fora que o conteúdo também apresenta uma riqueza de imagens de arquivos das matérias raras do Chiclete com Banana, Asa de Águia  sendo entrevistados na popular emissora local  da Tv Aratu.

Das primeiras apresentações desses artistas nos populares programas de TV no final da década de 1980. Como do Chiclete com Banana no Cassino do Chacrinha em 1987. Do Netinho como vocalista da Banda Beijo no Domingão do Faustão  em 1989 e recortes das matérias de jornais e revistas.

Outros depoimentos importantes no documentário  são de Hagamenon Brito, jornalista e crítico musical, o autor do rótulo  Axé Music, inicialmente para designar de forma pejorativa aquele estilo musical popular, alegre, contagiante, carnavalesco, que trazia uma mistura de músicas típicas dos blocos carnavalescos, com as influências africanas, trazidas de grupos periféricos com o intuito de caracterizá-lo como brega, que teve início com Luiz Caldas.

Que facilmente atraia todas as camadas mais populares.

O interessante do documentário é que ele não é chapa branca ao abordar o lado espinhoso da Axé Music em se tratando do seu esquema mercadológico predatório que já gerou um clima desagradável entre muitos artistas com os empresários dos blocos que costumam receberem uma porcentagem maior dos lucros, algo que talvez para nós como público consumidor que tanto os idolatramos sequer paremos para imaginar como isso não é algo tão glamoroso como podemos imaginar.

Para citar dois exemplos específicos:

Quando Bell Marques, que por mais de 30 anos foi o vocalista do Chiclete com Banana, até resolver deixar a banda  em 2014 depois de muitas divergências internas com a banda e a direção executiva da marca  que envolveu até mesmo briga familiar entre ele e seus dois irmãos: o tecladista da banda Wadinho Marques e o técnico de som e empresário da banda Wilson Marques. Que inclusive, ambos aparecem no documentário dando uma breve explicação em como se deu esse rompimento dele com a banda.

Pior mesmo foi o que ocorreu com Carla Visi, ex-vocalista da Banda Cheiro de Amor*****, numa entrevista que  concebeu ao Bagunças Podcast com apoio do Bahia Noticias em 2023, explicou que a razão de sua saída da banda ocorrida  em 2000 envolveu a briga judicial que a vocalista anterior a ela Márcia Freire moveu um processo trabalhista contra o bloco e ganhou o processo e como consequência do acordo, deles aceitarem que ela retornasse ao vocal da banda como uma forma de compensar o valor estipulado da multa que eles teriam de pagar e como consequência disso, acabou na saída abrupta de Carla Visi sem uma explicação oficial e com o retorno de Márcia Freire, e segundo pelo que ela explicou, não podia comentar sobre isso publicamente.

E por conta do rótulo comercial, sendo tudo botado num saco só,  isso termina gerando  a confusão em que por exemplo, o conjunto musical do É o Tchan, tem uma estética musical inspirada no samba-reggae e no pagode baiano, com letras e coreografias de cunho erótico,   mas comercialmente são caracterizados como  axé.

O que posso concluir é que nesse ano de 2025, em que a Axé Music, completou seus 40 anos assistir esse documentário para entender um pouco da importância disso para a cultura do carnaval tipicamente baiano é de suma importância. Vale a pena assistir.

*O nome inicial do Chiclete com Banana era Scorpius, mas para não confundir com o nome da banda de pop/rock alemã Scopions, resolvem mudar para Chiclete com Banana inspirado no título da canção de Jackson do Pandeiro(1919-1982). Em seus  primeiros anos de  formação, o grupo contou com a colaboração de Edmilson de Amorim Ferreira vulgo  Missinho(1960-2024), que dividiu os vocais com Bell Marques e foi o compositor até resolver sair do conjunto em 1986, foi o primeiro desfalque do conjunto. Antes da saída de  Bell,  o Chiclete sofreu outro desfalque  com a saída do guitarrista João Fernandes da Silva Filho vulgo Cacique Johnny(1955-2019), em referência a forma extravagante como gostava de se apresentar com um cocar, um item tipicamente indígena tocando uma guitarra com dois acordeões. O seu afastamento do conjunto se deu por problemas de saúde  quando em 2001 ele descobriu ser portador de ataxia cerebelar, uma inflamação do cerebelo que pode ser causada pelo abuso de álcool ou drogas, severa infecção viral ou anomalia congênita.  Isso afetou completamente sua coordenação motora e  o acompanhou até o seu  falecimento em 2019.

**Esse conjunto inspirou os humoristas Chico Anysio(1931-2012), Arnaud Rodrigues(1942-2010) e Renato Piau a satirizar juntando  a Caetano Veloso, símbolo da vanguarda do tropicalismo nos anos 1970 no conjunto fictício dos Baianos e os Novos Caetanos.

***O Bloco Eva surgiu em 1980, na Bahia, a partir de um grupo de amigos do Colégio Marista que em 1977 formaram um Grêmio Estudantil. O bloco foi criado após um grupo de  amigos passarem no vestibular e decidirem festejar e tocar juntos.  A escolha do nome por mais estranho que possa parecer, não tem relação alguma  com o nome da Eva bíblica, mas ao primeiro  local onde eles desfilaram localizado na Avenida Aliomar Baleeiro também conhecida como Estrada Velha do Aeroporto que formava a sigla EVA formando também um acrônimo. Ao contrário da canção que leva o nome da banda originada desse bloco sendo formada em 1993 que foi gravada no seu  CD Ao Vivo lançado em 1997 quando a banda ainda contava com Ivete Sangalo como vocalista. Uma canção que sequer era inédita, trata-se do  cover de outro  conjunto musical,  Rádio Táxi gravado em 1983, cuja autoria nem é de um brasileiro, mas dos italianos Umberto Tozzi e Giancarlo Bigazzi(1940-2012) inspirado na versão original que foi gravado por  Umberto Tozzi em 1982. Essa sim trazia uma referência da Eva bíblica por trás de sua simplista  estética romântica ao abordar um cenário de ficção cientifica space opera contando a história de forma eu-lírica de  um cara que chama sua amada para lhe acompanhar numa espaçonave para fugir da Terra que está prestes a acontecer um apocalipse nuclear  onde ele metaforicamente remente a bíblia que eles seriam como Adão e Eva vagando no espaço e sua astronave seria a Arca de Noé. Pesado não. A  principal razão para o porquê dessa canção carregar uma pesada mensagem sobre uma atmosfera de apocalipse causada por uma catástrofe  nuclear tem a haver com a contextualização que envolve   o cunho real que o seu respectivo autor tinha vivenciado  ao criá-la, pois   tratava-se de uma crítica social  a respeito da sensação de pessimismo que o mundo na década de 1980 estava passando com o medo de haver uma   guerra  nuclear, ainda mais que vivíamos no período da Guerra Fria. Que envolveu a disputa política e industrial entre duas grandes potências: os EUA e a antiga URSS(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) atual Rússia. E o medo constante do  uso das armas nucleares poderiam causar uma destruição em massa da humanidade. A música de certa forma reflete bem aquela sensação  dramática que o mundo passava na década de 1980, e isto fica bem evidente quando você percebe que ela em todo o seu escopo apresenta uma atmosfera de um cenário apocalíptico com referências bíblicas, e a evidencia disso está no fato da própria musa que dá título à canção fazer a referência a Eva da bíblia, a primeira mulher criada por Deus pela costela de Adão. Dentre os artistas que já passaram pelo bloco antes mesmo de surgir sua própria banda, o primeiro responsável por puxar o bloco foi Juscelino Oliveira Morbeck vulgo Jota Morbeck(1961-2000), também passaram Ricardo Chaves, Durval Lelys, Ivete Sangalo, Saulo Fernandes dentre outros.

****O engenheiro de som Fernando Gundlach, que aparece dando depoimento  no documentário morreu de forma covarde ao ser baleado depois que sofreu um assalto no dia 06 de Outubro de 2015. O documentário só  foi lançado em circuito comercial postumamente, do mesmo jeito que postumamente foi lançado depois que outro entrevistado na obra, o produtor musical Wesley Rangel faleceu em 06 de Janeiro de 2016 após enfrentar uma dura batalha  contra o câncer de próstata com metástase óssea há cinco anos.

*****Surgida inicialmente nos anos 1980, como Bloco com o nome Pimenta de Cheiro, cujo trio elétrico carregava como característica soltar o cheiro  de perfume. Ao longo da história da banda, foram mudando as formações de vocalistas, a primeira vocalista  foi Laurinha Abrantes que marcou o Carnaval Baiano por ser a primeira mulher a puxar um bloco, o que até então de predomínio masculino. Depois foi substituída por Márcia Freire, que assumiu o vocal do conjunto a partir de 1985 e foi responsável por firmar o nome da banda nacionalmente até 1996, quando foi substituída por Carla Visi que ficou no conjunto até o ano 2000. Com a saída de Carla Visi, Márcia Freire ao comando como parte do acordo judicial, após vencer o processo trabalhista contra a direção executiva do bloco. Em 2003, Aline Rosa assumiu a função de vocalista do conjunto e permaneceu até 2014, sendo substituída por Vina Calmon que ficou até 2024, sendo substituída por Raquel Tombesi.

 

 

 

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