No
dia 24 de Maio de 2015, a ciência perdeu um brilhante intelectual como o
matemático John Nash que morreu de forma tragicamente acidental quando estava
de carona em um táxi na Costa Leste dos EUA acompanhado de sua esposa que
também não sobreviveu.
Em 1994, John Nash ganhou o Prêmio Nobel
de Economia por sua grande contribuição acadêmica com a Teoria dos Jogos.
No entanto, um fator que mais despertou o
interesse mundial sobre o matemático, muito mais do que ele ter ganhado um
Nobel como um grande benfeitor da humanidade foi o seu drama pessoal em lidar
com a esquizofrenia.
Um mal que o atingiu por décadas até ele
ir aos poucos conseguindo encontrar maneiras de como lidar com este problema, o tornando um exemplo de
superação. Este seu drama pessoal ficou
bem exposto mundialmente principalmente depois que em 2001 foi lançado o filme Uma
Mente Brilhante( The Beatifull Mind, EUA, 2001).
Nesse
drama biográfico do matemático, dirigido por Ron Howard que contou como base em
seu roteiro no livro homônimo da jornalista Sylvia Nasar, publicado em 1998 que
ficou a cargo do roteirista, produtor e diretor Akiva Goldsman a função de
adaptar os relatos apresentado no livro para o enredo do filme.
O
drama biográfico sobre o gênio da matemática contou no elenco com Russel Crowe
como protagonista, que na época já era mundialmente famoso por estrelar o épico
Gladiador (Gladiator, EUA, Reino Unido, 2000) que lhe rendeu seu único Oscar na carreira. Também contou com Jennifer Connelly no papel
de Alicia, esposa do John Nash e Ed Harris e Paul Betany representando a figura
das pessoas imaginárias da cabeça do matemático.
Na edição do Oscar de 2002, o filme ganhou
quatro das oito categorias em que foi indicado entre eles de melhor filme,
melhor roteiro adaptado, melhor diretor para Ron Howard e melhor atriz
coadjuvante para Jennifer Connelly.
E contou com a parceria da Universal Pictures
com a DreamWorks na distribuição,
irônico pensar que um grande estúdio de animação que muitos leitores
podem até associar a Shrek(EUA,
2001), lançada então na mesma época tenha ficado responsável por produzir
e distribuir este excelente filme de arte.
O
filme apresenta a vida de Nash, já o
estabelecendo como jovem aluno
universitário, onde neste momento é apresentado
um pouco de sua maneira bem excêntrica de como elaborava cada cálculo
matemático e também de tão envolvido que estava onde até nos momentos de lazer
como estando num bar reunido com seus amigos universitários até mesmo na
hora de tentar paquerar falava demais em
probabilidades teóricas matemáticas.
Nesta
primeira etapa que o filme apresenta da vida de Nash como aluno universitário,
é apresentado ainda que de uma forma bem amenizada e sem precisar ser tão
didático o gênio da matemática já vai apresentando os seus primeiros sinais de
que estava ficando esquizofrênico quando um dia aparece em seu alojamento um
suposto novo colega companheiro de quarto que se apresenta como Charles(Paul
Bettany). Ao mesmo tempo em que também
vai apresentando as suas primeiras formulas que serviram de base para ele
seguir carreira acadêmica na mesma universidade.

O
filme vai se desenvolvendo ao apresentar a etapa dele já estabelecido em sua
carreira docente, com a mesma excentricidade de antes é neste momento que os
sinais de sua esquizofrenia vão cada vez ficando mais evidente por viver
obsessivo numa ideia de conspiração russa contra os Estados Unidos, ainda mais
por apresentar o seu forte vínculo com o Pentágono, isto fica claro quando lhe
aparece de um suposto agente secreto do Governo Americano William Parcher(Ed
Harris) que o manda prestar serviço
sigiloso para a agencia dele, sem fazer a menor ideia de que ele é outra das
figuras imaginárias da cabeça dele.
E
como se já não bastasse imaginar duas pessoas imaginarias, aparece então uma
terceira pessoa, uma menina acompanhada de Charles que ele a apresenta como sua
sobrinha.
Também
é nesta passagem do filme que é apresentado Alicia(Jennifer Connelly), sua
futura esposa, que inicialmente ela é mostrada
como sua aluna em um momento muito inusitado do filme quando ele entra
na sala de aula, e todo excentricamente desajeitado se dirigi a única janela
aberta e fecha por causa do barulho de uma reforma do lado de fora. Onde ela
aparece chamando a atenção dele abrindo a janela e pedindo carinhosamente aos
operários para diminuírem o barulho para eles poderes assistir a aula do Professor
Nash.
Sendo
neste momento o começo para os primeiros flertes amorosos entre Nash com sua
então aluna Alicia que vai se desenvolvendo no começo da paixão dele até virar
de fato um casamento.
Daí
por diante o filme vai mostrando que os sinais da esquizofrenia estavam ficando
mais evidente junto aos discursos que Nash falava sobre conspiração comunista
começam então a preocuparem todos ao seu redor.
Ele
só vai chegando a esta conclusão depois que durante uma apresentação sua
aparecem uns homens que ele pensa serem espiões mandados por Parcher para lhe
prenderem quando na verdade eram homens da clínica de psiquiatria do Dr.
Rosen(Christopher Plummer) que o mandam para a internação neste lugar.
É
a partir daí então que o filme entra no foco de apresentar o drama de como ele
lidava com a esquizofrenia. Drama este
que o atormentava bastante, quase chegou a comprometer sua carreira docente
assim como quase comprometeu sua vida afetiva. Entre umas recaídas e outras o
filme vai mostrando ele sabendo como lidar com o seu próprio mal psicológico,
consegue volta a exercer a sua função docente até ser concluído com o ganho do
Nobel.
Bom o que até aqui descrevi não chega a ser um spoiler,
mesmo porque o filme já foi lançado faz muito tempo então basicamente quem já
assistiu dezenas de vezes deve saber que o filme tem um final excelente, passando uma
excelente mensagem de como cada um de nós podemos encontrar caminhos para nos
superar.
Fazendo
uma análise crítica de hoje sobre o filme no aspecto técnico principalmente das
oito categorias em que concorreu do Oscar de 2002, ele bem merecia ter
ganho em todas, Russel Crowe no papel
principal bem merecia ter ganho na categoria de melhor ator, já que da maneira
como ele se entrega ao personagem de uma
forma muito minuciosa em cada detalhe e em cada movimento corporal bem fez
merecer ter ganho nesta categoria, o que acabou
não ocorrendo.
Também
concorreu a categoria de melhor edição, mas não ganhou, mas bem merecia pelo
excelente e meticuloso trabalho da fotografia e da direção de arte. Assim
como também concorreu a melhor trilha sonora original e não ganhou, mas bem
merecia, pois cada música instrumental do filme orquestrada pelo saudosos maestro James Horner(1953-2015) combina bem
para os diferentes climas apresentado em cada cena.
Para finalizar sobre as categorias do Oscar em
que concorreu, mas não ganhou, está de melhor maquiagem. Bem merecia ter ganhado nesta categoria em
que concorreu principalmente pela maneira como a direção de arte deste filme
criou uma excelente composição da caracterização do John Nash envelhecendo onde
fez Russell Crowe ficar bem convincente na pele do Nash aparentando nas cenas
clímax onde recebe o Nobel ter uns 60 anos de idade, ainda mais ele que na
época que tinha se tornado famoso mundialmente após Gladiador era ainda
bem novo na faixa dos 30 anos, assim como Jennifer Connelly também ficou
bem com a caracterização da Alicia mais
velha, mesmo sendo ainda nova na época, mas já com um longo currículo de
cinema, e na época estando numa idade em
que estava bem no auge da beleza
conseguiu transpor um tom de veracidade a personagem com esta idade não
correspondente a sua idade real graças a maquiagem.
O filme pode não ter dado a Crowe, o Oscar de
melhor ator, em compensação por este mesmo papel foi premiado na mesma
categoria com o Globo de Ouro, o Screen Actors Guild e o BAFTA.
Com
relação as quatro categorias do Oscar que ganhou, foi também por um grande
merecimento. Ron Howard mereceu ganhar
na categoria de melhor diretor por ter sabido agir de uma maneira muito
meticulosa ao apresentar para o público vasto que pouco conhecia sobre a importância de Nash como genial intelectual que era mais
por este lado mais dramático fazendo com que cada um procurasse refletir sobre
os labirintos que a vida nos impõe e como devemos encontrar caminhos
alternativos para conseguir superar sem precisar ficar se lamentando. Akiva
Goldsman o responsável pela adaptação do roteiro, também mereceu ganhar na
categoria de melhor roteiro adaptado, o que com certeza imagino que não deve
ter sido uma das tarefas mais fáceis.
Como
nunca havia lido o livro, seria meio hipócrita de minha parte fazer umas
comparações um tanto quanto desnecessárias para provar por A+B que o livro é
muito melhor que o filme.
Eu
posso colocar o seguinte raciocínio: se para um cineasta que pensa em
transformar um excelente livro de ficção, principalmente se a narrativa for de
um romance que é uma clássica obra-prima de um autor célebre ou mesmo um livro
que poucos conhecem numa obra-prima do cinema, se já é difícil ao adaptar para
as telas as descrições de cada página, de cada capitulo, precisando em alguns
momentos agir com frieza para descartar
passagens perfeitamente descritas no livro, mas que na tela poderiam resultar
de forma incompreensível ao público, ou mesmo pensando no tempo de duração do
filme, cortar personagens dos livros e criar alguns especificamente para o filme, e usar um pouco da liberdade poética que tem
para criar situações que não tem nos livros mas colocam nos filmes ou mesmo
modificar alguns personagens com essências exageradas, principalmente se for
por alguma pressão do produtor exigir
que eles tem de serem amenizados,
entre outros fatores, isto também não fica diferente com relação a Uma
Mente Brilhante.
Ainda
mais se pensarmos que o livro cuja
base serviu para a ideia do roteiro do
filme trata-se de narrar a história verídica de uma pessoa real como o
matemático John Nash. Então o trabalho
deve ter sido mais penoso ainda, com certeza imagino que no livro da Sylvia
Nasar há descrições de situações muito controversas que por diversos motivos
foi preciso ser não ser incluído no filme, segundo as descrições das fontes que
pesquisei para escrever este texto, o filme não apresenta que no momento em que
Nash estava em estado bem comprometedor com a esquizofrenia, a sua esposa
Alicia e ele entraram com o processo de divórcio em 1963, mas mesmo assim ela
continuou o ajudando e acompanhando em seu tratamento. Passagem esta que nem sequer é mencionado no
filme, deve com certeza conter no livro onde curiosamente até a época em que
esta sua biografia foi publicado John e Alicia Nash ainda estavam legalmente
divorciados, só muito posteriormente ao lançamento do livro que depois viraria
filme, é que ele ao garantir para ela que havia conseguido se controlar da
doença é que resolveram reatar a união casando-se novamente.
Também imagino que no livro continha umas
descrições com teor muito pesado do momento em que estava em total estado
delirante, principalmente com algumas palavras pesadas a respeito de pessoas do
seu vínculo de convivência, que necessariamente por questão de bom senso ou
mesmo para não criar muita confusão para não deixar a trama do filme tão
pesada, foi também necessário ficar de fora para assim poder o filme ficar mais
suavizado.
Outro
detalhe curioso que descobri nas fontes que pesquisei para este texto, que no filme também não é mencionado, mas
talvez possa aparecer descrito no livro,
é que antes de nascer o único filho da união de John fruto de sua união com Alicia,
inclusive no filme é mostrado que ela ainda estava grávida quando Nash foi
para a internação, ele já tivera antes um filho fora do casamento
que foi fruto do seu relacionamento com
uma enfermeira. Provavelmente este detalhe tenha ficado de
fora do filme, talvez para não ficar tão chocante a ponto de distorcidamente a crítica
e o público pensarem que ele foi um sacana, um cafajeste com a companheira que tanto o amava e tanto lhe deu apoio,
principalmente para ele enfrentar a
esquizofrenia, o mal que o deixava totalmente fora da realidade.
De
todo jeito Akiva Goldsman conseguiu elaborar
um bom roteiro, e que por isso mesmo mereceu levar o Oscar de melhor
roteiro adaptado, assim como a Jennifer Connelly mereceu ser premiada no Oscar
na categoria de melhor atriz coadjuvante. Ela mostra um brilhante desempenho como a
Alicia Nash, a companheira de toda a vida de Nash, até mesmo na morte. Ela bem apresentou a personagem ao público
desde o primeiro momento em que se encontra na sala de aula onde ele está
lecionando e ela é apresentada primeiro como sua aluna para depois virar sua
esposa.
É
principalmente no momento do filme mais dramático do filme onde ela grávida
descobre na clínica psiquiátrica onde Nash foi internado ao saber por meio do
Dr. Ronsen que ele sofria do mal, que ai ele entrega de verdade a situação
dramática de tentar segurar o rojão cuidando de uma criança para nascer com um
marido mentalmente perturbado onde ela precisa ficar lembrando constantemente
das doses diárias dos medicamentos dele para ter controle.
Os
medicamentos que ao conseguirem fazer efeito esperado, também lhe causam como
grande efeito colateral uma abstinência sexual, por exemplo, e lhe tirarem a
capacidade produtiva.
Situação que fez Alicia chegar a pontos de
também se enlouquecer, como na cena em que de tão raivosa que fica grita e
quebra o espelho do banheiro. Ela também conseguiu neste filme estar em
sintonia ao contracenar com Crowe, mostrando terem ambos uma excelente química em cena, onde
inclusive muitos anos depois ela voltaria a contracenar com ele no épico
bíblico Noé(2014), onde fez o papel da esposa do personagem-título
vivido pelo Crowe.
E
na parte da maquiagem onde ela ficou perfeita aparentando ficar mais velha,
mesmo sendo ainda nova e estando no auge da beleza ela fica bem convincente com
a caracterização perfeita da Alicia já idosa, foi bem merecido ela ter levado o
Oscar e de melhor filme não tenho como do que descrever a obra primorosa que
foi mostrada com uma qualidade e apuro técnico incrível.
Tudo
o transformou num filme que merece ser sempre assistido infinitas vezes, por se
tratar de uma obra de arte impecável. Em
outros aspectos que posso elogiar bastante que não destaquei outros parágrafos
e vou descrever aqui é na fotografia do
filme perfeitamente incrível, principalmente nos efeitos especiais dos enquadramentos da visão da sua leitura em
forma de códigos, onde podíamos nos
proporcionar um brilho tanto nas leituras alfabéticas quanto nas leituras em
numerais.
Destaquei
aqui do elenco, o brilhante desempenho do Russell Crowe no papel principal e da
Jennifer Connelly como a Alicia que de todo o elenco foi a única premiada no
Oscar, também dou destaque ao brilhante
desempenho mostrado por Paul Betany como o Charles, o amigo invisível de John
Nash. Ele trabalhou bem a personalidade de um cara que só existe na cabeça de
alguém, e que quando Nash o ignora fica completamente irritado, de uma forma
bem convincente.
Este papel renderia futuramente bons louros em
Hollywood. Ele posteriormente voltaria a
trabalhar com duas pessoas importantes do filme. Voltaria a trabalhar junto com
Russell Crowe em Mestre dos Mares-O Lado Mais Distante do Mundo(2003)
e com o diretor do filme Ron Howard o
escalaria posteriormente para o papel do Monge Silas em O Código DaVinci(2006).
Também
destaco o brilhante desempenho do veterano Ed Harris no papel do William
Parcher, o imaginário agente secreto do Governo Americano, que vive enchendo a
cabeça dele de paranoia. Além de mostrar
um desempenho brilhante desse ser imaginário, ele também aparece impecavelmente
bem vestido com direito a um charmoso chapéu que cria no personagem bem um tom
de gangster de filme noir.
E
para o também veterano Christopher
Plummer(1929-2021) esteve ótimo no papel
do Dr. Rosen, aproveitando bem o tempo de presença do personagem que cumpriu aquela função mais didática de
como especialista na psiquiatria explicar para o público o que é a
esquizofrenia, ele neste papel convenceu
bem como um profissional que domina o assunto.
Para encerrar, destaco aqui os ótimos detalhes
datados de cada cenário apresentado no filme vai indo de acordo com o que vai
desenvolvendo ao apresentar as diferentes etapas da vida de Nash, os figurinos
também são outro detalhe a parte somados a tudo mais e um pouco do que foi
trabalhado neste filme.
Posso
resumir que este filme apresenta uma abordagem de compreendermos a importância da
saúde mental que é tão negligenciada pelos nossos governantes.
Para
encerrar uma bonita frase de John Nash:
“É
somente nas misteriosas equações do amor que qualquer lógica ou razão pode ser
encontrada. Você é a razão de eu estar aqui hoje, você é a razão de eu existir,
você é todas as minhas razões.”
JOHN
FORBES NASH JR.
(1928-2015).