segunda-feira, 5 de maio de 2025

30 ANOS DO LANÇAMENTO DO ÚNICO CD DOS MAMONAS ASSASSINAS

 

Em Maio de 1995, o excêntrico conjunto musical brasileiro Mamonas Assassinas lançava seu único Compact Disc(CD).




Um sucesso que até chegar aquele patamar não foi  tarefa das mais fáceis para conseguir.

É difícil imaginar que antes deles irem ao segmento cômico do deboche, do pastiche, do espalhafatoso, do extravagante, do escracho   e do circense com suas letras de teor puramente sacanas, cheias de duplo sentido e com cunho satírico.





 Os cinco componentes formados por Alecsander Alves vulgo Dinho(1971-1996) como vocalista, Alberto “Bento” Hinoto(1970-1996) como guitarrista, Júlio César Barbosa vulgo Julio Rasec(1968-1996) que foi o tecladista, Sérgio Reis de Oliveira vulgo Sérgio Reoli(1969-1996) como baterista e seu irmão, o baixista Samuel Reis de Oliveira vulgo Samuel Reoli(1973-1996).  

Naturais de Guarulhos/SP, onde inicialmente formaram o Utopia.

Uma banda séria que nada lembrava o jeito exagerado dos Mamonas que eles se tornaram,  cuja estética musical que eles adotaram como Utopia era por meio do rock progressivo com doses de heavy metal, e punk. Influenciados pelo estilo consagrado do rock brasileiro dos anos 1980  da Legião Urbana, por exemplo,  onde as letras que  compunham carregavam um tom panfletário, de protesto, com cunho de crítica social  assim como era a Legião, com umas doses de new wave. Chegaram a lançar um álbum em   LP mas que não conseguiu vender a porcentagem do número de cópias que foram lançadas. 





Talvez pelo fato de que como naquele contexto da primeira metade da década de 1990, onde o que reinava no cenário comercial da indústria fonográfica brasileira dando rios de dinheiro, e figurando como as minas de ouros dos produtores das gravadoras, das emissoras de rádios em que tocavam com muito jabá,  e nas constantes apresentações  populares programas de auditório da TV e enchiam as suas agendas de shows  eram as músicas de artistas dos segmentos mais popularescos como o sertanejo, o pagode romântico e o ritmo baiano da axé music que importou para o Brasil inteiro o modelo das micaretas.



Fora também que havia os artistas do funky melody de artistas  como Latino e o forró eletrônico do Mastruz com Leite com o sucesso de Meu Vaqueiro, Meu Peão, uma composição de Rita de Cássia(1972-2023) que também figuravam entre os que mais davam rios de dinheiros para a grande indústria fonográfica e figuravam nos paradões das populares emissoras de rádio.  E estava havendo a transição da tradicional mídia  física do gigante Long Play(LP) perdendo seu espaço para o pequeno Compact Disc (CD).




Analisando esse contexto, pode-se dizer  com isso,  que os cantores do segmento rock brasileiro que reinavam nos anos 1980, com suas músicas de alto  teor  intelectualizado, com tons de  protesto, de crítica social   já tinham perdido espaço naquele cenário comercial que se encontrava a música brasileira, pois já não despertavam mais interesse de lucro  do mercado musical, que depositava todas as suas fichas nos artistas mais popularescos.




Foi a partir daí que os cinco rapazes acordaram para a realidade e   tiveram a brilhante ideia  de mudar completamente o segmento musical seguindo a sugestão do seu produtor Rick Bonadio,  e mudaram de nome e de identidade e passaram a se assumirem como artistas cômicos para se aderirem ao segmento popularesco como os Mamonas Assassinas, o que se mostrou de fato uma decisão sabia e acertada.





Ao adotarem este tipo de segmento que os tornaram famosos nacionalmente, sendo explorados até a última gota para darem audiência nos mais diversos programas de auditórios da época e tocavam a exaustão nas rádios brasileiras, figurando no top dos  discos mais vendidos e sendo premiados com discos de ouro, prata,  platina e diamante.




A unanimidade de sucesso de público, não correspondia a mesma coisa em relação ao que a crítica especializada pensava deles que os massacravam, considerando suas canções muito ofensivas, de puro mau gosto, principalmente para as camadas mais jovem, que incluía as crianças. Considerando o teor humorístico de suas canções com piadas escatológicas, um exemplo de pura música besteirol com uma estética bem característica de rock cômico.




As letras de puro teor sacana, pastelão poderiam não se adequarem a este tempos atuais adotado pela geração  do cancelamento. 

 

Aqui faço minha análise  das 14 faixas que compõe o único CD dos Mamonas Assassinas por ordem de apresentação:

 

 

 

Faixa 1:1406

A canção que abre a  faixa do CD, pelo título se referir a uma numeração  faz parecer ser referente a uma estação de rádio, principalmente quando na introdução Dinho menciona o nome de um tal  Creuzebek que faz você imaginar ser um radialista.  Que na verdade, trata-se do apelido dado pelo grupo ao produtor Rick Bonadio.

O título da canção na verdade faz referência ao digito do número de telefone comercial o (011) 1406 do Grupo Imagem exibia a exaustão nos intervalos das programações das grandes emissoras.




No que ficou conhecido  como formato de informercial, junção das palavras informação com comercial, o serviço de teleatendimento que era comum durante a década de 1990.

A canção,  refletia bem o  tom crítico sobre o comportamento social do modelo  moderno de  consumismo brasileiro na década de 1990, dos produtos que eram exibidos à exaustão nos intervalos das programações das grandes emissoras  naquela fase  pré-mídia digital nesse serviço de teleatendimento que eram veiculados pelo extinto Grupo Imagem  que encerraria suas operações em 1999 com menções aos produtos das Facas Ginsu e estava surgindo na época o canal por assinatura  Shoptime  que usava o formato de Home Shopping.




Aquilo era o melhor que a gente conhecia de conceito de  comércio moderno  que hoje  virou sinônimo de  brega, visto que a Internet estava sendo recém-instalada no Brasil e mais parecia um retrato beirando ao futurismo do que a então novela das oito da Globo Explode Coração(Brasil, 1995-1996) de Glória Perez, estava nos introduzindo por meio do casal protagonista Júlio Falcão(Edson Celulari) e a Cigana Dara(Tereza Seiblitz) de universos diferentes estavam se conhecendo pela internet.




Que aliás, por falar em cigana, porque não lembrar de quando eram exibidos os teleatendimentos dos horóscopos que popularizou alguns videntes como Walter Mercado(1932-2019).




A trupe do Casseta & Planeta satirizava em seu programa na Globo com o quadro das Organizações Tabajara.




Dinho  estruturou a canção trazendo uma curiosa história de um cara lascado, que sonhava em  morar num apartamento no Guarujá, mas, acaba conseguindo um barraco em Itaquá onde sua esposa fútil vive querendo sonhar para que ele compre os produtos mostrados na tv.

A evidência fica nesse trecho:

“Mas a pior de todas é minha mulher

Tudo o que ela olha a desgraçada quer

Televisão, micro-ondas, micro system

Microscópio

Limpa-vidro, limpa-chifre, e

Facas Ginsu”.

Na canção ele brinca com os excessos de estrangeirismos na língua portuguesa usados de forma comercial,  como no trecho:

“Money

Que é good nóis num have

Se nóis havasse nóis num tava aqui playando

Mas nóis precisa de worká”

 

Onde um fato curioso é “Money, Que é good nóis num have”, foi  tirado da canção Laika nóis Laika, gravado em 1973 pela dupla brega Ponto & Vírgula.




A canção apesar de soar datada, pelo fato de ter sido concebido no momento especifico de uma fase pré-midia digital que pode gerar alguma estranheza, de todo modo tem sua importância.

A forma como eles colocam uma menção a Xuxa e ao jogador Pelé(1940-2022) que uma década antes  tiveram uma relação amorosa. Pode ser uma interpretação racista, mas tinha a ideia de mencionar o azar da classe baixa. Ou seja, mesmo se chovesse mulheres bonitas, no colo do personagem da música, cairia uma desgraça.

 

 

 

Faixa 2:Vira-Vira

       Nessa canção que compõe a segunda faixa do CD que era a que mais era tocada nos paradões das rádios FMs brasileiras e eles mais tocavam em suas apresentações nos populares programas de auditório, gira em torno de um causo em que o vocalista Dinho representando o padeiro  português Manoel com uma voz empostada para representar o jeito caricato do sotaque lusitano.








           Conta a história da experiência dele  ter sido convidado para ir  numa festa que estava rolando uma suruba que é como se denomina uma orgia, ou seja, sexo em grupo, ele não pôde ir  mas sua esposa Maria foi em seu lugar.

         Depois de uma semana ao retornar para casa, Maria passa  a reclamar   como ficou  toda dolorida  dessa experiência para o marido Manuel. 

        Coisa que eu quando criança ao ouvir repetidas e incansáveis vezes o CD e me divertir dançando  jamais entenderia  esse duplo sentido nas entrelinhas do texto por não ter discernimento do lado malicioso dela.




          O seu  ritmo e sua estética trazia muita influência da típica dança folclórica lusitana do Vira junto das três   canções do popular cantor português Roberto Leal(1951-2019) famoso entre nós brasileiros que são: Na Casa da Mariquinha cuja letra  tem um refrão que bem remete a dança do Vira nesse trecho:

 Ora vira, vira, vira
Mas olhas se vira bem
Se você sair da roda
Olha que eu saio também
.”

      Do mesmo modo como a canção Bate o pé cuja letra é:

Ai, bate o pé, bate o pé, bate o pé
Ai, bate o pé, faça assim como eu”

       E Arrebita cuja letra é:

  Ai cachopa, se tu queres ser bonita/Arrebita, arrebita, arrebita!”

         A referência a dança lusitana  do Vira pode ser sentida no famoso trecho onde  eles costumavam fazer a coreografia do giro que é característico do Vira:

         Roda, roda e vira, solta a roda e vem

Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém”

Roda, roda e vira, solta a roda e vem

Neste raio de suruba

Já me passaram a mão na bunda

E ainda não comi ninguém

       E a menção as canções de Roberto Leal podem ser percebidas num trecho do diálogo de Manuel com Maria no antepenúltimo parágrafo da estrutura da letra:

           Ô, Maria essa suruba me excita

(Arrebita, arrebita, arrebita)

Então vá fazer amor com uma cabrita

(Arrebita, arrebita, arrebita)

Mas, Maria, isso é bom que te exercita

(Bate o pé, arrebita, arrebita)

Manoel, tu na cabeça tem titica

Larga de putaria e vem cuidar da padaria

       Até comenta-se que Leal quase foi obrigado a processá-los por ridicularizar o português, mas ele nunca se sentiu nada ofendido.

          Ao contrário,  observando o seu  filho curtindo a canção dos Mamonas, ele próprio viu aquilo como uma forma de ser introduzido as novas gerações dos anos 1990.

          Essa canção é a única da faixa desse CD dos Mamonas Assassinas que contou com um duo de Dinho com o tecladista  Júlio Rasec com quem também divide a autoria da composição,  representando a Maria, esposa do Manoel usando uma técnica de timbre vocal  em falsete para falar fino  reclamando  das dores que carrega depois dessa suruba e ficando bem ao nível do caricato para soar cômico.

         Outro fato curioso sobre essa canção, é que sua letra  também  foi inspirada na piada do famoso humorista boca-suja Costinha(1923-1995) contida no álbum do seu vinil O Peru da Festa Vol.2 Ao Vivo, lançado em 1981.



           Onde ela é toda estruturada como os Mamonas descrevem  e reproduzem na música Vira-Vira, e foi dessa piada contida no Vinil do Costinha que eles colocaram no final a frase: Ai como dói.

 

Faixa 3:Pelados em Santos

Nessa canção que compõe a terceira faixa do CD, mostra ser  uma música que debochava do teor romanticamente brega, principalmente na forma como ele demonstrava fazer uma declaração de amor a sua pitchula ao  convidá-la  para caminhar numa Brasília Amarela, carro  já visto como uma  velharia  e que já se encontrava fora de fabricação no Brasil há muito tempo, para fazer uma viagem ao Paraguai.



O que bem servia para refletir a condição social deles próprios que representavam um reflexo de pertencerem a maior parte da população brasileira que são de uma classe média-média, mas para o lado periférico, mas que tinham  um padrão de vida até confortável.

 A pitchula de quem Dinho se declara na canção, não é  referente   a Valéria Zorpello, com quem ele estava namorando na época e prestes a ficar noivo  como se pensava, ainda mais porque ela aparecia muito em público nos populares  programas de auditório da TV  onde ele se apresentava,  mas sim a Mirella Zacanini,  com quem ele  namorou antes dessa, quando já estava tocando  na banda  na época que  ainda era Utopia e era produtora de um programa de TV,  apresentado por seu pai Savério Zacanini chamado Sábado Show na Rede  Record onde lá a banda tocava constantemente.

A sonoridade do saxofone traz uma nota inspirada em Crocodile Rock que o cantor britânico Elton John gravou em 1972.

 

 

Faixa 4:Chopis Centis

A canção  Chopis Centis  que compõe a quarta faixa do CD representa bem uma crítica a representação de um cara da periferia   passeando  pelo shopping acompanhado da namorada e adora ostentar ser cliente das Casas Bahia e de quando fica impressionado com as quantidades de gente da classe média andando por lá e da estranheza com a comida sofisticada que experimentou num restaurante fino temperada de gergelim  que comeu e dando preferência a uma   comida simples como o aipim.

Tem uma letra que ficou datada demais, principalmente pela forma como ele na parte do cinema menciona os nomes dos astros Arnold Schwarzenegger e Jean-Claude Van Damme, que na época ok, eram os que mais reinavam com seus filmes de ação no ambiente mainstream da época, mas já faz muito tempo que eles tinham perdido seus espaços para outros gêneros e outros astros também.

 

 

 

 

 

Faixa 5:Jumento Celestino

Jumento Celestino é a quinta faixa do CD que traz  um pouco do tom intimista de como o vocalista  Dinho expressa um pouco da sua sensação como imigrante nordestino, nascido  em Irecê/BA, onde se mudou para Guarulhos/SP, ainda bebê com apenas dois meses de vida com seus pais, onde lá eles conseguiram viverem bem num padrão de vida confortável fincando raízes por lá  e Dinho estava conquistando isto. 




 De certa forma, a letra da música refletia bem um pouco dessa sensação de como Dinho se via como imigrante nordestino nessa canção que carrega muito da sonoridade do autentico  forró pé de serra, cujo começo  há uma introdução de uma popular  canção de Genival Lacerda(1931-2021) autor da canção Rock do Jegue  que na época estava sendo bastante tocada nos paradões da  rádios, cuja introdução é:

“De quem é esse jegue?

De quem é esse jegue?

De quem é esse jegue?

Oh, rapaz!

Não é jegue não, é Jumentiu

 

 

Faixa 6:Sabão Crá-Crá

Sabão Crá-Crá   é uma canção que compõe a sexta faixa do CD,  cuja autoria é desconhecida, surgiu de uma lenda urbana escolar, a forma de cantar deles dá a impressão de ter sido uma canção de ninar de duplo sentido como a letra bem transmiti de uma forma boba e infantilóide  com sentido escatológico, o que dá a impressão de ter envelhecido mal de tão datada que ficou:

“Sabão crá-crá

Sabão crá-crá

Não deixa os cabelos do saco enrolar

Sabão cré-cré

Sabão cré-cré

Não deixa os cabelos do saco de pé

Sabão crí-crí

Sabão crí-crí

Não deixa os cabelos do saco cair

Sabão cró-cró

Sabão cró-cró

Não deixa os cabelos do saco dar nó

Sabão crú-crú

Sabão crú-crú

Não deixe os cabelos do saco

Enrolar com os do cu

 

Faixa 7:Uma Arlinda Mulher

Com título inspirado  no filme Uma Linda Mulher*(Pretty Woman, EUA,1990) famoso filme  de romance da década de 1990, estrelado por Júlia Roberts e Richard Gere.




A sétima faixa do CD  também a meu ver  do repertório desse único álbum dos Mamonas Assassinas se trata de uma canção que mesmo tendo um  tom cômico de romance numa pegada de heavy metal, trazia uma bem trabalhada letra que usava de muitos conceitos científicos da física que dava um ar bastante intelectualizado a canção.

O que chega a provocar um pouco de viagem ao cosmo infinito.  Como a letra completa bem reflete isso com aquele debochado de sempre. Algo bastante conceitual.

 

      Faixa 8:Cabeça de Bagre II

Cabeça de Bagre II, a oitava faixa do  CD ficou datada, por se tratar de uma música onde Dinho também imprimiu um caráter bem intimista ao retratar como ele em sua fase de estudante de ensino fundamental de escola pública, foi um aluno problemático com  notas sofríveis e deploráveis  quando  ficou em repetência da quinta série.

Confesso que essa foi uma das músicas que eu mais me identificava quando menino e  ouvia constantemente  este CD no antigo aparelho de som do quarto dos meus pais. Já que na época eu também estava passando pela fase de repetência na escola. Ela até que carrega uma atemporalidade, por se tratar de uma canção que crítica bastante como funciona o sistema engessado do  método de ensino público brasileiro e suas políticas públicas, um problema que não mudou. 

Nesse aspecto, que até que a canção envelheceu bem. Porém existem, umas parte que ficaram bastante datadas, que talvez um jovem que não era nascido na época dessa época talvez não pegue a referência.  Como o fato dele mencionar quando repetiu a Quinta Série do antigo Ensino Fundamental brasileiro, que ainda era adotado dessa forma, mas que agora passou a equivaler ao Sexto Ano do Ensino Fundamental. E fazendo alusão a recente conquista do tetra  da seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1994 nos EUA com uma modificação da grafia para “Tretacampeão”, que longo que a seleção levou o Penta na Copa de 2002 poderia soar estranho. 

 

 

Faixa 9:Mundo Animal

A nona faixa ficou  bem atemporal  ao meu ver por se tratar de uma letra onde eles brincam com a característica com muito duplo sentido, mais que também reflete o contraste em relação a vida humana. Com tom bem debochado e com palavras inventadas. Como pode-se bem exemplificar no trecho abaixo:

No mundo animal

Ixéste muita putaria

Por exemplo, os cachorro

Que come a própria mãe, sua irmã e suas tias

Eles ficam grudados

De quatro, se amando em plena luz do dia

 

 

Faixa 10:Robocop Gay

Robocop Gay   é a décima faixa do  CD trata-se de  uma canção desse único álbum que na época mesmo em forma de deboche já demonstrava  tratar com um ar bastante  panfletário contra a homofobia e dando voz a representatividade LGBTQIAPN+,  numa época que boa parte ainda se escondia do armário por serem visto de forma banal como desviantes,  isto fica bem evidente quando ele coloca na letra que diz:

“Abra sua mente

Gay também é gente “

Por esse motivo ele tem um grau de importante relevância para a música brasileira, numa paródia do Robocop com o Capitão Gay, personagem do Jô Soares(1938-2022) no humorístico Viva o Gordo (1981-1987) da Rede Globo.

 

 

 

Faixa 11:Bois Don´t Cry

Bois Don´t Cry, a décima-primeira faixa do CD  trata-se de uma canção cujo título se referia ao clássico rock  Boys  Don´t Cry, sucesso nos anos 1980 da banda britânica The Cure**,  com uma letra   bem apropriada para se ouvir na fossa.




 Com aqueles toques bem eu-líricos que bem remete a típica   música da sofrência,  da dor de cotovelo, traição, do homem levando chifre na testa, um corno,  com uma pegada que  bem lembra as populares músicas de cantores  bregas como: Reginaldo Rossi(1943-2013) com Garçom,  Waldick Soriano(1933-2008)  com Eu não sou cachorro não ou mesmo Alípio Martins(1944-1997) como Lá vai ele com aquele toque bem cômico.

Usando de um ar shakespeariano com aquela famosa frase  da peça de HamletSer ou não ser, eis a questão”, uma das famosas obras do dramaturgo britânico William Shakespeare(1564-1616) aqui ele modificou  começando o texto com “Ser corno ou não ser eis a minha indagação”, para carregar bem o ar da pura dor de cotovelo de um cara traído pela amada tomando porres nos botecos,   acompanhado de  uma sonoridade de trombone no começo até a metade da canção, lembrando um  bolero tipicamente latino americano, principalmente quando ele coloca em um trecho “Soy um hombre conformado” com aquele exagero de galã canastrão de novela mexicana,    e vai ficando intensa com som de rock. Justamente pela estética da letra o torna bastante atemporal.  No final, pode-se ouvir umas notas de piano que remetem a trilha sonora do filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau(Close Encounters of the Third Kind,EUA, 1977) dirigida por Steven Spielberg e com produção musical do maestro John Williams.

 

 

Faixa 12:Débil Metal

Débil Metal, a décima-segunda faixa do CD, também se mostrou muito atemporal por ter uma sonoridade e uma letra que apesar de ser toda em inglês ainda assim consegue manter o tom debochado ao se inspirar na estética musical do heavy metal, do grunge que estava em alta nos anos 1990, enfim. Fora a própria letra transmite bem isso.  Com Dinho cantando em um timbre imitando o vocalista do Sepultura.

 

 

 

 

Faixa 13:Sábado de Sol

Sábado de sol é  a penúltima faixa do único CD dos Mamonas Assassinas  que ficaram datadas, a que mais envelheceu mal. No sentido de que a maneira como foi gravado deixou parecer uma gravação muito amadora, gravada como se tivesse sido num encontro de luau de amigos de forma muito caseira, o que gera uma forte estranheza de qualidade sofrível. A canção não foi composta originalmente por nenhum dos Mamonas. Mas sim pelo Baba Cósmica, cuja sonoridade deram uma roupagem bem atemporal a letra. A letra contava o causo de um cara que programou o final para se juntar com uns amigos num caminhão para comer uma feijoada e de repente se deparam com muita maconha como o trecho pode bem exemplificar:

“Sábado de sol

Aluguei um caminhão

Pra levar a galera

Pra comer feijão

Chegando lá, mas que vergonha

Só tinha maconha

Os maconheiros tava doidão

Querendo meu feijão”

 

Faixa 14: Lá vem o Alemão.

Lá vem o Alemão, a última faixa do CD, trata-se de uma canção desse único álbum dos Mamonas que se mostrou bem atemporal por se tratar de uma canção que brincava com o pagode romântico que estava em alta na época.

Tanto que o título brinca com a canção Lá vem o negão, o único hit da banda de pagode Cravo e Canela com aquele ar  bem romântico  e bem debochado da banda sobre a sua amada  o ter trocado por um cara bonitão, loiro e forte de carro conversível, enquanto ele um lascado o levava de Kombi pelo Boqueirão, um famoso bairro de classe média de Santos para levar a curtir uma praia. Dinho em diferentes trechos dessa canção que fecha o único CD gravado pelo conjunto  faz imitações de dois vocalistas de bandas de pagodes de sucesso na época  que não por acaso eram conterrâneos da Banda, ou seja, ambos paulistas,  como Luiz Carlos do Raça Negra e  Netinho de Paula do Negritude Jr.  A letra expressa bem isso com um ar bem cômico.

No balanço geral, posso descrever que os Mamonas Assassinas representaram bem um ponto fora da curva dentro das tendencias musicais que estavam atraindo o mercado musical brasileiro naquele período dos meados dos anos 1990.

Principalmente no que diz respeito ao fato de que eles carregavam um estilo de musicalidade cômica com toques de deboches  misturando diferentes estilos musicais que tornaram sua identidade própria.

Pena que a carreira deles tenha sido tragicamente abreviada pelo acidente aéreo ocorrido na Serra da Cantareira/SP no dia 2 de Março de 1996, onde todos eram muito jovens. O tecladista Júlio Rasec que era o primogênito do grupo estava com 28 anos, o baterista Sérgio Reoli estava com 26 anos, o guitarrista Bento Hinoto estava com 25 anos, o vocalista Dinho estava com 24 anos, a poucos dias de completar 25 anos no dia 5 de Março, e o baixista  e irmão de Sérgio Reoli, que era o caçulinha grupo Samuel Reoli, faleceu com 22 anos, faltando poucos dias para completar 23 anos.

É meio difícil imaginar que se a carreira do conjunto não tivesse sido abreviada por esse acidente, se eles continuariam  fazendo sucesso até hoje, passados 30 anos após o lançamento desse único CD.

*O título original do filme do diretor Garry Marshall(1934-2016) se refere ao título da canção Oh Pretty Woman do cantor Roy Orbison(1936-1988) gravada em 1964 que é tocada na trilha sonora do filme.

**"Boys Don't Cry" é um single  da banda britânica  The Cure , lançado em junho de 1979 e relançado em abril de 1986 pela gravadora Fiction Records. Foi lançado no Reino Unido  como single autônomo em junho de 1979 e foi incluído como faixa-título na coletânea Boys Don´t Cry, de 1980. (Fonte: Wikipédia). Composição de Robert Smith,  Laurence Tolhurst e Michael Dempsey. O riff da guitarra usada para criar um clima contagiante para dançar, apresenta um letra depressiva sobre a cultura da masculinidade tóxica que ensina que homem não chora.


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