Em
Maio de 1995, o excêntrico conjunto musical brasileiro Mamonas Assassinas
lançava seu único Compact Disc(CD).
Um
sucesso que até chegar aquele patamar não foi tarefa das mais fáceis
para conseguir.
É
difícil imaginar que antes deles irem ao segmento cômico do deboche, do
pastiche, do espalhafatoso, do extravagante, do escracho e do
circense com suas letras de teor puramente sacanas, cheias de duplo sentido e
com cunho satírico.
Os cinco componentes formados por Alecsander
Alves vulgo Dinho(1971-1996) como vocalista, Alberto “Bento” Hinoto(1970-1996)
como guitarrista, Júlio César Barbosa vulgo Julio Rasec(1968-1996) que foi o
tecladista, Sérgio Reis de Oliveira vulgo Sérgio Reoli(1969-1996) como
baterista e seu irmão, o baixista Samuel Reis de Oliveira vulgo Samuel
Reoli(1973-1996).
Naturais
de Guarulhos/SP, onde inicialmente formaram o Utopia.
Uma
banda séria que nada lembrava o jeito exagerado dos Mamonas que eles se
tornaram, cuja estética musical que eles adotaram como Utopia era
por meio do rock progressivo com doses de heavy metal, e punk. Influenciados
pelo estilo consagrado do rock brasileiro dos anos 1980 da Legião
Urbana, por exemplo, onde as letras que compunham
carregavam um tom panfletário, de protesto, com cunho de crítica
social assim como era a Legião, com umas doses de new wave. Chegaram
a lançar um álbum em LP mas que não conseguiu vender a
porcentagem do número de cópias que foram lançadas.
Talvez
pelo fato de que como naquele contexto da primeira metade da década de 1990,
onde o que reinava no cenário comercial da indústria fonográfica brasileira
dando rios de dinheiro, e figurando como as minas de ouros dos produtores das
gravadoras, das emissoras de rádios em que tocavam com muito jabá, e
nas constantes apresentações populares programas de auditório da TV
e enchiam as suas agendas de shows eram as músicas de artistas dos
segmentos mais popularescos como o sertanejo, o pagode romântico e o ritmo
baiano da axé music que importou para o Brasil inteiro o modelo das micaretas.
Fora
também que havia os artistas do funky melody de artistas como Latino e o forró eletrônico do Mastruz
com Leite com o sucesso de Meu Vaqueiro, Meu Peão, uma composição de
Rita de Cássia(1972-2023) que também figuravam entre os que mais davam rios de
dinheiros para a grande indústria fonográfica e figuravam nos paradões das
populares emissoras de rádio. E estava
havendo a transição da tradicional mídia física do gigante Long Play(LP) perdendo seu
espaço para o pequeno Compact Disc (CD).
Analisando
esse contexto, pode-se dizer com isso, que os cantores do segmento rock brasileiro
que reinavam nos anos 1980, com suas músicas de
alto teor intelectualizado, com tons
de protesto, de crítica social já tinham perdido
espaço naquele cenário comercial que se encontrava a música brasileira, pois já
não despertavam mais interesse de lucro do mercado musical, que
depositava todas as suas fichas nos artistas mais popularescos.
Foi
a partir daí que os cinco rapazes acordaram para a realidade
e tiveram a brilhante ideia de mudar completamente
o segmento musical seguindo a sugestão do seu produtor Rick
Bonadio, e mudaram de nome e de identidade e passaram a se assumirem
como artistas cômicos para se aderirem ao segmento popularesco como os Mamonas
Assassinas, o que se mostrou de fato uma decisão sabia e acertada.
Ao
adotarem este tipo de segmento que os tornaram famosos nacionalmente, sendo
explorados até a última gota para darem audiência nos mais diversos programas
de auditórios da época e tocavam a exaustão nas rádios brasileiras, figurando
no top dos discos mais vendidos e sendo premiados com discos de
ouro, prata, platina e diamante.
A
unanimidade de sucesso de público, não correspondia a mesma coisa em relação ao
que a crítica especializada pensava deles que os massacravam, considerando suas
canções muito ofensivas, de puro mau gosto, principalmente para as camadas mais
jovem, que incluía as crianças. Considerando o teor humorístico de suas canções
com piadas escatológicas, um exemplo de pura música besteirol com uma estética
bem característica de rock cômico.
As
letras de puro teor sacana, pastelão poderiam não se adequarem a este tempos
atuais adotado pela geração do cancelamento.
Aqui
faço minha análise das 14 faixas que
compõe o único CD dos Mamonas Assassinas por ordem de apresentação:
Faixa
1:1406
A
canção que abre a faixa do CD, pelo
título se referir a uma numeração faz
parecer ser referente a uma estação de rádio, principalmente quando na
introdução Dinho menciona o nome de um tal
Creuzebek que faz você imaginar ser um radialista. Que na verdade, trata-se do apelido dado pelo
grupo ao produtor Rick Bonadio.
O
título da canção na verdade faz referência ao digito do número de telefone
comercial o (011) 1406 do Grupo Imagem exibia a exaustão nos intervalos
das programações das grandes emissoras.
No
que ficou conhecido como formato de
informercial, junção das palavras informação com comercial, o serviço de
teleatendimento que era comum durante a década de 1990.
A
canção, refletia bem o tom crítico sobre o comportamento social do
modelo moderno de consumismo brasileiro na década de 1990, dos
produtos que eram exibidos à exaustão nos intervalos das programações das
grandes emissoras naquela fase pré-mídia digital nesse serviço de
teleatendimento que eram veiculados pelo extinto Grupo Imagem que encerraria suas operações em 1999 com
menções aos produtos das Facas Ginsu e estava surgindo na época o canal
por assinatura Shoptime que usava o formato de Home Shopping.
Aquilo
era o melhor que a gente conhecia de conceito de comércio moderno que hoje
virou sinônimo de brega, visto
que a Internet estava sendo recém-instalada no Brasil e mais parecia um retrato
beirando ao futurismo do que a então novela das oito da Globo Explode
Coração(Brasil, 1995-1996) de Glória Perez, estava nos introduzindo por
meio do casal protagonista Júlio Falcão(Edson Celulari) e a Cigana Dara(Tereza
Seiblitz) de universos diferentes estavam se conhecendo pela internet.
Que
aliás, por falar em cigana, porque não lembrar de quando eram exibidos os
teleatendimentos dos horóscopos que popularizou alguns videntes como Walter
Mercado(1932-2019).
A
trupe do Casseta & Planeta satirizava em seu programa na Globo com o
quadro das Organizações Tabajara.
Dinho
estruturou a canção trazendo uma curiosa
história de um cara lascado, que sonhava em
morar num apartamento no Guarujá, mas, acaba conseguindo um barraco em
Itaquá onde sua esposa fútil vive querendo sonhar para que ele compre os
produtos mostrados na tv.
A
evidência fica nesse trecho:
“Mas
a pior de todas é minha mulher
Tudo
o que ela olha a desgraçada quer
Televisão,
micro-ondas, micro system
Microscópio
Limpa-vidro,
limpa-chifre, e
Facas
Ginsu”.
Na
canção ele brinca com os excessos de estrangeirismos na língua portuguesa
usados de forma comercial, como no
trecho:
“Money
Que
é good nóis num have
Se
nóis havasse nóis num tava aqui playando
Mas
nóis precisa de worká”
Onde
um fato curioso é “Money, Que é good nóis num have”, foi tirado da canção Laika nóis Laika, gravado
em 1973 pela dupla brega Ponto & Vírgula.
A
canção apesar de soar datada, pelo fato de ter sido concebido no momento
especifico de uma fase pré-midia digital que pode gerar alguma estranheza, de
todo modo tem sua importância.
A
forma como eles colocam uma menção a Xuxa e ao jogador Pelé(1940-2022) que uma
década antes tiveram uma relação
amorosa. Pode ser uma interpretação racista, mas tinha a ideia de mencionar o
azar da classe baixa. Ou seja, mesmo se chovesse mulheres bonitas, no colo do
personagem da música, cairia uma desgraça.
Faixa
2:Vira-Vira
Nessa canção que compõe a segunda faixa
do CD que era a que mais era tocada nos paradões das rádios FMs brasileiras e
eles mais tocavam em suas apresentações nos populares programas de auditório,
gira em torno de um causo em que o vocalista Dinho representando o padeiro português Manoel com uma voz empostada para
representar o jeito caricato do sotaque lusitano.
Conta a história da experiência dele
ter sido convidado para ir numa festa que estava rolando uma suruba que é
como se denomina uma orgia, ou seja, sexo em grupo, ele não pôde ir mas sua esposa Maria foi em seu lugar.
Depois de uma semana ao retornar para
casa, Maria passa a reclamar como ficou
toda dolorida dessa experiência
para o marido Manuel.
Coisa que eu quando criança ao ouvir
repetidas e incansáveis vezes o CD e me divertir dançando jamais entenderia esse duplo sentido nas entrelinhas do texto
por não ter discernimento do lado malicioso dela.
O seu ritmo e sua estética trazia
muita influência da típica dança folclórica lusitana do Vira junto das
três canções do popular cantor português Roberto
Leal(1951-2019) famoso entre nós brasileiros que são: Na Casa da Mariquinha
cuja letra tem um refrão que bem remete
a dança do Vira nesse trecho:
“Ora vira, vira, vira
Mas olhas se vira bem
Se você sair da roda
Olha que eu saio também.”
Do
mesmo modo como a canção Bate o pé cuja
letra é:
“Ai, bate o pé, bate o pé, bate o pé
Ai, bate o pé, faça assim como eu”
E Arrebita cuja letra é:
“Ai cachopa, se tu queres ser bonita/Arrebita,
arrebita, arrebita!”
A referência a dança lusitana do Vira pode ser sentida no famoso
trecho onde eles costumavam fazer a
coreografia do giro que é característico do Vira:
“Roda, roda e vira, solta a roda e
vem
Me
passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém”
Roda,
roda e vira, solta a roda e vem
Neste
raio de suruba
Já me
passaram a mão na bunda
E
ainda não comi ninguém
E a menção as canções de Roberto Leal
podem ser percebidas num trecho do diálogo de Manuel com Maria no antepenúltimo
parágrafo da estrutura da letra:
Ô, Maria essa suruba me excita
(Arrebita,
arrebita, arrebita)
Então
vá fazer amor com uma cabrita
(Arrebita,
arrebita, arrebita)
Mas,
Maria, isso é bom que te exercita
(Bate
o pé, arrebita, arrebita)
Manoel,
tu na cabeça tem titica
Larga
de putaria e vem cuidar da padaria
Até comenta-se que Leal quase foi
obrigado a processá-los por ridicularizar o português, mas ele nunca se sentiu
nada ofendido.
Ao contrário, observando o seu filho curtindo a canção dos Mamonas,
ele próprio viu aquilo como uma forma de ser introduzido as novas gerações dos
anos 1990.
Essa canção é a única da faixa desse
CD dos Mamonas Assassinas que contou com um duo de Dinho com o
tecladista Júlio Rasec com quem também
divide a autoria da composição, representando a Maria, esposa do Manoel usando
uma técnica de timbre vocal em falsete
para falar fino reclamando das dores que carrega depois dessa suruba e
ficando bem ao nível do caricato para soar cômico.
Outro fato curioso sobre essa canção,
é que sua letra também foi inspirada na piada do famoso humorista
boca-suja Costinha(1923-1995) contida no álbum do seu vinil O Peru da Festa
Vol.2 Ao Vivo, lançado em 1981.
Onde ela é toda estruturada como os Mamonas
descrevem e reproduzem na música Vira-Vira,
e foi dessa piada contida no Vinil do Costinha que eles colocaram no final
a frase: Ai como dói.
Faixa
3:Pelados em Santos
Nessa
canção que compõe a terceira faixa do CD, mostra ser uma música que debochava do teor
romanticamente brega, principalmente na forma como ele demonstrava fazer uma
declaração de amor a sua pitchula ao convidá-la para
caminhar numa Brasília Amarela, carro já visto como
uma velharia e que já se encontrava fora de fabricação no
Brasil há muito tempo, para fazer uma viagem ao Paraguai.
O
que bem servia para refletir a condição social deles próprios que representavam
um reflexo de pertencerem a maior parte da população brasileira que são de uma
classe média-média, mas para o lado periférico, mas que tinham um
padrão de vida até confortável.
A pitchula de quem Dinho se declara na canção,
não é referente a Valéria Zorpello, com quem ele
estava namorando na época e prestes a ficar noivo como se pensava, ainda mais porque ela
aparecia muito em público nos populares programas de auditório da
TV onde ele se apresentava, mas sim a Mirella
Zacanini, com quem ele namorou antes dessa, quando já
estava tocando na banda na época que ainda
era Utopia e era produtora de um programa de
TV, apresentado por seu pai Savério Zacanini chamado Sábado
Show na Rede Record onde lá a banda tocava
constantemente.
A
sonoridade do saxofone traz uma nota inspirada em Crocodile Rock que o
cantor britânico Elton John gravou em 1972.
Faixa
4:Chopis Centis
A
canção Chopis Centis que compõe a quarta faixa
do CD representa bem uma crítica a representação de um cara da
periferia passeando pelo shopping acompanhado da
namorada e adora ostentar ser cliente das Casas Bahia e de quando fica
impressionado com as quantidades de gente da classe média andando por lá e da
estranheza com a comida sofisticada que experimentou num restaurante fino
temperada de gergelim que comeu e dando preferência a
uma comida simples como o aipim.
Tem
uma letra que ficou datada demais, principalmente pela forma como ele na parte
do cinema menciona os nomes dos astros Arnold Schwarzenegger e Jean-Claude Van
Damme, que na época ok, eram os que mais reinavam com seus filmes de ação no
ambiente mainstream da época, mas já faz muito tempo que eles tinham perdido
seus espaços para outros gêneros e outros astros também.
Faixa
5:Jumento Celestino
Jumento
Celestino é a quinta faixa do CD que traz um pouco do tom intimista de como o
vocalista Dinho expressa um pouco da sua sensação como imigrante
nordestino, nascido em Irecê/BA, onde se mudou para Guarulhos/SP,
ainda bebê com apenas dois meses de vida com seus pais, onde lá eles
conseguiram viverem bem num padrão de vida confortável fincando raízes por lá e
Dinho estava conquistando isto.
De
certa forma, a letra da música refletia bem um pouco dessa sensação de como
Dinho se via como imigrante nordestino nessa canção que carrega muito da
sonoridade do autentico forró pé de serra, cujo começo há
uma introdução de uma popular canção de Genival Lacerda(1931-2021) autor
da canção Rock do Jegue que na
época estava sendo bastante tocada nos paradões da rádios, cuja introdução é:
“De
quem é esse jegue?
De
quem é esse jegue?
De
quem é esse jegue?
Oh,
rapaz!
Não
é jegue não, é Jumentiu
Faixa
6:Sabão Crá-Crá
Sabão
Crá-Crá é uma
canção que compõe a sexta faixa do CD, cuja autoria é desconhecida, surgiu de uma
lenda urbana escolar, a forma de cantar deles dá a impressão de ter sido uma
canção de ninar de duplo sentido como a letra bem transmiti de uma forma boba e
infantilóide com sentido escatológico, o
que dá a impressão de ter envelhecido mal de tão datada que ficou:
“Sabão
crá-crá
Sabão
crá-crá
Não
deixa os cabelos do saco enrolar
Sabão
cré-cré
Sabão
cré-cré
Não
deixa os cabelos do saco de pé
Sabão
crí-crí
Sabão
crí-crí
Não
deixa os cabelos do saco cair
Sabão
cró-cró
Sabão
cró-cró
Não
deixa os cabelos do saco dar nó
Sabão
crú-crú
Sabão
crú-crú
Não
deixe os cabelos do saco
Enrolar
com os do cu”
Faixa
7:Uma Arlinda Mulher
Com
título inspirado no filme Uma
Linda Mulher*(Pretty Woman, EUA,1990) famoso filme de romance da década de 1990, estrelado por
Júlia Roberts e Richard Gere.
A
sétima faixa do CD também
a meu ver do repertório desse único
álbum dos Mamonas Assassinas se trata de uma canção que mesmo tendo
um tom cômico de romance numa pegada de
heavy metal, trazia uma bem trabalhada letra que usava de muitos conceitos
científicos da física que dava um ar bastante intelectualizado a canção.
O
que chega a provocar um pouco de viagem ao cosmo infinito. Como a letra completa bem reflete isso com
aquele debochado de sempre. Algo bastante conceitual.
Faixa 8:Cabeça de Bagre II
Já
Cabeça de Bagre II, a oitava faixa do CD ficou datada, por se tratar de uma
música onde Dinho também imprimiu um caráter bem intimista ao retratar como ele
em sua fase de estudante de ensino fundamental de escola pública, foi um aluno
problemático com notas sofríveis e
deploráveis quando ficou em repetência da quinta série.
Confesso
que essa foi uma das músicas que eu mais me identificava quando menino e ouvia constantemente este CD no antigo aparelho de som do quarto
dos meus pais. Já que na época eu também estava passando pela fase de
repetência na escola. Ela até que carrega uma atemporalidade, por se tratar de
uma canção que crítica bastante como funciona o sistema engessado do método de ensino público brasileiro e suas
políticas públicas, um problema que não mudou.
Nesse
aspecto, que até que a canção envelheceu bem. Porém existem, umas parte que
ficaram bastante datadas, que talvez um jovem que não era nascido na época
dessa época talvez não pegue a referência.
Como o fato dele mencionar quando repetiu a Quinta Série do antigo
Ensino Fundamental brasileiro, que ainda era adotado dessa forma, mas que agora
passou a equivaler ao Sexto Ano do Ensino Fundamental. E fazendo alusão a
recente conquista do tetra da seleção
brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1994 nos EUA com uma modificação da
grafia para “Tretacampeão”, que longo que a seleção levou o Penta na Copa de
2002 poderia soar estranho.
Faixa
9:Mundo Animal
A
nona faixa ficou bem atemporal ao meu ver por se tratar de uma letra onde
eles brincam com a característica com muito duplo sentido, mais que também
reflete o contraste em relação a vida humana. Com tom bem debochado e com
palavras inventadas. Como pode-se bem exemplificar no trecho abaixo:
No
mundo animal
Ixéste
muita putaria
Por
exemplo, os cachorro
Que
come a própria mãe, sua irmã e suas tias
Eles
ficam grudados
De
quatro, se amando em plena luz do dia
Faixa
10:Robocop Gay
Robocop
Gay é a décima faixa do CD trata-se de uma canção desse único álbum que na época
mesmo em forma de deboche já demonstrava tratar com um ar bastante panfletário contra a homofobia e dando voz a
representatividade LGBTQIAPN+, numa
época que boa parte ainda se escondia do armário por serem visto de forma banal
como desviantes, isto fica bem evidente
quando ele coloca na letra que diz:
“Abra
sua mente
Gay
também é gente “
Por
esse motivo ele tem um grau de importante relevância para a música brasileira,
numa paródia do Robocop com o Capitão Gay, personagem do Jô Soares(1938-2022)
no humorístico Viva o Gordo (1981-1987) da Rede Globo.
Faixa
11:Bois Don´t Cry
Bois
Don´t Cry, a décima-primeira faixa do CD trata-se de uma canção cujo título se
referia ao clássico rock Boys Don´t Cry, sucesso nos anos 1980 da
banda britânica The Cure**, com
uma letra bem apropriada para se ouvir
na fossa.
Com aqueles toques bem eu-líricos que bem
remete a típica música da
sofrência, da dor de cotovelo, traição,
do homem levando chifre na testa, um corno,
com uma pegada que bem lembra as
populares músicas de cantores bregas
como: Reginaldo Rossi(1943-2013) com Garçom, Waldick Soriano(1933-2008) com Eu não sou cachorro não ou mesmo Alípio
Martins(1944-1997) como Lá vai ele com aquele toque bem cômico.
Usando
de um ar shakespeariano com aquela famosa frase
da peça de Hamlet “Ser ou não ser, eis a questão”, uma das
famosas obras do dramaturgo britânico William Shakespeare(1564-1616) aqui ele
modificou começando o texto com “Ser
corno ou não ser eis a minha indagação”, para carregar bem o ar da pura dor
de cotovelo de um cara traído pela amada tomando porres nos botecos, acompanhado de uma sonoridade de trombone no começo até a
metade da canção, lembrando um bolero
tipicamente latino americano, principalmente quando ele coloca em um trecho “Soy
um hombre conformado” com aquele exagero de galã canastrão de novela
mexicana, e vai ficando intensa com som de rock.
Justamente pela estética da letra o torna bastante atemporal. No final, pode-se ouvir umas notas de piano
que remetem a trilha sonora do filme Contatos Imediatos do Terceiro Grau(Close
Encounters of the Third Kind,EUA, 1977) dirigida por Steven Spielberg e com
produção musical do maestro John Williams.
Faixa
12:Débil Metal
Débil
Metal, a décima-segunda faixa do CD, também se mostrou muito
atemporal por ter uma sonoridade e uma letra que apesar de ser toda em inglês
ainda assim consegue manter o tom debochado ao se inspirar na estética musical
do heavy metal, do grunge que estava em alta nos anos 1990, enfim. Fora a
própria letra transmite bem isso. Com
Dinho cantando em um timbre imitando o vocalista do Sepultura.
Faixa
13:Sábado de Sol
Sábado
de sol é a penúltima
faixa do único CD dos Mamonas Assassinas
que ficaram datadas, a que mais envelheceu mal. No sentido de que a
maneira como foi gravado deixou parecer uma gravação muito amadora, gravada
como se tivesse sido num encontro de luau de amigos de forma muito caseira, o
que gera uma forte estranheza de qualidade sofrível. A canção não foi composta
originalmente por nenhum dos Mamonas. Mas sim pelo Baba Cósmica, cuja
sonoridade deram uma roupagem bem atemporal a letra. A letra contava o causo de
um cara que programou o final para se juntar com uns amigos num caminhão para
comer uma feijoada e de repente se deparam com muita maconha como o trecho pode
bem exemplificar:
“Sábado
de sol
Aluguei
um caminhão
Pra
levar a galera
Pra
comer feijão
Chegando
lá, mas que vergonha
Só
tinha maconha
Os
maconheiros tava doidão
Querendo
meu feijão”
Faixa
14: Lá vem o Alemão.
Já
Lá vem o Alemão, a última faixa do CD, trata-se de uma canção desse
único álbum dos Mamonas que se mostrou bem atemporal por se tratar de
uma canção que brincava com o pagode romântico que estava em alta na época.
Tanto
que o título brinca com a canção Lá vem o negão, o único hit da
banda de pagode Cravo e Canela com aquele ar bem romântico
e bem debochado da banda sobre a sua amada o ter trocado por um cara bonitão, loiro e
forte de carro conversível, enquanto ele um lascado o levava de Kombi pelo
Boqueirão, um famoso bairro de classe média de Santos para levar a curtir uma
praia. Dinho em diferentes trechos dessa canção que fecha o único CD gravado
pelo conjunto faz imitações de dois
vocalistas de bandas de pagodes de sucesso na época que não por acaso eram conterrâneos da Banda,
ou seja, ambos paulistas, como Luiz
Carlos do Raça Negra e Netinho de
Paula do Negritude Jr. A letra
expressa bem isso com um ar bem cômico.
No
balanço geral, posso descrever que os Mamonas Assassinas representaram
bem um ponto fora da curva dentro das tendencias musicais que estavam atraindo
o mercado musical brasileiro naquele período dos meados dos anos 1990.
Principalmente
no que diz respeito ao fato de que eles carregavam um estilo de musicalidade
cômica com toques de deboches misturando
diferentes estilos musicais que tornaram sua identidade própria.
Pena
que a carreira deles tenha sido tragicamente abreviada pelo acidente aéreo
ocorrido na Serra da Cantareira/SP no dia 2 de Março de 1996, onde todos eram
muito jovens. O tecladista Júlio Rasec que era o primogênito do grupo estava
com 28 anos, o baterista Sérgio Reoli estava com 26 anos, o guitarrista Bento
Hinoto estava com 25 anos, o vocalista Dinho estava com 24 anos, a poucos dias
de completar 25 anos no dia 5 de Março, e o baixista e irmão de Sérgio Reoli, que era o caçulinha
grupo Samuel Reoli, faleceu com 22 anos, faltando poucos dias para completar 23
anos.
É
meio difícil imaginar que se a carreira do conjunto não tivesse sido abreviada
por esse acidente, se eles continuariam fazendo sucesso até hoje, passados 30 anos após
o lançamento desse único CD.
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