quinta-feira, 23 de outubro de 2025

A ANIMAÇÃO PERDIDA DO REI PELÉ

 


 

Eu comecei a preparar esse texto em Janeiro de 2023, no momento em que estava acontecendo a  cobertura do falecimento de Pelé, mas só pude postar agora nesse momento especial já que na data do dia 23 de Outubro ele completaria 85 anos.

Portanto aqui fica o registro da homenagem.




No dia em que perdemos Edson Arantes do Nascimento, em 29 de Dezembro de 2022,  o ídolo do futebol brasileiro e mundial,  nosso Rei Pelé(1940-2022), eu postei nas minhas redes sociais o fato curioso a respeito de uma série animada que já foi feita em cima dele.

Quem tem minha faixa etária e assistia ao programa infantil matutino do  Angel  Mix(1996-2000) na Rede Globo comandado por Angélica lá pela segunda metade dos anos 1990  talvez se lembre ou não do desenho Pelezinho que passava nas manhãs dessa antiga grade infantil da TV Brasileira.




Pelezinho ao contrário do que eu pensava não se tratava de uma produção nossa, autenticamente brasileira.  

Tanto que nem  foi inspirado na HQ homônima do Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica. Mas sim de uma produção hispânico-romena que foi lançada em 1996. 





Hoje esse desenho figura como uma lost média(mídia perdida). Eu confesso que já não me recordava dessa animação, não fosse os canais de YouTube que abordam Lost Média.




Como o  Canal GD de quem fiz uma printagem, postando no meu Instagram. Como é difícil encontrar informações na internet sobre a produção dessa animação, o pouco que a Wikipédia descreve é superficialmente sobre o seu enredo,   justamente por figurar como uma mídia perdida.




O que vou descrever abaixo sobre curiosidades e bastidores  da produção terá como base na informação que o canal do Youtube  GD, expôs numa investigação minuciosa  em forma de vídeo sobre essa animação com informações mais aprofundadas, principalmente sobre detalhes da produção cheia de tretas no vídeo intitulado O Desenho Perdido do Pelé que recomendo darem uma olhada a quem tiver a curiosidade.




Pelezinho trazia uma história um tanto surreal inspirada no Rei do Futebol, com ele sendo protagonizado como um moleque  de 12 anos, mas jogando num time de adultos, dirigi um carro mesmo sendo menor de idade e se envolve numas aventuras envolvendo espionagem pelo mundo  com sua parceira Neusa  e seu inseparável cachorro Rex que fala. Muito nesse toque escapista.

Pelezinho foi uma animação produzida no exterior, não foi brasileira apesar do protagonista simbolizar o nosso Brasil, e se ambientar no Brasil,   foi co-produzida pelo canal espanhol  Antena 3 e pela produtora também espanhola AnimaDream que contou com a colaboração de dois diretores romenos Mihai Şurubaru e Lucian Profirescu.

 Já que foi na Romênia que o desenho foi produzido com a colaboração de roteiristas espanhóis. E cujo produtor executivo foi  Arturo Torres.

Soa muito estranho imaginar que esse desenho foi produzido na Romênia, país sem muita tradição no mercado das  animações, ao contrário da Espanha que já tinha mercado, onde inclusive uma animação espanhola chegou a ser exibida aqui no Brasil pela Globo e pelo canal pago Futura no final dos anos 1990  que foram  As Trigêmeas(Les Tres Bessones, Espanha, 1997-2003).

Muito disso  se deve ao fato que o  país* havia passado mais de  vinte anos regido  sob uma opressiva  ditadura comunista e havia  chegado ao fim fazia pouco tempo, depois que o ditador Nicolae Ceaușescu foi fuzilado junto com sua esposa numa revolta popular ocorrida durante o Natal de 1989.      Pode-se dizer que boa parte da população romena enquanto viveu  sob esse longo período oprimida por uma ditadura, dificilmente eles tenham tido acesso a ver animações, especialmente as do Mickey Mouse, símbolo do capitalismo americano.

Isso  de certa forma explica o porquê da qualidade dessa animação limitada ser tosca mesmo para a época, em especial nas movimentações dos personagens nas cenas das partidas de futebol.

Há momentos que apelam pro nonsene, é preciso você entrar na inércia da suspensão da descrença como é típico da animação para não tentar quebrar a cabeça para encontrar alguma lógica e viajar naquele universo, como em alguns momentos mostrar o locutor aparecer  pegando os  instrumentos do batuque e da vuvuzela para tocar  como torcida  ou mesmo o comentarista aparecer se fantasiando de líder de torcida.

  Confesso que nas vagas lembranças que tenho de ter assistido a essa série animada quando passava na Globo na época eu já era um moleque pré-adolescente  até curtia pelo fato mais curioso dele explorar a temática do futebol, símbolo brasileiro que não era muito explorado em nosso país, algo que eu não estava acostumado a ver nas animações que costumavam passar nos extintos programas infantis da época. E justamente por ser estrelado pelo Rei do Futebol, cheguei a pensar que a produção fosse brasileira.

Quando soube da existência já adulto  de um gibi do Pelezinho, criado pelo Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica, também imaginei a mesma coisa. Sendo que pelo pude constatar, são coisas muito distintas.

Muito tempo depois, eu reassisti ao único  episódio de Pelezinho, disponível no Youtube postado na conta de um sujeito da Sérvia, que se identifica como Retro Televizija,  com a dublagem no idioma sérvio provavelmente gravado de alguma fita VHS que ele tinha.

  E pelo que pude  constatar com outros olhos como a animação apresenta uma qualidade sofrível no traço e na movimentação dos personagens  de tão amadora e tão de quinta categoria  que se apresenta, que mais aparece ter sido feita para comerciais  de marcas pequenas. Um verdadeiro mico.

Ainda mais que por ser uma produção gringa, logicamente vamos nos deparar com uma visão utopicamente superficial  que eles tem  do Brasil, como além do futebol, as lindas praias mostrando logicamente lindas mulheres de biquini.

Mihai Şurubaru, um dos diretores da animação, já havia conhecido o Brasil antes nos anos 1970, ao trabalhar projetando equipamentos para uma petrolífera brasileira. Por ele já ter pisado antes em solo brasileiro ele sabia como se nortear em representar o Brasil.

Porém, ainda assim, apresenta umas inverossimilhanças  a respeito do Brasil, como o fato justamente do protagonista ser representado por um garoto pré-adolescente de 12 anos.  Mas que já jogava  profissionalmente num time adulto e já poder dirigir um carro, cara é quase que uma romantização do trabalho infantil. Essa revisitada me fez constatar como essa obra envelheceu mal.

O canal GD mostrou na investigação apurada em recorte de jornal da matéria do jornal espanhol  El País de 1995, e o recorte de  uma matéria do Jornal do Brasil  também publicada em 1995. Comentando sobre o desenho que estava começando a ser produzido durante   a visita de Pelé**  a Espanha lá contava esses detalhes da produção que foi idealizada por ele e menciona o nome das três pessoas envolvidas como o produtor espanhol Arturo Torres, e os diretores romenos Mihai Şurubaru e Lucian Profirescu.

E lá também explicava a duração de 52 episódios de meia hora cada e sendo exibida no horário nobre da tv espanhola e depois foi sendo exportada para outros países e aqui no Brasil durante a época de Copa de Mundo.

Arturo Torres tinha o percentual maior das ações de 70%, já Mihai só tinha 30%, e esse fator foi o que motivou uma treta que ocasionou no fechamento do estúdio e o que serve para explicar o porque do desenho Pelezinho figurar como uma mídia perdida.

Pelo que o canal GD menciona no vídeo o recorte de  uma matéria do jornal romeno Romania Liberã, publicado em 2005, lá o diretor Mihai Şurubaru explicou que o estúdio que ele havia fundado, AnimaDream tinha chegado ao fim em meados  de 1997, quando seu sócio espanhol lhe passou a perna,  pegou todo o material do estúdio e fugiu da Romênia. 

Segundo pelo que Mihai explicou nessa matéria, naquela época entrou em vigor na Romênia uma nova lei de direitos autorais. Que exigia que todos os coautores tivessem participações nos lucros, e isso pelo jeito não era o que o espanhol queria a ponto de deixar o estúdio e resultou no seu fechamento.

 O que de certa forma explica dessa obra figurar como uma mídia perdida por conta da  situação irregular que ela se encontra depois do estúdio que o produziu fechou devido a rasteira que um dos   proprietários causou.

Essa irregularidade    o torna impossível de ser lançado em plataformas de streamings, se bem que nunca houve um lançamento dessa animação em DVD.

Enfim, o que posso finalizar descrevendo nesse texto em sua homenagem,  é que o Pelé sempre vai ser eternizado como o talentoso jogador que brilhava dentro de campo que se tornava uma majestade, disso não há como se questionar.

Se bem que  o mesmo não se pode dizer que fora de campo a respeito de sua vida intima que já foi alvo de polêmicas que não vou me estender a explicar, não é querendo passar pano nem nada, mas é que não cabe a mim julgar com quem ele casou e se foi um bom ou um mau  exemplo como uma figura paterna que já chegou a manchar sua reputação de homem público,  até porque se eu me alongasse a explicar esses pormenores  poderia deixar a leitura desagradável. Isso aqui é de conhecimento público.  Portanto aqui fica minha homenagem ao maior craque do futebol que o Brasil já conheceu.

Em memória do Rei Pelé.

*O regime ditatorial da Romenia também compunha a Cortina de Ferro do Leste Europeu regido pelo modelo tirânico da URSS. Que perdurou até ocorrer a Queda do Muro de Berlim em 1989.

** Nessa época descrita no texto, Pelé  tinha assumindo  a função de Ministro dos Esportes durante o primeiro mandato do Governo de Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República(1995-1998).


segunda-feira, 20 de outubro de 2025

35 ANOS DA ESTREIA DA MTV BRASIL

 

No dia 20 de Outubro de 1990, era lançado no Brasil, um novo canal que moldaria a geração jovem brasileira daquele período. Foi a MTV Brasil.



Surgido nos Estados Unidos em 1981, sob o controle da Warner-Amex Satellite Entertainment. Posteriormente adquirida pela Viacom, o canal revolucionou a indústria musical global, especialmente por meio da popularização dos videoclipes, que eram apresentados por profissionais conhecidos como videojockeys(VJs).

Sua estreia aqui no Brasil ocorreu por meio de um acordo, uma parceria entre o Grupo Abril comandado pela Família Civita com a Viacom(Atual Paramount Global) detentora da marca MTV Networks.




O seu sinal não era disponível para todo o território brasileiro, isso porque a sua frequência era em UHF abreviação da palavra inglesa Ultra High Frequency, traduzindo de  Frequência Ultra Alta usada em aplicações como TV digital, telefonia celular, Wi-Fi, Bluetooth e sistemas de rádio, por ter ondas menores que permitem maior penetração e recepção em ambientes urbanos. As ondas UHF viajam em linha de visada, o que significa que podem ser bloqueadas por obstáculos, mas são mais estáveis em condições climáticas adversas, como chuva.




      Frequência mais alta (300 MHz - 3 GHz). Ondas menores, que são mais eficientes em penetrar e refletir em estruturas como paredes, concreto e metal. Consome mais bateria, exigindo mais frequência de recarga dos equipamentos. Geralmente um custo mais alto. 

O que a diferenciava do padrão usados pelas grandes  emissoras abertas que eram em VHF, abreviação em inglês para Very High Frequency, ou numa tradução Frequência Muito Alta.

O VHF é ideal para aplicações que requerem comunicação a longa distância e em áreas abertas, onde a penetração de obstáculos não é um problema.




 

A MTV simbolizou bem ali uma marca que moldou o gosto musical da jovem geração brasileira  dos anos 1990.

Uma geração que entrava numa fase de presenciar um estilo mais moderno de assistir à televisão naquele momento que a TV brasileira completava seu 40º Aniversário.




Onde as tradicionais grandes emissoras como Globo e SBT, começariam enfrentando uma forte concorrência com o surgimento dos canais de tv por assinatura por conta do nascimento  do serviço de antena parabólica, que trata-se de   uma antena refletora em forma de paraboloide usada para captar sinais de satélites de comunicação. Cujo formato da antena reflete os sinais, que chegam paralelos ao seu eixo, para um ponto único chamado foco, onde está o receptor (LNB) abreviação da palavra inglesa Low Noise Block ou Bloco de Baixo Ruido. 




As Organizações Globo, já de olho naquele novo  mercado lançava o serviço do Globosat Canais que deu origem a GNT, Multishow, Shoptime,   Globo News dentre outros.






Era o conceito de mais moderno que se podia conhecer naquela fase analógica pré-mídia digital.





Do mesmo jeito que ajudou a moldar  uma nova forma de consumir música, já que aos poucos a tradicional mídia física do pequeno Compact Disc(CD) foi começando a assumir o lugar do gigante Long Play(LP) também chamado por Vinil ou popularmente de bolacha.




Dando espaço, principalmente para artistas de estilos mais underground*, com musicalidade mais alternativa que não figuravam no mainstream** das grandes gravadoras que estavam se concentrando mais  nos artistas de apelo popular como os do  Sertanejo, que teve entre seus principais expoentes a dupla Zezé Di Camargo & Luciano, a Axé Music que teve entre seus principais expoentes a cantora  Daniela Mercury e artistas de micaretas,  o Pagode da linha romântica de bandas paulistas, que teve como grande expoente o Só Pra Contrariar,  o Forró Eletrônico uma vertente moderna do forró tradicional que teve a banda  Mastruz com Leite como seu  principal expoente e o funk melody que teve como seus principais expoentes o cantor Latino e a dupla Claudinho(1975-2002) & Buchecha que figuravam entre os mais rentáveis segundo o ECAD(Escritório Central de Arrecadação  e Distribuição) carregavam forte apelo comercial, e mais facilmente conseguiam divulgação nas mídias de massas, como a televisão com os programas de auditório e os paradões das rádios, coisa que os artistas do  underground não tinham.




No entanto,  conseguiam seu espaço de divulgação com a MTV.

Dentre esses artistas estavam: Skank, Sepultura, CPM22, Raimundos, Chico Sciense e Nação Zumbi, Gabriel, O Pensador, Jota Quest, Charlie Brown Jr., Pato Fu, Mamonas Assassinas, O Rappa dentre outros.



Do mesmo modo  que o seu estilo de programação mais descontraído marcou também a geração dos anos 1990.

Principalmente por falar no estilo mais sem filtro,  despojado da linguagem jovial informal, cheia de gírias, cujos apresentadores faziam programas que fugiam ao estilo mais engessado de algumas emissoras.




A MTV foi um celeiro para lançar novos talentos artísticos tais como: Astrid Fontenelle que foi a responsável por abrir com o primeiro programa da emissora, sendo uma das expoentes da nova geração de apresentadores que estava surgindo na televisão brasileira.




Também lançou Zeca Camargo que se tornaria apresentador do Fantástico na Globo, lançou Maria Paula Fidalgo que integrou o elenco do humorístico Casseta & Planeta, Urgente(1992-2010). Revelou Márcio Garcia que se tornou um dos galãs das novelas da Globo. Lançou Marcos Mion dentre muitos outros.




Com um estilo de programação anárquica, que bem refletia aquele momento onde a tv brasileira explorava de fato  sua liberdade de expressão na primeira década Pós-Ditadura Militar e a primeira na fase da Redemocratização.



Uma época onde a televisão soube bem como trazer boas  inovações em sua linguagem, mas que também não se pode esquecer e passar pano  do quanto  ficou marcado pelo lado não tão bom assim quando lembramos como  a televisão virou uma terra-sem-lei  para a baixaria com a fase do Vale Tudo pela Guerra de Audiência, onde acompanhamos dois dos maiores apresentadores que comandavam os domingos que era de um lado Fausto Silva com o Domingão do Faustão na Globo e do outro, o saudoso Gugu Liberato(1959-2019) com o Domingo Legal no SBT.







Que nessa disputa da atenção da audiência ousou em ultrapassar qualquer limite do aceitável, apelou para erotismo com provas picantes em pleno horário de reunião familiar para almoçar, apelava para sensacionalismo barato com circo dos horrores em situações vexatórias  e Faustão passou a ir por esse caminho e se deu mal.




E como  se isso não fosse o bastante, ainda tivemos programas de barracos, como os apresentados por Márcia Goldschmidt e Carlos Massa vulgo Ratinho e os jornalismos policialescos pinga sangue como o Aqui Agora do SBT ou mesmo o programa Cadeia da antiga Rede OM atual CNT, comandado pelo polêmico apresentador Luiz Carlos Alborghetti(1945-2009), que tinha um marcante estilo pioneiro  de apresentar numa comunicação agressiva um  tom inflamado, desafiador, robusto, e o discurso ácido e informal, não raro com o uso de termos chulos para expressar sua indignação. Foi nesse estilo que Ratinho se inspirou, ainda mais  que ele começou sua carreira de apresentador ao lado de Alborghetti.





Essa fase da baixaria  só chegaria ao fim  quando o apresentador Gugu Liberato tomou a decisão mais equivocada da sua carreira ao exibir  no seu programa Domingo Legal em 7 de Setembro de 2003, a falsa entrevista com os “bandidos” do PCC(Primeiro Comando da Capital) cuja repercussão negativa  gerou uma mancha enorme em sua carreira  da qual ele carregou até a sua morte em 2019, aos 60 anos, vítima de um acidente doméstico.

E com o início da operação do site  do site Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania, essa fase anárquica que a televisão dos anos 1990 presenciou chegou ao fim.

A MTV Brasil conseguiu manter sua relevância para a geração jovem até o momento em que a partir de meados dos anos 2000, quando a internet se tornou comum nos lares brasileiros que foi quando surgiu a plataforma do site do Youtube, um armazenador de vídeos.

Ele foi aos poucos matando a relevância da marca, porque muitos artistas e gravadoras passaram a ver neles uma forma mais acessível de divulgação e com o surgimento do Spotify então, visto que antes quando a marca era prestigiada que qualquer gravadora pagava para divulgar o clipe do seu artista na programação e qualquer uma pagava para seu casting gravar no estilo acústico que era transformado em álbum.

A medida que o Youtube foi crescendo com os produtores de conteúdo passando a adotar um estilo de comunicação que os apresentadores da MTV já mostravam com temas mais variados a marca também foi perdendo a força.

Agravado pelo fato da “ MTV Brasil passava por problemas financeiros desde o final de 2009, quando começou a perder seu faturamento. Um fator agravante foi ter saído do ar no ano anterior das duas maiores operadoras de TV por assinatura, Sky  e NET  (hoje Claro), que na época detinham juntas 73% do mercado brasileiro, por disputas na renovação do contrato que incluíam os valores e a inclusão dos outros dois canais do Grupo Abril, FIZ  e TV Ideal.  Ao mesmo tempo, em dezembro de 2009, o Grupo Abril adquiriu os 30% pertencentes à Viacom, passando a ter 100% do controle do canal, tendo todos os direitos da marca no país.”

Foi nessa época que a MTV estava investindo em programas da linha humorística  entre eles o Comédia MTV, responsável por lançar Marcelo Adnet que em 2011 protagonizou uma polêmica com os autistas  e suas famílias por conta da esquete da Casa dos Autistas, uma parodia da Casa dos Artistas  do SBT  gerou uma  revolta entre grupos de pais de autistas que processaram a MTV Brasil,  a ponto deles como forma de se desculparem passaram ao longo de sua grade de programação propagandas de utilidade pública sobre o autismo.




Aliás polêmico mesmo  foi o que ocorreu anos antes em 2003, no programa Gordo a GoGo, um talk show  apresentado pelo  cantor João Gordo, vocalista da banda Ratos de Porão, que ocorreu quando ele entrevistou o ator e cantor Dado Dolabella, onde eles  brigaram durante as gravações do programa. Os dois trocaram palavrões e quase houve agressões físicas de ambas as partes. Em 2006, o apresentador fez críticas à MTV, que colocou o vídeo da discussão no MTV Overdrive, site lançado naquele ano.




Segundo a versão que  cada um relatou  em entrevistas a podcasts, Gordo declarou em 2021 ao Flow Podcasts:

“Ele foi lá numa ‘zoeira playboy’, não era para ter treta, eu acho! […] Eu virei o vilão da parada geral porque não mostraram na época, só foram mostrar anos depois. Então ninguém viu nada, ficaram só as notícias rolando, a mãe dele [Pepita Rodrigues] me xingando”, brincou o apresentador.”

Já pelo que o próprio Dado declarou no mesmo ano no Barbarcast:

“Eu sabia que o Gordo ia zoar, ele zoava geral. O programa dele era chamar as pessoas para ele ficar esculachando. Ele fez isso uma vez com a Wanessa Camargo, que na época era minha namorada. […] Quando ela foi no programa dele, a Wanessa saiu aos prantos. Ela me ligou e não conseguia nem falar, tava soluçando de chorar”, esclareceu.”

(Trecho das declarações tirada  da matéria do site Aventuras na História publicado em 27 de Março de 2023).

Esse Dado Dolabella posteriormente protagonizou diferentes episódios encarando problemas com a lei por agredir suas namoradas. Não me surpreende que desde essa época ele já demonstrasse um perfil agressivo.

Dentre os programas mais marcantes que posso destacar da MTV, que mais me divertia era Os Piores Clipes do Mundo, o primeiro a lançar Marcos Mion como apresentador.



Que marcou pelo estilo anárquico em tirar onda com os videoclipes, também marcou pelas suas animações adultas como  Fudêncio  e Seus Amigos(2005-2011), que apresentou a Funérea que apresentaria um talk show com famosos, já nos anos finais da operação da marca  sob as mãos da Abril.

Também marcou pelo VMB, uma versão da premiação do VMA.

Em junho de 2013, o Grupo Abril iniciou o processo de devolução da marca MTV à Viacom.  

A última transmissão ao vivo da MTV Brasil ocorreu em 26 de setembro de 2013, com a festa de encerramento intitulada Saidera MTV, que reuniu diversos VJs antigos e atuais. A emissora encerrou oficialmente suas transmissões no dia 30 de setembro de 2013, às 23h59. O último programa exibido foi o humorístico O Último Programa do Mundo, com Daniel Furlan  e Juliano Enrico. Na sequência, foi ao ar o especial Tchau MTV!, com o VJ Thunderbird fazendo um breve depoimento sobre o fim do canal.

De maneira simbólica, a ex-VJ Cuca Lazzarotto apresentou o último videoclipe da emissora: Maracatu Atômico, da banda Chico Sciense & Nação Zumbi. Outra versão de encerramento, com momentos do Acústico MTV Roberto Carlos — o famoso "Acústico Proibidão" — chegou a ser gravada, mas foi vetada e não exibida.

Astrid Fontenelle, que havia inaugurado a programação da emissora quase 23 anos antes, foi também quem realizou o discurso final. A última vinheta mostrava uma montagem de imagens dos funcionários e VJs da emissora durante a festa de despedida, ao som de Ôrra Meu, de Rita Lee. A última imagem exibida foi a logomarca da MTV com as cores da bandeira do Brasil, encolhendo lentamente até desaparecer sobre um fundo preto.

Às 00h00 do dia 1º de outubro, entraram no ar as transmissões da Ideal TV, posteriormente vendida pelo Grupo Abril à Spring Comunicação e pela Kalunga  em 2017. Os valores da transação não foram divulgados, mas especula-se que gire em torno dos R$ 200 milhões e também supostamente que o Grupo Abril recusou um valor maior que isso oriundo do religioso R.R.Soares, fazendo assim, que o futuro da nova emissora está em mãos e provavelmente, uma programação laica. Tudo a venda foi aprovada pelo Ministério das Comunicações   e pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Apesar de não ter vendido a emissora para o R.R. Soares, a Abril acabou vendendo espaços na emissora para a igreja do líder religioso Valdemiro Santiago, pela demora na aprovação do processo de venda para a Spring para a ocupar a toda a grade do canal.”

A partir dai a marca continuou operando pelas mãos da Viacom, apenas como tv por assinatura,  mas sem a mesma influência e o mesmo prestigio de antes. Onde estava exibindo os reality shows como De Férias com o Ex.

Nesse momento em que escrevo esse texto, Outubro de 2025, a  Paramount Skydance Corporation anunciou o fim da marca MTV no país, juntamente com seis canais de televisão por assinatura de sua propriedade, causando o encerramento da segunda era da MTV no Brasil em 31 de dezembro de 2025.

Só o que restará é apenas uma lembrança do quanto ela foi importante para moldar uma geração e do quanto o seu legado ajudou no estilo moderno da comunicação dos influencers digitais.


*A tradução dessa palavra significa subterrâneo, que no meio comunicativo serve para rotular qualquer estilo de movimento cultural fora dos padrões, alternativo.

**O significado da palavra é convencional, que no meio comunicativo é um termo para definir a cultura de massa, corrente principal, mais comum, popular ou aceita em uma determinada cultura, sociedade ou período.


sexta-feira, 17 de outubro de 2025

EDNA KRAPABELL NUA EM POEMA DE DRUMMOND

 Não cantarei amores que não tenho,

e, quando tive, nunca celebrei.
Não cantarei o riso que não rira
e que, se risse, ofertaria a pobres.
Minha matéria é o nada.
Jamais ousei cantar algo de vida:
se o canto sai da boca ensimesmada,
é porque a brisa o trouxe, e o leva a brisa,
nem sabe a planta o vento que a visita.




Ou sabe? Algo de nós acaso se transmite,
mas tão disperso, e vago, tão estranho,
que, se regressa a mim que o apascentava,
o ouro suposto é nele cobre e estanho,
estanho e cobre,
e o que não é maleável deixa de ser nobre,
nem era amor aquilo que se amava.




Nem era dor aquilo que doía;
ou dói, agora, quando já se foi?
Que dor se sabe dor, e não se extingue?
(Não cantarei o mar: que ele se vingue
de meu silêncio, nesta concha.)
Que sentimento vive, e já prospera
cavando em nós a terra necessária
para se sepultar à moda austera
de quem vive sua morte?
Não cantarei o morto: é o próprio canto.
E já não sei do espanto,
da úmida assombração que vem do norte
e vai do sul, e, quatro, aos quatro ventos,
ajusta em mim seu terno de lamentos.
Não canto, pois não sei, e toda sílaba
acaso reunida
a sua irmã, em serpes irritadas vejo as duas.




Amador de serpentes, minha vida
passarei, sobre a relva debruçado,
a ver a linha curva que se estende,
ou se contrai e atrai, além da pobre
área de luz de nossa geometria.
Estanho, estanho e cobre,
tais meus pecados, quanto mais fugi
do que enfim capturei, não mais visando
aos alvos imortais.




Ó descobrimento retardado
pela força de ver.
Ó encontro de mim, no meu silêncio,
configurado, repleto, numa casta
expressão de temor que se despede.
O golfo mais dourado me circunda
com apenas cerrar-se uma janela.
E já não brinco a luz. E dou notícia
estrita do que dorme,
sob placa de estanho, sonho informe,
um lembrar de raízes, ainda menos
um calar de serenos
desidratados, sublimes ossuários
sem ossos;
a morte sem os mortos; a perfeita
anulação do tempo em tempos vários,
essa nudez, enfim, além dos corpos,
a modelar campinas no vazio
da alma, que é apenas alma, e se dissolve.

(NUDEZ CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)