quinta-feira, 23 de outubro de 2025

A ANIMAÇÃO PERDIDA DO REI PELÉ

 


 

Eu comecei a preparar esse texto em Janeiro de 2023, no momento em que estava acontecendo a  cobertura do falecimento de Pelé, mas só pude postar agora nesse momento especial já que na data do dia 23 de Outubro ele completaria 85 anos.

Portanto aqui fica o registro da homenagem.




No dia em que perdemos Edson Arantes do Nascimento, em 29 de Dezembro de 2022,  o ídolo do futebol brasileiro e mundial,  nosso Rei Pelé(1940-2022), eu postei nas minhas redes sociais o fato curioso a respeito de uma série animada que já foi feita em cima dele.

Quem tem minha faixa etária e assistia ao programa infantil matutino do  Angel  Mix(1996-2000) na Rede Globo comandado por Angélica lá pela segunda metade dos anos 1990  talvez se lembre ou não do desenho Pelezinho que passava nas manhãs dessa antiga grade infantil da TV Brasileira.




Pelezinho ao contrário do que eu pensava não se tratava de uma produção nossa, autenticamente brasileira.  

Tanto que nem  foi inspirado na HQ homônima do Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica. Mas sim de uma produção hispânico-romena que foi lançada em 1996. 





Hoje esse desenho figura como uma lost média(mídia perdida). Eu confesso que já não me recordava dessa animação, não fosse os canais de YouTube que abordam Lost Média.




Como o  Canal GD de quem fiz uma printagem, postando no meu Instagram. Como é difícil encontrar informações na internet sobre a produção dessa animação, o pouco que a Wikipédia descreve é superficialmente sobre o seu enredo,   justamente por figurar como uma mídia perdida.




O que vou descrever abaixo sobre curiosidades e bastidores  da produção terá como base na informação que o canal do Youtube  GD, expôs numa investigação minuciosa  em forma de vídeo sobre essa animação com informações mais aprofundadas, principalmente sobre detalhes da produção cheia de tretas no vídeo intitulado O Desenho Perdido do Pelé que recomendo darem uma olhada a quem tiver a curiosidade.




Pelezinho trazia uma história um tanto surreal inspirada no Rei do Futebol, com ele sendo protagonizado como um moleque  de 12 anos, mas jogando num time de adultos, dirigi um carro mesmo sendo menor de idade e se envolve numas aventuras envolvendo espionagem pelo mundo  com sua parceira Neusa  e seu inseparável cachorro Rex que fala. Muito nesse toque escapista.

Pelezinho foi uma animação produzida no exterior, não foi brasileira apesar do protagonista simbolizar o nosso Brasil, e se ambientar no Brasil,   foi co-produzida pelo canal espanhol  Antena 3 e pela produtora também espanhola AnimaDream que contou com a colaboração de dois diretores romenos Mihai Şurubaru e Lucian Profirescu.

 Já que foi na Romênia que o desenho foi produzido com a colaboração de roteiristas espanhóis. E cujo produtor executivo foi  Arturo Torres.

Soa muito estranho imaginar que esse desenho foi produzido na Romênia, país sem muita tradição no mercado das  animações, ao contrário da Espanha que já tinha mercado, onde inclusive uma animação espanhola chegou a ser exibida aqui no Brasil pela Globo e pelo canal pago Futura no final dos anos 1990  que foram  As Trigêmeas(Les Tres Bessones, Espanha, 1997-2003).

Muito disso  se deve ao fato que o  país* havia passado mais de  vinte anos regido  sob uma opressiva  ditadura comunista e havia  chegado ao fim fazia pouco tempo, depois que o ditador Nicolae Ceaușescu foi fuzilado junto com sua esposa numa revolta popular ocorrida durante o Natal de 1989.      Pode-se dizer que boa parte da população romena enquanto viveu  sob esse longo período oprimida por uma ditadura, dificilmente eles tenham tido acesso a ver animações, especialmente as do Mickey Mouse, símbolo do capitalismo americano.

Isso  de certa forma explica o porquê da qualidade dessa animação limitada ser tosca mesmo para a época, em especial nas movimentações dos personagens nas cenas das partidas de futebol.

Há momentos que apelam pro nonsene, é preciso você entrar na inércia da suspensão da descrença como é típico da animação para não tentar quebrar a cabeça para encontrar alguma lógica e viajar naquele universo, como em alguns momentos mostrar o locutor aparecer  pegando os  instrumentos do batuque e da vuvuzela para tocar  como torcida  ou mesmo o comentarista aparecer se fantasiando de líder de torcida.

  Confesso que nas vagas lembranças que tenho de ter assistido a essa série animada quando passava na Globo na época eu já era um moleque pré-adolescente  até curtia pelo fato mais curioso dele explorar a temática do futebol, símbolo brasileiro que não era muito explorado em nosso país, algo que eu não estava acostumado a ver nas animações que costumavam passar nos extintos programas infantis da época. E justamente por ser estrelado pelo Rei do Futebol, cheguei a pensar que a produção fosse brasileira.

Quando soube da existência já adulto  de um gibi do Pelezinho, criado pelo Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica, também imaginei a mesma coisa. Sendo que pelo pude constatar, são coisas muito distintas.

Muito tempo depois, eu reassisti ao único  episódio de Pelezinho, disponível no Youtube postado na conta de um sujeito da Sérvia, que se identifica como Retro Televizija,  com a dublagem no idioma sérvio provavelmente gravado de alguma fita VHS que ele tinha.

  E pelo que pude  constatar com outros olhos como a animação apresenta uma qualidade sofrível no traço e na movimentação dos personagens  de tão amadora e tão de quinta categoria  que se apresenta, que mais aparece ter sido feita para comerciais  de marcas pequenas. Um verdadeiro mico.

Ainda mais que por ser uma produção gringa, logicamente vamos nos deparar com uma visão utopicamente superficial  que eles tem  do Brasil, como além do futebol, as lindas praias mostrando logicamente lindas mulheres de biquini.

Mihai Şurubaru, um dos diretores da animação, já havia conhecido o Brasil antes nos anos 1970, ao trabalhar projetando equipamentos para uma petrolífera brasileira. Por ele já ter pisado antes em solo brasileiro ele sabia como se nortear em representar o Brasil.

Porém, ainda assim, apresenta umas inverossimilhanças  a respeito do Brasil, como o fato justamente do protagonista ser representado por um garoto pré-adolescente de 12 anos.  Mas que já jogava  profissionalmente num time adulto e já poder dirigir um carro, cara é quase que uma romantização do trabalho infantil. Essa revisitada me fez constatar como essa obra envelheceu mal.

O canal GD mostrou na investigação apurada em recorte de jornal da matéria do jornal espanhol  El País de 1995, e o recorte de  uma matéria do Jornal do Brasil  também publicada em 1995. Comentando sobre o desenho que estava começando a ser produzido durante   a visita de Pelé**  a Espanha lá contava esses detalhes da produção que foi idealizada por ele e menciona o nome das três pessoas envolvidas como o produtor espanhol Arturo Torres, e os diretores romenos Mihai Şurubaru e Lucian Profirescu.

E lá também explicava a duração de 52 episódios de meia hora cada e sendo exibida no horário nobre da tv espanhola e depois foi sendo exportada para outros países e aqui no Brasil durante a época de Copa de Mundo.

Arturo Torres tinha o percentual maior das ações de 70%, já Mihai só tinha 30%, e esse fator foi o que motivou uma treta que ocasionou no fechamento do estúdio e o que serve para explicar o porque do desenho Pelezinho figurar como uma mídia perdida.

Pelo que o canal GD menciona no vídeo o recorte de  uma matéria do jornal romeno Romania Liberã, publicado em 2005, lá o diretor Mihai Şurubaru explicou que o estúdio que ele havia fundado, AnimaDream tinha chegado ao fim em meados  de 1997, quando seu sócio espanhol lhe passou a perna,  pegou todo o material do estúdio e fugiu da Romênia. 

Segundo pelo que Mihai explicou nessa matéria, naquela época entrou em vigor na Romênia uma nova lei de direitos autorais. Que exigia que todos os coautores tivessem participações nos lucros, e isso pelo jeito não era o que o espanhol queria a ponto de deixar o estúdio e resultou no seu fechamento.

 O que de certa forma explica dessa obra figurar como uma mídia perdida por conta da  situação irregular que ela se encontra depois do estúdio que o produziu fechou devido a rasteira que um dos   proprietários causou.

Essa irregularidade    o torna impossível de ser lançado em plataformas de streamings, se bem que nunca houve um lançamento dessa animação em DVD.

Enfim, o que posso finalizar descrevendo nesse texto em sua homenagem,  é que o Pelé sempre vai ser eternizado como o talentoso jogador que brilhava dentro de campo que se tornava uma majestade, disso não há como se questionar.

Se bem que  o mesmo não se pode dizer que fora de campo a respeito de sua vida intima que já foi alvo de polêmicas que não vou me estender a explicar, não é querendo passar pano nem nada, mas é que não cabe a mim julgar com quem ele casou e se foi um bom ou um mau  exemplo como uma figura paterna que já chegou a manchar sua reputação de homem público,  até porque se eu me alongasse a explicar esses pormenores  poderia deixar a leitura desagradável. Isso aqui é de conhecimento público.  Portanto aqui fica minha homenagem ao maior craque do futebol que o Brasil já conheceu.

Em memória do Rei Pelé.

*O regime ditatorial da Romenia também compunha a Cortina de Ferro do Leste Europeu regido pelo modelo tirânico da URSS. Que perdurou até ocorrer a Queda do Muro de Berlim em 1989.

** Nessa época descrita no texto, Pelé  tinha assumindo  a função de Ministro dos Esportes durante o primeiro mandato do Governo de Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República(1995-1998).


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